sexta-feira, 14 de abril de 2006

SEXTA-FEIRA SANTA

Primeiro e definitivo
passo para
a nossa redenção
Três horas da tarde. À mesma hora, numa sexta-feira de há quase dois mil anos, Jesus Cristo morreu na cruz. Morte infamante que o Filho do Homem suportou para remir todos os pecados da humanidade. Daquele tempo, de hoje e de sempre. Jesus aceitou as acusações da hierarquia judaica e a sentença decretada por um político romano covarde, sem protestos e sem revoltas. Sem reivindicações e sem testemunhas que abonassem o Seu bom comportamento na sociedade. Também sem advogados que pudessem falar do seu amor à justiça, à verdade, à paz e ao amor. Sem o testemunho de cegos a quem Ele deu a possibilidade de ver, de surdos a quem Ele deu o dom de ouvir. De leprosos que Ele limpou, de mortos que Ele fez regressar à vida. De gente a quem deu de comer, quando pouco havia para repartir por milhares de pessoas que deixaram tudo para O escutar. Jesus, com a Sua entrega ao suplício por nós, quis assumir o sacrifício, séculos antes profetizado, para redimir os pecadores, oferecendo-lhes, como caminho de libertação, um mandamento novo: “Amai-vos uns aos outros como Eu vos amei.” Com o Seu sacrifício supremo, Deus feito Homem veio mostrar a cada um de nós e a todos que até a morte pode ter sentido. Pela Sua morte, veio a garantia de uma vida nova para todos, assente na certeza da ressurreição que Ele próprio experimentou três dias depois. É por isso que os crentes, os que acreditam que Jesus é o Redentor da humanidade, vêem na Sua morte de cruz, ao lado de dois criminosos, o sinal de resgate que nos faz filhos de Deus e herdeiros da vida eterna. A nossa tristeza desta hora, humanamente compreensível, vai passar muito em breve pela alegria da vitória de Cristo sobre a morte. Com a ressurreição de Cristo, na Páscoa da libertação, culminam todas as tristezas, todas as dúvidas, todas as hesitações. E todos então poderemos cantar aleluias. A morte de Jesus Cristo é, verdadeiramente, o primeiro e definitivo passo para a nossa redenção.
Fernando Martins

