Crónica de viagens de Maria Donzília Almeida
Escadaria do Palácio de Yusopov |
Forte de S. Pedro e de S. Paulo |
Palácio de Yusopov |
Palácio de Yusopov - Salão |
Teatro de Yusopov Palácio se S. Peterburg. |
A Rússia, um país que suscita as mais controversas emoções, foi o destino do grupo de viajantes da Vera Cruz, neste ano da Graça de 2016.
Visitar a Rússia é mergulhar nas páginas da sua história, que se abrem perante nós em cada pedra que pisamos, cada palácio que visitamos, cada catedral que admiramos.
É tão vasta a sua história, quanto a dimensão do país, que duplica a área do Brasil. Na sua imensa superfície, uma parte europeia, outra asiática, confina com países como a Coreia do Norte, a China, a Mongólia, o Cazaquistão, o Azerbaijão, a Geórgia, a Ucrânia, a Bielorrússia, a Letónia, a Finlândia e Noruega e ainda o Alasca.
Para compreender a Rússia de hoje, convém conhecer um pouco da sua história que se inicia com os eslavos do leste, um grupo étnico reconhecido na Europa entre os séculos III e VIII. Fundado e dirigido por uma classe nobre de guerreiros vikings e pelos seus descendentes, o Principado de Kiev, o primeiro estado eslavo, surgiu no século IX. Adotou o cristianismo ortodoxo do Império Bizantino em 988, dando início à síntese das culturas bizantina e eslava, acabando por definir a cultura russa.
Após um longo período feudal, o país teve grande expansão territorial, por volta do século XVIII, através da conquista, anexação e exploração de vastas áreas. Tornou-se assim o Império Russo, o terceiro maior da história, estendendo-se da Polónia, na Europa, até ao Alasca, na América do Norte. O país consolidou o seu poder, em todo o mundo, entre 1721 e 1917, até se tornar a maior e principal república constituinte da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS). Foi nesse período áureo dos séculos XVIII, XIX e princípios do séc. XX, que a Rússia adquiriu um património arquitetónico e cultural valiosíssimo, cujo legado chegou aos nossos dias, em notável estado de conservação. Entre 1922 e 1991, foi o primeiro e maior estado socialista constitucional, reconhecido como uma superpotência que desempenhou um papel decisivo após a vitória aliada na Segunda Guerra Mundial. Criada na sequência da dissolução da União Soviética, em 1991, a Federação Russa é, hoje, uma república semipresidencialista federal que tem o Presidente como chefe de estado e o Primeiro-Ministro como chefe de governo.
Foi o desejo de conhecer este país de múltiplas facetas que nos moveu a encetar esta aventura.
Depois de um dia exaustivo de viagem, chegámos, finalmente, à Rússia. Quando pusemos o pé fora do aeroporto de Pulkovo, foi a chuva a dar-nos as boas-vindas. Em Portugal, seria uma bênção!
Gastámos um dia até chegarmos ao nosso alojamento, no hotel Park Inn, às 23.00, onde, pelo adiantado da hora, mais duas horas que em Portugal, fizemos um piquenique, no quarto, (!?) com os mantimentos dados pelo hotel. Início da aventura…
No dia seguinte, começámos a visita guiada a S. Petersburgo, partindo da avenida Nevsky, a principal artéria da cidade, recheada de lojas de marca e bares, à boa moda ocidental. Parece que o capitalismo chegou a estas paragens!
A primeira visita foi à Fortaleza de Pedro e Paulo, mandada construir em 1703 por Pedro o Grande como o início da fundação da própria cidade. O forte foi primeiro construído em madeira e mais tarde reconstruído em pedra. É grandiosa a catedral que após a morte de Pedro em 1725, passou a ser o panteão dos czares. Nela, abunda a talha dourada, representante do barroco tardio.
Após o almoço, em que começámos a degustar a gastronomia russa, fomos visitar o Palácio Usupov, projetado em 1760 por Vallin de Mothe e adquirido em 1830 pela aristocrática família Yusupov para instalação da sua soberba coleção de pinturas. O interior do palácio é deslumbrante, com paredes pintadas, objetos do século XIX muito bem conservados, candelabros, frescos e móveis de luxo. Ficávamos de olhos arregalados a contemplar o glamour da vida palaciana. Na Sala Mourisca, com a sua fonte e as caves, há uma exposição sobre Grigory Rasputine, assassinado pelo príncipe Félix Yusupov.
Foi nos momentos finais da agonizante monarquia russa que Rasputin, o “monge louco”, ascendeu para um poder efémero, marcado por um misticismo grotesco e uma profunda deterioração moral. É a imagem da decadência da Rússia czarista, que levaria à revolução bolchevique de 1917, a mais famosa do mundo contemporâneo.
Rasputin é o símbolo do homem envolto na sua mais completa forma primitiva. A sua manipulação do poder, do sexo, da depravação moral, do misticismo e a violência da sua morte são factos que criaram um dos mais complexos enigmas do caráter humano já relatado pela história.
A guia ia relatando estes e outros episódios da história russa, enquanto os membros do grupo iam escutando, bem juntinhos para não se perderem naqueles magotes de gente.
Ouvia-se o som contínuo das cameras fotográficas a disparar, na ânsia de captar o esplendor, o fausto desses tempos não muito remotos. Para mais tarde recordar!