quarta-feira, 21 de maio de 2008

PARTIDOS, SINDICATOS, MOVIMENTOS, ASSOCIAÇÕES



O Presidente da República levantou, no dia 15 de Abril, um problema que não deixou mais de ser falado nos jornais, na rádio, na televisão, nos encontros partidários e outros. Sinal de que o tema é actual e sobre ele há muitas opiniões. Disse, então, o Presidente do pouco interesse dos jovens pela vida política. Multiplicaram-se as explicações, que não têm terminado, sobretudo por parte dos partidos políticos que vieram agora dizer números e afirmar que, nos grandes partidos, cinquenta por cento dos aderentes inscritos são jovens.
Talvez fosse mais honesto e sério, em vez de se tentarem justificações em contrário, pensar na gente jovem que conhecemos e interrogarmo-nos sobre o que julgamos que comanda as suas vidas, o seu mundo e os valores que o norteiam, os seus interesses e o modo como se concretiza. Ver se é só a política que os deixa mais ou menos insensíveis, como muitos deles afirmam de si e dos seus amigos e colegas, ou se o mesmo se passa em relação à vida associativa em geral, sindicatos, movimentos vários e associações de todo o género.
Todos os adultos falam dos jovens, normalmente sem os ouvir, e multiplicam opiniões sem confronto com o seu pensar e o seu agir. Por mim, penso que os jovens estão mais desinteressados dos adultos e do seu mundo de interesses, que das realidades sociais fundamentais. Frequentemente, são críticos em relação a esse mundo que lhes diz pouco, pelas teias que o tecem e os enredos em que se desenvolve.
Há tempos, ouvindo um dirigente sindical que lamentava, num encontro de cristãos militantes operários, o pouco interesse dos jovens pela vida e pelas lutas sindicais, não foi difícil chegar-se a acordo sobre algumas razões: o seu problema era então e continua a ser o primeiro emprego e a preocupação dos sindicatos andava mais na defesa dos direitos dos que já trabalhavam e, também, as experiências de contactos havidos, sem que se lhes desse tempo para questionar e opinar, não fora de molde a criar laços.
Todos sabemos que os jovens, em geral, reagem às instituições. A afirmação de independência que lhes é própria, a reacção a formalidades e a mundos fechados e o seu sentir próprio, não se coadunam muito com eles. Mas não é assim a cem por cem por cento. Quando vivem ou frequentam, com regularidade, ambientes que lhes ajudam a ter um sentido na vida, quando podem ser protagonistas e não meros súbditos de normas vindas de fora, quando têm com eles, lado a lado, adultos que os respeitam e os tomam a sério, os jovens aderem a movimentos dinâmicos e vivos, são criativos, descobrem em si , com a alegria, capacidades que nem imaginavam, vêem os outros com olhos novos.
Mesmo assim, muitos deles não são constantes, nem persistentes nos seus projectos e nos deveres assumidos. Cultivam os seus humores, gostam de navegar no vento, são propensos a ir, de vez enquanto, dar uma volta, movidos por afectos imediatos. É a normal inconstância e a fragilidade da idade, que também atinge adultos de quem é legitimo esperar mais maturidade.
Os movimentos e associações de jovens, normalmente têm menos a estabilidade e estão aí bem alguns adultos, pacientes e sábios, para garantir a sequência dos projectos e a reflexão, mais serena e menos emotiva, quando se torna necessário. Mais para ajudar a pensar, que para substituir o pensamento.
Na política partidária as coisas são diferentes. O contacto com jovens políticos mostrou-me, em casos concretos, que o poder é mais uma ambição, que um serviço. Se isto é projecto para uns, é enjoo para outros.
É errado dizer que os jovens são o futuro. Se não forem já valores no presente, o futuro da sociedade pouco poderá esperar deles.

PASSE SOCIAL


A Quercus propôs hoje às empresas que atribuam aos seus quadros o Passe Social, em vez dos carros de alta cilindrada. Poupar-se-ia muito dinheiro na aquisição desses veículos e diminuía, drasticamente, o consumo de gasolina. O ambiente também saía grandemente beneficiado. A ideia não é má, mas os meus amigos acreditam que os quadros das empresas têm assim tantas preocupações com o ambiente? Os ambientalistas às vezes são uns "poetas"…
Há anos entrevistei na Rádio Terra Nova dois ambientalistas. Durante o programa, mostraram que tinham muitas ideias, dando sugestões e mais sugestões. Uma delas incidia sobre a utilização da bicicleta em vez do automóvel... Lembraram até que a nossa região, de traçado de planície, favorecia a circulação de bicicletas, como era notório na Gafanha da Nazaré. Concordei.
Quando saímos do estúdio e os acompanhei à rua, verifiquei que ambos se tinham deslocado em bons automóveis. Não resisti e perguntei-lhes:
- Então não vieram de bicicleta?
- Sabe, de carro é mais prático e mais rápido!
Pois é… Bem prega Frei Tomás: “Olha para o que eu digo e não para o que eu faço!”
FM

