(2º quartel do século XVIII, Museu de Aveiro
Sabia-nos bem (oh! Se sabia!) o feriado de 12 de Maio. Pausa muito apreciada nos duros tempos de estudo. Hoje sabemos que é para honrar a memória da Princesa Santa Joana. Nessa época, só muito reconditamente nos chegavam os ecos da procissão que percorria as ruas da Cidade.
Mas o que bem perdurou foi o que vem narrado em «Crónica da Fundação do Mosteiro de Jesus, de Aveiro, e Memorial da Infanta Santa Joana Filha Del Rei Dom Afonso V (Códice Quinhentista)» – Leitura, revisão e prefácio de António Gomes da Rocha Madahil, Aveiro, Edição do Prof. Francisco Ferreira Neves, 1939, na página 173:
«Nom passarey sem dizer hua Cousa tã maravilhosa. E aos que o vyrõ de müy grãde amyracõn e spãto e Cousa de notar. A qual foy que é como fosse no mês de Mayo stãdo todo ho pumar onde esta sancta Senhora tiinha seu solaz e desëfadamento andãdo e stãdo ë elle aos tëpos e oras que lhe vagavã [...] E cõ muita diligëncia ho mãdava Regar e plantar de arvores e ervas, põodo algüas per suas proprias mãos. ...[P]er elle passou e foy levado ho ataude cõ ho Corpo desta santa Senhora, hïindo toda a procissõ cõ elle que já disse, magnifestamente per todos foy vysto todas as arvores e ervas secarã e lhe cayrã todas as folhas, mayormente per debayxo daquellas per que passarõ. E as que darredor stavã, que erã duas Carreyras de grãdes e muitos fremosos marmeleyros que a sobredita Senhora mãdou e per ssy ajudou a põor ~e duas ordëes. E outras de cidreyras. Stãdo tudo muito fremoso e carregados de nova fruyta pera vïir a seu tëpo, tudo foy seco e cahido que mais nõ prestarõ në tornarõ. Em que pareceo e se demostrou tudo se doer e tomar doo por ho fallecimëto desta santa Senhora.»
E que nos surge, em transcrição livre, na página 121 do «Livro de Leitura da 3.ª Classe, do Ensino Primário Elementar», 4.ª edição, 1958:
«Naquele mês de Maio, os jardins e o pomar do mosteiro de Jesus, em Aveiro, estavam floridos e verdejantes como nunca se vira.
Muitas plantas tinham sido dispostas e regadas carinhosamente pelas mãos da princesa Santa Joana, que nesse mosteiro vivia.
O melhor recreio da filha de D. Afonso V era deixar a sua cela e passear com as outras freiras à sombra daquelas árvores e no meio daquelas flores.
Chegara, porém, o fim da Santa Princesa. Todos os sinos das igrejas dobravam a finados, e no mosteiro ia um choro alto, porque ela deixara de viver.
Preparam-lhe o túmulo no coro da igreja e organizam o cortejo funerário desde a cela, passando pelos jardins, para que a vissem pela última vez as plantas que ela estimara tanto.
Deu-se então um caso maravilhoso! À passagem do enterro, começaram a murchar todas as ervas e a desfolhar-se as flores. As folhas e os frutos novos secaram nas árvores e foram caindo tristemente sobre o caixão.
Ninguém pôde conter as lágrimas, ao ver que a própria natureza tomava parte no sentimento que, pela morte da Santa, encheu a corte e o reino de Portugal.»
Quantas coisas belas e encantadoras se encerram nos tesouros que o nosso povo foi acumulando!
Manuel
A MORTE DA PRINCESA SANTA JOANA
Caríssima/o:
Sabia-nos bem (oh! Se sabia!) o feriado de 12 de Maio. Pausa muito apreciada nos duros tempos de estudo. Hoje sabemos que é para honrar a memória da Princesa Santa Joana. Nessa época, só muito reconditamente nos chegavam os ecos da procissão que percorria as ruas da Cidade.
Mas o que bem perdurou foi o que vem narrado em «Crónica da Fundação do Mosteiro de Jesus, de Aveiro, e Memorial da Infanta Santa Joana Filha Del Rei Dom Afonso V (Códice Quinhentista)» – Leitura, revisão e prefácio de António Gomes da Rocha Madahil, Aveiro, Edição do Prof. Francisco Ferreira Neves, 1939, na página 173:
«Nom passarey sem dizer hua Cousa tã maravilhosa. E aos que o vyrõ de müy grãde amyracõn e spãto e Cousa de notar. A qual foy que é como fosse no mês de Mayo stãdo todo ho pumar onde esta sancta Senhora tiinha seu solaz e desëfadamento andãdo e stãdo ë elle aos tëpos e oras que lhe vagavã [...] E cõ muita diligëncia ho mãdava Regar e plantar de arvores e ervas, põodo algüas per suas proprias mãos. ...[P]er elle passou e foy levado ho ataude cõ ho Corpo desta santa Senhora, hïindo toda a procissõ cõ elle que já disse, magnifestamente per todos foy vysto todas as arvores e ervas secarã e lhe cayrã todas as folhas, mayormente per debayxo daquellas per que passarõ. E as que darredor stavã, que erã duas Carreyras de grãdes e muitos fremosos marmeleyros que a sobredita Senhora mãdou e per ssy ajudou a põor ~e duas ordëes. E outras de cidreyras. Stãdo tudo muito fremoso e carregados de nova fruyta pera vïir a seu tëpo, tudo foy seco e cahido que mais nõ prestarõ në tornarõ. Em que pareceo e se demostrou tudo se doer e tomar doo por ho fallecimëto desta santa Senhora.»
E que nos surge, em transcrição livre, na página 121 do «Livro de Leitura da 3.ª Classe, do Ensino Primário Elementar», 4.ª edição, 1958:
«Naquele mês de Maio, os jardins e o pomar do mosteiro de Jesus, em Aveiro, estavam floridos e verdejantes como nunca se vira.
Muitas plantas tinham sido dispostas e regadas carinhosamente pelas mãos da princesa Santa Joana, que nesse mosteiro vivia.
O melhor recreio da filha de D. Afonso V era deixar a sua cela e passear com as outras freiras à sombra daquelas árvores e no meio daquelas flores.
Chegara, porém, o fim da Santa Princesa. Todos os sinos das igrejas dobravam a finados, e no mosteiro ia um choro alto, porque ela deixara de viver.
Preparam-lhe o túmulo no coro da igreja e organizam o cortejo funerário desde a cela, passando pelos jardins, para que a vissem pela última vez as plantas que ela estimara tanto.
Deu-se então um caso maravilhoso! À passagem do enterro, começaram a murchar todas as ervas e a desfolhar-se as flores. As folhas e os frutos novos secaram nas árvores e foram caindo tristemente sobre o caixão.
Ninguém pôde conter as lágrimas, ao ver que a própria natureza tomava parte no sentimento que, pela morte da Santa, encheu a corte e o reino de Portugal.»
Quantas coisas belas e encantadoras se encerram nos tesouros que o nosso povo foi acumulando!
Manuel