Encontrei uma preta que estava a chorar,
pedi-lhe uma lágrima para a analisar.
Recolhi a lágrima com todo o cuidado
num tubo de ensaio bem esterilizado.
Olhei-a de um lado, do outro e de frente:
tinha um ar de gota muito transparente.
Mandei vir os ácidos, as bases e os sais,
as drogas usadas em casos que tais.
Ensaiei a frio, experimentei ao lume,
de todas as vezes deu-me o que é costume:
nem sinais de negro, nem vestígios de ódio.
Água (quase tudo) e cloreto de sódio.
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Nota: Se fosse vivo, António Gedeão, pseudónimo literário de Rómulo de Carvalho, completaria hoje 100 anos. Mas podemos dizer, com toda a liberdade poética, que ele não morreu. Continua com todos os que amam o belo que a poesia encarna.
Quem há por aí que não conheça este poema que aqui deixo? E quem não conhece, também, Pedra Filosofal, Calçada de Carriche e tantos outros poemas?
F.M.