Abdicar do futuro


Abdicar da família é abdicar do futuro. Esta é uma das convicções mais fortes que norteiam a presença católica na sociedade e, por certo, uma das mais incompreendidas, com reacções muito díspares em relação a esta defesa tão determinada de um modelo que a Igreja acredita ser o melhor para o casamento e, sobretudo, para o desenvolvimento das crianças que surjam nesse projecto de vida.
Admito que seria mais confortável para quem legislar em função de programas supostamente modernos e progressistas que as convicções religiosas fossem relegadas para esferas mais íntimas, com menos impacto na coisa pública, como se as crenças pessoais não servissem para determinar a vida, mas para serem conservadas numa espécie de museu interior, com exposição limitada às quatro paredes dos locais de culto.
O conformismo típico de muitos espíritos portugueses poderia levar muitos a dizer que o ideal é evitar o confronto, reduzir o alcance da mensagem aos que, à partida, partilham os mesmos valores, e deixar que as diversas opiniões sejam lançadas à praça mediática para que cada um “compre” a que melhor lhe parecer.
Não se trata, em última instância, de impor uma visão da vida ou da sociedade, mas de uma preocupação de fundo, que passa pela constatação das consequências de modelos e políticas que têm afectado, sobremaneira, tudo o que se relaciona com a instituição familiar e com as crianças. É ao presente e ao futuro dos mais pequenos da sociedade que esta edição semanal lança um olhar mais atento, questionando alguns dos caminhos trilhados até agora pela sociedade do nosso país, que deixa tantas crianças desprotegidas, muitas vezes à beira da catástrofe, hipotecando assim o que de melhor estaria reservado para um novo Portugal.
Resta saber que grau de compromisso estarão dispostos a assumir todos os que partilham uma visão da vida inspirada pelas convicções católicas sobre a vida e a família. Não é tempo de campanhas nem de grandes discursos, mas o futuro pede uma acção decidida, em especial junto dos mais desprotegidos nas novas gerações. Porque o amanhã não espera. E não podemos abdicar do futuro.

Octávio Carmo

“Dá vontade de lhe bater”

A propósito do livro Jerusalém, de Gonçalo M. Tavares, que ando a ler, Saramago diz, com a autoridade que lhe vem do Prémio Nobel da Literatura que é, e com a carga da fama e do proveito que usufrui, de grande escritor que também é, que “Jerusalém é um grande livro, que pertence à grande literatura ocidental. Gonçalo M. Tavares não tem o direito de escrever tão bem apenas aos 35 anos [agora tem 38]: dá vontade de lhe bater!”
Esta frase diz tudo. Diz que Gonçalo M. Tavares merece mesmo ser lido por quem aprecia uma escrita escorreita, coisa não muito frequente em muita livralhada que anda por aí; diz da justiça intelectual de um escritor de renome mundial; diz da ternura que um escritor idoso nutre por um jovem que despontou, há tempos, para a arte de bem escrever; diz que, afinal, não falta quem seja capaz de escrever com muito nível, de forma aparentemente tão simples.

FM

Festa do Corpo de Deus

Alegoria da Beira-Mar (Colecção Centro Paroquial da Vera-Cruz), de Gaspar Albino

No próximo dia 22 de Maio, dia santo de guarda e feriado nacional, ocorre a solenidade litúrgica do “Corpo e Sangue de Cristo”, denominada entre nós por Festa do Corpo de Deus. Embora a instituição do sacramento da Eucaristia seja celebrada em quinta-feira santa, no enquadramento do Tríduo Pascal comemorativo do Mistério da Redenção, a Igreja julgou oportuno, desde há séculos, consagrar um dia especial ao culto solene e, quando possível, com manifestações colectivas em honra do Santíssimo Sacramento. A intenção da Igreja é avivar no espírito dos católicos a fé na presença real de Jesus Cristo na Eucaristia.

Como tem sido habitual, a solenidade do “Corpo e Sangue de Cristo” será celebrada na cidade de Aveiro da seguinte forma, além das Missas programadas:

- Às 16.00 horas, na igreja matriz da Vera-Cruz, Eucaristia concelebrada, sob a presidência do sr. Bispo de Aveiro.

- Às 17.00 horas, procissão eucarística, com a participação de Irmandades e Associações, que terá o seguinte itinerário:

- Largo da Apresentação, Praça 14 de Julho, Rua de Domingos Carrancho, Praças de Joaquim de Melo Freitas e de Humberto Delgado, Ruas de Coimbra e dos Combatentes da Grande Guerra, Praça do Marquês de Pombal e Igreja das Carmelitas, onde terminará com a bênção do Santíssimo Sacramento.

ENCONTRO POÉTICO LUSO-ESPANHOL


Na sequência do intercâmbio cultural iniciado em 1993, o Grupo Poético de Aveiro vai realizar, nos próximos dias 30 e 31 de Maio, um Encontro Poético Luso-Espanhol.

Dia 30 de Maio, pelas 21.30 h, no Navio Santo André (junto ao Porto de Aveiro - Forte da Barra).

Dia 31de Maio, pelas 21.30 h, na Feira do Livro de Aveiro.

