terça-feira, 22 de agosto de 2006

Um artigo de Alexandre Cruz

Europa,
onde estás?
1. Mais parece virtual que real a realidade europeia no seu posi-cionamento diante de cada dia de vida global. São inúmeros os esforços e os desafios, mas são do mesmo modo as inquietações da insignificância real da União Europeia que é incapaz de ter vez e voz no cenário incerto do tempo presente. Mas talvez, à luz dos pais fundadores, do-mal-o-menos, já se conseguiu muito nesta aprendizagem comum, num esforço em aprender a “viver juntos”, pelo menos evitando guerras e batalhas de campo entre os históricos e rivais países europeus. Por vezes dá-nos a sensação que a Europa não existe; ou então que ser europeu será mesmo assim! Lá que exista projecto em realização de “espaço único de educação europeia” a par de uma união monetária de quase todos os países isso é verdade; mas união monetária (de moeda e moedas) sem união económico-social, o que também fragiliza toda a vontade de Europa Social, esta que de forma aberta e inclusiva deveria vir antes, como alicerce, de tudo o mais, até pelo histórico de “dignidade da pessoa humana” encontrado neste lindo continente azul que dos tempos da cultura grega até os nossos dias sempre se procurou reger por sentidos de humanismo. Este é o “sonho”! 2. Talvez mais que “Europa” existem países individualizados do velho continente que, apesar de quase tudo se decidir em Bruxelas, vão procurando todos os pretextos e contextos para se firmarem e afirmarem nesta conjuntura de “dúvidas” em que está mergulhado o mundo e o próprio “lugar europeu” no mundo. Neste tempo que vivemos, de incertezas que acabam por justificar inseguranças e consequente busca de “algo a que se agarrar”, temos vindo a assistir, na ausência de projecto europeu capaz, ao salve-se quem puder de cada país, nomeadamente no posicionamento face à guerra e forças de paz no Líbano e agora, nestes dias mais próximos, a posição de defesa diante dos milhares de pessoas humanas imigrantes africanos que fogem de África (sugada) rumo à Europa. Afinal, como se entrelaçam e interagem nesta aldeia mundial, e para nós europeia, todos os projectos políticos, humanitários, educativos, sociais? Andarão, por falta de “alma unitária” uns para cada lado? Que faltará para, num espírito pluralista por isso de identidade e unidade da diversidade, ser possível unir mais forças naquilo que é preocupação e esperança comum? Esquecemo-nos de que se hoje fechamos a porta da casa europeia amanhã a casa é arrombada por outro lado? É o que vimos assistindo em muitas situações (como está agora a acontecer nas lhas Canárias): o dito mundo rico explora o continente africano com intenções de subjugação económico-cultural travando a autonomia e o desenvolvimento (isto para além de todas as complexas condicionantes sócio-culturais e políticas), esquecendo que a pobreza que se “fabrica” lá longe mais cedo ou mais tarde vem bater à nossa porta. As voltas que o mundo dá! Em estudos da ONU, há breves anos dizia-se que o mundo “produz” 47 novos pobres por minuto. É chegada a hora do reencontro com a verdade histórica que realizamos no mundo; não é possível fugir, e na Europa sem filhos, o futuro estará mesmo nas mãos de quem chega. 3. É certo que, com realismo, não é possível acolher e integrar todos os milhares de imigrantes clandestinos que chegam à Europa; mas é verdade bem maior que a resposta de solução não pode ser o fechar-se em si mesmo fazendo conta de que não é nada connosco. A nós portugueses que “somos” país de emigração (e sabemos que milhares e milhares de emigrantes nossos andaram pelo mundo de forma ilegal em bairros de lata desumanos a “fazer caminho” para a legalidade e “ganhar a vida”) parece um pouco estranho e frio quando se diz que “governo prepara plano para travar entrada de imigrantes ilegais por mar” (Público de 22 Agosto). É verdade absoluta que ilegalidade é ilegalidade, sempre a combater e nunca permitir. Mas, diante deste cenário cada vez mais o futuro, será esta a melhor resposta? Será solução europeia fechar as portas? Que pensa (?) a Comissão Europeia sobre a matéria? Não existam dúvidas que a porta virá abaixo! Para bem ou para mal, isso será outra questão. Mas o facto está aí, a construir-se todos os dias no mundo das desigualdades que crescem, numa abertura de mundo sem fronteiras nem barreiras onde a luta pela sobrevivência humana derruba tudo o que nós, comodamente instalados, chamamos de legalidade. É que acima da legalidade dos nossos papéis diplomáticos está a própria sobrevivência de quem corre quilómetros por um pedaço de pão. E se nós fôssemos “os outros”?! (É que somos mesmo!) 4. Mais ainda, e bem preocupante: em todo este enredo está criado o terreno para o fechar nacionalista nos países europeus; está criada a conjuntura propícia para o emergir de populismos nacionalistas anti-europeus, como forma de fugir a toda esta nova (des)ordem mundial. Sendo certo que a democracia é a melhor forma de governo a verdade é que muitas vezes ela é perdedora em si mesma, quando a maioria quer “fechar as portas” ao outro que quer sobreviver. Torna-se urgente, primeiro: sem esquecer a realidade local e nacional, levar a mensagem de “comunidade” naquele sentido mais amplo que nos entra pela internet (mundial e europeia) para as escolas e sistemas de educação para os “valores fundamentas”, dizendo que “afinal” somos todos cidadãos do mundo e “pertencemos” a espaços muito para além da própria “concha” individualista (cada vez mais, só neste pressuposto o voto em eleições será um acto consciente e cívico); segundo, com qualquer um dos nomes que se lhe queira chamar, será essencial neste vazio de referenciais retomar e envolver pedagogicamente todos num “documento” (“tratado constitucional”?...) europeu que nos faça entender neste novo mundo a nossa identidade na pluralidade. Caso assim consigamos então tudo quanto é “bom para todos” entra na vida comum; caso não, até o que é bom e importante acaba por ficar perdido no meio do joio. Haverá que postar mais na “qualidade humana” que cria mais laços comuns!

