Um ciclo que termina e outro que se inicia
António Marcelino
«O Concílio Vaticano II, o maior acontecimento da Igreja no século XX, com vocação para continuar, dadas as linhas de renovação que comporta e aponta, ainda não chegou ao povo. E muitos dos que dele devem beber todos os dias, já arrumaram, quiçá, os seus documentos na prateleira, se é que ainda sabem onde eles se encontram.
Porque me dói esta situação, vou tentar levar o Concílio aos leitores. Seja para confirmarem o que sabem e por onde caminham, seja para acordar novos e velhos, para caminhos de esperança e rumos novos de acção. Não deixarei de andar a olhar a rua, nem de levantar os pés no chão, pois aí se passa tudo o que pode dar sentido e valor à nossa vida.»
Há trinta anos que escrevo, semanalmente, no Correio do Vouga. Apenas neste jornal. Muitos outros publicam o meu artigo: cinco diários e mais de uma dezena de semanários e quinzenários. Uns cada semana, outros segundo o interesse do tema, a pensar nos seus leitores habituais. Nunca pedi para que publicassem. Nunca impedi, nem pus condições, quando sei que o fazem. Publicado a primeira vez, o texto logo deixa de ser meu.
São muitas centenas de títulos seleccionados por temas, recolhidos agora em quatro volumes (o quarto está a caminho da editora) com o título comum de “A vida também se lê”. Todos escritos com a preocupação de lançar a luz do Evangelho, mesmo não o citando, sobre factos da vida e tirar destes a riqueza que comportam.
Passados trinta anos, é tempo de fechar este ciclo, que só durou tanto porque assim o exigiu o jornal e muitos dos meus leitores e amigos. Tenho consciência de que há sempre gente, gente a mais, que não gosta de ler o que faz pensar e se perde nas banalidades que por aí abundam. Também isso me ajudou a não desistir.
Nunca fiz publicidade destes livros, com prejuízo para o editor. Penso, agora, numa forma diferente de lançar o quarto volume, também como modo de dar a conhecer os volumes anteriores.
Vou continuar a escrever, até que Deus queira. Inicio, porém, um novo ciclo que, durante todo este ano, será dedicado ao Concilio Vaticano II, uma vez que se celebram os 50 anos do seu começo e muitos cristãos dele não sabem senão algumas franjas, importantes, mas não tanto que dispensem de ir mais longe. Serão artigos em estilo jornalístico, o que quer dizer, sem especial erudição, escritos de modo a que os leitores entendam, escritos simples e claros para que todos se informem e esclareçam se assim o desejarem.
O Concílio Vaticano II, o maior acontecimento da Igreja no século XX, com vocação para continuar, dadas as linhas de renovação que comporta e aponta, ainda não chegou ao povo. E muitos dos que dele devem beber todos os dias, já arrumaram, quiçá, os seus documentos na prateleira, se é que ainda sabem onde eles se encontram.
Porque me dói esta situação, vou tentar levar o Concílio aos leitores. Seja para confirmarem o que sabem e por onde caminham, seja para acordar novos e velhos, para caminhos de esperança e rumos novos de acção. Não deixarei de andar a olhar a rua, nem de levantar os pés no chão, pois aí se passa tudo o que pode dar sentido e valor à nossa vida.
Se neste novo ciclo, que irá ocupar todo o ano de 2012, conseguir que seja reposto um direito do povo cristão e que muitos não cristãos possam olhar a Igreja com novos olhos, dar-me-ei por compensado, tornando assim mais útil o meu tempo de bispo emérito, que não é nem de reformado, nem de instalado. Só se pode olhar com esperança o fim inevitável, quando se dá valor ao presente que se vive.