Crónica de Anselmo Borges no DN
O que tem acontecido na Igreja Católica quanto à pedofilia é inquietante, inadmissível. É verdade que a maioria dos abusos se dá na família no sentido alargado. Mesmo assim, o número de casos entre o clero "não tranquiliza de modo nenhum" o Papa Francisco, que disse na entrevista ao La Repubblica do passado Domingo que a pedofilia na Igreja se situa nos 2%: "É gravíssimo. Dois por cento de pedófilos são sacerdotes, incluindo bispos e cardeais", e ele compromete-se a agir "com severidade" contra esta "lepra". Tanto mais grave quanto está em causa a confiança que a sociedade, as famílias e as próprias crianças punham na Igreja e nos padres. Foi precisamente essa confiança que foi brutalmente atraiçoada. A Igreja já teve de pagar centenas e centenas de milhões de euros em indemnizações, não sendo de modo nenhum de supor ter sido essa a finalidade das doações dos fiéis. Sobretudo, são as feridas incuráveis que ficaram e que até, por vezes, levaram ao suicídio. E instalou-se a suspeita, porque os responsáveis da Igreja não agiram de modo adequado e a tempo, encobriram e só terão começado a tomar medidas sob a pressão da opinião pública mundial.