quarta-feira, 7 de novembro de 2007

Diálogo inter-religioso

Para quando a convivência fraterna
entre cristãos e muçulmanos? O Papa Bento XVI recebeu no Vaticano o rei Abdullah da Arábia Saudita. Em ambiente cordial, discutiram a situação das minorias cristãs nos países islâmicos, onde não são livres de viver a sua fé e de ver respeitados os seus direitos de cidadania. No entanto, nos países ocidentais, os muçulmanos são respeitados e até ajudados a cumprir os seus preceitos religiosos. É certo que se trata de culturas diferentes, mas, mesmo assim, não gostamos de saber que na Arábia Saudita, por exemplo, reina uma ditadura islâmica, capaz de menosprezar e até de perseguir os cristãos. Por isso, espera-se que o Papa consiga sensibilizar o rei Abdullah para a urgência de pugnar pela implementação de democracias tipo ocidental nos países árabes, onde as mulheres passem a ser tratadas como seres humanos com direitos iguais aos homens. Mas também que todos os árabes possam, se e quando quiserem, aderir livremente às religiões cristãs ou outras, sem sofrerem qualquer perseguição por isso. Em Setembro, 138 teólogos muçulmanos, de quase todos os países e correntes, enviaram uma nova carta ao Papa em que aproximam as concepções teológicas e os valores das duas religiões, numa clara atitude de convite ao diálogo inter-religioso, que tarda neste mundo que prega o pluralismo em várias vertentes. E num dos pontos mais significativos dessa carta chegam mesmo a propor a vivência de uma “competição” pelo amor ao próximo, quando frisam que “cristãos e muçulmanos constituem mais de 55 por cento da população mundial, o que faz com que a relação entre estas duas comunidades religiosas seja o mais importante factor para uma paz significativa no mundo”.
FM

PORTO DE AVEIRO: Documento histórico


in “MEMÓRIA DESCRITIVA ou notícia circunstanciada do plano e processo dos efectivos trabalhos hidráulicos empregados na abertura da Barra de Aveiro segundo as ordens de S. A. R. o Príncipe Regente Nosso Senhor”.
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Publicado pelo PORTO DE AVEIRO

REVISTA À PORTUGUESA



Ontem, no Parlamento, esteve em discussão o Orçamento de Estado, com os resultados previstos de uma vitória que conta, natural e exclusivamente, com os votos do PS, partido que sustenta o Governo. Da análise do Orçamento, os portugueses pouco ficaram a saber, porque os deputados se limitaram a dar um espectáculo bem ao jeito da Revista à Portuguesa, que criou escola lá para as bandas de Lisboa.
Como nas revistas do Parque Mayer, onde não falta nunca um quadro especial, protagonizado, como sempre, pelos actores mais cotados, normalmente cómicos, também ontem isso aconteceu. Na Assembleia da República, marcaram presença todos os tradicionais ingredientes revisteiros, a que os nossos parlamentares já nos habituaram há muito. Desta feita, Sócrates e Santana Lopes, os tais actores principais da Revista, brindaram-nos com frases bem medidas e oportunas, mas que nada tinham a ver com o Orçamento. Tinham a ver, isso sim, com o apelo às palmas acaloradas e aos risos cúmplices, de ambos os lados da contenda, para desopilar o fígado… As televisões estavam à espera para mostrar tudo, até porque o espectáculo revisteiro tinha sido bem preparado e bastante divulgado, para ninguém perder pitada. Do que interessava aos portugueses e do seu futuro, nicles!
Fernando Martins

ARES DO OUTONO


CANÇÃO DE OUTONO


No jardim deserto,
Já Novembro perto,
Desfolhei as rosas últimas a dar.
Jóias maltratadas,
Rosas desfolhadas!
Só o seu perfume vai ficar no ar.

Recolhi os versos
– Breves universos –
Que atirara ao vento para os espalhar,
Queimei-os, rasguei-os.
Secaram-me os seios…
Só rimas e ritmos vão ficar no ar.

Saudades, lembranças
De vãs esperanças,
Fiz covais no peito para as enterrar.
Nada mais me importa.
Fechem essa porta!
Só um pó doirado vai ficar no ar.