Além de poetas daquela Associação, estarão presentes representantes da Academia Castelhano-Leonesa da Poesia, Grupo Literário e Artístico Sarmiento de Valladolid, Revista poética hablada de Juan de Baños-Palência. Também estará presente o editor e poeta de Pontevedra Fernando Luis Poza.

terça-feira, 20 de maio de 2008

As supostas dúvidas do ministro e as fragilidades do país


O ministro da Economia, Manuel Pinho, considerou, ontem, dia 19 de Maio, "muito preocupante" o aumento dos preços dos combustíveis e garantiu aguardar o estudo pedido à Autoridade da Concorrência para ter a certeza de que "não existem factores anormais" a empolá-los.
"A situação é muito preocupante, porque tem impacto sobre o poder de compra das famílias e sobre a vida das empresas", reconheceu o ministro, quando questionado pelos jornalistas sobre as subidas nos preços dos combustíveis.
Manuel Pinho falava em Aljustrel, distrito de Beja, após a cerimónia, presidida pelo primeiro-ministro, José Sócrates, que assinalou o arranque simbólico da produção comercial do complexo mineiro daquela vila alentejana.
Apesar de frisar que o preço dos combustíveis é um factor que "ultrapassa" o Governo, o ministro da Economia lembrou que, no que respeita ao executivo, já foi pedido à Autoridade da Concorrência para fazer, "com urgência", um "diagnóstico" sobre a situação. Nesse estudo, acrescentou, serão analisados "todos os factores que, eventualmente, possam estar a travar a concorrência no sector e, com isso, empolar artificialmente o aumento de preços dos combustíveis".
À noite, do mesmo dia, quem teve a possibilidade de ver o programa “Prós e Contras”, na RTP1, ouviu alguns dos presentes no debate dizer que o ministro da Economia recebe, pelo menos, trimestralmente, um relatório da Autoridade da Concorrência sobre o preço dos combustíveis, em Portugal, pelo que está perfeitamente dentro deste assunto, desde sempre.
A ser assim, o que espera o Dr. Manuel Pinho? Milagres? Parece, isso sim, que estamos perante mais um estudo encomendado para ir iludindo os portugueses.
Independentemente das subidas do preço do barril de petróleo, Portugal não tem infra-estruturas que permitam um mercado eficiente e uma concorrência autêntica, o que acaba por penalizar, ainda mais, os consumidores portugueses, ao que se acrescenta, o valor do IVA e do Imposto Sobre Combustíveis (ISP) praticados em Portugal.
À custa de tudo isto, vamos ficando a saber, cada vez melhor, das inúmeras fragilidades que o país tem, praticamente em todos os sectores, e o petrolífero, infelizmente, não foge à regra geral. É preciso fazer muito mais do que pedir estudos à AdC, e o ministro Manuel Pinho sabe disso, perfeitamente.

Vítor Amorim

Na Linha Da Utopia


O retorno da intolerância?

1. Esta é a pergunta incómoda que não se quer fazer nem responder. Mas os recentes acontecimentos da África do Sul, mesmo sem generalizar, dão que pensar. Um certo retorno do apartheid, se é que ele chegou a desaparecer de vez, incendiou de violência xenófoba as ruas da capital Joanesburgo. A segregação racial conhecida como apartheid (palavra que significa «vida separada»), havia sido adoptada legalmente em 1948 na África do Sul. Ironia da história, no ano da aprovação da Declaração Universal dos Direitos Humanos que veio dizer precisamente o contrário desse limitativo regime sociopolítico em que os brancos detinham o poder e os povos restantes eram subjugados. Foi com Frederik de Klerk (n. 1936) que em 1990, finalmente, foi abolido o regime apartheid, de que se destaca a libertação de Nelson Mandela (n. 1918), activista do Congresso Nacional Africano e que sucederia de Klerk na presidência de África do Sul.
2. Apesar dos seus 43% de desemprego e pobreza crescente, a África do Sul continua a afirmar-se como um dos países ourados de África. Por isso para lá correm multidões de povos vizinhos da Nigéria, Malawi, Congo, Moçambique e especialmente do Zimbawe, estes na ordem de três milhões, vindos da sua instabilidade e incerteza pós-eleitoral. Já estamos a ver o efeito: uma explosão demográfica e a escassez de alimentos e de empregos faz sobrar a acusação de que os migrantes chegados vêm tirar os recursos aos naturais de África do Sul. A onda violenta liquidou, entre centenas de feridos, já algumas dezenas de pessoas (24 segundo agências de informação), fazendo vir à memória os anos idos das maiores crueldades e turbulências na Joanesburgo dos anos 80. A palavra violência e ódio regressou à ribalta naqueles lados do mundo, gerando ambientes intolerantes da maior crueza.
3. Diante das acentuadas mobilidades humanas, ora voluntárias ora involuntárias (como é o caso destas multidões de refugiados à procura da sobrevivência) cresce a incerteza quanto à capacidade da coexistência das diversidades humanas que são sempre reflexo de diferenças socioculturais. Esta insegurança avoluma-se com a concentração macro-económica e com a sobejante escassez de recursos para as multidões famintas. O ditado é certo e é já antigo: «Casa onde não há pão…». Que dizer das multidões que atravessam África para entrar na (ilusão da) Europa? Não há soluções fáceis nesta complexidade dos povos, mas criação de fortaleza e a subjugação exploradora dos recursos naturais que mantém a estratégica dependência não é o melhor caminho. O mundo tem crescido muito em termos de conhecimento tecnológico; mas a questão de fundo do desenvolvimento humano e da consciência da unidade do género humano na saudável e bem vinda diversidade de povos e etnias é um caminho sempre mais lento que, hoje, faz temer a retracção do retorno das intolerâncias. Esta situação é só mais uma que nos confirma que é decisivo (re)conhecer a complexa transculturalidade que está a acontecer.

