domingo, 24 de junho de 2007

São João

O pobre que faz cantando,
Do lar, cascata modesta,
Vê nos seus filhos brincando,
Os balõezinhos da festa!
Justino
Vencedor do 79.º concurso
de quadras JN

TECENDO A VIDA UMAS COISITAS - 29


LENDA DA AMOREIRA



Caríssima/o:


Durante os anos que passei na Quinta das Lágrimas houve um grupo de colegas que, na altura, me parecia uma “lenda”. Eram de Macau: o António Lopes do Rosário, a Maria Ângela Teresa Fong e a Maria Edith Santos.
Rebusquei no baú e encontrei esta lenda que, além de lhes prestar uma pequena e sentida homenagem (e recordação!), tem para mim um sabor muito especial e me elucida quando afirma: “Foi assim que a menina linda e virtuosa se transformou em bicho da seda”.

«Na dinastia de Shang, muitos anos antes de Cristo, vivia, em terras da velha China, uma formosíssima donzela, muito rica e cheia de virtudes.
Um dia, o pai, que de manhã cedo partira a cavalo, desapareceu misteriosamente.
A virtuosa menina chorou amargamente, vestiu-se de luto carregado e recusou-se a receber fosse quem fosse antes de ver o pai.
Os ladrões da vizinhança diziam não o ter visto, os sacerdotes juraram que ele não tinha morrido, mas passou-se um ano sem saberem notícias dele.
A mãe, torturada pelas saudades e pelo desgosto, prometeu que daria a mão de sua filha a quem lhe descobrisse o marido.
Os mancebos da terra partiram alvoroçados, atravessaram rios e vales, mas foi tudo inútil. Começavam todos a desanimar, quando o cavalo que, naquela malfadada manhã tinha levado o seu dono, voltando sozinho, saiu a galopar pelos campos, trazendo o velho senhor há tanto tempo perdido.
A satisfação foi geral, fizeram festas e mais festas, apenas o pobre cavalo foi deixado triste e só na cavalariça. Deixou de comer e o seu ar de sofrimento fazia chorar as pedras.
Intrigado com tal atitude, o velho quis saber o que se passava e, quando a mulher lhe contou a promessa que tinha feito, mandou que se dobrasse a ração ao bicho, pois mais nada podia fazer.
As promessas de casamento cumpriam-se , mas não quando se trata de animais.
O certo é que o cavalo nunca mais tornou a comer e, quando a menina passava perto, ficava fora de si manifestando grande nervosismo. A tal ponto chegaram as coisas que resolveram matá-lo com uma flecha.
Depois de morto e esfolado, puseram a pele a secar, pendurada numa árvore, mas ao passar por lá a formosa donzela sentiu-se envolvida pelos restos do cavalo amoroso e levada pelos ares.
Dias depois apareceu a pele estendida noutra árvore, uma árvore estranha, completamente desconhecida, de cujas folhas se alimentava uma lagarta.
Foi assim que a menina linda e virtuosa se transformou em bicho da seda.
Os dias passaram e um dia apareceu aos pais, já muito velhinhos, montada no tal cavalo, e disse-lhes que era muito feliz e habitava um outro mundo.»


[Macau-Terra de Lendas, de Hermengarda Marques Pinto, pp. 28 a 30, Colecção Educativa, Série E, nº 1, XXVII, 1955]

:
E como esquecer meu Pai que, sendo nós criancinhas, trouxe para casa uns “bichos maravilhosos e a amoreira”?
Também não me ficará mal dar um abraço a quem durante anos e anos criou milhões de bichos e manteve essa arte de cultivar a vida numa caixa de cartão. De facto, só um Guerreiro cometeria essa ousadia!