José Régio
In “Música Ligeira”

Na Linha Da Utopia



É SÓ VIR NA TV!

1. Os instrumentos de comunicação vão ocupando o lugar referencial central. São admiráveis, mas desafiam fortemente o utilizador… que vai valorizando mais o parecer - aparecer (por isso o ter), e perdendo o SER, a essência, o essencial da própria vida. Nada de novo a que já não estejamos de tal forma habituados que já nem damos por isso. Mais que nunca, hoje, a TV põe e dispõe, constrói e destrói. Das estrelas e vedetas do mundo do espectáculo e desporto, às políticas e (des)culturas, a tudo e em tudo a televisão - hoje on-line – quer garantir uma plateia mundial em que, mesmo no meio da informalidade dos entretenimentos, procura uma formalidade que, de tanto repetir nas imagens, passa a ser mesmo “verdade”, mesmo que não o seja. A frase que tantas vezes se diz de que “veio na televisão” é o espelho cabal deste estatuto de uma ilusão infalível. Puro engano!
2. Há dias, quando da edição de duas publicações de figuras bem conhecidas da praça pública (Miguel Sousa Tavares e José Rodrigues dos Santos), alguém da área questionava para quê tanta divulgação publicitária de pessoas que já têm um palco habitual o que levaria a prescindir de tanto markting. Nessa conversa radiofónica, então, começou-se a explicar todo este gigantesco processo de bastidores que depois quer resultar na “obrigação” de o cidadão comprar o produto. E este efeito de impressão no espectador é tanto mais poderoso quanto menos visão crítica uma comunidade social tiver. Ir sempre atrás da última moda, tantas vezes (veja-se em Portugal o megacaso do telemóvel - no mundo somos dos maiores!..) será sinal de que algo de estruturante no plano cultural nos continua a faltar. Para já não dizer quando falta o dinheiro!...
3. Se ao poder da mágica TV pertence já o historial da investigação (mesmo) criminal no nosso país, lembre-se que a “ponta” de alguns novelos (como por exemplo o da Casa Pia) têm nascido das comunicações sociais, a verdade é que uma nova força denunciadora e poderosa se vai consolidando. O caso de situações de campanhas positivas ou de casos grotescos de indignidade, de saúde, mesmo a denúncia de ineficácia e incúria de instituições (públicas ou privadas) torna a televisão um meio poderoso e de delicada atenção. Em situações especialmente gritantes (como a recente da professora, em termos de saúde, claramente incapaz de leccionar) os cidadãos descobriram na TV um aliado especial que também “precisa” dessas notícias… As autoridades responsáveis da devida tutela ganham visibilidade pela negativa, e claro, como há que rapidamente acalmar as águas, a situação tem solução rápida. Do mal, o menos! Mas…nas sociedades ditas de desenvolvidas não é uma questão de TV mas de humanidade diária…

