quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Dias Positivos


Ali ao lado

Dizem que a identidade portuguesa afirmou-se em oposição a Castela. E que de lá, nem bons ares, nem bons maridos ou esposas, a julgar pelo ditado. Mas saber o que se passa no país vizinho ajuda a entender o nosso, muito mais do que o que se passa na França, que durante séculos foi o ideal dos intelectuais lusos, ou na cultura de língua inglesa.
E nada melhor para saber o que se de passa para lá de Vilar Formoso do que ler jornais espanhóis, coisa que faço a um ritmo semanal, para ver se os ares mudam.
Ora, por estes dias, em vésperas de eleições legislativas, o tema do aborto anda na rua. Muito pouco, a julgar pelos manifestantes que apareceram nas rua de Madrid e Barcelona, no dia 23 de Janeiro, mas o suficiente para um jornal português atribuir à notícia uma página, enquanto atribuíra apenas umas linhas à manifestação de 2 milhões de pessoas, em Madrid, a favor da família. No jornal espanhol que leio à quinta-feira, escrevia-se: “Fracaso de la movilización apoyada por el PSOE a favor del «aborto libre y gratuito»”. O jornal português parece que viu o que não viram os espanhóis.
Já que falamos deste tema, quando se aproxima o primeiro aniversário do referendo, refira-se que em Espanha a imprensa mostrou que há clínicas a fazerem abortos de fetos de sete meses...
Convém estarmos atentos à Espanha. Os países pequenos andam sempre a reboque dos vizinhos grandes.
J.P.F.
Fonte: Correio do Vouga

HORA DA SAUDADE

Navio-museu Santo André. Quando lá vou ou o vejo, tantas recordações me saltam na memória


HORA DA SAUDADE

“Hora da Saudade” era um programa da Emissora Nacional, destinado a emitir mensagens para os bacalhoeiros portugueses, que se encontravam nos mares da Terra Nova e da Gronelândia. Na Gafanha da Nazaré, as emissões eram à noite e saíam do Cine-Teatro Triunfo, localizado na Cale da Vila, na Rua D. Manuel Trindade Salgueiro, na esquina com a Rua D. Fernando.
Um dia destes, ao manusear O ILHAVENSE, de 10 de Setembro de 1953, encontrei a notícia que transcrevo, em jeito de recordação. Era eu, em nome da família, que participava na “Hora da Saudade”, lendo a mensagem previamente escrita e dirigida a meu pai, que foi contramestre do arrastão Santo André, um dos campeões do mundo da pesca do fiel amigo. Recordo, com que saudade, esses momentos comoventes que por vezes me bloqueavam, tremendo na leitura. Como acontecia a tantos outros familiares dos bravos lobos-do-mar. Algumas esposas e mães, ora alegres e esfusiantes, ora tristes e mais comedidas, lá iam lendo com desenvoltura ou soletrando com dificuldade as mensagens, que o locutor anunciava, pausadamente. No meu caso, era assim: “Para Armando Lourenço Martins, tripulante do navio (...), vai falar seu filho Fernando.”
Eu lia, então, e quando terminava saía feliz. O meu pai, longe, muito longe, bem avisado, como todos, tinha ouvido a minha voz e escutado e gravado na sua alma a mensagem da família.
Aqui fica a notícia que li no jornal O ILHAVENSE:

Hora da Saudade

Sob a presidência do sr. Capitão do Porto de Aveiro, comandante Carlos Pinto Basto Carreira, realizou-se em Ílhavo, no dia 30 de Agosto e na Gafanha da Nazaré, no dia 6 do corrente [Setembro], pela 2.ª vez este ano [1953], a “Hora da Saudade” dedicada aos pescadores do bacalhau, sendo lidas muitas mensagens por pessoas de família daqueles trabalhadores do mar.
Fernando Martins


Museu da Cidade: Objectos fazem história

A festa dos Ramos

Estátuas do Cortejo Cívico, 1939


Visita de D. Manuel II a Aveiro, 1908


Cerâmica Arte Nova, 1912



Olhar para o percurso de Aveiro

No Museu da Cidade, ali ao lado do Canal Central da Ria de Aveiro, está uma exposição interessante. À disposição dos visitantes está um conjunto de objectos que fazem história. Desde tempos longínquos até ao presente. Com perspectivas de futuro. Os objectos que ali se encontram mostram, à saciedade, que foram concebidos e feitos para poderem chegar até nós. E lá estão alguns. Garantindo a nossa identidade.
Aconselho uma análise ao painel cronológico da vida da região de Aveiro. Lendo as datas e o que a elas está associado ficaremos a saber mais alguma coisa. Aqui indico algumas:

- IV milénio antes de Cristo: Sítio arqueológico da Agra do Crasto;

Depois de Cristo:

- Séc. VI/VII - Forno de Eixo;

- 959 – Testamento da condessa Mumadona Dias ao Mosteiro de Guimarães, referindo terras e salinas;

- 1472 –Princesa Joana entra no Mosteiro de Jesus;

-1759, 25 de Julho – D. José eleva Aveiro a cidade;

- 1774 – Criação da Diocese de Aveiro;

-1864 – Linha Férrea e Estação de Aveiro;

- 1882 – Extinção da Diocese de Aveiro;

1959 – Festas do Milenário e do Bicentenário da elevação a cidade.

