quarta-feira, 13 de maio de 2009

Rádio Terra Nova: a sua história não pode ficar esquecida

Mesmo fora da Gafanha da Nazaré, terra que me viu nascer há décadas, não esqueço as suas gentes e instituições. Há dias lembrei-me da Rádio Terra Nova, uma emissora que vive, desde a primeira hora, para servir o povo, sobretudo o sem voz nem vez. Vai daí, fui à cata da sua história e encontrei este texto, publicado no Timoneiro, escrito pela Maria do Céu, à altura a trabalhar na Terra Nova. Tinha ela, como ainda tem, uma voz inconfundível, quer pelo timbre, quer pelo ritmo e dinâmica expressiva, que impunha ao que lia ou dizia. Leia aqui o que a Maria do Céu escreveu, em 1989.
FM

Bairro da Bela Vista: Lição para todos nós

O que eu vou dizer é óbvio. Toda a gente conhece a teoria. A prática é que é um problema. Segregar é sempre um convite à revolta, à violência. O Bairro da Bela Vista, igual a tantos outros no nosso País (fala-se em 50), está a dar-nos lições, com vista a um futuro mais justo e mais solidário. A ideia de arrumar num canto da cidade minorias étnicas, desempregados, famílias de baixos recursos, estrangeiros, desadaptados e parecidos não resulta. Nunca resultou. Os guetos são sempre focos de desconforto, de insatisfação, de contestação, de revolta e de violência. Ninguém gosta de ser segregado. Ser segregado é ser marginalizado. A segregação leva inevitavelmente à criminalidade e à guerra. E se tudo isto é verdade, por que razão se teima em construir bairros para neles se encaixotarem os desprotegidos da sorte? Todos sabem que bairros para minorias não dão bons resultados. Então, por que motivo se insiste nisso? Não seria melhor integrá-los como pessoas normais? Julgo que sim. E agora? Repressão? O ideal não será dar condições de vida dignas a tanta gente do bairro? Criar instituições com os habitantes e para eles? Os sociólogos, psicólogos, técnicos sociais e políticos já devem estar em campo. Ficamos a aguardar as melhores soluções. Fernando Martins

O Segredo de Fátima

À medida que o tempo passa, acredito mais no Segredo de Fátima. Nesse Segredo que desassossega, que nos arranca de casa, dos livros, da cidade e nos lança, anualmente, para a imensidão das estradas. Eu acredito num «não sei quê» que esse Segredo derrama em nós: uma porção de confiança, de abandono e de aventura. Uma vontade de tornar a vida mais que tudo verdadeira. De tornar generosos os projetos e fecundos os laços que nos ligam aos outros. De tornar absoluta a nossa sempre frágil Esperança. À medida que o tempo passa, vou conhecendo pessoas cujo tesouro interior foi descoberto, ampliado nos caminhos de Fátima. Pessoas que contam histórias simples, misturadas com sorrisos e lágrimas. Histórias de um Encontro tão parecido ao que teve uma rapariga da Judeia, de nome Maria. Que têm os peregrinos de Fátima? Têm o vento por asas e a lonjura por canto. Têm a conversão por caminho e a prece ardente por mapa. São filhos de uma promessa que se cumpre dentro da vida. Gosto dessa frase de Vitorino Nemésio que diz: “em Fátima, a Humanidade inteira passou a valer mais”. Gosto, porque nos caminhos longos, imprevistos e profundos de uma peregrinação isso nos é ensinado como uma evidência humilde e apaixonante. José Tolentino Mendonça

terça-feira, 12 de maio de 2009

O melhor lugar para se avistar o Cristo-Rei

Diz-se, no Brasil, que «ser carioca é… procurar em cada janela se há uma vista para o Cristo que está no monte». Facto que uma conhecida canção de Tom Jobim dedilha assim: «Muita calma pra pensar/ e ter tempo pra sonhar,/ da janela vejo o Corcovado, o Redentor, / que lindo!». Talvez ainda não se tenha conseguido, em Lisboa ou Setúbal, a mesma centralidade afectiva e simbólica que a imagem de Cristo-Rei conhece do outro lado do oceano. Ela ali funciona como ícone de força indesmentível! Mas há 50 anos que, entre nós, o Cristo-Rei se avista (e nos avista). E as comemorações que, esta semana, a Igreja portuguesa promove, dão que pensar. O Cristo-Rei, plantado junto do Tejo, surge-nos desde muito longe na paisagem, e podemos fazer quilómetros e quilómetros com ele no horizonte. Calculamos por ele a distância que nos separa do nosso destino, e esse facto tem ressonâncias que não são apenas geográficas e exteriores. Olhamos e o tempo parece mais interior e lento. A imagem de Cristo está ali. Os seus braços abertos ensinam-nos pacientemente uma largueza que ainda não temos e uma arte do acolhimento que as nossas gramáticas soletram com dificuldade. Mas o seu gesto constitui, só por si, uma alavanca da nossa realidade. Reabilita as histórias que escrevemos, empresta-lhes uma intensidade súbita, um toque divino. Podemos estar sempre a vê-lo duma janela de casa, do corredor envidraçado do prédio onde trabalhamos, do alto da rua que entra nas nossas rotinas. Ou ao contrário: podemos só avistá-lo ao longe, ou de quando em quando, se nos calha andar por certos lados. Mas se perguntarmos: «qual é o melhor lugar para avistar o Cristo-Rei?», apercebemo-nos depressa que o lugar ideal, o que oferece um retrato mais fiel é sempre o coração humano. É verdade que há miradouros notáveis e horas e estações mais privilegiadas do que outras. Mas o essencial é invisível aos olhos. E o Cristo-Rei pede-nos para ser visto com o coração! José Tolentino Mendonça

