segunda-feira, 4 de abril de 2005

Arcebispo de Braga é o novo presidente da CEP

D. Jorge Ortiga
O Arcebispo de Braga, D. Jorge Ortiga, é o novo presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP). Foi eleito hoje, dia 4 de Abril, na Assembleia Plenária da CEP, que está a decorrer em Fátima. O vice-presidente é D. António Montes, Bispo de Bragança e Miranda, e o secretário passou a ser D. Carlos Azevedo, Bispo Auxiliar de Lisboa. O Conselho Permanente é composto por D. José Policarpo, Patriarca de Lisboa (por inerência), D. Albino Cleto, Bispo de Coimbra, D. António Marto, Bispo de Viseu, e D. José Alves, Bispo de Portalegre e Castelo Branco. As eleições para as diversas comissões realizar-se-ão posteriormente. A Assembleia Plenária da CEP prolonga-se até dia 7 de Abril.

Mensagem do Bispo de Aveiro sobre a morte do Papa

D. António Marcelino
JOÃO PAULO II
- UM TESTEMUNHO QUE NOS ENRIQUECEU A TODOS Comecei a escrever estas palavras quando, preso à catadupa de notícias que chegavam ao mundo inteiro, se ia dizendo da gravidade do estado de saúde do Papa, cuja vida, presa por um fio, estava a chegar ao seu termo. Invadiu-me, então, uma forte emoção que não tentei reprimir. Algumas lágrimas, nascidas de um coração sensível, que aceitava, sem reticências, o querer de Deus, marejaram-me os olhos. Lágrimas de sentida gratidão. O Papa é um mortal, como qualquer de nós. A sua fragilidade física, a aumentar cada dia, vinha-me preparando para momentos de inevitável pesar. João Paulo II é um irmão, muito chegado, que me entrou, por inteiro, no coração e na vida, e me permitiu a experiência pessoal, já iniciada com Paulo VI, de tocar de perto e com uma normalidade inesquecível, a possibilidade de uma Igreja hierárquica próxima das pessoas, o calor da comunhão fraterna a estimular, cada dia, o sentido de serviço, a abertura a todos, sem excepção, porque ele sabia que em todos se esconde e se pode encontrar o Deus amor, que de mil modos actua e se revela. Todos os bispos, por força da sua missão, mantêm uma especial relação com o Papa, com encontros pessoais regulares, pelo menos de cinco em cinco anos, em visitas programadas. Para além destes encontros com João Paulo II que, para mim, foram vários, dado os trinta anos de episcopado que estou prestes a completar, muitos outros se proporcionaram pela minha participação em três sínodos dos bispos com a presença diária do Papa, e nos vários simpósios dos bispos da Europa, realizados em Roma. Ainda nas suas vindas a Portugal ou em idas minhas a Roma, por motivo de reuniões e congressos com audiência papal. Sempre encontros gratificantes. Foi também a concelebração eucarística em grupo na capela pessoal do Papa e, meia dúzia de vezes, a refeição à sua mesa de todos os dias. Toda esta proximidade gerou estima, amizade e admiração e até um certo à-vontade. Podíamos, então, fazer perguntas ao Papa e estabelecer uma conversação que nada tinha de formal. João Paulo II favorecia muito esta aproximação, com o seu interesse, bom humor e conhecimento da nossa língua, fazendo questão de falar e querer que falássemos em português. No sábado à noite estava a celebrar a Confirmação numa paróquia da diocese, quando a notícia, por demais esperada, chegou. Convidei o povo a rezar e a agradecer o grande dom à Igreja e ao mundo, que foi João Paulo II e pude, então, aplicar logo por ele a Sagrada Eucaristia. Dei graças a Deus por assim ter sido. Foi para mim o momento mais propício para acolher, para rezar, para agradecer. Eu sei que o Papa continua vivo. O muito que nos deixou é património da Igreja e da humanidade. Não o quero perder. Não o podemos perder. António Marcelino, Bispo de Aveiro

