quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Incoerências no horizonte do Portugal moderno

O Presidente da República, no direito que lhe assiste, vetou a nova lei do divórcio e deu razões do seu acto. Logo vieram à praça pública pessoas e grupos para protestar e o mimosear com os habituais epítetos. Sempre os mesmos: conservador, reaccionário, travão do Portugal moderno. Os jotas do PS, incontidos aspirantes a cargos políticos, não pouparam as críticas, afirmando à sua maneira que “ninguém nos trava”. O Dr. Louçã, a sonhar com uma coligação que o possa levar ao governo, fez no essencial coro com a vaga socialista. Manuel Alegre, numa aproximação pensada e interessada, disse que “este veto não é só político, mas ideológico e que traduz uma visão conservadora e ultrapassada da vivência e necessidades da sociedade actual”. Frase cuidada a não dizer nada. Pedro Passos, para não espantar a gente nova, também disse sim e não.
No dizer dos mais empenhados em esvaziar o país de compromissos consistentes, negar valor à instituição familiar, pôr debaixo do tapete direitos de alguns cidadãos, fazer dos portugueses uma carneirada abúlica e submissa à qual só se permite dobrar a cabeça aos poderes da maioria democrática, o Portugal moderno precisa do divórcio facilitado, do casamento dos homossexuais, do uso livre das drogas, do aborto sem restrições, da eutanásia a pedido, de cortar com o conservadorismo da Igreja…
António Marcelino
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terça-feira, 2 de setembro de 2008

O pão com o suor do rosto

Não há duas situações iguais. Mas há algo de comum na mole humana que invade as cidades no final de Verão, nas crianças e jovens que regressam à escola, nos emigrantes que de novo deixam a sua terra, nas aldeias que vêem outra vez partir os visitantes, nas comunidades cristãs que alteram a sua configuração nas celebrações e nas actividades pastorais. Junto a tudo isto o tempo, contado e gerido de outra forma, a disponibilidade para as pequenas coisas, o contacto directo e íntimo com o mar ou a montanha, os sabores da terra que nunca serão transplantados mesmo que se experimentem no local comum de habitação. E a referência ao húmus, à Terra Natal que por qualquer razão difícil de discernir, se deixou, se retoma e abandona com o role de recordações dum passado que tanto se critica e tão ciosamente se ama. E não se trata só da terra. Há pessoas, afectos, linguagens, ambiências, recordações, aventuras e dores comuns, histórias que se contam e só fazem sentido cruzadas pelo olhar de quem melhor compreende todo o cenário da nossa vida. Dir-se-ia que há transparências que só se vislumbram pela linguagem e pressupostos que as histórias comuns constroem. Chega a hora de varrer a nostalgia e começar tudo, quase como se fosse de novo, com um arranque lento e uma espécie de preguiça dolosa que não é mais que o jogo de mudanças na caixa de velocidades que comanda o nosso passo. Tudo isto porquê? Porque se enquadra na nossa ancestral vocação nómada, peregrina, errante, misturada com os complexos acréscimos que as novas urbes, agregados e ferramentas de trabalho nos impõem. E a que o pão de cada dia obriga. Horários, técnicas, meios de transporte, especialização, leis de mercado, aceleração de mudanças, choque de valores, arritmia de transformações, tudo remexe o nosso íntimo e como que altera as leis milenares que nos deram uma forma de viver e conviver. Melhor? Pior? É a história, onde o plano criador e redentor de Deus tem um lugar, uma explicação e uma esperança de que o caminhar do mundo tem a sua dor e a sua grandeza no Génesis em marcha. E não é preciso muito mais para gostarmos de regressar ao trabalho.
António Rego

FÉRIAS: Notas do Meu Diário

FÉRIAS COM ENIGMAS À MISTURA
 
Em férias, é suposto haver dias livres. Livres, significa sem programa pré-definido. No dia 6 de Agosto foi assim, apenas com a preocupação de ler alguma coisa. Levantar cedo, sem correrias, café da manhã tomado na esplanada da piscina, onde jovens de muitas idades vão chegando, mais preocupados em mergulhar ou brincar na água transparente. Jovens com linguajares diferentes, onde pontificava o inglês.
Leitura do jornal de há muitos anos, o PÚBLICO, para tentar perceber o que vai pelo mundo, já que é impossível alhear-me de tudo. Depois, um livro que me ofereceram, que dá para recordar, ou tentar perceber, alguns meandros da nossa história – “Grandes Enigmas da História de Portugal”. Livro recente, com edição da Ésquilo, oferece um conjunto de temas, da pré-história ao século XV. Coordenação de Miguel Sanches de Baêna e Paulo Alexandre Loução. 
No prólogo, somos alertados para um desafio interessante: “Este não é mais um livro sobre História de Portugal. É uma obra onde, a partir de documentos e factos, se divulgam as incertezas e os enigmas que preenchem a nossa História, dando espaço ao leitor para tirar as suas próprias conclusões.” O desafio é curioso, mas não sei se o conseguirei respeitar, pois que há opiniões diversas sobre o mesmo assunto, sempre com argumentos, aparentemente consistentes, mais ou menos. De qualquer forma, pelos capítulos que já li, penso que, mais coisa menos coisa, ficarei quase como dantes. 
Vamos lá agora saber se D. Afonso Henriques era, tal como rezam as crónicas antigas, filho de D. Teresa e do conde D. Henrique… Não há ADN nenhum que nos possa garantir seja o que for. O que sabemos, e isso é indesmentível, é que ele foi um valentão para lançar as raízes da futura pátria portuguesa, independentemente dos pais que teve. Pois é verdade. 
Enquanto a malta nova, de várias idades, mergulhava na piscina, incluindo a minha esposa, filhos e netos, estava eu mergulhado nestes enigmas da nossa história, com um olho no livro e outro neles. E vai mais um capítulo, com textos bem delineados e bem escritos, uns, e outros nem por isso. Uns que se lêem com agrado e outros que me obrigam a virar a página, sobretudo os que andam à volta de esoterismos e iniciações complicadas, de que ainda hoje se fala, sobretudo em torno da maçonaria.
Será que os lusitanos teriam de facto um armamento superior aos romanos e que possuíam o maior e mais organizado exército da época? E D. Afonso Henriques teria realmente mais de dois metros de altura? O Papa João XXI, o único que foi português, teria sido assassinado por ser herético e um curandeiro? 
Ora, meus amigos, durante as férias tive realmente tempo para pensar nisto. E que conclusão tirei? Se calhar fiquei a saber o que já sabia: que a história de Portugal, como outras, está cheia de mistérios, reais uns e inventados outros. Porque era preciso criar mitos. Haverá alguma história no mundo que os não tenha?

