O poder da palavra
O ser humano é o único ser vivo da Terra que utiliza a palavra como meio de comunicação intrapessoal (consigo mesmo) e interpessoal (com o outro). A palavra é um símbolo que expressa uma ideia e está intrinsecamente relacionada com a nossa mente. A mente, por sua vez, está relacionada, directamente, com os nossos sentimentos, as nossas emoções, os nossos impulsos, o nosso corpo, as nossas atitudes e as nossas acções. A palavra, escrita ou falada, por cada um de nós, pode ter uma grande influência na maneira como vivemos, pois é através dela que a maioria das pessoas comunica com o mundo externo (os outros) e o interno (nós próprios).
Ainda, não há muito, a sociedade, em geral, valorizava a palavra, naquilo que ela de melhor pode e deve representar. Expressões do género: "Dou-lhe a minha palavra de honra!", "A sua palavra basta-me.", e tantas outras, valiam mais que qualquer documento assinado e atestado oficialmente.
A palavra fundia-se com a própria pessoa e o seu carácter, através das acções, dos actos e testemunhos que realizava na sua vida diária. A sua vida e a sua palavra falavam por si!
Daí a palavra estar, directamente, relacionada com a capacidade do sentir e do fazer de cada pessoa, ou seja, com a maneira como cada um assume os seus comportamentos e atitudes pessoais, perante si e perante os outros. A palavra realiza-nos!
A palavra, deste modo, é um elo que nos une e congrega, enquanto seres de relação interpessoal, mas, também, pode tornar-se, não raras vezes, motivo de desunião, intrigas e conflitos, interpessoais e de grupo, quando dita irreflectidamente ou quando não corresponde à verdade dos factos. Neste último caso, a palavra pode destruir uma vida, uma pessoa, um projecto ou as legítimas expectativas de quem as tem.
As pessoas que optam por dar à palavra um sentido negativo, desejam atingir, pelo menos, um seu semelhante ou acabar com uma situação, que não são incapazes de aceitar, mesmo que participem nela, por falta de alternativas de momento. Raras vezes, o fazem de forma inconsciente, por ignorância ou descuido, ou seja, em regra, elas sabem o que estão a fazer e porque o fazem. São calculistas e objectivas!
Pessoas destas, dificilmente se podem sentir realizadas ou capazes de fazer algo de bom na sua vida, de forma séria e desinteressada, devido à sua permanente inconstância entre o que pensam, o que fazem e o sentido que dão à palavra que usam.
Estas pessoas, desequilibradas e doentes, materializam, no sentido negativo que dão à palavra, os desejos que não conseguiriam obter de outro modo. Sentem-se com poder e tudo fazem para o manter, usando a simpatia (fingida) e a manipulação como máscara para enganar os mais incautos e manter os seus (falsos) privilégios.
Em regra, são vaidosas e gostam do protagonismo (ainda que não o assumam). Estão sempre a julgar os outros, través da maledicência, de difamação, de ódio, ciúme, mesquinhez e calúnia.
Mesmo assim, algumas destas pessoas conseguem atingir a sua realização pessoal, interna e externa, na base do infortúnio dos outros, durante muito tempo, mas, logo que detectado este estado patológico, deve ser tratado, clinicamente, para que os seus comportamentos se tornem estáveis, coerentes e construtivos.
Por isso, quando alguém se dá conta deste sentido destrutivo com que se usa a palavra, tem a obrigação de alertar os seus mais próximos para esta realidade e de buscarem soluções, já que se está a lidar com pessoas fracas de espírito e de carácter, com uma incongruência mental e um desalinhamento entre os seus sentimentos e as suas acções.
Na maior parte dos casos, quem mais pode ajudar afasta-se, até porque, por vezes vezes, são as próprias vítimas destes tipo de comportamentos.
Quando assim é, estes doentes tendem a ir destruindo o que ainda existe de bom; a mediocridade e a imprudência vão-se instalando; enquanto o fingimento, o cinismo e a hipocrisia, vão substituindo o próprio poder e o carácter da palavra construtiva.
Vítor Amorim