Mestre Mónica

Há dias abordei neste meu espaço o estado de abandono em que se encontra o monumento a Mestre Mónica, tendo sublinhado que ele merecia, e merece, um pouco mais de respeito de todos os gafanhões. Tempos depois, encontrei nas minhas estantes uma revista, perdida no meio de outra papelada, denominada "Estaleiros MÓNICA - LXX - 1887-1957 - Aniversário da Fundação", com um texto antológico do primeiro Bispo da restaurada Diocese de Aveiro, D. João Evangelista de Lima Vidal. Publico-o, hoje e aqui, para que se não perca este bocadinho de prosa poética, tão ao estilo do saudoso prelado aveirense.
F.M.
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D. João Evangelista
de Lima Vidal Arcebispo-Bispo de Aveiro
Parece-me que respiro melhor, quando vou à Gafanha benzer os barcos de Mestre Mónica. Mas não é só o ar da ria que tem o dom de nos abrir os pul­mões. É não sei que fulgor de abundância, de riqueza nacional, de vitorioso progresso que por ali passa e nos bate em cheio no peito. É um milagre de beleza que Mestre Mónica sabe extrair de troncos rudes, de matéria informe. Quando passam os carros a gemer sob o peso morto daqueles pinheiros, quem imagina a elegância e a majestade, a doçura e a força, a maravilha e a arte que dali vão sair? Vai, Ilhavense; vai Santa Joana; vai, Santa Mafalda; vai, Avé-Maria, desce imponente a húmida calha, entra nas águas, encanta os mares, recolhe a presa, e depois, ao regresso, entra airosa na barra, ao som da orquestra, ao flutuar das bandeiras, à alegria das multidões!
Aveiro, 5 de Abril de 1957 + JOÃO EVANGELISTA Arcebispo-Bispo de Aveiro

Imagens da Ria

:: Forte da Barra
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Normalmente, os veraneantes ou visitantes da Praia da Barra, quando chegam, correm logo para o mar. Compreendo perfeitamente, pois o mar atrai quem anseia pelo sortilégio de um ar diferente e de paisagens sempre em mutação. No entanto, se passearmos em sentido contrário ao Farol, chegaremos a um recanto pouco conhecido, como este que hoje aqui mostro. Depois, ao sair dali, caminhe pela margem da ria para completar o passeio.

segunda-feira, 21 de agosto de 2006

Jacinta apresenta novo álbum

Jacinta lança amanhã um novo álbum

Amanhã, dia 22, Jacinta apresenta em Vilamoura um novo álbum -"Daydream". É uma oportunidade para ouvir um timbre quente, aveludado, poderoso, afiança a Rádio Renascença. "O novo disco da cantora, que tem recolhido o aplauso da crítica nacional e internacional, foi gravado em Nova Iorque com o grande saxofonista norte-americano Greg Osby. Mais uma vez, traz a chancela da prestigiada Blue Note. Jacinta foi a primeira portuguesa a integrar o valiosíssimo catálogo do selo, com o disco "Tributo a Bessie Smith".

