Professores em luta
Os professores, a rua, a educação
1. Já se sabe que esta conjugação (os professores, a rua, a educação) não dá grandes frutos. Os essenciais destinatários, os alunos, cada vez mais cedo descobrem as fragilidades do sistema e usam-no mesmo para atiçarem os educadores que, na sua função absolutamente decisiva na formação deste país, deviam ser preservados, protegidos e apoiados na dignificação do “ser professor”. Claro que os professores não gostam de sair à rua, preferem a sala de aulas; mas quando não há mais recurso a “rua” é o lugar de tornar público aquilo que, no fundo, diz respeito a todos. Seja dito, quanto mais em Portugal os professores tiverem de sair à rua em manifestação, mais difícil se torna a sala de aula. Para além dos possíveis sectores de ideias, mesmo de linhas políticas (em que ninguém se coloca de fora da necessária “avaliação” como estímulo à qualidade), a verdade é que a “rua” acaba, em área tão sensível e estruturante como a educação, por representar o beco sem saída das mesas de reflexão, onde a distância das tutelas à realidade torna impossível a construção razoável do consenso.
2. No passado dia 26 de Fevereiro, à noite, ocorreu mais uma manifestação. Mais de um milhar de professores acorreu percorrendo locais simbólicos em Coimbra. Diversos slogans, ainda que “puxados” como apelo emocionante no meio de tochas, velas e autocolantes, dão o sentir do estado da arte: à frente ia o cartaz «Basta! Assim não se pode ser professor», nas camisolas o lema: «Professores de luto e em luta pela Educação». Este cordão humano junta-se a muitos cordões de insatisfação. Está em causa (talvez) a causa mais importante de todas: a educação. Não se pode ser surdo ao “desabafo” de tantos professores que, não tendo qualquer medo da avaliação (mas contra este modelo tutelar), sentem-se indignificados e quase desacreditados diante das turmas de alunos cada vez mais exigentes, tanto em termos de conhecimentos como de comportamentos. Muitos estudiosos, ao longo de muitos anos, têm dito e redito que não é possível “solucionar” as questões da educação sem os professores, os alunos, os pais, a comunidade.
3. Os alunos estão aí a ver os professores e a tutela na rua do debate público. As famílias, a par da preocupação com a educação dos filhos, vivem a superocupação do pão (que sobe novamente) de cada dia. No ano 22 da Lei de Bases do Sistema Educativo Português, torna-se difícil vislumbrar ainda os elos de ligação de tudo o que envolve o maior tesouro a descobrir: sempre a Educação. É certo, com todas as entidades; mas quanto mais conhecendo e envolvendo as bases mais e melhor lá iremos. O que nunca pode significar permanecer estruturalmente onde se está num mundo em constante mudança. Nesta fronteira de que falamos, até para maior segurança, estabilidade e futuro de todos, o país precisa da redignificação da (autoridade da) função docente. Isto interessa a toda a sociedade civil.
Alexandre Cruz
Os professores, a rua, a educação
1. Já se sabe que esta conjugação (os professores, a rua, a educação) não dá grandes frutos. Os essenciais destinatários, os alunos, cada vez mais cedo descobrem as fragilidades do sistema e usam-no mesmo para atiçarem os educadores que, na sua função absolutamente decisiva na formação deste país, deviam ser preservados, protegidos e apoiados na dignificação do “ser professor”. Claro que os professores não gostam de sair à rua, preferem a sala de aulas; mas quando não há mais recurso a “rua” é o lugar de tornar público aquilo que, no fundo, diz respeito a todos. Seja dito, quanto mais em Portugal os professores tiverem de sair à rua em manifestação, mais difícil se torna a sala de aula. Para além dos possíveis sectores de ideias, mesmo de linhas políticas (em que ninguém se coloca de fora da necessária “avaliação” como estímulo à qualidade), a verdade é que a “rua” acaba, em área tão sensível e estruturante como a educação, por representar o beco sem saída das mesas de reflexão, onde a distância das tutelas à realidade torna impossível a construção razoável do consenso.
2. No passado dia 26 de Fevereiro, à noite, ocorreu mais uma manifestação. Mais de um milhar de professores acorreu percorrendo locais simbólicos em Coimbra. Diversos slogans, ainda que “puxados” como apelo emocionante no meio de tochas, velas e autocolantes, dão o sentir do estado da arte: à frente ia o cartaz «Basta! Assim não se pode ser professor», nas camisolas o lema: «Professores de luto e em luta pela Educação». Este cordão humano junta-se a muitos cordões de insatisfação. Está em causa (talvez) a causa mais importante de todas: a educação. Não se pode ser surdo ao “desabafo” de tantos professores que, não tendo qualquer medo da avaliação (mas contra este modelo tutelar), sentem-se indignificados e quase desacreditados diante das turmas de alunos cada vez mais exigentes, tanto em termos de conhecimentos como de comportamentos. Muitos estudiosos, ao longo de muitos anos, têm dito e redito que não é possível “solucionar” as questões da educação sem os professores, os alunos, os pais, a comunidade.
3. Os alunos estão aí a ver os professores e a tutela na rua do debate público. As famílias, a par da preocupação com a educação dos filhos, vivem a superocupação do pão (que sobe novamente) de cada dia. No ano 22 da Lei de Bases do Sistema Educativo Português, torna-se difícil vislumbrar ainda os elos de ligação de tudo o que envolve o maior tesouro a descobrir: sempre a Educação. É certo, com todas as entidades; mas quanto mais conhecendo e envolvendo as bases mais e melhor lá iremos. O que nunca pode significar permanecer estruturalmente onde se está num mundo em constante mudança. Nesta fronteira de que falamos, até para maior segurança, estabilidade e futuro de todos, o país precisa da redignificação da (autoridade da) função docente. Isto interessa a toda a sociedade civil.
Alexandre Cruz