domingo, 10 de abril de 2005

Haverá uma beleza que nos salve?

Não, não há uma beleza que nos salve. Só a bondade nos salva. E a bondade manifesta-se, por vezes, no meio da maior fealdade. Explico-me. Uma pessoa capaz de actos de bondade, uma pessoa com bom coração, pode ter uma cara que é considerada feia, pode vestir-se de uma maneira que é considerada pirosa, pode ter tido notas medíocres, pode ser um artista medíocre. Quando visitamos um museu com obras belíssimas, como o Louvre ou o Prado, podemo-nos esquecer de que as pessoas, os visitantes e os funcionários que estão lá connosco, são obras mais belas do que as mais belas obras expostas que andamos a ver. Um artista torturado pela beleza que consegue, ou que não consegue, dar ao que pinta e que se autodestrói está equivocado. Seria preferível deixar de pintar ou pintar obras medíocres. Como dizia o meu avô materno, que era médico, “mais vale burro vivo do que sábio morto”. Se a busca da beleza nos impede de viver, então há é uma beleza que nos perde. E há. Penso que não nos devemos enganar sobre a beleza. Se a nossa obra artística, ou outra, não implica a renúncia às coisas inúteis e a partilha, então é bastante inútil. E as coisas inúteis, para uma poetisa, são o desejo de escrever obras perfeitas e de ser reconhecida pelos seus pares. Roubei à Irmã Emmanuelle a expressão “renúncia às coisas inúteis e partilha” (“renonce aux choses inutiles et partage”, in “Famille chrétienne”, Numéro hors série, été 2004, p. 6). Se não há partilha, o artista é quase tão aberrante como um padre que celebrasse a missa só para si. Os artistas são, às vezes, muito egoístas. É verdade que as suas obras, apesar disso, podem comunicar – mas será involuntariamente? – bons sentimentos. A arte está cheia de ódio, de maus sentimentos. Parece que estou a dizer mal da arte e não queria fazer isso. No Natal, uma amiga mandou-me um cartão de boas festas da Unicef com um Anjo da Anunciação de Fra Angelico. Tenho-o em exposição no meu quarto e, quando quero rezar, olho para ele. Mas não sou contemporânea de Fra Angelico. Não posso tomar café e tagarelar com ele nos cafés como posso fazer com a amiga que me enviou o anjo dele pelo Correio. Por isso o Anjo da Anunciação de Fra Angelico, que é tão bonito, pode também ser doloroso. Fra Angelico já morreu. E não é a beleza do anjo de Fra Angelico que me garante que Fra Angelico ressuscitará. Um poema de Rimbaud está cheio de violência. Há muita beleza na expressão dessa violência. E isto é terrível. Preferia que Rimbaud não estivesse ferido a ponto de escrever daquela maneira? Preferia. Mas não posso dizer isto assim. A arte é feita para construir a paz. Não é um esgrimir no vazio. Não pode ser. Olho para o Anjo da Anunciação de Fra Angelico. Parece-me belíssimo. É vermelho e dourado. É verde e azul. Mas, ao escrever assim, parece-me que estou a evocar o poema de Rimbaud intitulado “Vogais”. A arte é um modo de lidar com a ausência. E por isso é tão preciosa e tão perigosa. Nunca é a alegria da presença. Adília Lopes, poetisa in Observatório da Cultura on line (www.ecclesia.pt/cec)


Adília Lopes
Poetisa


(In "Observatório", do "site" da Comissão Episcopal da Cultura)