Exéquias pelo Papa na Sé Catedral

Sob a minha presidência, haverá exéquias solenes na quinta-feira, dia 7, na Sé Catedral de Aveiro, às 19 horas. Dado que os Bispos de Portugal se encontram em assembleia plenária em Fátima, de segunda a quinta-feira, só nesse dia posso estar, como é meu desejo e meu dever.
Para esta celebração convido os presbíteros e os diáconos, os consagrados e os leigos, os jovens e os adultos, a diocese e a cidade, representantes das paróquias e dos movimentos apostólicos.
Convido, também, as diversas instituições da comunidade civil e todas as pessoas de boa vontade, porque, para ninguém, João Paulo II é uma pessoa estranha.
Peço a todos os párocos que organizem, nestes dias, celebrações de sufrágio pelo Santo Padre de modo a que todos os paroquianos se possam associar, em oração fervorosa, por João Paulo II e, em serena reflexão, pelo que a sua vida significou e significa para a Igreja, para o mundo, para cada um de nós.
António Marcelino, Bispo de Aveiro

Sé de Aveiro: Exéquias solenes em memória do Papa

Na Sé de Aveiro, D. António Marcelino presidirá, na próxima quinta-feira, pelas 19 horas, às exéquias solenes, em memória do Papa João Paulo II.
Entretanto, o prelado aveirense confessou à Renascença estar muito emocionado com a forma como o mundo está a reagir à morte de João Paulo II, tendo frisado que a abertura demonstrada nos últimos dias pela China para um novo relacionamento com a Igreja Católica já é uma graça do falecimento do Papa.
D. António Marcelino considerou que João Paulo II levou, durante o seu Pontificado, o diálogo ecuménico a um patamar tão elevado, que o próximo Papa não pode deixar de continuar.
Todos as pessoas são convidadas a participar nesta cerimónia, que se realiza no dia anterior ao funeral do Papa João Paulo II.

Papa enfrentou regimes e sistemas

O Papa enfrentou regimes e sistemas, afirmou o Cardeal-Patriarca de Lisboa, D. José Policarpo, no domingo, na missa por alma de João Paulo II
Só na generosidade, solidariedade e no compromisso com os outros, o Homem descobre a sua própria vida. "Foi isso que fez de João Paulo II, não só um grande pastor da Igreja mas um grande símbolo da humanidade", realçou D. José Policarpo, Patriarca de Lisboa, na homilia da celebração de domingo, na Sé de Lisboa. Nesse abraçar "apaixonadamente o destino da humanidade, agigantou-se a energia espiritual de um grande crente", afirmou o Cardeal de Lisboa, que é também o Presidente da Conferência Episcopal Portuguesa. A força deste homem que o fez percorrer o mundo e "enfrentar as grandes causas da humanidade foi a força da fé". "A sociedade contemporânea, na variedade de religiões e culturas, nas contradições paradoxais entre desejos anunciados e caminhos percorridos, no traumatismo de páginas da história que todos gostaríamos de esquecer, o ateísmo e a descrença assumidos como valores, parece mais antagónica que convergente com este anúncio de esperança cristã", referiu o purpurado. João Paulo II - sublinha D. José Policarpo - foi "um dos que ousaram percorrer corajosamente esses caminhos". Na sua primeira visita a Portugal, recorda o Patriarca de Lisboa, João Paulo II disse-lhe: "bispo é aquele que vai sempre à frente" e que "discerne caminhos novos". Durante o Pontificado deste Papa, "tivemo-lo como pastor corajoso. Sempre à frente com passada rasgada e decidida. Não escondendo o peito das ameaças que pesam sobre a Igreja e sobre o homem. Chocando o mundo e surpreendendo muitos. Galvanizando multidões", disse na homilia o Patriarca de Lisboa. No seu caminho pastoral, João Paulo II enfrentou "regimes e sistemas"; "quebrou tabus" e "abriu as portas do diálogo entre culturas e religiões", sublinhou D. José Policarpo.
Fonte: Agência Ecclesia

