Teria razão Kierkegaard quando defendia que o cristianismo olha para a história tomando o ponto de vista da alegria? Aparentemente não. O poeta Baudelaire lembra que, nos relatos dos Evangelhos, nem por um momento, Jesus sorri (expressando, no entanto, outro tipo de paixões), recuperando uma citação de São João Crisóstomo: «Ele chorou algumas vezes, mas nunca se riu». Este aforisma ganhará em Nietzsche contornos de suspeição generalizada sobre o cristianismo moderno: o cristianismo surgiria mais credível se os cristãos parecessem satisfeitos. Encontra-se, de facto, a ideia culturalmente difusa de uma ausência de alegria nos textos sagrados, na teologia e no viver cristãos, que vincariam sobretudo o peso da exigência moral e o fantasma das culpabilidades. Sem dúvida, tal deriva de uma leitura insuficiente da proposta cristã, que é, desde o princípio, o anúncio de «uma grande alegria» (Lc 2,10). O escritor G.K. Chesterton, conhecido também pelo seu bom-humor, desmente os que dizem que o paganismo é uma religião de alegria e o Cristianismo uma religião de tristeza: «O comum dos homens viu-se forçado a ser alegre no que dizia respeito às pequenas coisas, mas triste no que se refere às grandes. No entanto não é próprio da condição humana ser assim. O homem é mais ele próprio, o homem é mais semelhante ao homem, quando a alegria é a coisa principal que se encontra nele, e a tristeza é uma coisa acidental. A melancolia devia ser um inocente entreacto, uma terna e fugitiva moldura do espírito, ao passo que a alegria deve ser a constante pulsação da sua alma… A alegria é o gigantesco segredo do cristão».
A alegria não é um produto de consumo rápido, nem é uma questão cuja procura se possa substituir ou calar no coração Humano, deixando-a apenas à estratégia comercial das indústrias do entretenimento. «Jesus estremeceu de alegria sob a acção do Espírito Santo e disse: “Bendigo-te, ó Pai, Senhor do Céu e da Terra, porque escondeste estas coisas aos sábios e aos inteligentes e as revelaste aos pequeninos”» (Lc 10,21). Um dos dramas da hora presente é ser tão estreito o cânone da felicidade.
José Tolentino Mendonça
terça-feira, 10 de fevereiro de 2009
segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009
“São precisos professores que gostem de ler"

Graça Barbosa Ribeiro entrevistou Carlos Reis, especialista em Estudos Portugueses e coordenador dos novos programas de Português destinados aos alunos dos 1.º, 2.º e 3.º ciclos do Ensino Básico, para o jornal PÚBLICO. A dado passo da entrevista, que pode ser lida naquele diário, em edição online, na página 10, Carlos Reis diz que, “Para termos alunos que gostem de ler são precisos professores que gostem de ler, que entendam a literatura como um domínio de representação cultural com uma grande dignidade e com uma enorme capacidade de nos enriquecer do ponto de vista humano. Claro que isto ultrapassa, em muito, a esfera de actuação de quem prepara programas de Português, e está intimamente relacionado com a actual crise das Humanidades”. Já aqui escrevi isto várias vezes. Mas é melhor ler a entrevista no PÚBLICO.
O Terrível Erro Estratégico
:
:

