E os Idosos (que seremos)?
1. Temos de conjugar na primeira pessoa do plural. A abordagem à realidade da pessoa idosa (em Portugal), para ser integral e mais capaz, terá de ser realizada numa envolvência afectiva em que ao falarmos da pessoa idosa falamos de “nós”, do presente ou das expectativas futuras. Tantas vezes, arrepia a “frieza” insensível com que se abordam estas questões relacionadas com a comummente designada “terceira idade”, numa visão prática e quantitativa das coisas como se de pessoas (de nós próprios, dos que falamos e dos que decidimos!) não se tratasse.
2. Há dias foi notícia que, em Portugal, em média, as autoridades competentes, encerram um Lar de Idosos por semana. Nessa mesma notícia (Diário de Notícias, 9 de Novembro), revela-nos o presidente do Instituto de Segurança Social, Edmundo Martinho, que “a esmagadora maioria são ilegais, sem qualquer tipo de alvará”. Solução encontrada: Lar fechado e distribuição dos utentes pelas instituições na área de proximidade, parecendo que tudo fica resolvido… Segundo aquele responsável, este ano o Instituto “já fechou cerca de cinquenta casas”.
3. Se esta é uma problemática emergente nas nossas sociedades (de longevidade) ditas de ocidentais que começa a ser acompanhada em termos de estudos (gerontologias e geriatrias), já a resposta social continua nos moldes antigos, assente numa boa vontade e numa confiança que nem sempre merece esses créditos. Ao abandono da pessoa idosa, uma triste ‘imagem de marca’ da pobreza da nossa sociedade, muitas vezes corresponde também um oportunismo negocial que não garante uma dignidade correspondente... Área muito sensível, mas em que mesmo situações de “esquecimentos” nessas casas também têm sido detectadas pelas entidades. Mas, seja dito, a sua decisão “encerradora” não acrescenta qualquer solução para as “vítimas” de todo este complexo mundo que é o acompanhamento da pessoa idosa.
4. Quantos idosos nos lares sem visitas de familiares há tantos anos (já foram feitas as partilhas!)?! E como outras sociedades (por exemplo, africanas e islâmicas) nos dão a lição de não tirar de casa aqueles que a construíram e que são os depositários da cultura e da tradição das histórias e dos valores que garantem a ponte com as novas gerações! E quanta gente (sem qualquer apoio significativo nesse trabalho heróico) dá a sua vida nessa generosidade incansável, dia e noite, nesse aconchego caloroso da companhia matando a solidão gerada por um sistema de sociedade por vezes tão competitivo quanto frio! E como são tão complicadas as “papeladas” das promessas de subsídios político-financeiros, papéis que fazem os irmãos idosos desistir dessa gota de água para o seu “oceano” dos medicamentos!...
5. Como vamos estamos habituados, “fechar” é fácil, e depois?! Não haverá mais tempo, apoio, formação, …para as transições de regimes?... Heróicas as instituições e as casas que nestas décadas são a “casa de família” dessa multidão silenciosa que nos deu a vida e que de outro modo mergulhariam, resignadamente, na solidão que mata!... Não (os) esqueçamos, nestes assuntos, estamos a falar de “nós” e do futuro social. Só semeando poderemos colher… Há qualquer coisa de injusto, perturbador e de inconsequente na nossa sociedade (de todos) a este respeito...
Alexandre Cruz