SADDAM FOI ENFORCADO
Como estava previsto, Saddam foi enforcado esta madrugada. Em nome da lei. Com leis como esta, em que crimes são pagos com outros crimes, à sombra de opções humanas, temos de reconhecer que a nossa civilização ainda tem muito que andar, para atingir um grau em que os homens e mulheres sejam dignificados. O homem, olhado no sentido lato, ainda está longe de respeitar a vida, em toda a sua plenitude. Não é com a morte, seja de quem for, que o ser humano cresce e honra a dignidade de filho do Criador.
Não está em causa o criminoso que Saddam foi. Não está em causa a onda de crimes hediondos que perpetrou, com os genocídios que protagonizou. Não está em causa o terror que alimentou. Nada disso. Ele merecia ser castigado. Ele merecia ser retirado do seio dos homens e mulheres amantes da paz. Mas nunca pela pena de morte. Que as mortes, como as vidas, para um crente, são apenas da vontade de Deus.
Eu penso que os castigos são legítimos para quem transgride as leis que regulam as relações entre as pessoas ou entre estas e a sociedade. Mas defendo que esses castigos devem preservar sempre a vida.
Saddam, que nunca manifestou arrependimento pelos crimes que cometeu, podia, mais tarde ou mais cedo, na prisão, tomar consciência dos males que causou a tanta gente, e partir daí para tomar atitudes que o dignificassem. Afinal, a justiça pôs termo a um eventual processo de arrependimento de um homem que deixou na história marcas horríveis de tirania, de frieza de sentimentos, de brutalidade contra gente indefesa.
Mal vai a sociedade que, em pleno século XXI, não consegue abdicar da pena de morte.
Fernando Martins