quinta-feira, 13 de abril de 2006

Um artigo de Tiago Mendes, no Diário Económico

A minuta
O corporativismo em algumas universidades portuguesas é tanto mais condenável quando esperamos que elas sejam pólos de excelência e exemplos a seguir.
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A endogamia, no contexto do ‘job market’ universitário, consiste na contratação preferencial de indivíduos da mesma instituição. Do ponto de vista da racionalidade, a endogamia é perfeitamente entendível: trata-se de uma forma de protecção mútua entre agentes que estabelecem, de forma não necessariamente explícita, um contrato de protecção mútua. Num país de cidadãos avessos ao risco, o comportamento não surpreende. Mas se a endogamia é racionalmente entendível, ela não é, obviamente, aceitável. Uma universidade que pretenda fazer investigação e oferecer ensino de qualidade, não pode fechar-se ao exterior nem ter um corpo docente receoso de competição. O corporativismo que existe em algumas universidades portuguesas é tanto mais condenável quando esperamos que elas sejam pólos de excelência e exemplos a seguir.
Um caso caricato chegou-me há dias ao conhecimento. Rezava assim: um cientista português, radicado no estrangeiro, respondera a um concurso duma universidade portuguesa, publicitado na internet. A sua candidatura fora desqualificada, informava a Reitoria da instituição em causa, por não incluir “a minuta de candidatura”. A dita “minuta”, que não era referida no anúncio nem estava acessível ‘online’, não passava de um formulário no qual se requeriam o nome próprio, a filiação e a referência do concurso. Só a informação relativa à filiação não era deduzível da restante candidatura. Conclusões? Duas. Uma geral e uma particular.
A primeira: é nos pequenos detalhes que muitas vezes se percebem as grandes diferenças. Este tipo de requerimentos, essencialmente burocráticos, mesquinhos e alimentadores da mediocridade, não se coadunam com uma cultura meritocrática. Erguer este tipo de “muralhas”, de forma kafkianamente engenhosa, para proteger os habitantes do “castelo” não é prática admissível numa instituição onde a busca de conhecimento seja o móbil maior. A segunda: só com uma invejável dose de ingenuidade conseguiremos não suspeitar que a instituição em causa, a Universidade de Lisboa, tenha encorajado, ao mais alto nível, a contratação preferencial de pessoas da casa.
Confesso-me particularmente à vontade para expor este caso por não ter qualquer relação pessoal ou profissional com o visado (o biólogo Miguel Araújo). Cumprindo, ‘en passant’, a máxima de que a justiça deve ser cega. Não fora a seriedade da questão, mais a autonomia universitária, e o título do texto poderia ter sido “A 334ª” - a medida “essencial” e “emblemática” que faltaria à desburocratização do país. Como assim não é, opto por citar o visado nesta história: “Não há planos tecnológicos, estratégias de Lisboa ou protocolos com o MIT que resistam a uma burocracia cuidadosamente arquitectada para defender os interesses da mediocridade instalada. Assim, não vamos lá.” Pois é.
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Nota: A burocracia ridícula e castradora anda por aí à solta. Ao transcrever este texto, muito oportuno, de Tiago Mendes, pretendo, tão-só, mostrar como o País tem andado. Manietado pela burocracia, que está comodamente instalada em todo o lado, não é possível progredir. E ainda há quem lute, com todas as garras, contra o processo em curso de acabar com ela.
FM

Aveiro: Ecomuseu da Troncalhada

Uma tradição que deve ser
conhecida Troncalhada é nome de marinha de sal que a autarquia aveirense preservou e mantém em funcionamento, na época própria, para garantir a tradição. Fica ali bem perto da saída de Aveiro, na rotunda que dá acesso às praias da Barra e da Costa Nova. Quando se entra nessa rotunda, segue-se em direcção às Pirâmides e à esquerda, quem olhar vê logo a antiga marinha, em pleno funcionamento. Penso que esta época de férias para alguns, sobretudo para quem estuda, é uma excelente oportunidade para ficarem a conhecer uma actividade que tem tendência para desaparecer da nossa paisagem lagunar. O Ecomuseu da Troncalhada está bem cuidado e preparado para receber visitantes. Há guias para orientarem a visita e para explicarem o que muitos gostarão de saber: como se fabrica o sal, a partir da evaporação da água salgada depositada nas janelas do céu, como lhe chamou o artista multifacetado Almada Negreiros.

