segunda-feira, 13 de abril de 2009

Raul Brandão: Nós não vemos a vida

Nós não vemos a vida - vemos um instante da vida
Nós não vemos a vida – vemos um instante da vida. Atrás de nós a vida é infinita, adiante de nós a vida é infinita. A primavera está aqui, mas atrás deste ramo em flor houve camadas de primaveras de oiro, imensas primaveras extasiadas, e flores desmedidas por trás desta flor minúscula. O tempo não existe. O que eu chamo a vida é um elo, e o que aí vem um tropel, um sonho desmedido que há-de realizar-se. E nenhum grito é inútil, para que o sonho vivo ande pelo seu pé. A alma que vai desesperada à procura de Deus, que erra no universo, ensanguentada e dorida, a cada grito se aproxima de Deus. Lá vamos todos a Deus… Toda a vida está por explorar: só conhecemos da vida uma pequena parte – a mais insignificante. E o erro provém de que reduzimos a vida espiritual ao mínimo, e a vida material ao máximo. (...) Deus é eterno… A alma há-de acabar por se exprimir, Deus, que olha pelos nossos olhos e fala pela nossa boca, há-de acabar por falar claro. Siga a vida seu curso esplêndido. Sabe a sonho e a ferro. É ternura e desespero. Leva-nos, arrasta-nos, impele-nos, enche-nos de ilusão, dispersa-nos pelos quatro cantos do globo. Amolga-nos. Levanta-nos. Aturde-nos. Ampara-nos. Encharca-nos no mesmo turbilhão. Mas, um momento só que seja, obriga-nos a olhar para o alto, e até ao fim ficamos com os olhos estonteados. Eu creio em Deus. Raul Brandão (1867-1930) Ver mais aqui

domingo, 12 de abril de 2009

Mensagem de Páscoa de Bento XVI

"(...) a ressurreição não é uma teoria, mas uma realidade histórica revelada pelo Homem Jesus Cristo por meio da sua «páscoa», da sua «passagem», que abriu um «caminho novo» entre a terra e o Céu (cf. Heb 10, 20). Não é um mito nem um sonho, não é uma visão nem uma utopia, não é uma fábula, mas um acontecimento único e irrepetível: Jesus de Nazaré, filho de Maria, que ao pôr do sol de Sexta-feira foi descido da cruz e sepultado, deixou vitorioso o túmulo. De facto, ao alvorecer do primeiro dia depois do Sábado, Pedro e João encontraram o túmulo vazio. Madalena e as outras mulheres encontraram Jesus ressuscitado; reconheceram-No também os dois discípulos de Emaús ao partir o pão; o Ressuscitado apareceu aos Apóstolos à noite no Cenáculo e depois a muitos outros discípulos na Galileia."
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sábado, 11 de abril de 2009

Confissões do actor Miguel Guilherme na SÁBADO

A sua fé tem um efeito calmante? Não, é inquietante. Nunca peço nada a Deus. A fé é sempre uma angústia. Todos os dias a questiono.
Reza? Sou um péssimo católico. Umas vezes sim, outras não. Tento não olhar para Deus como se ele me fosse julgar. É um companheiro.
Vai à missa? Costumo ir. Mas não percebo como é que esta questão da fé é tão falada. É como se o catolicismo ou ser religioso fosse uma coisa estranha. Acho que muitos católicos não dizem que o são por vergonha. A minha vida não mudou grandemente por causa disso.
Fez um retiro de isolamento. Fiz, numa casa de retiros dos jesuítas. Andava à procura de uma dimensão espiritual fora do dia-a-dia.
Pensa muito no rumo da sua vida? Cada vez tenho menos medo do futuro. Talvez a fé me tenha dado mais serenidade para aceitar as coisas.
In SÁBADO

