segunda-feira, 25 de agosto de 2008

OFICINA DA FORMIGA: Artesanato com Arte






Sendo certo que a cerâmica “é a sublime arte de fabrico de objectos, tendo como elemento fundamental o barro”, como se sublinha no “site” da Oficina da Formiga, de Jorge Saraiva, de Ílhavo, a verdade é que, nem sempre, as pessoas da nossa região se dão conta das riquezas que, nesta área da cultura, temos entre nós. Daí que eu veja, com gosto, a apresentação pública dos nossos artistas, sobretudo dos artesãos. Neste Festival do Bacalhau, encontrei-me, entre outros, com o Jorge Saraiva, da Oficina da Formiga, que vale a pena ver e ouvir.


FM

FESTIVAL DO BACALHAU

Presidente da Câmara de Ílhavo aprecia o trabalho de Anabela
Anabela Capucho pinta uma narceja
Nestes certames, para além da mola real que os anima, tem havido, com muita frequência, mostras de artesanato. Ontem contactei com Anabela Capucho, que ocupava um lugar especial no recanto atribuído à Fábrica da Vista Alegre. Pintava uma narceja, ave pernalta de arribação, que encontrou, ao longo dos tempos, ambiente propício na nossa ria. Anabela é pintora na Vista Alegre há 28 anos, dedicando-se no dia-a-dia a reproduzir peças-modelo criadas pelos mestres pintores da fábrica, de tantas tradições a nível nacional e com assinalável projecção internacional. Uma narceja, como a que vi ontem, leva quatro dias a pintar pela Anabela, trabalhando oito horas por dia, valendo, no mercado, 1750 euros, cada uma. Mas a pintora, que gosta muito do que faz, pinta tudo o que os mestres têm em carteira, fazendo-o com muita serenidade e sensibilidade. Com mão firme e olhos que reproduzem uma atenção muito grande. Trata-se de peças de coleccionadores ou de simples apreciadores da arte que sai da famosa Fábrica da Vista Alegre.
FM

FESTIVAL DO BACALHAU

Ribau Esteves procede ao sorteio de um bacalhau
FESTA FOI GRANDE SUCESSO
O Festival do Bacalhau, que ontem terminou no renovada Jardim Oudinot, foi um sucesso, que ultrapassou todas as expectativas, referiu Ribau Esteves, o autarca ilhavense . A grande enchente aconteceu no sábado, com a actuação da artista Mariza, o que prova que a artista merece bem o lugar de destaque que ocupa ao nível da canção. O bacalhau, o rei das tasquinhas, também atraiu inúmeros visitantes e apreciadores da gastronomia local, onde as padas de vale de Ílhavo foram rainhas, para quem gosta de pão sem qualquer aditivo. Como consequência de tudo isto, há já a garantia, por parte da Câmara Municipal de Ílhavo, de que o Festival do Bacalhau acertou com o sítio certo para os próximos anos.

domingo, 24 de agosto de 2008

JOGOS OLÍMPICOS: A Festa Terminou

A festa dos Jogos Olímpicos terminou em Pequim, com um espectáculo memorável. A festa dos Jogos Olím-picos, a maior do universo, com variedade e amplitude, com emoções e entusiasmos, com tristezas e alegrias, com vitórias e derrotas, atraiu milhões de pessoas, mostrou-se a todo o mundo, uniu continentes, aproximou povos de todas as latitudes, espalhou compreensões e mostrou a todos os homens e mulheres dos nossos tempos que a paz é possível, que a harmonia é desejável, que o entendimento entre nações é meta para a qual todos temos a obrigação de correr. Mais alto, mais longe, mais forte e mais rápido podem ser e são, se todos quisermos, ideais nobres para as presentes e futuras gerações. Se todos quisermos!

TECENDO A VIDA UMAS COISITAS - 91

A LÍNGUA PORTUGUESA
Caríssima/o: O livro da primeira classe estava dividido em duas partes: a primeira, de letra grada, era para aprender a ler; a outra, de letra miudinha, para praticar a leitura. A fase inicial, depois do aeiou, consistia em “juntar as letras” - um t e um a...ta; e por aí adiante, percorrendo todos os sons; praticando de seguida os ditongos e os casos especiais... Quando se dava o X e a seguir vinha a letra miudinha, era um alívio e uma satisfação de arromba! Ponhamos a ressalva de que era norma repetir integralmente toda a primeira parte, embora de forma mais rápida, de modo a que, chegando o Carnaval, se estava apto para o tal salto: estar capaz para a tal letra miudinha! A minha memória, que por vezes me vai atraiçoando, fez-me presente que nesses tempos havia a “primeira dos cartões” - espécie de maldição: criança que encalhasse e não ultrapassasse os malfadados cartões, quase certo, não chegava a fazer exame da 3.ª classe! A escrita ia acompanhando a leitura, na aprendizagem das letras e depois a copiar as palavras que se aprendiam. Na 2.ª classe, continuava-se o treino da leitura, agora acompanhada pela cópia e de alguns ditados; iniciava-se a escrita de frases com respostas a perguntas, como iniciação à redacção. A 3.ª era já uma classe de franca transição: apostava-se na redacção e no ditado, intercalados com a introdução de noções gramaticais. Atingida a 4.ª classe, o treino era mais intensivo quer na leitura, quer no ditado e o maior cuidado também na gramática (na qual, se a quarta fosse “bem feita” se apreendiam noções que seriam válidas até ao 5.º ano do liceu, o actual nono ano! Só como cheirinho: conjugações pronominais e reflexas, vozes activa, passiva e perifrástica, sem esquecer a divisão de orações aos saltos e o nome predicativo do complemento directo...) Como se vê era um programa exigente e que dava bem que entender, principalmente no ditado (onde o número de erros era muito limitado...). [Certo que agora com o novo acordo ortográfico!...] Manuel