Fernando Martins

6 de Agosto

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

ARTES E OFÍCIOS TRADICIONAIS

Jorge Saraiva cultiva a arte de reproduzir motivos regionais
A BARRICA JÁ TEM "SITE" ACTUALIZADO
Já se encontra activo e actualizado o “site” d'A Barrica, que mora em http://www.aaabarrica.net/. Os contactos dos seus 32 associados e a variedade de produtos artesanais podem ser consultados na Galeria da página, do mel à tecelagem, passando pela cerâmica e pelos ovos-moles. As grandes dificuldades económicas que a associação atravessa vieram unir ainda mais os artesãos da região, com a partilha das despesas por todos, segundo me informou Jorge Saraiva, o artesão que entrevistei há dias, no Festival do Bacalhau. A vontade de ser, estar e fazer cada vez melhor é o novo lema de todos os artesão ligados à associação A BARRICA. No “site” é possível ver que, mesmo sem recursos e sem fins lucrativos, mas com a preocupação da promoção das Artes & Ofícios Tradicionais da nossa região, se consegue construir um local de divulgação cultural e turístico, que chega a ultrapassa o nosso país.
:
Aqui ao lado, em CULTURA, pode consultar regularmente A BARRICA.
FM

domingo, 31 de agosto de 2008

MANOEL DE OLIVEIRA: Sinto Cansaço Apenas

"Sinto cansaço apenas. De fazer a barba todos os dias, de levantar, vestir, tomar banho, pequeno-almoço, comer, mastigar, engolir... Tudo isso, essas coisinhas fáceis e corriqueiras mas que são sempre as mesmas. É sempre a mesma coisa, a mesma ordem, ver a televisão... Tudo isso é uma chatice".
Manoel de Oliveira, "Diário de Notícias"

Gafanha da Nazaré em Festa

NOVO PRIOR QUER QUE A COMUNIDADE CRISTÃ
SEJA FERMENTO DE UMA NOVA HUMANIDADE


A Gafanha da Nazaré viveu hoje três datas marcantes: A criação da paróquia, em 31 de Agosto de 1910, com o decreto de erecção canónica do Bispo-Conde de Coimbra, D. Manuel Correia de Bastos Pina, diocese à qual pertencia este espaço geográfico; a Festa da Padroeira, Nossa Senhora da Nazaré; e a tomada de posse do novo prior, padre Francisco Melo. 
Com a igreja repleta de fiéis, D. António Francisco dos Santos, Bispo de Aveiro, lembrou, à homilia, que estávamos a viver um momento de oração e de acção de graças por tantos dons recebidos durante os 98 anos de vida da paróquia, mas logo adiantou que não nos podemos conformar com a lógica do mundo, antes devemos seguir os “critérios do evangelho”. 
Hoje – sublinhou D. António – é um ”abençoado dia de gratidão e de esperança” pelo trabalho realizado ao longo dos tempos, desejando que a freguesia receba com alegria o novo pároco, a quem agradeceu “o sentido de comunhão fraterna” com que acolheu o seu convite para esta missão. 
Depois da tomada de posse, o agora prior da Gafanha da Nazaré, padre Francisco Melo, sacerdote há 15 anos, falou da importância de todos construirmos uma comunidade cristã “centrada na eucaristia, humilde, sóbria e fraterna”, que seja “fermento de uma nova humanidade”. Prometeu lealdade, abertura e colaboração com as instituições e os poderes instituídos, “para melhor servir o homem”. Ainda manifestou vontade de que a comunidade da Gafanha da Nazaré seja mais “missionária e ecuménica”, apontando a celebração do centenário da paróquia, em 2010, como ponto de partida para “um novo fervor evangélico”.

FM

MINEIROS


Mineiros 
gigantes da terra 
cultores de uma arte tenebrosa e bela
toupeiras do solo carvoento 
símbolo da vida 
sofrimento
mortalha de canseiras e suores acesos 
exemplo flagrante de homens livres 
presos!

Cerveira Pinto



Nota: O Cerveira Pinto, de banca meu companheiro, como ele dizia, era um poeta nato. A sua poesia nascia, por isso, espontaneamente. Já lá vão algumas décadas quando este poema lhe saiu, num intervalo de uma aula. Passou-me o papel onde acabara de o escrever. Fixei-o, em parte. Há tempos enviou-me o que faltava. Aqui o publico como homenagem à amizade. Nunca mais li qualquer dos seus poemas. Será que a veia secou?


FM

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