Um artigo de D. António Marcelino

NA FESTA DA VIDA,
PROJECTOS DE MORTE?
De uma maneira viva e irrespondível, os bispos de Espanha, em documento recente sobre a “reprodução humana artificial”, assim lhe chamam, denunciam que “o embrião humano recebe uma tutela legal menor do que aquela que se dá aos embriões de certas espécies animais protegidas”. Faz pensar, a tal ponto chegou o laicismo do estado. Por estes dias de Páscoa, a festa da vida, o problema também se vem pondo entre nós, com preocupação de muita gente que luta por uma sociedade que respeite a vida. O legislador escuda-se na maioria parlamentar para assegurar a vitória antecipada. Mau caminho, em matéria tão delicada. e grave. Não podemos, nem queremos habituar-nos a aceitar a ligeireza com que se vão abordando problemas sérios, com vista a novas leis. Não se pede agora mais, e este pedido é mais que legítimo, do que, em relação à “reprodução medicamente assistida”, assim lhe chamamos nós, se dê tempo e espaço para que as pessoas sejam esclarecidas, vejam, em todas as suas dimensões, o alcance das decisões possíveis, e possa reagir livremente. Não basta falar do vazio legal sobre o tema e aproveitar a maré para preencher este vazio de uma maneira menos adequada. Se é grande o vazio legal, a culpa não é, nem do povo, nem dos embriões, previamente condenados à morte. É o órgão legislador que tem de se interrogar, porque o povo está farto do parlamentarismo à século XIX, em troca da atenção, estudo e reflexão, sobre assuntos do seu interesse. Consta que tudo se tentava decidir, se é que não se continua na mesma, na calada dos arranjos da noite partidária e na distracção de um povo, cada vez mais alheio à política, porque, com futebol, jogos e novelas televisivos se dá por satisfeito, se não o acordarem. Por isso mesmo, os atentos são considerados cada vez mais incómodos num povo anestesiado e alheio a coisas essenciais. Sabemos que há muitas esposas desejosas de procriar e mulheres solteiras, ansiosas por um bebé, sem o incómodo de terem de o gerar. Para as primeiras há caminhos já traçados, para as segundas não vemos que caminhos legítimos, porque uma criança não é um brinquedo de luxo, e tem direitos que não se casam com caprichos e emoções. “ O embrião, lê-se no documento dos bispos vizinhos, merece o direito devido à pessoa humana, porque não é uma coisa, nem um mero agregado de células vivas, mas o primeiro estádio da existência de um ser humano.” Não respeitar o embrião, embora se lhe dêem outros nomes para acalmar a consciência, é abrir portas a formas que podem ir da procriação à comercialização, a fins cosméticos ou outros de igual teor. Procriação, investigação, indústria e negócio são termos que, no caso presente, se colam. Mesmo com leis que se dizem reguladoras de abusos, a ânsia de ir à frente na investigação e de tirar proveito material desta indústria, tem sempre patronos, dentro e fora do sistema. Os políticos, menos esclarecidos e pouco seguros, gostam de aproveitar, quando não mesmo de provocar, o facto consumado, que torna, depois, mais difícil o recuo. O facto consumado sempre foi uma estratégia marxista, para depois se poder gritar pelo respeito devido a direitos adquiridos. Todos sabemos que assim é, e aí está a prová-lo a Constituição, votada em circunstâncias que nada têm a ver com a realidade democrática de hoje, intocável em aspectos fundamentais, mas mutável, ao sabor de interesses e arranjos partidários. Não é caso único nesta estratégia antidemocrática, dominada pelo medo de perder, sempre que no jogo as regras são claras. Celebra-se a festa da vida. A Páscoa é isso mesmo. Sonham-se, entretanto, projectos de morte: o aborto prometido, o divórcio agilizado, o embrião destruído… Pode a Igreja calar-se, quando a pessoa humana é espezinhada, sem se poder defender? Nunca.

quarta-feira, 12 de abril de 2006

Páscoa para um mundo mais justo

Bento XVI convida católicos a preparar
bem a celebração Bento XVI desafiou hoje os católicos de todo o mundo a fazer da Páscoa uma festa de vida, comprometendo-se “com mais coragem na construção dum mundo justo”. O Papa falava perante 40 mil peregrinos, reunidos na Praça de São Pedro para a audiência geral desta semana, com reflexão centrada no Tríduo Pascal.
Perante um mundo em que continuam a ser visíveis as “divisões, os dramas da injustiça, do ódio, da violência e da impossibilidade de reconciliação com perdão sincero”, o Papa espera que os católicos dêem um testemunho de fé, mostrando que “o mal não tem a última palavra”, porque Cristo ressuscitou.
Nos próximos dias, disse Bento XVI, os fiéis devem manifestar “um desejo mais vivo de seguir Jesus e servi-lo, sabendo que ele nos amou ao ponto de dar a vida por nós”.
Para preparar o Tríduo Pascal, o Papa convidou os católicos a procurarem “a reconciliação com Cristo, para saborear mais intensamente a alegria que Ele nos comunica com a sua ressurreição”.“O seu perdão, que é dado no sacramento da Penitência, é fonte de paz e torna-nos apóstolos de paz”, explicou.
: (Para ler mais, clique aqui)