"O erro económico de José Sócrates está em acreditar que o investimento público é bom em si mesmo. O primeiro-ministro demonstra uma fé cega na virtualidade imperativa dos projectos: basta anunciá-los e gastar dinheiro para a economia arrancar. Esquece que todo o dinheiro que gasta vai tirá-lo ao bolso dos contribuintes. Tal como o investimento privado, os projectos do Estado têm de ter utilidade e justificação. Aliás até têm de ter mais, pois usam o dinheiro dos pobres. Apostar milhões em obras faraónicas nunca resolveu nenhuma crise."
Padre Carreira das Neves: "Darwin é só da Terra"
O que podemos ainda aprender com «A Origem das Espécies»?
Padre Carreira das Neves - Marca uma nova época na concepção da Natureza, a nível biológico e cosmológico. O Universo biológico e humano deixa de ser interpretado à luz exclusiva da fé religiosa num Deus criador para ser interpretado à luz das leis científicas da natureza que originam as espécies da biologia natural e humana. Darwin parte do princípio da evolução em que as espécies mais fortes - por selecção natural - suplantam as mais fracas ao longo de séculos e milénios. Continua a representar, como cientista, o papel de um dos maiores símbolos do século XIX.
Leia mais aqui.
Mar da Barra
(Clique nas fotos para ampliar)
O mar da Barra, na Gafanha da Nazaré, continua a dar dores de cabeça aos mais argutos técnicos. Quando se pensa que está tudo bem, de repente ele ataca com toda a sua bravura, não perdoando a quem encontra pelo caminho. Daí os receios de que ele chegue às habitações e às pessoas, ferindo-as de morte. Esperemos que não. Leia mais no DA de hoje.
domingo, 8 de fevereiro de 2009
SINAL +

TECENDO A VIDA UMAS COISITAS – 117
BACALHAU EM DATAS - 7

Naufrágio do Primeiro Navegante, na Praia da Barra
MANDOU O SENHOR REI D. MANUEL...
Caríssimo/a:1506 - «Acrescenta o referido autor [Sebastião Francisco Mendo Trigoso, 1813] que, logo “ em 14 de Outubro de 1506, isto é, seis anos depois do segundo descobrimento [dos irmãos Corte-Reais], mandou o Senhor Rei D. Manuel I, por um decreto datado de Leiria, a Diogo Brandão, que fizesse arrecadação pelos oficiais d'el-rei o importante dízimo do pescado, que por ali se conduzia da Terra Nova”.» [Oc45, 77]
«A dízima mandada cobrar por D. Manuel I, em 1506, sobre as pescarias na Terra Nova teria servido a pagar as despesas das viagens dos Corte Reaes, o que significa que o volume de pesca proveniente dessas zonas era já bastante importante. Assim sendo, é de admitir que se tratava de uma pesca com pelo menos alguma tradição.» [HPB, 18]
«Se bem que o porto de Aveiro não estivesse especificado neste Alvará, diz Marques Gomes [s/d, p. 125] que só neste porto, o imposto rendia então a soma de 4.000 réis. Tal facto não é de admirar já que Aveiro sempre foi, pelo menos desde esta época, um dos principais portos bacalhoeiros do país. Em 1504 havia mesmo na Terra Nova colónias de pescadores de Aveiro assim como de Viana do Minho.» [HPB, 20 e 120 e Oc45, 77 e 120]
«Foram os portugueses os únicos a dispor desde 1506 de uma colónia fixa na Terra Nova e nas costas do Canadá, composta de gente de Viana, de Aveiro e da Terceira. Segundo Luciano Cordeiro, no princípio do século [XVI] só de Aveiro saíam anualmente 60 navios com destino à Terra Nova, chegando a um número que rondava 150 navios em 1550.» [Oc45, 28]
«No reinado de D. Manuel I foi Aveiro o porto português que mais navios enviou à Terra Nova. Segundo a Corografia Portuguesa havia então 60 naus destinadas à pesca na Terra Nova e em 1550 este número seria de 150.» [HPB, 21]
«No tempo de D. Manuel I foi Aveiro o porto português que mais naus enviou à pesca do bacalhau, possuindo os pescadores de Aveiro 150 embarcações próprias para esta pesca.» [FM, 7]
«À luz dos documentos históricos, os Portugueses terão sido os primeiros europeus a praticarem ali a pesca, sempre num crescendo que foi abruptamente interrompido com a perda da nossa independência, após o desastre de Alcácer-Quibir.» [HDGTM, 27]
De facto, aproveitando “a luz dos documentos históricos”, muito nos falta ainda aprender e saborear com esta surpreendente pesca do bacalhau. Sentemo-nos, pois, e petisquemos que o imposto já então era cobrado...
Manuel
Subscrever:
Comentários (Atom)