domingo, 9 de novembro de 2008

Eu, professor aposentado, me confesso…

Confesso que começo a ficar baralhado. Fui professor e continuo muito ligado à classe. Temas como escola, ensino, educação, alunos, professores e comunidade educativa continuam a ter um lugar especial na minha mente. Bem tento ficar de fora, alheando-me do que se passa à minha volta, ao nível do ensino e da educação, mas não consigo. De todo… Perante a realidade das gigantescas manifestações de descontentamento dos professores, não posso ficar indiferente. Não consigo. E se a isto juntar o que ouço de alguns professores, com esgares de revolta e de tristeza, não devo ficar calado. Este país não pode continuar alheio ao diálogo; não pode aceitar a incapacidade, permanentemente demonstrada por parte dos responsáveis, para se sentarem, de uma vez por todas, à volta de uma mesa, para se acabar com os tristes espectáculos que todos estão a fazer passar para os alunos. Quando os professores e os governantes não conseguem entender-se, gritando, em altos berros, as suas razões, que hão-de as crianças e jovens pensar? Eu sei que há professores muito honestos e muito esforçados; eu sei que há professores muito competentes e muito criativos; eu sei que há professores que trabalham por vocação, numa entrega diária; mas sei que o contrário também é verdade. Os primeiros, no entanto, estarão em grande maioria. Disso tenho a certeza absoluta. Já por lá passei. Por estes dias tenho ouvido diversos docentes, de vários graus de ensino. Todos se queixam do excesso de burocracia, o que os impede de se entregarem mais e melhor àquilo que gostam de fazer: ensinar; muitos se queixam de alunos indisciplinados e pouco estudiosos; diversos contestam a arrogância e a prepotência do ministério; outros tantos sentem-se desesperados pelo clima desgastante do dia-a-dia, que lhes destrói a serenidade necessária para ensinar e motivar os alunos, para a descoberta e para a aprendizagem. Deste meu recanto, de professor aposentado, apetece-me pedir a quem nos governa que ouse ouvir os professores, para que o caos acabe. E ao Presidente da República suplico que, pensando muito nos alunos, converse com o primeiro-ministro. É urgente encontrar uma saída para este drama nacional. As nossas escolas precisam de paz. Todos ganharemos. Fernando Martins

2 comentários:

  1. Olá professor Fernando
    Nem poderia ser outra a sua posição depois do professor empenhado e dedicado que foi toda a sua vida
    Eu não sou sindicalizada..não tenho partido político..nunca antes me meti em manisfestações de rua..sou professora há 28 anos ..e no espaço de um ano já saí à rua..duas vezes...
    Só quero duas coisas..uma que me avaliem pois trabalho e gosto de saber o que valho..outra que me deixem dar aulas....com esta avaliação não consigo...desde os princípios de Setembro nunca chego a casa antes das 20 horas..só penso nos papéis...só penso em objectivos...um caos....o clima na escola..é deprimente as conversas só Têm um tema ..os papéis da avaliação
    Marcelo rebelo de Sousa dizia há tempos nas suas conversas domingueiras com Flor Pedroso.."Se isto era na minha Faculdade teríamos que parar um ano para concretizar a burocracia"...No Programa dos Pós e Contras um digníssimo Professor de Direito perguntava ao colega do lado" O Organograma da avaliação parece o do Metro de Londres e isso porque é o maior do Mundo"...enfim
    Um abraço
    Maria

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  2. Minha boa amiga

    O que me entristece mais é ver a dificuldade que há em se sentarem a uma mesa para dialogar. Perante esta dificuldade, o que sentirão os alunos? Como se pode propor o diálogo aos jovens, se ele não é praticado pelos responsáveis do ensino em Portugal? Estaremos a formar gente para o antidiálogo? Penso que sim. E não é verdade que o antidiálogo gera a prepotência? Também penso que sim.

    Um abraço

    Fernando Martins

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