Crónica de Anselmo Borges
«Mas quantos são verdadeiramente donos, senhores,
de si e não escravos das paixões e das coisas,
sobretudo do dinheiro e da opinião pública
e do politicamente correcto?»
Apesar de todos os debates à volta de se saber se somos livres ou não, vivemos na convicção de que o somos, o mesmo acontecendo com as sociedades. Caso contrário, como se explicariam as leis, as normas, os louvores, os julgamentos, as penas, as prisões?
Há uma experiência de fundo: o ser humano não é objecto, coisa. Olhamos para as coisas como um "isso", mas olhamos para os seres humanos como um "alguém". Alguém que é um "tu" como "eu" e, ao mesmo tempo, um tu que não sou eu: outro eu e um eu outro, formando um "nós". O outro, no seu rosto e olhar, impõe-se-me como um "alguém corporal", a visibilidade de uma interioridade inacessível que se mostra, afirma e impõe.