sexta-feira, 1 de junho de 2007

TECENDO A VIDA UMAS COISITAS - 26

O MILAGRE DAS ROSAS
Caríssima/o:
Por vezes, fica-nos apenas um rosto; ou então, um nome; de outras, nem isso, apenas o perfil de uma rua. Não é o caso aqui: em Coimbra, há nomes, rostos, ruas e até pedras que não mais esqueci... Quereis ver? A rua onde vivi os dois anos durante os quais fiz o meu curso, no Magistério, chama-se (ainda hoje) Couraça dos Apóstolos. Perto da Porta Férrea, da Cabra, do Museu Machado de Castro e também do Museu de História Natural; um pouco acima ficava uma República. As sés, a Velha e a Nova, a dois passos. E podíamos ir descendo ou para o Jardim Botânico, ou para Santa Cruz, ou para o Penedo da Saudade. Quem viveu em Coimbra não terá dificuldade em reviver esses caminhos e tantos outros onde gastámos as solas dos nossos sapatos; os que não tiveram essa sorte, até perguntarão pelo Choupal, Santa Clara, ... A cidade ainda é dos «doutores», principalmente, em tempo de «queima»... Mas em Coimbra encontra-se, em cada esquina, a figura da Rainha Santa que une os corações nas Festas da Cidade que têm o seu dia grande a 4 de Julho.
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«Correndo Janeiro, reconstruía-se o mosteiro de Santa Clara à conta da rainha D. Isabel de Aragão. Para além de custear as despesas, ela também obviava situações desgraçadas entre as famílias dos operários e dos que moravam naquela margem do Mondego. Rio manso, o Mondego, entrando o inverno, destruía quanto havia nas suas margens. Só conventos foram três ou quatro. Porém, a generosidade da rainha não era do agrado de alguns cortesãos de D. Dinis. A corte de Coimbra ficava cara e aquelas dádivas repercutiam-se no erário régio. Assim, nesse mesmo mês, um fidalgo dirigiu-se ao rei-poeta e começou com rodeios, tencionando dizer-lhe algo. O rei sacudiu-o para que falasse e ele pôs a situação em pratos limpos: a rainha gastava acima das possibilidades, pelo que importava que D. Dinis tomasse uma atitude. Enfurecido, D. Dinis mandou sair o seu cortesão e pensou no que fazer. Porém, antes do mais, reconheceu-lhe razão. Assim, passados dias, apercebendo-se que D. Isabel saíra do palácio, foi ao seu encontro. A esposa de D. Dinis ia acompanhada das suas damas e cavaleiros. Quanto tinha para distribuir o levava embrulhado no seu manto, preso ao regaço. Quando a rainha viu o marido, empalideceu e todo o seu séquito se retraiu, pois conheciam-lhe as cóleras. O que se passou naquele instante podemos ir sabê-lo em verso recorrendo a um testemunho real, eis os versos de Afonso Lopes Vieira: - Que levais aí, Senhora, Nesse regaço tamanho? - Eu levo cravos e rosas Que outras coisas não tenho! - Nem sequer há maravilhas, Menos cravos em Janeiro, Ou serão esmolas isso? Ou isso será dinheiro? A rainha não falou Só o regaço abriu E eram cravos e rosas Que dinheiro não se viu.

E o romance acaba assim:
A nossa Rainha Santa Outros milagres obrou: A uma cega deu vista, E outra, muda, falou. Outra que não tinha leite O seu filho aleitou. E com tamanhos milagres Santa bem santa ficou.» [Viale Moutinho, 79]
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Ainda hoje, mesmo longe de Coimbra, perdura o encantamento desta Rainha! Manuel
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NOTA: Aqui fica o TECENDO A VIDA... por dificuldades de encontrar Net disponível no domingo.

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