sexta-feira, 18 de abril de 2014

A NOSSA GENTE: Baltasar Casqueira

Baltasar e esposa 

Com a 4.ª classe saltou para o mundo do trabalho

Baltasar Ramos Casqueira, 77 anos, casado com Madalena Caçoilo, cinco filhos e 12 netos, está reformado há bons anos. Começou cedo a luta pela vida. Aos 11 anos, concluída a 4.ª classe da então chamada instrução primária, entrou para os serviços de limpeza da EPA (Empresa de Pesca de Aveiro), durante o inverno, nos arrastões Santa Joana e Santa Princesa. No verão, a vida mudou de figura na marinha de sal de que o pai era marnoto. Trabalho difícil, como osso duro de roer, debaixo de sol escaldante e pisando a moira que lhe roía os pés. «Era a marinha Fornos, do proprietário José Vieira», disse. E assim andou, «durante seis safras», saltando depois para um dóri, como verde, aos 17 anos, para a pesca do bacalhau, no lugre Lousado, da praça de Alcochete. «Foi o meu irmão António que me levou», afirmou. «Pesquei no primeiro ano 226 quintais de bacalhau à tábua [era numa tábua que o oficial de bordo pousava a folha onde registava, por estimativa, o peixe pescado por cada pescador], tendo recebido 11 mil e 200 escudos, que trouxe escondidos nas meias, com medo dos carteiristas», afiançou o Baltasar.
Depois emigrou para os Estados Unidos, onde chegou a exercer o cargo de encarregado numa firma de obras de águas e saneamento. Como reformado, regressou às origens deixando lá os filhos e netos.
Homem dado ao trabalho desde sempre, sem tempo para ser menino e brincar, não sabe estar parado, «sem nada fazer». Reconhece que «não se pode parar na vida» e não é de seu feitio estar «sentado num qualquer banco de café ou jardim». E se já não consegue trabalhar na agricultura, por dificuldades físicas, já que foi operado a uma perna, gosta de se entreter a fazer aquilo de que gosta. Também deixou a pesca na ria. Mas nem por isso se sente diminuído e lá se vai ocupando com o artesanato, não para vender, mas pelo prazer de fazer. Quando o visitei, tenha acabado de pintar um navio em miniatura. «O resto virá a seguir», adiantou. 
Para os seus trabalhos, aproveita pedaços de madeira, restos de troncos, ramos ou raízes de árvores. A imaginação faz o resto. No meio da sala tem muitas cabaças de diversos tamanhos e feitios. Semeia-as, colhe-as, saca-lhes o miolo, pinta-as e usa a técnica do guardanapo. Apreciei búzios, pinhas de anel três e de retenida, usadas nos navios, vertedouros, garrafas e garrafões de vidro, revestidos de fios coloridos. Estes com a preciosa colaboração da esposa, a quem ele ensina a técnica que aprendeu ao longo da vida. 

Fernando Martins

quarta-feira, 16 de abril de 2014

DIGNIFICAR A PESSOA PRESA

Em entrevista ao Correio do Vouga, o coordenador nacional da pastoral penitenciária, padre João Gonçalves, afirmou que "´É terrível a pessoa continuar presa mesmo depois de sair da cadeia". E acrescenta que "a situação dos presos tem a ver com toda a sociedade e muito especialmente com a comunidade cristã".

NOTA: Logo que possível, publicarei aqui a entrevista


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terça-feira, 15 de abril de 2014

A fé alimenta-se de poesia


«Cada poema é um início. Como o estar sempre perante o branco, perante o silêncio, perante o não saber. E recomeçar. A fé alimenta-se muito disso, porque a fé não é o acumulado do ontem, mas é viver no aberto da esperança e do corpo, do nascer e do morrer, do amor e da fragilidade. E no fundo a escrita treina-me para a sucessão de começos que a vida é nas suas várias dimensões.»