Manuel

Um artigo de Anselmo Borges, no DN

MONOS E HUMANOS:
ORIGEM E ORIGINALIDADES
:
O que é o Homem? Ao longo dos séculos, foram-se sucedendo, numa lista quase interminável, as tentativas de resposta: animal que fala, animal político (Aristóteles); animal racional (os estóicos e a Escolástica); realidade sagrada (Séneca); um ser que pensa (Descartes); uma cana pensante (Pascal); um ser que trabalha (Marx); um animal capaz de prometer (Nietzsche); um ser que cria (Bergson); um animal que ri, um animal que chora, um animal que sepulta os mortos... Saído da gigantesca aventura cósmica com 15 mil milhões de anos, o Homem tem, segundo Edgar Morin, "a singularidade de ser cerebralmente sapiens- -demens" (sapiente-demente), ter, portanto, com ele "ao mesmo tempo a racionalidade, o delírio, a hybris (a desmesura), a destrutividade". Recentemente, o filósofo André Comte-Sponville apresentou a sua "definição", que julga suficiente: "É um ser humano qualquer ser nascido de dois seres humanos." Mas será mesmo suficiente? O que dizer em relação aos primeiros homens, que, na História da Evolução, não nasceram de outros humanos? E se amanhã se der a clonagem e a partenogénese? Os grandes espíritos - Diderot, por exemplo - deram-se conta de que o que somos não pode ser encerrado numa definição. O Homem é o ser que leva consigo a questão do ser e do seu ser e que originária e constitutivamente pergunta: o que é o Homem? O que, antes de mais, une a Humanidade inteira é precisamente esta pergunta: o que é ser Homem? Se o chimpanzé, por exemplo, também sente, recorda, procura, espera, joga, comunica, aprende e inventa, o que é que nos distingue? Afinal, há muito de idêntico em nós e no chimpanzé, "no mono e no Papa", diz ironicamente o filósofo confessadamente ateu Michel Onfray. O professor de filosofia e o chimpanzé têm necessidades naturais comuns: comer, beber, dormir. A etologia mostra que há comportamentos naturais comuns aos animais e aos humanos. Veja-se, por exemplo, as relações de violência e de agressão e compare-se inclusivamente os rituais de cortejamento sexual. Mas é interessante constatar que já na resposta às necessidades naturais há uma diferença: os homens inventaram a cozinha e a gastronomia e também o erotismo. No entanto, escreve M. Onfray, "o homem e o animal separam-se radicalmente quando se trata de necessidades espirituais, as únicas que são próprias dos homens e das quais não se encontra nenhum vestígio - mínimo que seja - nos animais." Há nos humanos uma série de actividades especificamente intelectuais, que os distinguem radicalmente dos monos: nestes, não encontramos filosofia nem religião nem técnica nem arte. A tentativa de compreendê-lo no quadro de um materialismo mecanicista ou do biologismo não dá conta do Homem. De facto, o animal é conduzido pelo instinto. Por isso, esfomeado, não se conterá perante a comida apropriada que lhe apareça. Face à fêmea no período do cio, não resistirá. O Homem, pelo contrário, é capaz de transcender a dinâmica biológica. Por motivos de ascese ou religiosos ou até pura e simplesmente para mostrar a si próprio que se não deixa arrastar pelo impulso, é capaz de conter-se, resistir, dizer não. Foi neste sentido que Max Scheler, um dos fundadores da Antropologia Filosófica, escreveu que o Homem é "o asceta da vida", o único animal capaz de dizer não aos impulsos instintivos. Cá está: esta é a base biológica da conduta moral, uma característica essencialmente específica humana. Uma vez que o Homem é capaz de ponderar, renunciar, abster--se, optar, dizer sim, dizer não aos impulsos, é livre e, por conseguinte, animal moral. O Homem é corpo, mas um corpo que fala e que diz "eu". Porque fala, é capaz de debater questões, de defender pontos de vista, distinguir o bem e o mal, tomar posições sobre valores morais, políticos, religiosos, estéticos, filosóficos. Então, o enigma é este: provimos da natureza, mas contrapomo-nos a ela, somos simultaneamente da natureza, na natureza e fora dela. Monos e humanos têm a mesma origem, mas os humanos têm originalidades únicas e irredutíveis.