Alexandre Cruz

FOME GERA VIOLÊNCIA

Violência na África do Sul (foto do PÚBLICO de hoje)

Segundo a comunicação social desta manhã, os portugueses que vivem na África do Sul estão a acolher os cidadãos moçambicanos, com o objectivo de os pôr a salvo da onda de violência contra comunidades africanas, a qual já fez pelo menos 24 mortos em vários bairros de Joanesburgo, na última semana. Os africanos, oriundos de países vizinhos da África do Sul, ao fugirem da miséria, encontram agora carrascos no país do antigo “apartheid”.
Tem-se dito que a falta de água e a fome serão, no futuro, causas de violência e de guerras. Da fome já se sabia que provocava ondas de migrações e de selvagens ataques a quem tinha que comer. Da água, que não tem faltado, dizem os entendidos em geografia humana, que se espera violência sem fim.
É triste verificar como povos africanos massacram irmãos da mesma raça, só por pensarem que alguém vem ocupar o seu lugar e comer do mesmo pão. A fome, afinal, ensombra a razão e transforma pessoas boas em pessoas violentas. Os pobres atacam, sem dó nem piedade, os mais pobres dos pobres. No entanto, foi bonita saber que a comunidade portuguesa radicada naquele país protege os moçambicanos. Afinal, Moçambique, como outros países lusófonos, está no coração de Portugal.

FM

BOM TEMPO


O conceito de bom tempo é relativo. Os da cidade desejarão, permanentemente, um sol cheio de claridade; os do campo, por sua vez, sonham com chuva durante a noite e sol, quanto baste, durante o dia. Compreende-se. Mas do frio, acho que ninguém gosta.
Vem isto a propósito do reconhecimento dum tempo desagradável há já meio ano. Pois é verdade. De modo que precisamos muito do bom tempo, isto é, dum tempo, com sol e algum calor, que nos permita passear e dar uma voltinha pelos canais da nossa ria. Que S. Pedro nos oiça.

Figuras bíblicas: Miguel (II)


São Tomás de Aquino, na sua Suma Teológica, (ST I q. 65, a. 5), refere-se a este acontecimento, escrevendo: “o anjo pecou porque quis ser como Deus”, não para fazer, como até aí, do homem um ser livre, mas um escravo.
Perante esta sua opção livre, aquele anjo, que era luz, tornou-se trevas.
Pela primeira vez, na história da criação, fez-se ouvir o grito da revolta, através de Lúcifer: “Não servirei! Subirei até ao Céu, estabelecerei o meu trono acima dos astros de Deus, sentar-me-ei sobre o monte da aliança! Serei semelhante ao Altíssimo!” (Is 14,13-14).
Perante esta ameaça, ecoou, de imediato, um clamor, de um outro anjo, no Céu: “Quem como Deus?”, ou seja, quem é que quer [se atreve a] ser como Deus?
Quem se atreveria a tal blasfémia contra o seu próprio Criador e Deus Único?
Entre o anjo revoltado – Lúcifer – e o trono de Deus erguia-se, agora, “um dos primeiros príncipes” (Dn 10,13), um serafim incomparavelmente mais esplendoroso e forte do que havia sido até aí, “o que levava a luz ” ao mundo.
Quem era este ser que ousava desafiar o anjo revoltado e que brilhava invencível, revestido do “poder da justiça divina, mais forte que toda a força natural dos anjos?” (ST I, q. 109, a. 4.).
Quem era este anjo? Chama viva de amor incondicional, fogo de zelo e humildade e executor da justiça divina.
“Quem como Deus?” – Milhões de milhões de anjos fiéis repetiram o mesmo clamor, em uníssono, de fidelidade a Deus.
“Quem como Deus?” – este sinal de fidelidade, que em hebraico se diz Mi-ka-el, passou a ser o nome daquele serafim que, pelo seu amor ímpar e incondicional, foi o primeiro ser celestial a levantar-se em defesa de Deus.
“Travou-se, então, uma batalha no Céu” (Ap 12,7), entre anjos e demónios.
Satanás, desvairado de orgulho e ”obstinado pelo seu pecado” (ST I, q. 64, a. 2.)“ arrastou a terça parte (Ap 12,4) dos espíritos angélicos, submergindo-os consigo nas trevas eternas da revolta.
Porém, estes não prevaleceram, nem o seu lugar se encontrou mais no Céu, pois o serafim revoltado era visto “cair do céu como um relâmpago” (Lc 10,18), e ser condenado ao fogo “preparado para ele e os seus anjos” (Mt 25,41).
Reposta a ordem nos céus, a luta entre a luz e as trevas, o bem e o mal passou a ser a terra dos homens.
O anjo destronado, conseguiu seduzir os nossos primeiros pais a pecarem, como ele, contra seu Criador, seduzindo-os com a promessa que também eles se podiam tornar deus (Gn 3,5). A partir desse momento, uma luta intensa permanece, na história da Humanidade, entre o poder do bem e o poder do mal, pertencendo, desde sempre, ao homem a escolha, livre, em aceitar ou recusar as graças de Deus e a decidir sobre o seu próprio destino. Como está escrito na Constituição pastoral Gaudium et Spes, 16: “No fundo da consciência, o homem descobre a existência de uma lei, que ele não impôs a si mesmo, mas à qual deve obedecer, e cuja a voz, convidando-o a amar e a fazer o bem e evitar o mal, no momento oportuno ressoa aos ouvidos do coração: faz isto, evita aquilo.”
Enquanto isso, São Miguel era elevado por Deus ao cimo da hierarquia dos anjos fiéis e tornava-se o “gloriosíssimo príncipe dos anjos celestes”, como é designado pela liturgia da Igreja Católica, de quem se tornou protector e defensor, no Céu e na terra, até aos dias de hoje.