Semana das vocações de consagração

Nós somos co-responsáveis pela acção da Igreja
Começa hoje a semana de oração pelas vocações de consagração. Será uma semana que nos convida a reflectir sobre a nossa vocação de serviço aos outros, quer como clérigos, quer como leigos. Uns deixando tudo, aceitando o chamamento de Deus para se dedicaram totalmente ao serviço do Reino, outros assumindo em pleno, na vida, as suas condições de baptizados. Os consagrados, aqueles que se dão sem limites - os bispos, os padres, os diáconos e os membros das Ordens e Institutos Religiosos e alguns leigos -, têm esta semana, de forma especial, para se debruçarem sobre até que ponto estão a cumprir o mandato que receberam de Cristo para servir a Igreja e as mulheres e homens seus irmãos, numa doação de entrega total. Os não consagrados, que são a maioria dos leigos, não podem deixar de examinar a sua consciência para descobrirem se o seu empenhamento no apoio aos que estão na linha da frente do serviço é, de facto, positivo. Todos, afinal, têm ainda de meditar sobre o seu envolvimento na descoberta de vocações de consagração, indispensáveis na Igreja, que anseia por chegar aos quatro cantos da Terra, em resposta ao mandato de Cristo. A Igreja precisa de gente consagrada, mas a maioria das vezes pensamos que isso é tarefa para outros, como se não fôssemos membros de pleno direito e com obrigações nas comunidades cristãs. Fingimos ignorar, quantas vezes, as responsabilidades que temos na descoberta de jovens e menos jovens que possam servir a Igreja, olvidando a obrigação que os crentes têm de apoiar os que estão em caminhada vocacional. Penso que esta semana deveria servir para os cristãos pensarem nestas coisas, não delegando em ninguém a tarefa de o fazer. Nós somos, de facto, co-responsáveis pela acção da Igreja. Fernando Martins

Ouvindo Evard Grieg

Evard Grieg
Neste fim-de-semana, foi um prazer muito grande ouvir Evard Grieg, compositor norueguês que viveu entre 1840 e 1907. As Suites nº 1 e nº 2 e o Concerto para piano e orquestra envolveram-me com melodias que mostram uma sensibilidade muito própria. As primeiras obras foram compostas para ilustrar um drama do seu compatriota Ibsen. O herói do drama, Peer Gynt, é uma personagem bastante irreal, cujas aventuras mostram um orgulho egoísta. As Suites são compostas por quatro cenas cada uma, correspondentes a outras tantas melodias, que se interligam com uma simplicidade que encanta, enquanto nos transportam a ambiência facilmente compreensíveis: A Manhã, A Morte de Ase, Dança de Anitra, Na Gruta do Rei das Montanhas, Regresso de Peer Gynt, Canção de Solveig, Lamento de Ingrid e Dança Árabe. O Concerto para piano e orquestra, que esteve muito em voga em França, é uma obra magnífica. O primeiro andamento acorda-nos, se não estivermos concentrados, com uma introdução de piano que todos os melómanos bem conhecem, tal é a sua beleza. Depois vem o segundo andamento em que o piano oferece ornamentos cheios de arabescos inesquecíveis. E o último, uma evocação das danças norueguesas, é uma conclusão majestosa. Ouçam e apreciem, com calma, se puderem, para ficarem a gostar, se é que não conhecem já Evard Grieg. Fernando Martins

POSTAL ILUSTRADO

Posted by Hello "Bonito Dia": Foto de Crixtina, pseudónimo artístico da ilhavense Dora Bio

sábado, 9 de abril de 2005

Fotografia de José Carlos Sá em exposição

Foto de José Carlos Sá
Hoje, dia 9 de Abril, foi inaugurada na Casa Municipal da Juventude de Aveiro a exposição "Os Palcos da Bola", com fotografias da autoria de José Carlos Sá, aluno da disciplina de Fotojornalismo, do 4ºano da licenciatura em Comunicação do Instituto Superior das Ciências da Informação e da Administração de Aveiro. A mostra pode ser apreciada até 30 de Abril, de segunda a sexta-feira, entre as 9.30 e as 19 horas, e aos sábados, entre as 10 e as 13 horas e entre as 14 e as 18 horas.
... O plural de Palcos da Bola só tem cinco minutos de distância. Ou uma eternidade. São dois mundos nos antípodas, unidos pela bola mágica.O Estádio Municipal de Aveiro é o palco opulento, garboso nas suas cores novinhas em folha. É bonito, apresenta-se bem, era preciso pôr gravata para receber o 2004. Vão lá jornalistas, até aos treinos, quando muda o treinador dá nas notícias, há VIP's e saídas de emergência, parabólicas que levam a redondinha ao mundo, e ondas nas bancadas porque às vezes vai lá gente que dá para fazer as ondas. Tem apanha-bolas contratados, é enorme de tão grande, tem um painel "Você está aqui". Porque é grande, do tamanho dos sonhos de quem delira com vitórias opulentas, garbosas nas suas cores novinhas em folha... ... Fonte: Blogaveiro (Para ler mais, clique aqui)