sábado, 23 de junho de 2007

São João

São João da Barra - Gafanha da Nazaré

FOGUEIRAS E SARDINHAS


Hoje vai ser noite de São João, um pouco por todo o lado. Cada terra com seus usos, uns persistentes e outros a caírem com o tempo, famosas são as festas em honra do precursor no Porto e em Braga, para lembrar apenas as mais famosas e cujos ecos chegam até aqui. Mas isso não quer dizer que nas Gafanhas e arredores não haja S. João, que esse santo, afinal, porque é um dos três santos populares, não pode ficar esquecido.
Nos meus tempos de menino e moço, o que lá vai há muito, por esta hora era um corrupio de romeiros a caminha da Barra, onde ainda existe a capelinha em honra do santo que baptizou Cristo, para depositarem aos pés do São João os cravos das suas promessas. Das suas promessas, pois claro, pois não é verdade que o santo se encarregava na altura de pedir a Deus que limpasse a pele dos suplicantes dos cravos, ou verrugas, que inexplicavelmente lhes deformavam a derme? Vinham eles (os romeiros, claro), de toda a parte, de perto e de longe, com seus farnéis, em jeito, também, de quem quer inaugurar a época balnear.
Agora já se perdeu esse hábito de vir ao São João em romaria. Os cravos ou verrugas já saem mesmo sem promessas, com um simples e adequado unguento, e até parece que o São João passou à história. E de tal modo assim é que, aquando da criação da paróquia da Praia da Barra, denominada da Sagrada Família, ninguém se lembrou dele para padroeiro daquela terra, a que tantas e tão boas recordações me ligam. Ninguém se lembrou, não! Eu lembrei-me, mas ninguém considerou oportuna a ideia. O São João já não fazia milagres (nem nunca os fez, acrescento eu, que isso é responsabilidade exclusiva de Deus) e portanto está tudo dito.
Ainda havia as fogueiras, em plenas ruas, para queimar o que havia a mais nos quintais. Saltava-se a fogueira entre risadas, cantava-se e dançava-se à roda, até às tantas, passava-se de rua em rua, a ver qual era a maior (seria?), os rapazes decerto para ver as moças e estas à espera deles, sempre sob os olhares curiosos e atentos dos mais velhos, bebiam-se uns copitos e pouco mais.
Agora, a música é outra. Há sardinha e mais sardinha, com boroa, caldo verde e vinho, mas o São João fica esquecido. As tradições, hoje, não são o que eram. Nem têm que ser sempre cópias fiéis de antanho. Respeite-se, no entanto, algo do essencial. O importante é que o povo se divirta, saudavelmente. Com ou sem marchas, com ou sem sardinhas, porque a alegria cura muitos males.

Fernando Martins

FOLCLORE


Sábado, 7 de Julho


Grupo Etnográfico da Gafanha da Nazaré. Foto do meu arquivo

XXIII FESTIVAL NACIONAL DE FOLCLORE
DA GAFANHA DA NAZARÉ




Como manda a tradição, já com 23 anos de existência, vai realizar-se, no dia 7 de Julho próximo, sábado, o XXIII Festival Nacional de Folclore da Gafanha da Nazaré, com a participação de seis ranchos. A organização é, como desde a primeira hora, do Grupo Etnográfico da Gafanha da Nazaré, com larga experiência nesta área.
Depois da recepção aos grupos e ranchos etnográficos e folclóricos, às 17.30 horas haverá uma visita à Casa Gafanhoa, um pólo museológico de bastante interesse etnográfico, com entrega de lembranças aos participantes e convidados. O desfile será às 21 horas, iniciando-se o festival propriamente dito meia hora depois.
O festival terá lugar na Alameda Prior Sardo e a oferta folclórica e etnográfica é variada, como convém. Assim, para além do grupo anfitrião, os apreciadores da cultura popular, que devíamos ser todos, pois que ela é sempre genuína e matriz de outras culturas, porventura mais eruditas, poderão admirar os ranchos da Casa do Povo de Nespereira, Gouveia; Folclórico da Associação Cultural e Recreativa Pouca Pena, Soure; Etnográfico de Santa Maria de Negrelos, Santo Tirso; Folclórico da Golegã, Golegã; e Folclórico “As Lavradeiras de Pedroso”, Vila Nova de Gaia.

