Uma boa parte dos franceses que votaram "não" ao tratado constitucional europeu quis rejeitar o chamado ultraliberalismo. Ou seja, o capitalismo de tipo anglo-saxónico, por sinal eficaz no crescimento económico e na redução do desemprego, mas com menos protecções para os que estão empregados. Para defender o "sim", Chirac chegou mesmo a dizer que o liberalismo é pior do que o comunismo. E mostrou-se contra princípios básicos do mercado livre e da própria integração europeia, como a concorrência nos serviços por parte dos novos Estados membros da União.
Na Alemanha o populismo antimercado está também em alta. A globalização e as deslocalizações de empresas para a Europa de Leste puseram em causa a "economia social de mercado", com a co-gestão, salários generosos e um alto grau de protecção social. O "capitalismo renano" está ali a ceder terreno ao modelo anglo-saxónico, mais assente na bolsa. O problema é que, tanto em França como na Alemanha, o tão apregoado modelo social europeu não consegue taxas de desemprego abaixo dos 10% da força de trabalho.
As reacções anticapitalistas de franceses e alemães são defensivas. São ditadas pelo medo e pela incapacidade de adaptação às novas realidades da globalização e até de uma integração europeia alargada a novos Estados membros. O populismo antimercado da França e da Alemanha não aponta para reformas com futuro, mas para regressar artificialmente a um passado que não voltará. É uma atitude reaccionária, que nada tem a ver com o combate aos reais defeitos do capitalismo liberal nem com o desejo de outros modelos possíveis (como o escandinavo, que funciona). Algo semelhante, e dramático, aconteceu nos anos 30, com a escalada proteccionista. A integração europeia surgiu, também, para que tal jamais se repetisse.