sexta-feira, 29 de outubro de 2021

Amar o outro como a si mesmo: Resposta sábia e inteligente

Reflexão de Georgino Rocha 
para o Domingo XXXI do Tempo Comum



Todavia há crentes que pensam que a sua grandeza está na imposição das suas ideologias aos outros, ou na defesa violenta da verdade, ou em grandes demonstrações de força. Todos nós, crentes, devemos reconhecer isto: em primeiro lugar está o amor, o amor nunca deve ser colocado em risco, o maior perigo é não amar

Esta resposta manifesta a excelente avaliação que Jesus faz, à declaração do escriba, sobre a apreciação dos mandamentos e a escala da sua importância. Sintoniza com ele, valora a retidão dos seus critérios e anuncia que a sua postura está próxima do reino de Deus. O amor vale mais do que tudo no mundo. Nem bens sagrados oferecidos a Deus lhe são superiores. Que belo exemplo de agir humano e pastoral! Que diálogo sereno e clarificador, sem intenções escondidas e “armadilhadas”! Que contraste com as intrigas e discrepâncias que se seguem com os chefes religiosos na esplanada do Templo, após a expulsão dos que faziam comércio no interior, profanando a casa de Deus! Que atualidade para os tempos que correm! Mc 12, 28b-34.
A resposta do escriba enaltece a excelência do amor que se especifica em amar a Deus e amar o próximo. E define uma dupla “medida”: Amar a Deus com todas as capacidades e ao próximo como a si mesmo. “Arruma”, de forma exemplar, as centenas de mandamentos e leis que tornavam complexa a vida religiosa e social dos fiéis observantes. Aproxima, sem nivelar, as expressões de um e de outro mandamento.
O Papa Francisco na encíclica «Todos Irmãos» afirma que “O amor implica algo mais do que uma série de ações benéficas. As ações derivam duma união que propende cada vez mais para o outro, considerando-o precioso, digno, aprazível e bom, independentemente das aparências físicas ou morais. O amor ao outro por ser quem é, impele-nos a procurar o melhor para a sua vida. Só cultivando esta forma de nos relacionarmos é que tornaremos possível aquela amizade social que não exclui ninguém e a fraternidade aberta a todos”. FT 94.
Jesus vai mais longe do que a resposta do escriba sensato. Amar o próximo como a si mesmo é o patamar mínimo da escala do amor. Patamar que merece toda a consideração. Com efeito, “como criatura, sou um ser amável e desprezar-me é como fazer uma ofensa a Deus que tem satisfação em ver-me viver. Sem dúvida que tudo em mim não é amável, mas longe de mim julgar-me. Deus quer-me “de cabeça erguida”. Senhor que o teu Espírito me ajude a amar como Tu me amas e a fazer-me mais próximo dos que Tu pões no meu caminho”. Vers Dimanche.
Patamar que exclui todas as formas de indiferença e aversão. Patamar que tem os alicerces na consideração que cada um tem por si mesmo, no bem que deseja, no ideal que quer alcançar. Como seria diferente a nossa sociedade se assentasse neste patamar?! Empresários, gestores, políticos, professores, agentes de comunicação, sindicalistas, responsáveis de confissões religiosas…, todos a fazerem aos outros o que pretendem para si. O bem comum – que é de todos – seria fruto do contributo de cada um.
“A estatura espiritual duma vida humana é medida pelo amor, que constitui «o critério para a decisão definitiva sobre o valor ou a inutilidade duma vida humana». Todavia há crentes que pensam que a sua grandeza está na imposição das suas ideologias aos outros, ou na defesa violenta da verdade, ou em grandes demonstrações de força. Todos nós, crentes, devemos reconhecer isto: em primeiro lugar está o amor, o amor nunca deve ser colocado em risco, o maior perigo é não amar (cf. 1 Cor 13, 1-13)”. FT 92.
Jesus eleva e radicaliza o amor ao próximo, apresentando a sua vida como modelo prático de quem ama. “Como eu vos amei” é a nova medida qualificada. Por amor, abraça a liberdade, a fim de realizar a missão que Deus Pai lhe confia. Por opção voluntária, vive o amor de doação em todas as circunstâncias, sobretudo em relação aos mais fragilizados. Por decisão coerente, escolhe companhias “fora de lei” e faz curas, enfrenta autoridades religiosas e políticas e trava com elas veementes diálogos. Por amizade a todos, antevendo a hora da sua morte que aceita livremente - faz-se presente de forma sacramental, sobretudo na eucaristia.
Deste modo, realiza o sublime modelo humano do amor: entregar o seu corpo e derramar o seu sangue por um mundo novo, por uma sociedade digna da condição humana, por uma nova convivência social alicerçada na justiça que respeite (se não consegue evitar) o sangue das vítimas e na equidade da entrega a todos do pão generoso, fruto da terra e do trabalho humano. Amar o outro como a si mesmo: resposta sábia e inteligente que nos coloca no caminho de Jesus.

Pe. Georgino Rocha 

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