É o tempo delas, de facto. Se não fosse a contradição dos termos, definiriam o tempo presente, culturalmente falando.
Peço desculpa, por juntar o testemunho pessoal: no último ano fui repetidamente convidado para falar sobre dois temas nas mais variadas instâncias, das académicas às paroquiais: as raízes cristãs da Europa e O Código Da Vinci… Em qualquer dos casos, é de indefinição que se trata. Ou, se quisermos, de questões de identidade.
Quanto às raízes cristãs da Europa, sabemos como João Paulo II repetidamente as lembrou, a propósito do primeiro esboço constitucional europeu, que acabou por esquecê-las. Injustamente, porque, além do (muito) mais, é uma questão de óbvia geografia, física e cultural. A Europa de que falamos hoje constituiu-se na Alta Idade Média pela progressiva adesão ao Cristianismo de vários chefes e povos “bárbaros”. Tal adesão recortou o espaço em que nos situamos, do Atlântico aos Urais, do Mediterrâneo ao Mar do Norte. E deu-lhe uma “alma”, mais ou menos distinta, mas com inegável referência evangélica. Diga ou não diga, negue ou afirme, pelo modo de se situar face aos outros e ao Mundo. Aí estão precisamente as “raízes”.
Com O Código Da Vinci, de Dan Brown, a questão é outra, mas de indefinição também. Antes de mais, do próprio estatuto da obra, que tanto se diz romance como reivindica base histórica. Tudo a (des)propósito da pretensa descendência de Jesus e Maria Madalena, que urgiria resgatar para com ela afirmar também uma feminilidade perdida… Mas a interrogação põe-se necessariamente, sobre o repetido êxito editorial dum livro onde não é difícil encontrar parágrafos em que os erros bíblicos e históricos se distribuem linha a linha… E ainda sobre a perturbação que tem causado em muitos crentes, que se deixam abalar por um texto tão inconsistente e medíocre.
- Afinal, perguntaremos, de que europeus se tratava acima e de que cristãos se fala agora?
Culturalmente, concluiremos, a tarefa é enorme. Inadiável também. Porque importa “cultivar” solidamente a todos e a cada um. Com informação sempre acrescentada e bases consistentes. Progredir doutro modo é impossível, porque não se caminha sem firmar um pé. E é pelo caminho que se dialoga também. Mesmo que a definição evolua.
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NB: Texto publicado no "site" da Comissão Episcopal da Cultura