Vitor Amorim

Quem está lá em cima?


Quando o menino viu o sol pela primeira vez, apontou para o céu e perguntou ao polícia que o libertava da cave dos horrores: «É Deus quem está lá em cima?»
Félix, tem cinco anos e é o filho mais novo de Elisabeth Fritzl, a austríaca encarcerada e abusada pelo pai, durante mais de duas décadas. Não se sabe o que aquela criança saberá de Deus. Nem quem lhe terá falado de Deus. Mas não é difícil pensar que terá sido a mãe a falar-lhe de Deus… De que forma terá ela falado de Deus àquele menino, tendo em conta as condições de vida/morte de que eram vítimas, juntamente com os outros dois filhos de Elisabeth?
Elisabeth não terá falado de um deus poderoso com poderes para castigar, nem certamente de um deus violento, capaz de maldades como as que eles sofriam. Se assim fosse, talvez aquela pergunta não ocorresse ao Félix, no momento em que pela primeira vez olhava a luz do dia.
Talvez Elisabeth tenha falado aos filhos do Deus que nos guarda amorosamente no seu coração. Talvez ela soubesse ultrapassar o ambiente de medo e terror com uma imagem de confiança, de uma confiança pura, total na Bondade Infinita… e assim o coração dos seus filhos terá guardado o mais belo exemplo de amor: que Deus «está lá em cima». Acima de todas as injustiças, de todas as depravações, de todas as maldades. E só ele é capaz de eliminar todos os infernos.
O bispo de Nínive, Isaac, um místico do século VII que terminou a sua vida como monge, disse:
«Como poderia conceber que Deus crie um inferno? Deus só pode dar o seu amor. Dá e dará a todos os seu amor: será tudo em todos».

Georgino Rocha

segunda-feira, 19 de maio de 2008

Na Linha Da Utopia

SOS Birmânia
1. Deixar-se ajudar quando se está em situações difíceis é sinal de grandeza de humanidade. Quem se considera omnipotente não se conhece a si mesmo… Há duas semanas um ciclone (de nome Nargis) varreu a antiga Birmânia. Os números, que sempre acompanham as tragédias, são galupantes, apontando algumas previsões para mais de cem mil pessoas que padeceram, sendo alguns milhões (não se sabe) os desalojados. Dias depois deste trágico acontecimento ocorreu na China um sismo que fez subir os números da urgência humanitária para com os povos asiáticos. Há quem se apresse a comparar a catástrofe com o Tsunami de Dezembro de 2004. Ainda assim, todavia, se na China parece resultar a cooperação solícita para com a multidão vitimizada, já na Birmânia a ingerência humanitária parece ser a palavra de ordem.
2. O próprio Secretário-Geral nas Nações Unidas, Ban Ki-Moon tem-se confessado de mãos atadas, não só diante da tragédia natural ciclónica mas essencialmente da tragédia humana, quer da multidão de desalojados e fundamentalmente da rejeição de ajuda internacional por parte dos poderes birmaneses. Estes estão agora concentrados numa Junta Militar que anunciou pomposamente a vitória dos resultados do referendo da nova Constituição (aprovada por 92 por cento dos eleitores). Sublinhe-se que este referendo foi mesmo realizado («imposto»), quase manifestando indiferença para com as populações afectadas pelo ciclone devastador. Resultados? O porta-voz da Liga Nacional para a Democracia diz que o «resultado é completamente falso», tendo os militares forçado as populações a dizerem sim…
3. Vale a pena acompanhar as ideias de Fernando Nobre (Assistência Médica Internacional) que, em 24 anos de actividade, viu pela primeira vez ser recusada a ajuda da AMI. Da sua voz vinda do terreno concreto, sente Fernando Nobre que se trata de uma recusa da entrada do Ocidente nas terras birmanesas. Refere o presidente da AMI que isto «é o resultado do sentimento de repulsa que existe por parte de certas regiões do mundo, que não querem o Ocidente a intrometer-se». Depois de todos estes impasses e sendo cada hora determinante, esta semana o Secretário-Geral da ONU vai entrar mesmo na Birmânia, para discutir com a Junta Militar a questão da ajuda internacional, sem restrições, às vítimas do ciclone.
4. Diante da ingerência (segundo a agência LUSA de última hora, diz-se que o número já subiu para mais de 133 mil mortos), na urgência de cada momento, diz Fernando Nobre: «penso que a única forma de ajudar por agora seja através da Igreja Católica» (Lusa – 19 de Maio), tendo para o efeito já transferido verba solidária para o arcebispo de Rangum. Entidades transnacionais como a ONU, a Igreja, entre outras… poderão ser a tábua de socorro para uma contagem de tempo que, daqueles lados do mundo, tem no sofrimento os seus ponteiros velozes. Quem dera o relógio humano universal fosse capaz de outras contagens mais abertas e sempre mais solícitas. Em cada pessoa que sofre, sofre toda a Humanidade. Abram-se as portas da Birmânia!