José Tolentino Mendonça

De uma entrevista publicada na revista ESTANTE, para ler aqui

segunda-feira, 14 de abril de 2014

Um texto lindo sobre os gafanhões


«Falou-se de marnotos, falou-se de pescadores e mareantes, faltando, apenas, falar dos gafanhões que vieram, por fim, tratar da moldura afeiçoando a terra que debrua laguna substituindo a desolação da duna e da flora quaresmal que, a medo, aflorava, por uma verdura indizível de milheirais frescos e viçosos e de batatais que lhe corroboraram os tons abertos com gradações sublinhantes que parecem oriundas de uma paleta de pintor.»

Frederico de Moura

No Livro "Ressonâncias"

Nota: Conferência lida, no salão Municipal da Cultura, de Aveiro, integrada no número do programa que, com aquele mesmo título [PAISAGEM DE AVEIRO - O Ambiente e o Homem], fez parte dos actos culturais das Festas da Cidade. Em 11 de Maio de 1970.

REFORMADOS RICOS PASSAM À FRENTE NAS IPSS

UM ESCÂNDALO!

"Em nome da sustentabilidade, algumas Misericórdias e Instituições de Solidariedade Social contornam a ordem da lista de entrada nos lares e deixam passar à frente quem tem reformas mais altas. Responsáveis negam perversão do sistema, antes um meio de evitar falências e conseguir acolher mais utentes de pensões baixas
Os reformados com uma pensão alta têm mais facilidade em encontrar um lugar num lar da Misericórdia e de outras Instituições Particulares de Solidariedade Social (IPSS), onde a lista de espera chega a ser de vários anos. Há provedores que contornam a ordem de inscrição na lista das vagas dos seus lares e permitem que um idoso de pensão choruda passe à frente de quem apresente uma situação económica fragilizada.
A situação é conhecida e até incentivada pelo presidente da União das Misericórdias, Manuel Lemos, em nome da sustentabilidade daquelas instituições do sector solidário, a que o Estado delegou quase tudo (73%) do que em Portugal se faz a nível de proteção social a idosos, crianças e deficientes, pagando por essa "delegação" de funções cerca de 1,3 mil milhões de euros."

Li no DN


NOTA: Misericórdias e IPSS são, na sua grande maioria, de inspiração cristã ou mesmo da Igreja Católica. Por isso, esta notícia choca-me imenso. Nem sei que possa dizer mais sobre esta realidade, que julgava ultrapassada. Os pobres, afinal os que mais precisam, ficam muitas vezes no fim da lista.


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domingo, 13 de abril de 2014

Respiro melhor, quando vou à Gafanha...

Efeméride de abril




NOTA: Sei que me distraio bastante. Aniversários de amigos e efemérides passam-me muitas vezes ao largo. Tenho pena desta minha incapacidade, mas cada um é o que é. Vou pensar numa forma de me manter atualizado nesta área. Como noutras, certamente. Hoje deixo aqui um registo bonito do nosso primeiro Bispo da restaurada Diocese de Aveiro, D. João Evangelista de Lima Vidal, um bom exemplo da prosa poética. 

TRABALHO PARA TODOS?

Crónica da Frei Bento Domingues 

Bento Domingues


1. A “Liga Operária Católica/Movimento dos Trabalhadores Cristãos” (LOC/MTC) tem uma longa história de confissão pública da fé cristã, no seio da luta operária e das suas organizações. Inscreve-se no caminho aberto por Jesus, um judeu marginal, de há dois mil anos, que terá sido educado por José, o artesão, na lei de ganhar o pão com o suor do seu rosto e não com o do rosto dos outros.

Jesus não era nem um pobre de pedir nem um proprietário ou empresário. O seu Evangelho tinha a ousadia de anunciar, aos pobres e excluídos, a bem-aventurança de um mundo de irmãos, que reunisse todos os filhos de Deus dispersos (Jo 11,52). Acabou por concluir que não seria tarefa fácil.