Refiro-me à destruição da família. Feita de modo pro-gramada por uns, por inércia por outros, por pouco saber e fraco discernimento da realidade hu-mana e social por parte de políticos e outros responsáveis, pelos seus próprios membros, quando não se chegou a saborear a riqueza da experiência familiar ou depressa se perdeu esse sabor único, pelo ambiente desfavorável, cultural, ideológico e legislativo, que despreza os seus valores ou os passa a segundo plano. A família está, de facto, submetida a uma crise sem precedentes na história. Um dado evidente com fautores conhecidos.
A defesa da família é hoje a tarefa mais difícil e ingrata, mas também a mais urgente. Se ninguém pode viver sem amor, o espaço normal do amor e da felicidade é a família equilibrada e séria que, contra ventos e marés, se sente apoiada e não desiste de ser família. Por esta tem de lutar quem trabalha pelo bem comum e tem bom senso.
Quem vai construindo a sua vida, com determinação e sentido, tem por detrás uma família que apoio e é referência. Verificação diária, feita por todos quantos amam, estimam e defendem a sua própria família, qualquer que ela seja. Por outro lado, vidas socialmente destruídas, andam com frequência ligadas à ausência da família, porque se rejeitou ou porque se foi rejeitado por ela.
O Papa disse em Valência que ia ali “propor o papel que, para a Igreja e para a sociedade, tem a família fundada no matrimónio”. Esta proposta incomodou. Mas não pode a Igreja, em democracia, dar livremente razão da sua esperança e convicções? Ou terão mais auditório os que andam pelo país, naturalmente com subsídios do Estado, a dizer, em forma de comédia para rir, que “o matrimónio é como o submarino que pode flutuar, mas é feito para afundar”? Quem é que destes luta mais pelo bem da sociedade?
A família normal é a maior riqueza humana e social de um povo, a fonte e o suporte que permitem vencer problemas e desafios, curar feridas e recobrar energias. É espaço de encontro enriquecedor das diversas gerações, em cujas veias corre o mesmo sangue. Cada geração aprende da que a precede os valores que perduram, e encontra na que a prolonga, estímulos para a viver. Só uma escola, como a família normal, é capaz de transmitir e ensinar o que é indispensável à vida e que faz parte da bagagem de cada um.
Por tudo isto, não se pode considerar família uma qualquer ligação instável e a prazo. Muito menos, se já nasce sem consistência para enfrentar a vida como os seus espinhos e os contratempos do dia a dia. Família a sério é inseparável do projecto de perenidade, gera nós que não se desatam mais, os seus membros nunca são peças de vestir e despir.
Se a família não pode sozinha enfrentar as tarefas que tem de realizar, há que colaborar com ela e ajudá-la a abrir-se à colaboração de outros que a completam, sem que perca o seu protagonismo, nem se subalternizem os seus direitos e deveres.A Igreja acredita na família e nos seus valores, sem fechar os olhos aos problemas e às dificuldades, sem passar ao lado das crises. Sempre a defenderá, afirmando, convictamente, que só nela há energias inatas que lhe permitem, como a nenhuma outra instituição da sociedade, vencer as batalhas que enfrenta e recuperar, pela positiva, os estragos das derrotas, que também fazem parte da sua história.
O Estado não faz favores à família. Mas não tem outro modo de servir a comunidade com futuro, senão respeitar a família, defendê-la, protegê-la e apoiá-la, como valor primeiro. A ligação natural dos seus membros, a solidez das relações humanas e humanizantes que cria e garante, o ser a fonte geradora da vida e a garantia do amor que molda a sociedade, a escola normal do respeito pelo outro, pela mútua aceitação, o espaço dos valores naturais e universais, tudo justifica o dever dos que governam.
Menosprezar a família é falta de senso comum e crime maior contra a nação e os cidadãos. Os sintomas deste menosprezo estão à vista, mas a família vencerá.