Crónica de Frei Bento Domingues
no PÚBLICO
1. No Domingo passado, não tive condições para mandar, de Angola, a minha crónica para o PÚBLICO. A pedido do meu Provincial, vim a Luanda participar num conjunto de iniciativas de estudo organizadas pelos dominicanos angolanos. A perspectiva que me orienta, na realização do programa desenhado, é esta: outro mundo, outra Igreja e outra vida dominicana são possíveis. É uma questão de fidelidade à mensagem cristã. Jesus Cristo cresceu e foi educado nas tradições da religião de Israel. Quando hoje se fala de inculturação do Evangelho, algumas práticas pastorais julgam que se trata de adaptar o Evangelho a uma cultura. Se assim fosse, Jesus Cristo não tinha nada que fazer, pois já estava moldado pela sua herança judaica, cultural e religiosa. O que pode ser observado, tanto nos escritos de Paulo como nas narrativas dos Evangelhos, é que Jesus de Nazaré não se apresentou para perpetuar os costumes do seu tempo. Teve de discernir o que havia de mais vital na herança recebida e o que havia de opressor na religião mais recomendada, sob a invocação de Moisés: disseram-vos, mas Eu digo-vos!
Continuamos com certas orações que podem sugerir a consagração do conservadorismo: assim como era no princípio agora e sempre pelos séculos dos séculos, Ámen. Ora, no principio era a criatividade. A fé cristã está ligada a um Deus que não passou à reforma, mas que é criação contínua, suscitando criadores, não repetidores. Rezamos para que "pelos séculos dos séculos" não se extinga a criatividade dos que desejam ser fiéis ao Evangelho.