Alexandre Cruz

terça-feira, 6 de novembro de 2007

O VULCÃO DOS CAPELINHOS

António Rego
    Foi difícil o nascimento da última ilha de Portugal. Durante mais de um ano o vulcão expelia lamas, fogo e cinzas, a terra tremia, os homens fugiam. E foi nascendo uma pequena ilha. Do medo, fez-se espectáculo, dos rolos de nuvens negras mistério, das areias em permanente tempestade se antecipou a paisagem lunar.
    Passados cinquenta anos sobre este fenómeno que abalou a ilha do Faial nos Açores e surpreendeu geólogos e turistas, restam as dúvidas sobre o significado dum cataclismo, as formas estranhas como a terra evolui, as perguntas que geralmente se fazem a Deus sobre a criação, a harmonia, a evolução inteligente da natureza e dos seres.
    Cada qual responde com as razões que tem à mão. Muitas delas nada têm de científico. Muitas recusam enquadrar um fenómeno deste género no projecto inteligente de Deus. Ciência, razão e fé, entrecruzam-se nas explicações, ora unindo-se ora digladiando-se. Só a meio da escalada se percebe que não é o amontoado de razões que nos aquieta a alma, mas a razão profunda do nosso ser e a lógica cerrada da nossa fé firmemente ancorada na sabedoria silenciosa de Deus.
    No terramoto de Lisboa, Voltaire, como muitos, irritou-se e com Deus. Rousseau, homem insuspeito nestas matérias, lembrou-lhe que não tinha nada que se revoltar contra Deus. Se Lisboa, disse, fosse um conjunto de casinhas bem distribuídas, sem roubar lugar a rios e riachos, com o Tejo respeitado por inteiro, nada de grave teria ocorrido em 1755.
    Mas nem filósofos nem geólogos explicam os grandes cataclismos do Norte ou do Sul, as mortes de inocentes, o desaparecimento e destruição de cidades inteiras. Nem sequer os Gulagues, Auschewittz, ou Jardins de S. Cruz. A história, desde os tempos da Arca de Noé, Caim e Abel, está recheada de acontecimentos que só um olhar do alto, de fora do tempo e do espaço imediato pode projectar luz sem ser absurdo. Chamemos simplesmente Fé à chave de todo este imbróglio. Chamemos Deus ao ser de suma sabedoria que, face ao nosso desenquadramento do conjunto, nos tolera perguntas a mais, isto é, sorri das nossas arrogantes questões, os nossos olhos baços, presos ao quadrado sectário, sem altura nem horizonte.
    Desprezo pela razão? Pelo contrário, respeito por ela que tem direito a não ser iludida por dimensões parcelares e viciadas que são sempre as nossas. Humilhação para a ciência? Pelo contrário, glória a ela que se sente entrelaçada por fios mais que visíveis.
    O povo tem razão. No meio do vulcão das incertezas volta-se para a grande certeza de Deus que vê donde nós não vemos, projecta com sabedoria inalcançável e nos tranquiliza o coração como mais ninguém sabe fazer. Por isso, nos despojos da dor o crente sabe onde pode encontrar refúgio e em que ombro pode chorar de súplica e agradecimento. Feliz quem possui o dom da fé sempre escorado na faculdade superior da razão.

António Rego

PRAXIS - Homenagem a D. António Marcelino



A PRAXIS, revista científica do ISCRA (Instituto Superior de Ciências Religiosas de Aveiro), acaba de sair com um número duplo, todo ele dedicado a D. António Marcelino, Bispo Emérito de Aveiro. Trata-se de uma homenagem oportuna, em jeito de reconhecimento pelo trabalho multifacetado que D. António desenvolveu entre nós, como Bispo Coadjutor e depois Residencial, durante um quarto de século. O que continuará a fazer, agora como Bispo Emérito, ficará para depois.
Esta edição da PRAXIS fará um pouco de história do que foi a acção notável desenvolvida por este cristão apaixonado pela sua missão, enquanto bispo e enquanto homem que nunca virou a cara aos desafios que a sociedade humana e as comunidades cristãs lhe suscitaram. Amigos, colegas do episcopado, sacerdotes, leigos e colaboradores testemunharam e reconheceram os méritos de um homem inquieto e determinado, participativo e voluntarioso, mas também o cristão de fé comprometida e o bispo apostado em alargar o Reino de Deus.
A directora da revista, Maria Armanda Saint-Maurice, lembra, em “… só duas palavras”, que “Os leitores encontrarão ao longo destas páginas referência a muitos aspectos privilegiados da acção eclesial de D. António Marcelino e muitos nomes que a sublinham, tanto de clérigos como de leigos, tanto de figuras nacionais como de figuras de destaque em Aveiro”.
Por sua vez, D. António Francisco dos Santos, actual Bispo de Aveiro, frisa que “Tudo e sempre na vida de D. António Marcelino teve a marca da profecia e a audácia da doação”, sendo visível que “As diversas missões e múltiplas responsabilidades a que a Igreja o chamou permitiram-lhe abrir novos caminhos nas mais variadas frentes do anúncio do Evangelho, da renovação da Igreja e do diálogo com o mundo”.
Algumas ilustrações e fotografias de D. António Marcelino, do tempo do seminário, do padre, do bispo e em família, com dados pessoais, valorizam esta edição da PRAXIS.

Fernando Martins