TECENDO A VIDA UMAS COISITAS –126

BACALHAU EM DATAS - 16

Um escuna

MEADOS DO SÉCULO XIX: REACTIVAÇÃO DA PESCA DO BACALHAU
Caríssimo/a: E retomemos o desenrolar dos anos e ... dos séculos:
Século XIX - «A pesca do bacalhau foi apenas reactivada pelos portugueses a partir da década de trinta do século XIX, época em que se promulgou legislação especificamente destinada a promover esta actividade, nomeadamente determinando a isenção de pagamento da dízima.»[Creoula, 09] 1802 - «Em 1802 é tornada livre a pesca, tanto na costa, como no mar alto, mas só nos princípios do século seguinte, depois de algumas tentativas de certo modo infrutíferas, se sente novo impulso.»[BGEGN, 1991, 7] 1816 - «Viana do Castelo já não tem uma única embarcação na pesca do bacalhau.» [Oc45, 79] 1830.NOV.06 - «Será apenas a partir de 1830 que a situação estagnante da nossa pesca se vai modificar progressivamente. Com efeito um Decreto de 6 de Novembro de 1830 visava criar incentivos à pesca em geral e consequentemente a pesca do bacalhau também era abrangida. A pesca do bacalhau deixou de pagar a dízima; neste mesmo decreto estipula-se uma licença anual de 3$000 réis de direitos e de 480 réis de emolumentos por barco. Ao basear o novo imposto no número de barcos e não na quantidade de pescado, estava a pesca do bacalhau a receber um impulso de suma importância. Incentivada pelo ambiente favorável, a Companhia de Pescarias Lisbonense pretendeu relançar de forma organizada a pesca nos bancos da Terra Nova, e teve de recorrer à Inglaterra para adquirir seis escunas aparelhadas para este tipo de pesca, sendo a tripulação também inglesa. O objectivo desta compra parece ter resultado plenamente sob alguns pontos de vista, que mais não seja a julgar pelo vocabulário de origem inglesa utilizado até aos nossos dias pelos pescadores portugueses.» [HPB, 24/25] 1835 - «… [I]senção do pagamento da dízima. O governo adoptou ainda outras medidas de fomento piscatório, contribuindo decisivamente para que em 1835, a Companhia de Pescarias Lisbonense se propusesse explorar a pesca do bacalhau, enviando, logo nesse ano, aos bancos da Terra Nova, seis escunas.»[Creoula, 09] «Em Julho de 1835, é constituída a Companhia de Pescarias Lisbonense, cujos planos incluíam entre outras actividades (pesca da baleia, atum e sardinha), a “do bacalhau nos bancos da Terra Nova e da Islândia”. Esta companhia teve de recorrer a Inglaterra para adquirir seis escunas aparelhadas para este tipo de pesca. Também a tripulação era inglesa.» [Oc45, 78] 1842 - «É publicado um novo regulamento da pesca do bacalhau.»[HPB, 26/28] 1845 - «Publica-se a carta de Lei de 10 de Julho, onde se mandava substituir as licenças por cada barco por um imposto proporcional às pescas.»[HPB, 26/28] 1848 - «Neste ano, 19 barcos compunham a frota: 5 escunas, 12 patachos, 1 brigue e uma barca. A tonelagem destes barcos variava entre 81 t para a escuna TENTATIVA, sendo o maior de todos o brigue VESTAL com 131 t. O número de tripulantes por barco variava entre 15 e 20 pessoas. A frota largou, de um modo geral, em Maio e regressou em Setembro; levou cerca de 25 dias para atingir os bancos e pouco menos, como é natural, para regressar, tendo permanecido nos bancos à volta de 110 dias. Estes dezanove barcos pescaram 659.053 bacalhaus.» [HPB, 26 a 28] 1849 - «O estado europeu que neste século desenvolveu uma actividade de pesca mais intensa na Terra Nova foi a França. “A pesca ocupa anualmente mais de quatrocentos navios franceses; duzentas embarcações de cabotagem e de transporte são destinadas além daqueles, às operações acessórias da pesca. Assim esta indústria entretém no mar uma esquadra de 700 velas e dezoito mil marinheiros, que constituem aproximadamente a quarta parte do pessoal válido da inscrição marítima; reserva preciosa, sempre disponível e endurecida na profissão a mais rude, sobre um mar tempestuoso e sob um clima assaz rigoroso; reserva indispensável, mas ainda insuficiente para o armamento das esquadras francesas em tempo de guerra.”» [Oc45, 69]
Fica bem este raiar de novas eras na quadra festiva que atravessamos. Feliz Páscoa! Manuel

