terça-feira, 20 de fevereiro de 2007
Citação
“Nas profundezas do Inverno, compreendi que dentro de mim existe um Verão invencível”
Albert Camus,
in XIS
Pobreza
PORTUGUESES ENTRE
OS MAIS POBRES DA UE
:
Segundo um estudo da Comissão Europeia, Portugal é um dos países da UE onde o risco de pobreza é o mais elevado, sobretudo entre as pessoas que trabalham, revela o PÚBICO de hoje.
Diz o estudo que 14 por cento dos que trabalham vivem abaixo do limiar de pobreza, num total de 20 por cento de pobres entre a população portuguesa. Refere ainda que entre os 27 países da UE, apenas a Polónia e a Lituânia estavam em pior situação, com 21 por cento de pobres.
A nossa ancestral pobreza, que todos conhecem e que muitos fingem ignorar, ainda não foi motivo de mobilização geral de todos os portugueses, com vista a criar mais justiça social para todos. As bolsas de gente que vive com fome, num país onde há tantos ricos, persistem, não obstante as políticas que prometem um mundo melhor para todos.
O PÚBLICO diz que a UE aconselha o Governo português a aplicar a reforma de pensões, melhorar a eficácia do sistema de saúde, entre outras medidas. Será que Sócrates e os seus políticos ouvem estes apelos?
Ao sabor da maré
FOLGUEDOS ANTES DA QUARESMA
:
Quem criou o ritmo das festas foi inteligente. E se foi o povo, com a sua indesmentível sabedoria, mais é de louvar. Vem isto a propósito dos folguedos do Carnaval que hoje terminam e que vêm desde domingo, antecedendo a Quaresma.
É sabido que as festas em honra dos padroeiros das diversas comunidades cristãs se fazem, por norma, no Verão, tempo mais propício à vivência da alegria e ao encontro das pessoas. E agora, a festa do Carnaval também tem o seu sentido bem compreendido. Antes da Quaresma, período mais dado a contemplações, à renúncia, à conversão, ao silêncio e à reflexão, que nos convidam a interiorizar o sofrimento redentor de Cristo, temos então os folguedos carnavalescos para nos despedirmos do ramerrão do dia-a-dia.
Embora eu não me identifique nada com as festas que o Carnaval propõe, talvez por razões temperamentais, não posso deixar de aceitar e até de apreciar quem tem posições contrárias, louvando os que sabem rir, folgar, dançar e cantar, e até criticar e caricaturar com sarcasmo a vida, nos seus principais actores, de âmbito local e nacional.
E depois disto, que venha a Quaresma, com tudo o que ela tem de fundamental, para nos conduzir à Páscoa.
Fernando Martins
sábado, 17 de fevereiro de 2007
Um poema de Teixeira de Pascoaes
O sol, sombra de Deus, ressuscitou.
Nos montes, derreteu a neve fria.
E um raio só doirado dissipou
O nevoeiro que tudo escurecia.
Na minha noite lívida passou
Como divina aparição do dia!
Quero cantar a virgem Primavera!
Quero gritar ao mundo: Vive e espera!
Teixeira de Pascoaes,
in “Obras Completas”, VI volume
in “Obras Completas”, VI volume
Inverno
O SOL A SÉRIO NUNCA MAIS VEM
:
Quem há por aí que não esteja desejoso de ver o sol a aquecer-nos? Eu estou, porque nunca gostei nada do frio agreste que nos deixa triste a alma... e o corpo.
Bem esperei que o sol surgisse entre a ramagem, mas ele fez-me desesperar e não veio mesmo. Ao longe lá se vislumbravam uns sinais, mas nada de significativo. Pode ser que hoje nos dê a alegria da luz que rejuvenesce.
Tecendo a vida umas coisitas - 11
DA GAFANHA
Caríssimo:
Magia e imaginação é o que nos pedem os nossos netos quando nos perguntam tudo sobre o quem e o donde somos. Há dias bom e velho Amigo escreveu que a neta o interpelou: «Avô, porquê...? Avô, era muito difícil...?»
Quando somos confrontados com essas insistentes e inocentes perguntas, é normal sentirmo-nos desarmados e só então a posição de quem acalenta a vida e se deixa desafiar e acalentar pela mesma vida nos permite ir ao encontro da curiosidade infantil e prepará-la para a realidade que a espera ali à esquina.
A “Monografia da Gafanha”, do P. João Vieira Resende, tornou-se um dos meus livros de cabeceira há muitos anos. Venham daí comigo e vamos relembrar algumas coisitas que ele teima em nos repetir desde 1940!
«Denomina-se Gafanha toda a região arenosa dos concelhos de Ílhavo e Vagos com cerca de 25 quilómetros de comprimento por 5 de largura, abraçada do Norte ao Sul (lado poente) pelo rio Mira e do Norte ao Sul (lado nascente) pelo rio Boco, afluentes da Ria de Aveiro, e confinando pelo Sul com uma linha que, saindo dos Cardais de Vagos, vai fechar ao Norte do lugar do Poço da Cruz, freguesia de Mira. Pela identidade da sua origem, topografia, condições de vida, costumes, etc., consideramos como uma continuação da Gafanha a duna situada naqueles dois concelhos, entre o Oceano e a Ria.»
