Aquele que maltrata uma mulher
desceu à bestialidade dos primatas
“Na mulher, não se bate
nem com uma flor...”
nem com uma flor...”
De forma simbólica, estão aqui representadas duas formas antagónicas de lidar com a mulher. Se por um lado até o afago duma flor parecerá excessivo à delicadeza e fragilidade da mulher, quando se fala da outra face da moeda, de violência, de grosseria, está a levantar-se o véu dum problema social, que não é só dos nossos dias e tem feito muitas vítimas, ao longo da história - a violência doméstica.
Considero que qualquer criatura que ouse beliscar, nem que seja ao de leve, a integridade duma mulher, deixa de ser considerado Homem! Aquele que maltratou aquela que é a depositária da vida humana, que transporta no seu seio o recetáculo da própria Vida... desceu à bestialidade dos Primatas!
Em 1999, as Nações Unidas (ONU) designaram oficialmente o dia 25 de Novembro, como Dia Internacional pela Eliminação da Violência contra a Mulher. A data está relacionada com a homenagem a Tereza, Mirabal-Patrícia e Minerva, presas, torturadas e assassinadas em 1960, a mando do ditador da República Dominicana Rafael Trujillo.
Durante muito tempo, a mulher foi considerada, na hierarquia social e familiar, um ser inferior ao homem, estando isso bem patente na discriminação laboral, na falta de condições de acesso ao mercado de trabalho, na dificuldade de acesso à educação, etc.
A mulher sofre diversas formas de violência. Quando pertence às classes menos favorecidas, sofre a violência de classe. Quando não é branca, sofre a violência racial. Pode ser vítima de uma violência múltipla, por exemplo, quando é negra e pobre. No entanto, a mulher, independentemente da sua classe social, raça e idade, sofre também uma violência específica, de género, derivada da subalternização da população feminina. O homem atribui-se prerrogativas que lhe permitem ditar normas de conduta para as mulheres.
“Lar doce lar” é a expressão que sintetiza o conceito/desejo que todos têm de chegar ao seu porto-de-abrigo, aquele espaço onde se retemperam energias, onde a conjugalidade se expressa no seu expoente máximo. Onde os filhos devem crescer, envoltos em carinho, afeto e segurança. Infelizmente, as crianças assistem, por vezes, a cenas deploráveis, que as marcam indelevelmente, nas suas vidas.
A violência física é uma das expressões extremas das contradições de género, que revela a crueza e profundidade do problema. É no espaço doméstico que ela é mais frequente e se apresenta de múltiplas formas. Contrariando o senso comum, as pesquisas indicam que o lugar menos seguro para a mulher é a sua própria casa!
Segundo dados mundiais, o risco de uma mulher ser agredida em casa, pelo marido, é nove vezes maior do que o de sofrer alguma violência na rua. Escondida pela cumplicidade e impunidade da sociedade, a violência contra a mulher ainda é um fenómeno pouco visível. Os casos que chegam às autoridades são apenas a ponta do iceberg. Os registos de ocorrência nas polícias, revelam um número significativo de casos, provenientes das classes, alta e média alta, contrariando a tese, de que a violência contra a mulher, resulta apenas da pobreza ou da baixa escolaridade.
A violência conjugal tem forte impacto sobre a saúde física e mental das mulheres. Os actos ou ameaças de violência, infundem medo e insegurança. As mulheres temem o poder dos homens, em particular dos maridos, e o medo serve para justificar o poder. Entre as consequências psicológicas da violência, podemos destacar: terror que paralisa, agitação e ansiedade próximas do pânico, ameaça constante de ataque, incapacidade de actuar, desespero, sensação de abandono, desvalorização pessoal, constante depressão. A violência doméstica, nas suas manifestações física, sexual e psicológica - é um problema de saúde pública, relevante pela magnitude do número de vítimas, bem como pela enorme quantidade de recursos despendidos. As mulheres agredidas tendem a ser menos produtivas. Faltam mais, apresentam dificuldade de concentração e desenvolvem uma baixa auto-estima. Estão também mais propensas à depressão e ao «stress». O Banco Mundial estima que, em termos médios, um em cada cinco dias de absentismo do trabalho feminino, decorre da violência.
A partir da década de setenta, do século XX, como resultado da luta das mulheres contra a discriminação, a questão da violência doméstica, transferiu-se do espaço privado para o espaço público, passando a ser encarada como um problema social a combater. Em vários países, começaram a ser postas em prática políticas públicas, destinadas a enfrentar este flagelo social. Mas as respostas ao problema da violência doméstica, no tocante às políticas públicas, são ainda insuficientes.
Cá em Portugal, temos a APAV (Associação Portuguesa de apoio à Vítima), que tem feito um bom trabalho, mas deseja-se mais celeridade no apoio a prestar.
25.11.2011