João Paulo II será sepultado na Basílica de São Pedro

Funeral do Papa na sexta-feira
O funeral do Papa João Paulo II terá lugar pelas 10 horas (hora local, 9 horas em Lisboa) de 8 de Abril, sexta-feira. A decisão foi tomada na segunda das Congregações Gerais dos Cardeais, concluída há minutos, com a participação de 65 Cardeais. A missa exequial terá lugar na Basílica de São Pedro, sob a presidência do Cardeal Joseph Ratzinger, Decano do Colégio Cardinalício. Posteriormente, o corpo do Papa será sepultado na cripta da Basílica de São Pedro, após as cerimónias de encomendação. O porta-voz do Vaticano, Joaquín Navarro-Valls, negou que João Paulo II tivesse manifestado qualquer vontade ou explicitado qualquer disposição para ser sepultado na Polónia. Hoje, 4 de Abril, o féretro de João Paulo II será trasladado pelas 17 horas da Sala Clementina para a Basílica de São Pedro, seguindo-se uma celebração da Palavra presidida pelo Camerlengo da Santa Igreja Romana, Cardeal Martinez Somalo. Cerca de uma hora depois, os fiéis de todo o mundo poderão prestar a sua última homenagem ao Papa. Tendo em vista o previsível afluxo de peregrinos, a Basílica permanecerá aberta toda a noite, fechando apenas das 2 às 5 horas da manhã, para operações de limpeza. (Para ler o artigo todo, clique ECCLESIA)

domingo, 3 de abril de 2005

Artigo de José Manuel Fernandes, director do "PÚBLICO"

O Papa da liberdade Morreu como sempre viveu: com enorme coragem, a eterna coerência, as convicções inabaláveis, a persistência do lutador que nunca desiste. Sobretudo nunca desiste de ser quem é, de assumir até às últimas consequências a sua liberdade interior, de não se render às circunstâncias, mesmo as mais adversas. As últimas semanas, os últimos meses - os últimos anos? - foram de um grande sofrimento. Karol Wojtyla era um homem tolhido pela doença, diminuído há muito pelo atentado quase fatal de 1981 - agora confirmadamente uma obra do KGB - e que, mesmo assim, não se eximia a qualquer das que acreditava serem as suas obrigações. Num mundo onde a velhice, em especial a degradação do corpo que surge com a doença e a idade, é tantas vezes escondida e motivo de vergonha, João Paulo II assumia-se como era perante todos. Não para exibir a dor ou inspirar piedade, mas porque era um velho doente e queria dizer a todos que um velho doente não deixa por isso de ser o mesmo ser humano, merecedor do mesmo respeito, senhor da sua inalienável dignidade. Num tempo em que tudo fazemos para evitar a dor e fugir ao sofrimento, João Paulo II não deixava de tentar cumprir todos os rituais ligados à sua função mesmo que isso implicasse dor e sofrimento - até porque assumir o sofrimento próprio e entendê-lo como a vontade de Deus faz parte da herança da Cristandade, da crença mais profunda dos fiéis. Acreditar, ter fé, é um dom - e escrevo-o como alguém que conheceu e perdeu a fé. Quando essa fé tem o poder e a intensidade que se percebia em João Paulo II - não é certamente por acaso que D. José Policarpo, patriarca de Lisboa, escreveu que a imagem mais forte que guarda de João Paulo II é do "Papa como um grande crente" - ela determina cada gesto, cada decisão, toda a iniciativa. Admito que é difícil, para todos, mesmo para os católicos, entender o significado integral da entrega de alguém como Karol Wojtyla, sobretudo quando o seu ministério é mais controverso. No entanto julgo que, sobrepondo-se a todas as diferenças de opinião, temos de olhar para o seu legado como algo de que não podemos guardar o que gostamos e esquecer o que não gostamos: temos de o tentar compreender na sua integralidade pois corresponde à imensa coerência e complexidade de alguém que nunca desistiu e sempre lutou pelas suas convicções mais profundas. (Ler o texto na íntegra no "PÚBLICO")