sábado, 23 de agosto de 2008

FÉRIAS: Notas do Meu Diário

AMIZADES PARA A VIDA


Praia do Barril

Ao longo da vida criamos muitas amizades, algumas das quais crescem com o tempo, apesar das distâncias que nos separam uns dos outros. Uma dessas amizades, das tais que se consolidam com o decorrer dos anos, nasceu há décadas com uma família de Chaves, que viveu perto de nós, na Gafanha da Nazaré. Refiro-me aos meus amigos Nazaré e António Fernandes e aos seus filhos, Pedro, José Carlos e Vítor. Depois, o grupo alargou-se às noras e aos netos, Erika e Paula, Mariana, Alexandra, Rita e Francisco. 
Quando o encontro, programado ou ocasional, acontece, experimentamos, naturalmente, uma renovada alegria. Este ano nada fazia prever o reencontro com a família flaviense. Que não era fácil uma estada, para gozo de férias, naquela altura do mês de Agosto, no Algarve, diziam-me. Mas eu, que acredito ou penso que acredito no sexto sentido, tinha cá um palpite de que tudo seria possível. Um fim de tarde, quando deambulava pelo aldeamento, reparei que na casa dos nossos amigos havia janelas entreabertas, como sinal de gente amiga à vista. Os amigos Nazaré e António, ao simples toque da campainha, surgiram na minha frente, para o abraço fraterno. 
Tinham acabado de chegar e estavam a arrumar as malas. Julgo que, ao saberem que estávamos por ali, não resistiram e quiseram fazer-nos uma surpresa. Que agradável surpresa, de pessoas que tanto estimamos! 
Para pôr a conversa em dia, com recordações e mais recordações, com preocupações e anseios, com alegrias e projectos, de tudo um pouco se falou durante os dias em que estiveram no Algarve. Mas o que mais me apetece sublinhar é a forma amiga, mais que fraterna, como partilhamos sentimentos e emoções, vivências passadas e sonhos ainda por realizar. Com esta família partilhámos, ao longo das nossas vidas, algumas férias. 
Foram estes amigos que um dia, já um pouco longínquo, nos convidaram para conhecer Chaves, e nos entusiasmaram pelo conhecimento de Trás-os-Montes. Com eles calcorreámos vilas e aldeias daquela região, saboreámos os melhores petiscos (pastéis, bola e folar de Chaves), com destaque para o presunto que nos esperava, fresquinho, na cave de sua casa, e que comíamos com o pão de centeio, tão famoso por aquelas bandas. 
No frigorífico havia um vinho não muito forte, que temperava o presunto comido às lasquinhas. Foi com eles que aprendi a gostar da feijoada transmontana e do leitão à moda da terra, dum cozido mais completo do que o tradicional à portuguesa. E fico-me por aqui, com a certeza de que muito haveria a dizer. 
Com eles conheci monumentos, li e reli história e tradições de Chaves, dei um salto até Espanha, ainda no tempo do contrabando consentido, provei em Boticas o vinho dos mortos e assisti em Montalegre à “chega dos bois”, de que hei-de falar um dia destes, se encontrar as fotografias que na altura registei.
Subi montes e vales para apreciar castros e conhecer aldeias típicas. E, ainda, como experiência rara, para a época, trocámos as nossas casas para viver as férias com mais comodidade. Afinal, as amizades são assim, quando, desinteressadamente, as cultivamos e as enriquecemos em horas boas e menos boas.

 Fernando Martins

A QUESTÃO DO HOMEM COMO QUESTÃO DE DEUS

" Quando no século XXI.. falamos de céu, inferno e paraíso, utilizamos metáforas. Não cre-mos que Deus, na sua infinita sabedoria, tenha criado um universo em que realmente existam estes domínios ultra-terrenos. Tão-pouco pensamos que a vida seja uma peregrinação que conduz a Deus. Nisto nos diferenciamos de Dante, o maior poeta da Idade Média." Aí está, com esta serenidade, a afirmação de entrada de uma breve introdução de Ch. Zschirnt à leitura de A Divina Comédia de Dante. Reconhecendo, evidentemente, a perplexidade toda destas questões e que Dante se encontra no mundo das metáforas, será assim tão universal e transparente esta declaração de evidência na abolição de Deus e do seu mistério? Ainda recentemente, o famoso antropólogo René Girard, por exemplo, à pergunta: "Crê que há algo para lá da morte?", respondia: "Espero, é a minha fé, um acto de vontade e de esperança. O cristão afirma que não pode reduzir-se tudo ao universo no qual se encontra. Que seja tudo como se nada tivesse sido parece-me demasiado abominável para ser real. Aposto na Realidade." António Lobo Antunes também disse ao DN que se zanga com Deus porque permite o sofrimento. "O sofrimento sempre me foi incompreensível porque nascemos para a alegria." E não é a morte "uma puta"? Mas acredita. "A minha relação é a de um espírito naturalmente religioso, cada vez mais, não no sentido desta ou daquela igreja mas porque me parece que a ideia de Deus é óbvia." Não tem dúvidas? "Acredito sempre, mas a dúvida e pôr constantemente em questão é próprio da fé. Muitas vezes pergunto-me: será que existe? É óbvio que sim." "Mas reza ou não?" Com as cruzes no horizonte, Eduardo Lourenço pensa e sorri. E responde ao Expresso: "Pode-me acontecer!" Quem pode negar que as religiões também trouxeram ao mundo barbaridade, superstição, guerras, infantilismo? Afinal, o mundo seria melhor sem elas? A causa da indignidade está nas religiões ou nos seus crentes e funcionários que delas se servem de modo rasteiro e blasfemo para seus propósitos desumanos?
Anselmo Borges
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