Figuras bíblicas: Miguel (I)


Ao contrário do que é habitual nas sociedades do Ocidente, escolher um nome para uma criança na cultura e religião judaica não é uma tarefa fácil. O nome da pessoa não é uma mera etiqueta ou uma identificação apenas física, mas expressão da essência e da alma do seu portador, ou seja, o nome deve combinar com a alma da pessoa que o recebe. Existe mesmo como que um período de inspiração divina para os pais fazerem a escolha do nome que realmente pertence à criança e a marcará, enquanto pessoa, para toda a vida.
Após esta breve introdução, escolhi em falar do nome hebraico Miguel – cujo nome me diz muito – procurando que se compreenda o seu significado, a partir da Sagrada Escritura e da Tradição da Igreja.
Para todos quantos acreditam no Deus uno e trinitário, Senhor e Criador de todas as coisas que existem e vivem no Universo, terá que aceitar que os anjos – os chamados seres celestiais – também foram criados por Deus.
Tal como os homens crentes, também os anjos amavam e serviam o Senhor Deus, não como criados ou escravos, mas sim como seres perfeitos e livres.
Não é por acaso que a figura dos anjos aparece nos grandiosos anúncios da Boa Nova que Deus sempre quis comunicar ao Homem, em todos os tempos e lugares. Só um ser livre pode transmitir a alegria!
O anúncio da Encarnação do Verbo pelo anjo Gabriel a Maria (Lc 1, 26-35) é uma das graças e um dos muitos exemplos do papel destes seres espirituais na História da Salvação e, é bom não o esquecer, na história pessoal de cada um de nós. Quem não se lembra do seu Anjo da Guarda?
Tudo seria perfeito se, a dado momento, não tivesse surgido um anjo, de nome Lúcifer, que não aceitando a missão que lhe estava destinada, enquanto ser celestial criado por Deus, decidiu revoltar-se e desafiar o seu próprio Criador.
Porque o terá feito? Há quem diga que Lúcifer não compreendia que, por vezes, é necessário amar sem entender, ou seja, amar, acima de todas as coisas, o próprio Deus e reconhecer que o bem supremo deste amor visa a Sua glória, através da infinita e absoluta bondade eterna do Pai para com todos os homens, para que estes também sejam glorificados.
Estamos, pois, diante de um ser angélico – Lúcifer – que duvidou deste mistério, e não confiando no seu Criador o seu amor por Deus e pelos homens, deixou de ser submisso e incondicional.
O que Lúcifer questionava era como Deus podia ignorar a inferioridade do Homem face a Ele mesmo e aos próprios anjos, pelo que não entendia como Deus permitia que eles – os anjos – servissem o homem, um ser inferior a Deus e a eles próprios.
Amanhã, continuaremos o desenvolver este assunto.

Vítor Amorim

domingo, 18 de maio de 2008

SPORTING GANHA TAÇA DE PORTUGAL

Foto do jornal do Sporting
O Sporting ganhou a taça de Portugal, no Jamor, derrotando o Porto por 2 a 0. Houve festa entre os sportinguistas e tristeza entre os portistas, que estavam cientes da vitória. No futebol, como em qualquer jogo, a vitória às vezes pende para quem menos se espera. Mas o Sporting, pelo que vi, nos minutos finais, e pelo que me garantiram, mereceu esta taça. Foi um saboroso prémio para a juventude do seu plantel e para a academia de formação de jogadores, donde continuam a sair tantos craques.
Quando saí de casa para a missa, na hora de começar o jogo, alguém me recomendou que rezasse para que o Sporting ganhasse. A minha família é maioritariamente sportinguista. Dos quatro filhos, só um, o mais velho, é que virou portista, sem eu saber como nem porquê. Tenho cá um palpite que ali houve influência do meu pai, de saudosa memória, que era portista.
Claro que não rezei porque não acredito que Deus, lá no céu, se preocupe com o mundo do desporto. Muito menos com o futebol. Não perco muito tempo com futebóis, mas gosto que o Sporting ganhe. E também gostei de ver a alegria de tanta gente. Só tive pena que o meu portista, cá de casa, tenha ficado com um desgosto destes. Que tenha paciência… O Porto não pode ganhar tudo…
Um abraço para os sportinguistas e outro para os portistas. O desporto é isto mesmo.