Sócrates avança com medida acertada

O primeiro-ministro, José Sócrates, vai avançar com uma medida acertada, medida essa que vai pôr fim aos políticos que se eternizam no poder. Assim, a proposta de José Sócrates, a ser aprovada pelo Governo, limitará a três mandatos os cargos de presidentes de Câmara, das Juntas de Freguesia e líderes regionais, bem como do próprio primeiro-ministro. Os que exercem funções há mais de 12 anos, só poderão recandidatar-se mais uma vez.
Sempre pensei que os cargos políticos devem ser assumidos como um serviço à sociedade. Depois disso, os cidadãos que os desempenham teriam de regressar às suas anteriores profissões. O que acontece é que alguns ficam de tal modo agarrados ao poder que até acabam por ter medo de sair dele. São os tais profissionais da política, que se tornam, muitas vezes, incapazes de singrar noutras áreas profissionais.
Além disso, o poder pode acabar por criar vícios, podendo levar os políticos a caírem em situações de estagnação a vários níveis. A mudança, na política como em qualquer outra área, pode gerar inovação e estimular novos desafios, à partida sempre bons para o progresso das sociedades e bem-estar das populações.
Nunca compreendi a razão por que é que os eleitores contribuem para a manutenção no poder de autarcas, votando muitas vezes nos mesmos. Será que vêem neles pessoas insubstituíveis e únicas? Será que não vislumbram outros políticos, porventura mais dinâmicos e melhores? Será que não acreditam nas vantagens de mudanças e de outras ideias? Será por comodismo? Será por medo de assumirem a responsabilidade de novas experiências? Confesso que não sei.
Fernando Martins
(Achegas, concordantes ou discordantes, podem ser dirigidas para o meu e.mail: rochamartins@hotmail.com)

Testamento do Papa

Testamento de 06.03.1979 e sucessivos acrescentos Totus Tuus ego sum Em nome da Santíssima Trindade. Amen. "Vigiai, pois, porque não sabeis em que dia virá o vosso Senhor" (cf. Mt 24,42) - estas palavras recordam-me o último chamamento, que acontecerá no momento em que o Senhor quiser. Desejo segui-Lo e desejo que tudo aquilo que faz parte da minha vida terrena me prepare para este momento. Não sei quando isso acontecerá, mas, como em tudo, também neste momento me coloco nas mãos da Mãe do meu Mestre: Totus Tuus. Nas mesmas mãos maternas entrego tudo e Todos aqueles com os quais a minha vida e a minha vocação me ligou. Nessas mãos entrego, sobretudo, a Igreja e também a minha Nação e toda a humanidade. Agradeço a todos. A todos peço perdão. Peço também a oração, para que a Misericórdia de Deus se mostre maior do que a minha fraqueza e indignidade. Durante os exercícios espirituais reli o testamento do Santo Padre Paulo VI. Esta leitura impulsionou-me a escrever o presente testamento. Não deixo atrás de mim nenhuma propriedade da qual seja necessário dispor. Quanto às coisas de uso quotidiano de que me sirvo, peço que sejam distribuídas como parecer oportuno. As notas pessoais sejam queimadas. Peço que dom Stanislaw, a quem agradeço pela colaboração e pela ajuda tão prolongada ao longo dos anos e tão compreensiva, vele por isto. Todos os outros agradecimentos, em contrapartida, deixo-os no coração diante do próprio Deus, pois é difícil exprimi-los. No que diz respeito ao funeral, repito as mesmas disposições que o Santo Padre Paulo VI deu (numa nota à margem: a sepultura na terra, não num sarcófago, 13.3.92). "Apud Dominum misericordia et copiosa apud Eum redemptio" João Paulo pp. II Roma, 06.03.1979 (Para uma leitura de todo o texto, clique ECCLESIA)

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