Nota: Há muitas outras datas, naturalmente.

Crescer na Caridade



“... a Quaresma convida-nos a «treinar-nos» espi-ritualmente, nomeadamente através da prática da esmola, para crescermos na caridade e nos pobres reconhecermos o próprio Cristo.”


Bento XVI, na sua Mensagem para a Quaresma


Nota: Permitam-me, os meus amigos, que sugira a leitura da Mensagem do Papa para a Quaresma que se avizinha. Sejam crentes ou não. A Mensagem de Bento XVI incide sobre a importância da caridade. Muitos, ao falarem da caridade, associam-lhe um tom depreciativo e até referem, com ar trocista, "caridadezinha". Dizem os políticos que o mais importante é a justiça a todos os níveis. É verdade que a justiça é importante, mas também é verdade que justiça e caridade não podem existir de costas voltadas uma para a outra. São, digo eu, complementares. Uma não exclui a outra.
Uma coisa, porém, acho que devo sublinhar: quando falta a justiça, a caridade aí tem um lugar especial para se manifestar. Quem há por aí que não tenha sentido já a caridade, sobretudo neste mundo de injustiças?

terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Justiça em Portugal

Na linha do que ultimamente tem denunciado, o bastonário da Ordem dos Advogados, Marinho Pinto, afirmou, na abertura do Ano Judicial: “Muitas pessoas que actuam em nome do Estado e cuja principal função seria acautelar os interesses públicos acabam mais tarde por trabalhar para as empresas ou grupos que beneficiaram com esses negócios.” “Há pessoas que acumularam grandes patrimónios pessoais no exercício de funções públicas ou em simultâneo com actividades privadas, sem que nunca se soubesse a verdadeira origem do enriquecimento.”
"Há um sentimento generalizado na sociedade portuguesa de que o sistema judicial é forte e severo com os fracos, e fraco, muito fraco e permissivo com os fortes.” São afirmações duras e incisivas. Foram ouvidas pelo Presidente da República, pelo ministro da Justiça e pelos mais altos magistrados do Poder Judicial. O Procurador-geral da República, que já mandou abrir um inquérito, também ouviu o bastonário da Ordem dos Advogados. Os portugueses ficam à espera dos resultados. Todos queremos ficar tranquilos.
FM

Remodelação no Governo

Os ministros da Saúde e da Cultura foram substituídos. Correia de Campo e Isabel Pires de Lima vão ceder os seus lugares a Ana Jorge e a José António Pinto Ribeiro, respectivamente. Pessoalmente, penso que José Sócrates poderia ir mais longe. Ficou por aqui, convencido de que isto é o suficiente para calar os descontentes. Não é. Os protestos continuarão, porque há no Governo quem ande por ali a criar conflitos. Os ministros da Economia, Obra Públicas e Educação, por exemplo, podiam, muito bem, dar o lugar a outros, no sentido de aplacar as iras dos muitos portugueses descontente com a política do Governo do PS. Defendo que o Governo tem de fazer reformas impopulares, mas nunca pode avançar com elas sem as explicar muito bem. O povo gosta de dialogar com os governantes. Gosta que o oiçam, gosta de compreender o porquê das decisões. As reformas da área da Saúde estavam a mexer com as pessoas, ao “roubaram-lhe” um serviço de proximidade, tão necessário à tranquilidade de quem sofre e de quem está fragilizado pela idade ou pela solidão. Na área da Cultura, tudo girava como se nem ministro tivéssemos. Claro que esta mini-remodelação pouco poderá alterar a linha de orientação do Governo. Mas José Sócrates, que é um político determinado e experiente, saberá que, se continuar a hostilizar o povo, não chegará longe.
FM

MAR SEM SAL


MAR SEM SAL é um blogue que me chegou a casa por mão amiga. Trazia a recomendação de que é preciso estar atento. Já o vi. Está a começar e promete opinião com personalidade. Junto ao cabeçalho está um ponto de partida que vale a pena meditar: “Quando descobrimos aquilo de que somos feitos e a maneira como somos construídos, descobrimos um processo incessante de construção e destruição e apercebemo-nos de que a vida está à mercê desse processo interminável. Tal como os castelos de areia das praias da nossa infância, a vida pode ser levada pela maré.” António Damásio, O Sentimento de Si (1999).
A dona deste blogue assina e apresenta-se de forma original: SAL. Talvez por a sua cultura e a sua personalidade andarem muito na crista das ondas que dominaram os seus horizontes, desde tenra infância. E diz mais: "Sou cantora, professora do ensino especializado de música e investigadora. Sou uma pessoa que se recusa a ter um papel passivo nesta sociedade."
Com os meus parabéns, ficarei atento. Mas sei, à partida, que SAL não será levado pela maré, porque tem de cumprir a sua missão de temperar e dar sabor à vida.

Fernando Martins