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Fonte: RR

Um livro de Amaro Neves

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D. FREI MIGUEL DE
BULHÕES E SOUSA (1706 – 1779)
“D. Frei Miguel de Bulhões e Sousa (1706 – 1779)” é o mais recente livro do historiador aveirense Amaro Neves. Trata-se de uma obra que vem na linha de muitas outras que escreveu sobre a região aveirense, todas ligadas à história, com predominância para a história da arte. Com ela, Amaro Neves recorda o “Emérito Bispo Aveirense – Governador do Grão-Pará e Maranhão”, que nasceu no lugar de Verdemilho a 13 de Julho de 1706, do então Bispado de Coimbra. O autor mostra-nos, nesta obra, “o essencial de uma personalidade portuguesa”, que “foi titular de bispados em três continentes – Ásia, América e Europa – como figura marcante da sua época, na Igreja e no Império Português". Ler este livro de Amaro Neves é ficar a conhecer a vida e a obra deste bispo aveirense que estava esquecido no tempo, mas também o meio económico e social de S. Pedro de Aradas, freguesia a que pertence Verdemilho, bem como o contexto e a evolução regionais, no princípio do século XVIII. A família e o nascimento de Miguel José, o seu núcleo familiar e a educação que recebe até à entrada nos Dominicanos, onde é ordenado sacerdote, são temas abordados pelo autor, que permitem ao leitor ficar por dentro do pensar e do viver na época em que cresce e se forma o jovem que há-de chegar longe. Amaro Neves conduz-nos depois, com inúmeras referências e transcrição de vários documentos, até à ordenação de D. Frei Miguel como Bispo de Malaca, à sua nomeação como Bispo-coadjutor de Belém do Pará, acabando por embarcar para o Brasil como efectivo Bispo de Belém do Pará, onde reabre o seminário diocesano e desenvolve acção pastoral meritória. O historiador, que vive em Aradas há mais de 25 anos, transporta-nos, neste seu livro, aos ambientes e trabalhos de D. Frei Miguel de Bulhões no Brasil, quer como prelado, quer, também, como Governador, cargo que exerceu durante cerca de quatro anos, sempre bem apoiado em documentação que pesquisou com o cuidado a que nos habituou. Depois, podemos acompanhar o autor até Leiria, onde o emérito bispo aveirense assumiu o Bispado de Leiria entre 1761 e 1779, ano da sua morte. Neste capítulo, é interessante ficar a conhecer facetas da sua personalidade e acção pastoral. “De qualquer maneira, o emérito Bispo de Leiria continua indelevelmente ligado ao passado e à imagem da cidade [Leiria], apesar de ter andado um tanto esquecida a sua memória, por um complexo conjunto de circunstâncias, ainda que dele se tenha deixado um retrato psicológico e episcopal de justo apreço”, salienta Amaro Neves. D. Frei Miguel de Bulhões e Sousa, nos horizontes da memória; Sinopse cronológica da vida e obra de D. Frei Miguel de Bulhões e Sousa; e Anexo documental completam este livro, que sai enriquecido, ainda, com bastantes indicações bibliográficas e fontes manuscritas, e com 26 fotografias inseridas no texto, muito elucidativas. Título: D. Frei Miguel de Bulhões e Sousa (1706 – 1779) Autor: Amaro Neves Editor: ADERAV/Junta de Freguesia de Aradas Fotografia (Leiria/Verdemilho): M. Fernanda G. Neves Páginas: 160 Fernando Martins

Imagens da Ria

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Museu Marítimo de Ílhavo: Salina

Agora que as marinhas de sal estão a ficar motivo de museu, pese embora o facto de algumas funcionarem para turista ver ou pela teimosia, bem intencionada, de certos proprietários ou marnotos, é bom recordar o que foi a safra do sal. O turista, ou o interessado no passado, pode muito bem apreciar imagens como esta, para ficar a saber mais alguma coisa de interessante.

Bento XVI e o mundo moderno

Papa diz que muitas ocupações podem levar à dureza do coração Bento XVI criticou ontem o activismo que ameaça o homem moderno e defendeu a importância da experiência do silêncio e da contemplação. “É necessário livrar-se dos perigos de uma actividade excessiva, qualquer que seja a condição e cargo desempenhado, porque as muitas ocupações levam muitas vezes à dureza do coração”, explicou. Antes da recitação do Angelus deste domingo em Castel Gandolfo, o Papa XVI falou de São Bernardo de Claraval, grande Doutor da Igreja que viveu entre os século XI e XII. Foi eleito abade do mosteiro cisterciense de Claraval aos 25 anos de idade, permanecendo à sua frente durante 38 anos até à sua morte. A dedicação ao silêncio e à contemplação não o impediu de desempenhar uma intensa actividade apostólica. Recordando a figura de São Bernardo, Bento XVI falou da sua exortação a Eugénio III, o Papa daquela época, ao qual o monge escrevia que do activismo excessivo apenas deriva sofrimento do espírito, extravio da inteligência, dispersão da graça. “A admoestação – salientou – vale para todo o tipo de ocupação, mesmo aquela inerente ao governo da Igreja”. A concluir, o Papa invocou da Virgem Maria “o dom da paz verdadeira e duradoura para o mundo inteiro”.
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Fonte: Ecclesia

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