FM

Na Linha Da Utopia


Deus é Família Solidária com a Ásia

1. Os séculos da aventura humana foram e são vividos como sentido de «procura». Uma procura que está revestida de desejo de aperfeiçoamento, aos mais variados níveis. Na fronteira de todas as concepções, tudo quanto é humano, a partir da riqueza de sensibilidade, se quer elevar acima da ordem física e tocável das coisas. Neste patamar mais elevado da experiência humana, toca-se o invisível e mesmo o indizível: Deus! Ou melhor, a justa compreensão possível de Deus… Os diferentes e variados livros sagrados, que o mundo não pode esquecer nem ocultar, pois são as grandes mensagens de que também somos fruto todos os dias, apresentam-nos essa diversidade de procuras e de encontros, em que a própria concepção de Ser Humano se vai aperfeiçoando na busca e no encontro do Ser Divino. Mesmo para os mais cépticos, a pergunta sobre «donde brota a esperança humana» faz-nos pensar sobre algo mais, acima de nós: não só um motor dinâmico do universo, é pouco! Mas sim uma concepção unitária e dignificante da vida humana.
2. No necessário e rico diálogo entre todas as concepções culturais e religiosas, mas no esforço de apuramento a partir da qualidade da Revelação, a visão cristã propõe um reparar na grandeza divina a partir da pequenez humana. O Cristianismo vem partilhar e dizer que Deus teve a coragem de assumir a Humanidade, que Ele não se satisfez ficando acima das nuvens, em silogismos filosóficos teóricos ou numa adoração dos astros celestiais, não! Ele, na Sua alteridade (como Outro que é) quis a totalidade e universalidade, vindo ao encontro (como) Humano, dizer-nos que cada pessoa humana tem uma dignidade única, irrepetível, divina. É esse encontro de Deus com o Ser Humano o Natal de todos os dias que quer gerar pontes de conforto, expectativa e esperança.
3. Este passado domingo, celebrou-se, após o culminar da Páscoa cristã, a verdadeira identidade de Deus: é Família! Deus não é solitário. Como Deus é Amor, o amor desdobrado na história constrói-se pelo diálogo, partilha, fraternidade, justiça, paz. Este encontro proporciona-nos o reconhecimento de que o ser humano só é feliz no amor, na beleza, na prática do bem, pois participa da beleza absoluta e infinita de Deus. Neste justo conhecimento de Deus como Família, a Humanidade recebe esse convite: Deus dá o exemplo, é Unidade na diversidade, é Tri-Unidade divina (Trindade). Na identidade própria de cada pessoa (os diversos três rostos da família divina), na unidade essencial que fortalece e multiplica o seu amor super-abundante. A pessoa do Filho (Jesus) veio dizer isto mesmo, corrigindo e aperfeiçoando muitas concepções mais justiceiras do temor dos tempos antigos.
4. Na pessoa do Filho, o Pai da família manifesta todo o seu amor, cada dia e em cada situação na justa medida. Os seres humanos, acolhendo a sua poesia e inspiração na consciência humana são convidados, na liberdade sagrada, à abertura da vivência do Seu Amor, que no hoje histórico se manifesta também para com os povos da Ásia. É bom sentirmos que os Monges tibetanos interromperam as manifestações de protesto contra a China e organizaram campanhas de oração e solidariedade para com as vítimas do terramoto. Que Deus-Família inspire esta bondade com alcance universal!

Alexandre Cruz

Dia Internacional dos Museus





Portugal no Mar: Homens que foram ao Bacalhau

Este livro grande da memória é dedicado a todos os homens que foram ao bacalhau. Trata de uma saga fascinante que, de certo modo, simboliza o crepúsculo do “Portugal marítimo” – real ou imaginário. Dando continuidade a um esforço de pluralização das memórias da “grande pesca” no sentido de as tornar menos reprodutoras no plano social e mais abertas do ponto de vista cultural, o Museu Marítimo de Ílhavo tem construído diversos projectos no propósito de inscrever na memória pública rostos e nomes desta extraordinária aventura humana. Este livro-álbum pretende dar uma expressão territorial e aberta, visível e esteticamente exaltante, às memórias da pesca do bacalhau. Como escreveu Santos Graça, a pesca do bacalhau era “áspera, dura, tremenda, quase heróica”, uma verdadeira “epopeia dos humildes”.
Quem eram estes homens?
Sobranceiros ao mito ou meros figurantes das narrativas oficiosas, entre 1935 e 1974, ao todo foram cerca de vinte mil os pescadores que se matricularam na pesca do bacalhau. Ano após ano, durante longos meses de trabalho e lonjura, ausentavam-se das suas terras e famílias para opor à contingência de rendimento das pescarias locais o salário mais certo da “pesca grande”. Muitos deles estão ainda entre nós, de norte a sul do país, em todas as comunidades do litoral e em algumas do interior, dando rosto à maritimidade que por vezes se invoca quando se discorre sobre o destino e o ethos português.

