PERGUNTAS FATAIS
PARA UM PROCESSO
EDUCATIVO VÁLIDO
Um pedagogo argentino, de nome consagrado, ao passar por Portugal, como orador num Curso de Verão sobre problemas da educação, deixou-nos esta reflexão final: “Interrogar-se acerca da formação da personalidade é, afinal, formular as perguntas fatais da educação: para quê e para onde queremos educar”. Um pouco atrás, fez outra pergunta, que ele mesmo classificou de fundamental: “ Como ensinar e promover as capacidades exigidas a um cidadão democrático?”
Quem faz perguntas, procura respostas. Quem não se interroga não tem condições para progredir. Ouvir de outros e fazer perguntas a si mesmo pode ser incómodo, por isso as respostas ou não existem ou são tolas e desfasadas. Em educação as perguntas pertinentes podem determinar o processo educativo.
O “para quê” e o “para onde” ou o “em que sentido” têm de iluminar e orientar toda acção educativa da família e da escola e, de modo igual, das diversas instâncias educativas. De outro modo, o esforço para educar será inútil e o tempo perdido.
Não vai para parte nenhuma quem não sabe para onde vai, nem para onde quer ir. Não será, porventura, esta fatalidade, que explica fracassos e insucessos na educação?
Num suplemento de fim-de-semana, que um dos jornais diários anexava há dias ao caderno principal, fazia-se a publicidade de um famoso grupo rock estrangeiro, nestes termos: “Para acabar de vez com as boas maneiras!”. O mesmo era dizer que não havia regras para apreciar ou para presenciar, e que destruir conceitos e preconceitos era a palavra de ordem. Na música e na vida. Muito aliciador, para gente sem peso nem norte.
Como nessa semana o prato forte das minhas actividades andou à volta de encontros com professores e de reflexão sobre a educação e a escola que temos, vieram-me à memória as perguntas fatais e fundamentais, do mestre argentino.
Educar é sempre construir com projecto e, por isso, precisa horizontes e regras. As regras geram constrangimento para quem julga que ser livre é fazer tudo quanto lhe apetece, e não aceitar qualquer intervenção de outrem na sua vida. Ora, educar é sempre um processo relacional que permite permuta e possibilita transmissão de saber já adquirido e de experiências de vida, torna livremente activo quem está em aprendizagem mais evidente, e não dispensa o horizonte do porquê, do para quê, do como e do para onde, para que haja motivação para aprender, desenvolver capacidades, ter opções com critérios, agir com discernimento e vontade, ter alegria de viver e de realizar, dispor, enfim, de um sentido na vida e para a vida.
Um horizonte reduzido acaba por não apaixonar. Largo e a perder-se no longe do tempo, obriga a persistência, criatividade, necessidade de ajuda, vontade determinada, esperança e utopia. As desistências, os insucessos e os desvios condenáveis de um agir sem regras, maneiras e ética, mostram que as interrogações que motivam a agir da pessoa, não funcionaram. Há, por vezes, estrangulamentos no processo educativo, influências estranhas com poder, medos justificáveis de educadores, desinteresse ostensivo de educandos, leis patetas de técnicos e psicólogos sonhadores e ineptos, omissões graves de quem determina o processo, desconhecendo a realidade e a vida, instituições que andam à caça de fracassos nos espaços educativos dos outros, para desviar a atenção da noite que cobre os seus campos de acção, de teor idêntico. Os que querem, acabam por ser prejudicados pelos que não querem ou não sabem, passando o mal a ter história e o esforço do bem a ser esquecido, quando não mesmo vilipendiado.
Admiro cada vez mais os educadores que não desistem e os jovens que prosseguem no caminho que traçaram, resistindo às influências que os rodeiam. Nenhuma sociedade tem futuro sem uma educação séria que não medo das interrogações fatais.