NO CUFC - 4 de Julho

PARA UMA CIDADANIA RODOVIÁRIA
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O CUFC (Centro Universitário Fé e Cultura) vai proporcionar, uma vez mais, bons momentos de reflexão. Desta feita, sobre um tema pertinente: Para uma Cidadania Rodoviária. Ninguém devia perder esta oportunidade, já que, como é sabido, os portugueses são peritos em provocar acidentes na estrada, fazendo tão grande número de vítimas mortais que colocam Portugal, percentualmente, na liderança da UE. O palestrante é um especialista na matéria, Luís Antero Reto, presidente do ISCTE (Instituto Superior dee Ciências do Trabalho e da Empresa), e a sessão vai ser moderada pelo Prof. da Universidade de Aveiro, Jorge Arroteia.

sexta-feira, 22 de junho de 2007

Bispos aprendem a comunicar

Bispos portugueses reconhecem:
ANDAMOS MUITO NA ROTINA
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Os bispos portugueses receberam formação na arte de presidir e de comunicar porque o século XXI "exige qualidade estética" - disse à Agência ECCLESIA D. Carlos Azevedo, Secretário da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP). De 18 a 21 de Junho, realizaram-se, em Fátima, as Jornadas Pastorais do Episcopado subordinadas ao tema: "O ministério do Bispo e a arte de presidir e de comunicar". Com esta iniciativa demonstrou-se o "reconhecimento da necessidade de formação numa área onde houve um descuido" - referiu o Secretário da CEP. Os especialistas - teóricos e práticos - ajudaram os presentes a "enquadramo-nos dentro da área da Comunicação Social". E acrescenta: "Ajudaram-nos a perceber as exigências e os critérios da Televisão, Rádio e dos restantes órgãos" porque os critérios da Comunicação Social "não são aqueles a que estamos habituados". Os lamentos são frequentes. Muitas vezes, os bispos "queixam-se que a Comunicação Social não está preparada para nos questionar e não está por dentro dos mecanismos da Igreja". "Mas também acontece o contrário, nós não estamos preparados para entender os mecanismos da Comunicação Social" - sublinha D. Carlos Azevedo. Em relação à comunicação dentro da própria Igreja, o secretário da CEP realça que esta, "muitas vezes, não funciona" O conteúdo e a mensagem da Igreja "tem valor e é muito rico" mas "necessitamos de novas formas de cuidar do embrulho". A forma é fundamental na "transmissão da fé" - frisou. Ao olhar para as celebrações, D. Carlos Azevedo nota que as "músicas são de fraca qualidade e os nossos gestos não têm beleza". E avança: "A beleza também fala de Deus". Depois de ouvir os conselhos dos oradores, o secretário da CEP afirma que as "homilias têm que ser muito bem preparadas e pensadas para que a mensagem passe". Até, os improvisos têm que ser "muito bem preparados". Aos presidentes das celebrações falta "dotes de comunicadores" porque se deixou de ensinar "eloquência oratória nos seminários". Como os fiéis "são inteligentes", muitas vezes andam à procura "de igreja em igreja de uma celebração que tenha dignidade estética e beleza formal". As pessoas não vão às celebrações por "mera rotina," mas porque querem "sair de lá com alguma esperança e renovação espiritual". E avança: "fomos aconselhados pelos oradores que comunicar «exige muito trabalho»". Quando questionado se o Evangelho necessita de embrulhos, D. Carlos Azevedo realça que "não adianta estarmos a dizer verdades muitos interessantes quando as pessoas estão distraídas". Uma homilia que tenha "mais de dez minutos sujeita-se a não ser assimilada". E acrescenta: "É preciso saber como captar a atenção dos fiéis". Como vários oradores do país vizinho, o secretário da CEP afirma que em quase todos os aspectos da vida da Igreja os espanhóis "vão a léguas de nós" visto que "têm uma grande tradição teológica". E conclui: "Andamos muito na rotina" mas "temos recebido vários avisos - decréscimo das vocações, diminuição da prática dominical e abandono dos jovens da igreja". : Fonte: Ecclesia

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