domingo, 3 de setembro de 2006

Gotas do Arco-Íris – 29

CAMÕES:
IGUARIAS COLORIDAS
E ... GALINHAS
Caríssimo/a: Depois da sesta, reparei que ainda tinha sobre os joelhos o primeiro número da Oceanos e na página 36. Aí José Quitério fala-nos de “Camões e a mesa”. Bem, vamos primeiro ao arco-íris:
De iguarias suaves e divinas, A quem não chega a egípcia antiga fama, Se acumulam os pratos de fulvo ouro, Trazidos lá do Atlântico tesouro. A laranjeira tem no fruito lindo A cor que tinha Dafne nos cabelos; Encosta-se no chão, que está caindo, A cidreira co'os pesos amarelos: Os formosos limões, ali cheirando, Estão virgíneas tetas imitando. As cerejas purpúreas na pintura; As amoras, que o nome têm de amores; O pomo, que da pátria Pérsia veio, Melhor tornado no terreno alheio. Abre a romã, mostrando a rubicunda Cor, com que tu, rubi, teu preço perdes; Entre os braços do ulmeiro está a jocunda Vide, com cachos roxos e outros verdes.
Mas agora vem a parte que me fez rir, não só porque fala de galinhas mas também porque Camões brinca com as situações. Vejamos: “O senhor de Cascais prometeu a Camões seis galinhas recheadas por umas cópias que lhe fizera, mandando-lhe em princípio de paga meia galinha recheada. O poeta retruca, lesto:
Cinco galinhas e meia Deve o senhor de Cascais, E a meia vinha cheia De apetite para as mais.
“Ou como aconteceu com o duque de Aveiro... que perguntou ao poeta o que queria da sua mesa e que lhe respondeu logo que bastava que lhe mandasse uma galinha; esqueceu-se o duque ou fingiu esquecer-se e, depois de haver jantado, quando já não havia outra coisa lhe mandou uma peça de vaca e o poeta pelo mesmo criado lhe mandou estes versos:
Já eu vi o taverneiro Vender vaca por carneiro, Mas não vi, por vida minha, Vender vaca por galinha Senão ao duque de Aveiro.
Quase me parece um sacrilégio desejar-vos um bom S. Paio com a respectiva caldeirada bem amarela e, lá pela tarde, uma anafada talhada de melancia vermelhinha.. Manuel

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