Na paz da minha tebaida, usufruindo do aconchego dos meus familiares e da companhia sedutora dos livros que me trazem recordações de tantos anos, vieram até à minha memória vivências de Natais doutros tempos. Dos tempos em que o essencial não eram apenas as lembranças compradas em lojas de modas, que o Menino Jesus de então nada tinha a ver com o símbolo comercial do anafado Pai Natal dos nossos dias.
Lembro-me, era eu um menino que acreditava mesmo nas prendas do Menino Deus, de ver minha mãe regressar da loja da Tia Joana Rita, esposa do mestre José Lázaro, com uns embrulhos que tentava esconder. Por mais que lhe pedisse que nos mostrasse o que trazia, ripostava com maus modos, mas a sorrir: o Menino Jesus não gosta nada de meninos teimosos. E lá ia esconder as simples guloseimas que na madrugada da Noite de Consoada estariam bem distribuídas nos sapatos que eu e meu irmão púnhamos num recanto da lareira da cozinha principal.
Nunca me zanguei quando descobri que afinal as prendas do Menino Jesus chegavam até mim através dos meus pais. E quando ouço alguns "sábios" que há por aí com protestos sem nexo contra o facto de se enganarem as crianças com as prendas que o Menino Jesus distribui no dia de ceia (como por aqui se diz), rio-me da ignorância dessa gente que fica, no entanto, toda contente e até acha bem que seja o Pai Natal a substituir o Deus Menino da minha infância.
Diz a psicologia que há idades para tudo: para os sonhos, para as estórias de encantar, para os contos mágicos, para o fantástico, para o faz-de-conta e para tantas outras lendas e tradições que fazem voar a imaginação por espaços irreais, tornados autênticos para muitos, cruzando-se com a vida dos homens que nem sempre podem ou sabem abrir-se aos mistérios que trazem no coração.
Não fiquem, pois, perturbados esses "sábios" que são incapazes de voar para o alto, quais águias que abarcam horizontes de belezas ímpares, para vislumbrarem os mundos de sonhos que nunca se esquecem. Quando a minha mãe me disse que o Menino Jesus apenas dava saúde a meu pai, que labutava nas águas do mar, na pesca do bacalhau, onde se iniciara em menino, com 14 anos, não fiquei nada zangado. E até me recordo que ri a bom rir e que a beijei ternamente.
Lembro-me, era eu um menino que acreditava mesmo nas prendas do Menino Deus, de ver minha mãe regressar da loja da Tia Joana Rita, esposa do mestre José Lázaro, com uns embrulhos que tentava esconder. Por mais que lhe pedisse que nos mostrasse o que trazia, ripostava com maus modos, mas a sorrir: o Menino Jesus não gosta nada de meninos teimosos. E lá ia esconder as simples guloseimas que na madrugada da Noite de Consoada estariam bem distribuídas nos sapatos que eu e meu irmão púnhamos num recanto da lareira da cozinha principal.
Nunca me zanguei quando descobri que afinal as prendas do Menino Jesus chegavam até mim através dos meus pais. E quando ouço alguns "sábios" que há por aí com protestos sem nexo contra o facto de se enganarem as crianças com as prendas que o Menino Jesus distribui no dia de ceia (como por aqui se diz), rio-me da ignorância dessa gente que fica, no entanto, toda contente e até acha bem que seja o Pai Natal a substituir o Deus Menino da minha infância.
Diz a psicologia que há idades para tudo: para os sonhos, para as estórias de encantar, para os contos mágicos, para o fantástico, para o faz-de-conta e para tantas outras lendas e tradições que fazem voar a imaginação por espaços irreais, tornados autênticos para muitos, cruzando-se com a vida dos homens que nem sempre podem ou sabem abrir-se aos mistérios que trazem no coração.
Não fiquem, pois, perturbados esses "sábios" que são incapazes de voar para o alto, quais águias que abarcam horizontes de belezas ímpares, para vislumbrarem os mundos de sonhos que nunca se esquecem. Quando a minha mãe me disse que o Menino Jesus apenas dava saúde a meu pai, que labutava nas águas do mar, na pesca do bacalhau, onde se iniciara em menino, com 14 anos, não fiquei nada zangado. E até me recordo que ri a bom rir e que a beijei ternamente.
Fernando Martins