Num mundo transtornado por tantas razões, as sérias e também as fúteis, vale a pena saber que há gente com coração largo. Quando pouco ou nada vemos à nossa volta, vale a pena saber que há mulheres e homens que enxergam a esperança, mesmo de olhos fechados. Quando não se calam as vozes que anunciam mais amarras, vale a pena saber que há pessoas que dão uso ao ouvido do coração, abrindo um porto seguro.
A vida consagrada é hoje um esteio de humanidade. Para todos, mesmo os nãos crentes. Para a Igreja continua a ser, como sempre foi, aquele tesouro frágil que tanto mais a enriquece, quanto não lhe pertence a iniciativa do dom, sempre da Graça. Para uma sociedade cada vez mais secularizada, entre o incompreensível e o admirável, ela avulta como sinal de radicalidade, profundamente questionador das entregas e dos sonhos. Para uns e outros, percebendo-o ou não, a vida consagrada torna visível um amor encarnado, um amor louco de entrega, um amor chamado à glória pelo caminho da cruz.
As religiosas e os religiosos que conhecemos, que não conhecemos, de quem ouvimos falar, ou que nos passam pela existência com a discrição de quem se apaga para servir, dão do ser cristão no mundo de hoje um testemunho único. E como seria diferente o mundo que conhecemos sem eles. Mais pobre, sem dúvida, talvez mesmo mais brutal ainda, de qualquer modo menos atraente. O amor destas mulheres e destes homens, tantas vezes provado, há-de sempre fazer lembrar, aos mais despertos e também aos outros, que a vida entretecida na gratuidade e no dom é por Deus abençoada com fecundas realizações.
Que a Igreja estime com particular afecto aquelas e aqueles que lhe mostram o amor de Jesus com os traços da autêntica caridade fraterna, não parece de estranhar. Que também cada um de nós o faça com genuína alegria de coração é caminho a fazer todos os dias.
João Soalheiro