D. Manuel Clemente na antiga Capitania

“O sentido da vida à luz da arte cristã” No próximo dia 20 de Abril, quinta-feira, pelas 21.30 horas, na sede da Assembleia Municipal de Aveiro (antiga Capitania), D. Manuel Clemente, Bispo Auxiliar de Lisboa, fará uma conferência, subordinada ao tema “O sentido da vida à luz da arte cristã”. Trata-se de uma iniciativa da Comissão Diocesana da Cultura, em parceria com a Câmara Municipal de Aveiro e a associação AveiroArte, integrada na exposição que está patente ao público no mesmo local, até ao dia 23 do corrente. Nesta exposição, 48 artistas assumiram expressar o que pensam, em termos artísticos, sobre “O sentido da vida: que horizontes?”

Um artigo de António Rego

O culto do oculto
Recordo bem o choque que constituiu para mim, no início do estudo de Sagrada Escritura, o desmoronamento de alguns cenários construídos sobre a criação do mundo, as figuras de patriarcas e profetas, acontecimentos exemplares de tragédia ou festa descritos no Antigo ou Novo Testamento.
Conhecer os géneros literários, a hermenêutica gerada por uma aproximação aos textos originais, traduções, cânones, apócrifos – tudo isso provocou salutar iluminação sobre cenas desenhadas mais na imaginação que nos conteúdos essenciais da fé.
Estudar a Bíblia não é chegar à idade de compreender que o Pai Natal não existe e que não há nada a fazer. Trata-se de um acesso rigoroso à exegese, clarificada com o maior número de dados possível da história e da ciência. E da tradição da Igreja como fonte continuada da cristalinidade da fé.
É um bom momento na vida o da harmonização tranquila da fé com a ciência sem misticismos artificiais. Apercebemo-nos que os pilares da razão são óptimos mas insuficientes para sustentarem os conteúdos globais da fundamentação do homem e de Deus. Por isso aconteceu a Revelação.
De tempos a tempos surgem miragens de ciclones que ameaçam “desmoronar” as bases comuns das certezas e crenças adquiridas. Surpreendentemente Dan Brown e o seu Código Da Vinci com a sua fantasia espectacularizada (e presumivelmente copiada de outra fantasia) parece ter feito estremecer a fé de pré-iniciados em questões bíblicas e históricas.
Vendeu melhor os livros que as ideias mas terá deixado algumas dúvidas sobre quem estava à direita de Jesus na Última Ceia, e se Leonardo Da Vinci terá sido melhor em construir charadas que em trabalhar como pintor, escultor ou físico.
Recente notícia (inocentemente surgida perto da Páscoa) sobre o Evangelho de Judas, dispara as campainhas das redacções e produz reportagens em volta das dúvidas sobre a figura de Judas descrita nos Evangelhos Canónicos.
Surgem de novo as insinuações sobre um acumulado erro histórico, dando a entender que os cristãos andam eternamente ludibriados pela máquina eclesiástica.Há conteúdos essenciais da fé e esses estão explicados e proclamados. Há questões de textos e contextos sempre abertas a novos dados filológicos, paleontológicos, como todos os grandes estudos históricos. Mas nada disso se enquadra na literatura cor de rosa, lida entre dois mexericos de sala de espera.
As ciências teológicas e bíblicas trabalham em laboratórios bem mais consistentes, com dados frios, tratados por investigadores insuspeitos que não passam a vida ao telemóvel para comunicar mais uma descoberta oculta e sensacional.
Quem, nestes dias, ler serenamente a Paixão em qualquer dos Quatro Evangelistas, terá o essencial dum capítulo da história da fé e da humanidade. Sem se perder no culto do oculto ou da dúvida.

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