por um continente impressionante
ÁFRICA ACIMA
Acabei de ler, há dias, África Acima, um livro que recolhe crónicas semanais que Gonçalo Cadilhe publicou no EXPRESSO durante vários meses. É, no fundo, um relato de uma viagem de oito meses em que o jornalista percorreu 27 mil quilómetros através de África, viajando desde o Cabo da Boa Esperança, no Sul, até ao Estreito de Gibraltar, no Norte.
Confirmo o que reforça o título na capa. Trata-se, de facto, de “uma viagem épica por um continente impressionante”, com o viajante e aventureiro, o figueirense Gonçalo Cadilhe, a descobrir, com outros olhares, África do Sul e Namíbia, Botsuana e Zimbabué, Zâmbia e Angola, República do Congo e Gabão, Camarões e Nigéria, Níger e Mali, Mauritânia e Marrocos.
Acompanhei, com muito gosto, o autor, que antes havia escrito Planisfério Pessoal e A Lua Pode Esperar, na descoberta de paisagens únicas, no contacto com outros povos e outras civilizações, no encontro com amigos e desconhecidos, na contemplação dos mistérios africanos, nos diálogos com gente prestável e com gente corrupta, nas deslocações por estradas desfeitas e por caminhos de terra batida. Sempre por terra, com os pés bem assentes no chão. Nunca de avião, que “voar sobre África não é viajar por África”, realça o meu cicerone, nesta viagem em que nos convida a imitá-lo, um dia… se pudermos criar em nós este prazer de conhecer outras terra e outras gentes, ao vivo.
A pé ou de moto, de táxi ou autocarro, de camião, de barco e de comboio, Gonçalo Cadilhe ensinou-me a conversar com pessoas estranhas e hostis, cordatas e disponíveis, colaborantes e amigas, honestas ou desonestas, abertas ou fechadas. Recordou-me que há sempre um português em qualquer esquina, um amigo em cada canto, um gesto de simpatia onde menos se espera. Mostrou-me muita riqueza natural e pobreza extrema por todos os lados, com atrasos ancestrais e desafiarem-nos à cooperação com os africanos.
A natureza que o apaixonou também me apaixonou. E a sua visão do mundo leva-me a pensar sobre quanto e como eu poderia ser diferente, no modo de contemplar e ajudar, mesmo de longe, a humanidade sofredora daquele recanto imenso ainda à nossa espera.
Diz o autor: “Cada vez me revolta mais a existência de um jardim zoológico. São várias as violações cometidas sobre os animais, não percebo com que justificação. Para as crianças poderem passar um domingo diferente? Para poderem ver ao vivo os bichos selvagens? Não justifica a existência dessa cruel instituição que é o equivalente na natureza à prisão perpétua nas sociedades humanas, com a diferença de que os animais do zoológico não cometeram qualquer crime.”
E acrescenta: “Não falemos então dos circos de animais. Se o zoo é a prisão perpétua, o circo é o desterro com trabalhos forçados.”
Se puderem, ou quando puderem, leiam África Acima de Gonçalo Cadilhe. Será, sem dúvida, como foi para mim, uma viagem fascinante.
Fernando Martins
Confirmo o que reforça o título na capa. Trata-se, de facto, de “uma viagem épica por um continente impressionante”, com o viajante e aventureiro, o figueirense Gonçalo Cadilhe, a descobrir, com outros olhares, África do Sul e Namíbia, Botsuana e Zimbabué, Zâmbia e Angola, República do Congo e Gabão, Camarões e Nigéria, Níger e Mali, Mauritânia e Marrocos.
Acompanhei, com muito gosto, o autor, que antes havia escrito Planisfério Pessoal e A Lua Pode Esperar, na descoberta de paisagens únicas, no contacto com outros povos e outras civilizações, no encontro com amigos e desconhecidos, na contemplação dos mistérios africanos, nos diálogos com gente prestável e com gente corrupta, nas deslocações por estradas desfeitas e por caminhos de terra batida. Sempre por terra, com os pés bem assentes no chão. Nunca de avião, que “voar sobre África não é viajar por África”, realça o meu cicerone, nesta viagem em que nos convida a imitá-lo, um dia… se pudermos criar em nós este prazer de conhecer outras terra e outras gentes, ao vivo.
A pé ou de moto, de táxi ou autocarro, de camião, de barco e de comboio, Gonçalo Cadilhe ensinou-me a conversar com pessoas estranhas e hostis, cordatas e disponíveis, colaborantes e amigas, honestas ou desonestas, abertas ou fechadas. Recordou-me que há sempre um português em qualquer esquina, um amigo em cada canto, um gesto de simpatia onde menos se espera. Mostrou-me muita riqueza natural e pobreza extrema por todos os lados, com atrasos ancestrais e desafiarem-nos à cooperação com os africanos.
A natureza que o apaixonou também me apaixonou. E a sua visão do mundo leva-me a pensar sobre quanto e como eu poderia ser diferente, no modo de contemplar e ajudar, mesmo de longe, a humanidade sofredora daquele recanto imenso ainda à nossa espera.
Diz o autor: “Cada vez me revolta mais a existência de um jardim zoológico. São várias as violações cometidas sobre os animais, não percebo com que justificação. Para as crianças poderem passar um domingo diferente? Para poderem ver ao vivo os bichos selvagens? Não justifica a existência dessa cruel instituição que é o equivalente na natureza à prisão perpétua nas sociedades humanas, com a diferença de que os animais do zoológico não cometeram qualquer crime.”
E acrescenta: “Não falemos então dos circos de animais. Se o zoo é a prisão perpétua, o circo é o desterro com trabalhos forçados.”
Se puderem, ou quando puderem, leiam África Acima de Gonçalo Cadilhe. Será, sem dúvida, como foi para mim, uma viagem fascinante.
Fernando Martins