domingo, 1 de julho de 2007

TECENDO A VIDA UMAS COISITAS - 30


O CASTELO DA LOUSÃ E A RIBEIRA


Caríssima/o:


Lá voltámos passados quarenta anos e só então me apercebi do peso do grupo dos lousanenses: é que o passeio anual do nosso Curso foi ao Castelo da Lousã. Isso mesmo: de Coimbra à Lousã, e isto contando com a ajuda imprescindível desse tal grupo. [Esta coisa de viagens de fim de curso a Espanha e outras paragens, bem, temos dito!]
Permiti que regresse à Lousã para um abraço muito especial ao António Maio e à Olga que, na sua Casa do Pinheiro, experimentam profunda vivência matrimonial, salmodiando a promessa um dia feita para os bons momentos e para os menos bons ...
E então diz a lenda:

«Há muitas centenas de páginas em torno da lenda do castelo de Arouce ou, se quisermos, do castelo da Lousã. As mais delas são páginas eruditas tentando aproximar-se de uma narrativa popular. No Arquivo Nacional da Torre do Tombo, por exemplo há um documento que contém a lenda da fundação deste castelo. Ligeiramente modernizado o texto antigo de Frei António Brandão, sigamo-lo:
Dizem que el-rei Arouce determinado em ir pessoalmente, e passar a África pedir socorro (ou fosse a Cartago com quem teria aliança e amizade, ou outro reino) contra seus inimigos, que via estar de assento, e cobrar seu reino, que fortificou e proveu o melhor que pôde o castelo que tinha edificado quase nas entranhas e coração de umas serras, entre vastíssimos e cerrados arvoredos, e que com muito segredo meteu nele a Princesa Peralta, sua filha, com outra gente escolhida de sua casa, e com muita parte de seus tesouros, lançando fama de seu caminho, fingindo levar consigo sua filha, parecendo-lhe ficava nele bem segura, visto que os inimigos não procuravam entrar pela terra dentro, e contentarem-se com o do mar, assim por no castelo ser forte, respeito daqueles tempos, e metido no mais escondido da serra, e fechado com tantos bosques, como também por estar quase feito ilha, cercado de uma ribeira muito fresca, a qual também como o dito castelo do nome do dito Rei se chamou depois a ribeira de Arunce, e agora de Arouce. E querem dizer que para maior segurança de seus receios e temores de deixar assim ali sua filha e tesouros e com eles o coração, fez encantar o dito castelo com todos os tesouros que nele deixou, fora do que deixou à Princesa, sua filha para seu gasto, e dos que devia de levar, os quais algum dia os achará quem tiver essa dita. E com isso se partiu el-rei Arunce em demanda de sua pretensão; e bem se pode cuidar qual iria. Mas dele não tratarei por ora, por vos contar da Princesa sua filha, a qual ficou com tantas saudades, e com tantas lágrimas, e com muitos roncos com o íntimo da sua desconsolação...
Não há muito tempo, um historiador local explicava ter sido o velho Miguel Leitão de Andrade o primeiro a contar a embrulhada (também esta!) lenda envolvendo o rei Arouce, saindo derrotado de Conímbriga – que hoje é Condeixa-a-Velha -, e veio meter nesta pequena fortaleza sua filha, a bela Peralta e os seus haveres. E, despachado isto, regressou às batalhas. Ora em Évora vivia Sertório que projectava dar o golpe do baú à princesa Peralta. Nesse sentido mandou um homem chamado Estela a Arouce. E este, em vez disso, terá namorado a princesa...
E reza a lenda, esta ou outra que com ela se cruza, que a princesa Peralta acabou por abandonar aquele seguro castelo, transformando-se “em ribeiro de muito caudal e de muita água, pelo que, como princesa, o ficasse sendo também das outras ribeiras”...
[V.M., pg. 129]

Creio também que não ficará mal lembrar os «azeiteiros», muitos oriundos dessa região e que durante muitos e muitos anos percorreram as nossas estradas e os nossos caminhos. Quem se lembrará hoje desses homens que vendiam os azeites e vinagres ao quartilho? E dos seus carros adaptados para essa função?... Figuras quase lendárias!...

Manuel

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