Acompanhemos ainda o P. Resende:
«É bem conhecida a formação recente desta linda e ubérrima região, que em tempos imemoriais foi banhada pelas águas do Atlântico, e que agora oferece, na majestosa amplidão da sua campina, um panorama cheio de luz, emoldurado pelas espelhentas águas do Oceano e da Ria, onde brincam, como mariposas, mil barquinhos de velas pandas, a esvoaçar.»
Isto vem logo na página 1; e, depois de ir expondo a sua opinião e as suas dúvidas, atira-nos com esta pergunta de sonho:
«E não temos nós o caso da tão falada, e lendária vizinha, a submersa Atlântida?» (pág. 5)
Mais à frente, página 8, afirma, como quem estudou bem o assunto:
«Pela aproximação dos documentos de 1088, 1096 e 1296 que o sr. dr. Rocha Madail transcreve do “Livro Preto” da Sé de Coimbra, no “Illiabum”, radica-se em nós a opinião de que foi naquelas épocas que a barra do Boco deixou de funcionar directamente com o mar, e que as suas águas, impotentes da duna que viria a ser a Gafanha, faziam o seu movimento de evasão através dos baixios fronteiros, e bem assim pelo prolongado e actual canal do Boco morto, para a instável barra do Vouga.»
E remata as suas considerações com estas deliciosas palavras (pág. 9):
«Deixemos agora os geólogos e os naturalistas a contas com possível, e, por enquanto, enigmática Gafanha antiga, e tateemos um pouco esta Gafanha que os nossos olhos contemplam à luz deste sol esplendoroso, que se derrama a jorros pelas suas areias, pelas suas searas, pelas suas flores e pelas suas águas.»
[Escreveu só mais 356 páginas!]
De facto, muitos se têm debruçado e estudado esta região e chegaram à conclusão de que os cordões dunares da Ria se desenvolveram entre os séculos X e XVIII. Esperemos que outros estudos mais circunscritos à nossa península nos ajudem a continuar a leitura do P. Resende.
Bons passeios aproveitando as tardes soalheiras que este Fevereiro nos vai oferecendo.
Manuel
Quando somos confrontados com essas insistentes e inocentes perguntas, é normal sentirmo-nos desarmados e só então a posição de quem acalenta a vida e se deixa desafiar e acalentar pela mesma vida nos permite ir ao encontro da curiosidade infantil e prepará-la para a realidade que a espera ali à esquina.
A “Monografia da Gafanha”, do P. João Vieira Resende, tornou-se um dos meus livros de cabeceira há muitos anos. Venham daí comigo e vamos relembrar algumas coisitas que ele teima em nos repetir desde 1940!
«Denomina-se Gafanha toda a região arenosa dos concelhos de Ílhavo e Vagos com cerca de 25 quilómetros de comprimento por 5 de largura, abraçada do Norte ao Sul (lado poente) pelo rio Mira e do Norte ao Sul (lado nascente) pelo rio Boco, afluentes da Ria de Aveiro, e confinando pelo Sul com uma linha que, saindo dos Cardais de Vagos, vai fechar ao Norte do lugar do Poço da Cruz, freguesia de Mira. Pela identidade da sua origem, topografia, condições de vida, costumes, etc., consideramos como uma continuação da Gafanha a duna situada naqueles dois concelhos, entre o Oceano e a Ria.»
Acompanhemos ainda o P. Resende:
«É bem conhecida a formação recente desta linda e ubérrima região, que em tempos imemoriais foi banhada pelas águas do Atlântico, e que agora oferece, na majestosa amplidão da sua campina, um panorama cheio de luz, emoldurado pelas espelhentas águas do Oceano e da Ria, onde brincam, como mariposas, mil barquinhos de velas pandas, a esvoaçar.»
Isto vem logo na página 1; e, depois de ir expondo a sua opinião e as suas dúvidas, atira-nos com esta pergunta de sonho:
«E não temos nós o caso da tão falada, e lendária vizinha, a submersa Atlântida?» (pág. 5)
Mais à frente, página 8, afirma, como quem estudou bem o assunto:
«Pela aproximação dos documentos de 1088, 1096 e 1296 que o sr. dr. Rocha Madail transcreve do “Livro Preto” da Sé de Coimbra, no “Illiabum”, radica-se em nós a opinião de que foi naquelas épocas que a barra do Boco deixou de funcionar directamente com o mar, e que as suas águas, impotentes da duna que viria a ser a Gafanha, faziam o seu movimento de evasão através dos baixios fronteiros, e bem assim pelo prolongado e actual canal do Boco morto, para a instável barra do Vouga.»
E remata as suas considerações com estas deliciosas palavras (pág. 9):
«Deixemos agora os geólogos e os naturalistas a contas com possível, e, por enquanto, enigmática Gafanha antiga, e tateemos um pouco esta Gafanha que os nossos olhos contemplam à luz deste sol esplendoroso, que se derrama a jorros pelas suas areias, pelas suas searas, pelas suas flores e pelas suas águas.»
[Escreveu só mais 356 páginas!]
De facto, muitos se têm debruçado e estudado esta região e chegaram à conclusão de que os cordões dunares da Ria se desenvolveram entre os séculos X e XVIII. Esperemos que outros estudos mais circunscritos à nossa península nos ajudem a continuar a leitura do P. Resende.
Bons passeios aproveitando as tardes soalheiras que este Fevereiro nos vai oferecendo.
Manuel
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NOTA: Em viagem por uns dias, não quero deixar os meus leitores sem a habitual crónica dominical do colaborador e amigo Manuel. É que em viagem nunca sabemos se temos ou não acesso à Net.
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