Precisamos de deputados em exclusividade

Anda por aí muita gente enfurecida contra a ideia de os deputados da nossa Assembleia da República não poderem acumular com as suas profissões. A proposta avançou agora com o Bastonário da Ordem dos Advogados, Marinho Pinto, que não gosta de ver os deputados-advogados ou advogados-deputados ligados a uma e a outra actividade. Acha que são tarefas incompatíveis. Também acho. Quem se dispõe a servir o povo deve pôr tudo de lado, ficando, exclusivamente, com a tarefa para a qual foi eleito. Ninguém pode servir a dois senhores ao mesmo tempo. Ou se está num lado ou no outro. Com a cabeça no Parlamento, não é possível estar a pensar em questões profissionais. E se está a pensar nos clientes, não pode estar a servir, em pleno, a causa pública. Sei que há quem pense que sim, obviamente por conveniência. Não vejo o Presidente da República e o primeiro-ministro a acumularem. O mesmo se diga dos ministros. Dir-me-ão que não têm tempo para isso. Também os deputados, sejam eles advogados, médicos, engenheiros ou arquitectos, jornalistas ou professores, deviam deixar tudo para servir a sociedade, em espírito de missão, que é muito nobre. Este princípio aplica-se, naturalmente, aos presidentes de Câmara, Governadores Civil, presidente da Assembleia da República, Magistrados, etc. Um deputado dizia há anos que tinha responsabilidades profissionais que não podia abandonar. Que não abandonasse, estava bem de ver. Não faltaria nem faltará quem esteja disponível para assumir em pleno os cargos políticos ou públicos, de relevante interesse nacional. Agora, isso de quererem estar em vários sítios ao mesmo tempo, é que não. Não há por aí tanta gente desempregada e à espera de um único posto de trabalho? Fernando Martins

Aveiro celebra Santa Joana, padroeira da cidade e diocese

O POVO DE AVEIRO  JÁ CANONIZOU A BEATA PRINCESA 

Tenho para mim que o povo nem sempre segue o Vaticano, quando o Santo Padre canoniza um cristão ou uma cristã, para nos servirem de exemplo. Com frequência deparamos com situações interessantes, que demonstram que o povo tem as suas razões e intuições, ao “declarar” quem são os seus predilectos no seio de Deus. E a Igreja, atenta à acção do Espírito no Povo de Deus, não deixará de canonizar os que foram escolhidos pelos crentes. Mas às vezes demora. Ainda espero, por isso, que a Beata Joana, Princesa de Portugal, venha a ser canonizada pela Igreja, porque em verdade já o foi pelo povo aveirense. 
Aveiro está hoje em festa. A partida para o seio de Deus da Princesa Joana, como cremos, aconteceu a 12 de Maio de 1490, como reza a história. Tinha apenas 38 anos de idade. Foi beatificada em 1693 pelo Papa Inocêncio XII. Como é padroeira da cidade, a autarquia engalana-se e promove diversos festejo. Os discursos políticos, tenham eles as cores que tiverem, não ignoram o exemplo da filha de D. Afonso V, que escolheu um modestíssimo convento dominicano de Aveiro para viver, sem esquecer os mais desvalidos da sorte, que a laguna aveirense mais desvalidos tornava, com as suas águas apodrecidas. 
Diz a lenda que o seu féretro, ao passar pelos claustros do convento, a caminho da sepultura, contemplou a tristeza das flores que se deixaram cair em homenagem à princesa. O povo, que ela tantas vezes socorreu, em horas de dor, decerto também chorou a sua benfeitora. Hoje, como todos os anos, as ruas da cidade mostraram quanto Aveiro gosta da sua Joana. 
A Irmandade, que tem o seu nome, continua a valorizar o culto a Santa Joana. E o povo agradece, enchendo as ruas para a ver no andor e nos rostos de crentes que vestem os trajes com uma dignidade notória. Depois, no final da procissão, o seu túmulo, com os restos da Princesa, volta a ficar rodeado de devotos. Em silêncio. Apenas podemos adivinhar as conversas entre eles e a Santa Princesa. 


Fernando Martins

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Peregrinação a Fátima: 12 e 13 de Maio

Peregrino
Amanhã e no dia a seguir vamos ter momentos altos na Cova da Iria. Para os crentes e devotos de Nossa Senhora de Fátima e também para muitos que nada têm a ver com a frequência da missa dominical. Nossa Senhora, afinal, guarda estes segredos que suscitam devoção mesmo entre os que nada querem, ou querem muito pouco, com o culto católico. Durante dias, pude ver peregrinos que caminhavam em direcção a Fátima, com pés doridos e rostos cansados. As bermas das estradas testemunham a fé de milhares de pessoas, nem sempre compreendidas pelo comum dos mortais. Há, realmente, forças que se manifestam para além do entendimento humano. Peregrinações de todos os quadrantes de Portugal e muitas do estrangeiro. Orações fervorosas sem respeitos humanos, promessas capazes de levar joelhos a sangrarem, lágrimas de agradecimento que comovem. Olho tudo isto com muita compreensão. Que Nossa Senhora então os receba com todo o carinho de Mãe, ou ouça e os ajude a enfrentarem as suas dificuldades com coragem e determinação. São os meus votos. É que Ela, decerto, não vai substituir-nos nas nossas obrigações de lutar pelo nosso futuro. Mas poderá "aconselhar-nos" os melhores caminhos, que são os caminhos da verdade, da justiça social, da fraternidade, da paz e do amor! FM