Páscoa-Ressurreição

Desde os primórdios da minha existência como ser humano racional, que me deslumbro com esta festa do calendário litúrgico. Festa sim, em toda a abrangência da palavra, pois se comemora, agora, não a natividade, mas sim a vitória da vida sobre a morte! Desde miúda que observo como a natureza, nesta Primavera farta, se associa a este cântico de louvor ao nosso Criador, e a minha alma, que por vezes se vestiu de luto, enverga agora as cores mais garridas, numa alegria esfuziante e numa candura extemporânea. É para mim a festa da Primavera! Quando desço ao jardim, sou assaltada por um espectáculo verdadeiramente sinestésico. Os amores-perfeitos, os lírios, as prímulas, os ranúnculos, os goivos... presenteiam-me com a garridice das suas cores vivas... Os beijinhos de frade ainda estão a ensaiar os primeiros passos nesta aventura da floração! Mas... quando eclodirem, aparecerão aos magotes ou enfileirados como numa qualquer filinha indiana para beijar a mão ao pontífice! Ao tacto será experimentada a textura acetinada dos amores-perfeitos, que deixam uma sensação de aveludada fragrância! E perante esta explosão dos sentidos, que me atestam toda a generosidade com que fui dotada pela herança genética... num acto de contrição, eu penitencio-me, nesta quaresma tardia, a espreitar já os laivos da libertação! Sim, prescindindo da confissão e penitência consequente, eu admito e condeno o meu pecado da ingratidão. Não para com alguns humanos, a quem já demonstrei que não sou sofro de amnésia, mas perante o Criador! Aqueles momentos de algum desalento perante as procelas da vida, aquelas dúvidas que me assaltam, sobre os desígnios que presidiram à minha peregrinação na terra, são a manifestação humana desse meu pecado da ingratidão. Deus foi muito generoso para comigo, facultando-me uma riqueza incalculável, nos dons de que me dotou e de que eu sou altamente beneficiada. Não são um dado adquirido, não são! Quantos cegos adorariam contemplar a riqueza policroma do meu jardim primaveril? Quantos surdos-mudos não rejubilariam ao sentir a beleza dos acordes melodiosos da música, em tantas formas consubstanciada? E enumeraria uma panóplia de maravilhas que não estão ao alcance de todos. E... todos somos filhos de Deus, como desde menina me habituaram a ouvir! Depois disto, fico verdadeiramente grata ao meu Senhor, pela maravilhas que em mim operou! E..são tantas, que não irei enumerar, pelo perigo de cair num narcisismo pretensioso. Mas recordo aquela saída da garotinha que, perante um espectáculo de rara beleza, para ela, saiu-se com esta: - O céu estava tão azulinho, tão azulinho que até parecia um moranguinho! E... viva a Páscoa, o Homem novo, a libertação interior e a natureza engalanada para proclamar a ressurreição de Cristo! Eu... sou fã d'Ele! Do Homem... íntegro, sábio, maduro... que não condenou a Maria Madalena, antes lhe perdoou e a mandou ir em paz... como é apanágio das almas nobres!
M.ª Donzília Almeida

Homem pobre

Em Vilamoura, quando me dirigia para a Marina (para quando a Marina da Barra?), dou de caras com uma carrinha espanhola que trazia, na retaguarda, uma legenda no mínimo curiosa e cheia de sentido. Dizia assim:
"Conheci um homem tão pobre que só tinha dinheiro."
Tem sorte este indivíduo com sentido de humor, por só conhecer um homem desses. É que eu conheço muitos!

Gaivota em descanso

A proximidade do mar oferece-nos, constantemente, paisagens encantadoras. A gaivota voava, como que a chamar a nossa atenção para a sua beleza, cheia de agilidade. Voava, pairava no ar e depois, como quem espera os aplausos, de quem a seguia, parou ali mesmo, posando para a fotografia, com o oceano em fundo.