Reflexão de Georgino Rocha
para o Domingo VII do Tempo Comum
“Parem de nos matar” pedem jovens em cartaz levado em marcha de protesto contra a violência e o terrorismo. “Deixem-nos viver em paz e construir as nossas vidas em segurança” clamam outros no mesmo desfile. E o sentir destes jovens é emblemático do que todos praticamente vivemos: guerra mundial por zonas que despedaçam povos e criam instabilidade; guerras locais por núcleos que rivalizam em vinganças e retaliações; guerras no interior de cada pessoa que, insatisfeita consigo mesma, entra em conflito com o próximo, os familiares (Papa Francisco). Qual a nossa atitude perante quem nos calunia, persegue, prejudica? O exemplo de Jesus serve-nos de guia para assumirmos uma atitude humana digna. Lc 6, 27-38.
A liturgia deste domingo – o VII do tempo comum – convida-nos a ter um amor sem limites, como o de David que poupa a vida de Saúl que o perseguia para o matar, como Saulo/Paulo que, a caminho de Damasco, vociferava contra os discípulos, como Jesus que, depois de descer do monte das bem-aventuranças, ensina na planície como se devem comportar os seus discípulos em situações adversas e hostis. E estabelece algumas regras que vamos tentar compreender e apreciar.
Jesus convida-nos a irmos além do perdão e a amar os nossos inimigos; a fazer o bem aos que nos odeiam; a abençoar os que nos amaldiçoam; a rezar pelos que nos caluniam; a apresentar a face a quem te bateu na outra; a oferecer a túnica a quem te roubou o manto; a dar a quem te pede; a não pedir de volta o que é teu e te foi tirado. E termina este enunciado com a regra de ouro: “O que desejas que os outros vos façam, fazei-o vós também”; “sede misericordiosos como também o vosso Pai é misericordioso”.
Que contraste com os relacionamentos na sociedade feitos à base de interesses e de reciprocidade, que geram lucro, poder e prestígio. O Evangelho revoluciona o campo das relações humanas, mostrando que numa sociedade justa e fraterna, as relações devem ser gratuitas, à semelhança do amor misericordioso do Pai” (Bíblia Pastoral, comentário). E a Igreja, no seu todo e em cada um dos seus membros, está mandatada para ser o rosto desta bondade de Jesus que no Calvário nos deixa o brilho do seu exemplo irradiante.
“Não deixemos que nos roubem o amor fraterno”, recomenda o Papa Francisco na sua exortação «A Alegria do Evangelho». E recorda que se os nossos contemporâneos “virem o testemunho de comunidades autenticamente fraternas e reconciliadas, isso é sempre uma luz que atrai. Por isso me dói muito comprovar como nalgumas comunidades cristãs, e mesmo entre pessoas consagradas, se dá espaço a várias formas de ódio, divisão, calúnia, difamação, vingança, ciúme, a desejos de impor as próprias ideias a todo o custo, e até perseguições que parecem uma implacável caça às bruxas. Quem queremos evangelizar com estes comportamentos?... Rezar pela pessoa com quem estamos irritados é um belo passo rumo ao amor, e é um acto de evangelização. Façamo-lo hoje mesmo. Não deixemos que nos roubem o ideal do amor fraterno!”
Pe. Georgino Rocha