Álvaro Garrido
NOTA: O lançamento do livro será hoje, Dia Internacional dos Museus, no Museu de Ílhavo, pelas 21. 30 horas.

PORTO DE AVEIRO - 3




Porto acolhe zona industrial

Quem pensar que um porto moderno apenas serve para proceder a carga e descarga de mercadorias, pescado e pessoas está muito enganado. O Porto de Aveiro tem valências para tudo: Pesca Longínqua e Costeira, Zona de Granéis Sólidos e Líquidos, Terminais de Contentores e Multiusos, entre outros espaços.
Quem chega ao porto não pode deixar de reparar numa zona que acolhe uma montanha de areia, foco de incómodos para a população da Gafanha da Nazaré. Partículas finíssimas invadem, em dias de ventanias fortes (uma característica da região), tudo e todos. Os protestos fazem-se ouvir e tem havido um descontentamento, legítimo, muito grande. Sabe-se que as indústrias e actividades paralelas podem tornar-se focos de poluição. Aqui aconteceu o mesmo, embora a actual APA (Administração do Porto de Aveiro) tenha procurado soluções, no sentido de resolver o assunto. E se é certo que a questão ainda se mantém preocupante, também é verdade que a resolução do problema pode estar a chegar. Assim me garantiu o meu anfitrião nesta visita, Carlos Oliveira, quando me informou que as areias vão ser transportadas para a área entre a Costa Nova e a Vagueira, para impedir o avanço das águas.
Quando isso acontecer, no local do foco de poluição vai nascer uma zona de actividades logísticas, privilegiando a instalação de pequenas indústrias, as quais recebem no porto a matéria-prima, transformam-na, e, de mediato, dali mesmo exportam o que produzem.

FM

TECENDO A VIDA UMAS COISITAS - 78


OS LIVROS

Caríssima/o:

Quando se falava de livros sem mais adjectivos ou acrescentos era do livro de leitura que se tratava; era único por cada classe: livro da 1.ª classe, livro da 2.ª classe, ...
Já se referiu a grande falta de dinheiro e de poder de compra o que originava que um livro servisse várias gerações de alunos e, por outro lado, fosse a referência das leituras disponíveis.
E o certo é que o conceito de livro era restritivo: os de aritmética, de redacção ... designavam-se “cadernos” - caderno de problemas, ...
Só quando se andava na 4.ª classe havia direito a uma enorme colecção: Gramática, História, Geografia e Ciências, uns livrinhos finos com uma caravela de linhas azuis ou vermelhas na capa; no interior, reinava o preto, quando muito lá surgiam duas cores... Mas quanto saber nas suas páginas!
O formato era uniforme nestes últimos: A5, ou seja o tamanho dos cadernos que se utilizavam. Os livros de leitura das três primeiras classes aproximavam-se do actual A4 o que era uma dificuldade acrescida para algumas das 'sacas' onde se transportavam os pertences escolares. Também estes tinham direito a uma capa de cartão, diziam-se encartonados; para os outros, mais pequenos, a capa era de papel, por vezes um pouco mais forte que o interior ou, quando muito e o que era raro, de cartolina.
Como os livros estavam sujeitos à lei da longa duração, saberão os mais novos qual era a primeira operação quando se recebia um livro pela primeira vez, novo ou emprestado? Algo que hoje já nem se imagina de tal forma caiu em desuso: pôr capas! E logo busca intensa se realizava à procura do papel apropriado e que defendesse o livro do uso a que ia ser submetido. De vez em quando havia acesso ao jornal e uma ou outra folha era guardada para essa finalidade!
E quando uma folha do livro se soltava?
Então iniciava-se o restauro... Mas como se os meios de que se dispunha eram tão escassos que punham à prova a habilidade e o poder de invenção dos artífices?... Colas não havia: recorria-se à farinha de trigo ou mesmo a batata cozida para proceder às indispensáveis colagens. O resultado nem sempre era famoso, mas o objectivo era conseguido: as folhas estavam todas e o livro apto para mais uma safra!... Afinal livro a que faltasse uma ou mais folhas era livro rejeitado... (Onde o mundo da fotocópia?!)
Admiram-se que soubéssemos muito do conteúdo e sejamos capazes de o repetir sem pestanejar? Uma comadre regala-se a declamar as poesias que aprendeu nos seus livros, e como ela o faz com arte e alma!
Para alguns será talvez novidade: assiste-se a uma grande procura desses livros e editoras dedicam-se à sua reprodução. Sinais dos tempos: coleccionismo... e saudade!



Manuel

PONTES DE ENCONTRO


Novas Oportunidades com receitas antigas!

O semanário "Expresso", deste fim-de-semana, revela que o programa do Governo, “Novas Oportunidades”, emprega trabalhadores precários, com "falsos recibos verdes", e denuncia que há formadores que não recebem o salário desde Dezembro de 2007.
Relativamente aos cerca de 1300 formadores a recibo verde, a própria Ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues, declarou que "só agora há condições para acabar com esta situação, que foi herdada do passado". Sempre o passado como desculpa!
Quanto aos salários em atraso, Maria de Lurdes Rodrigues revelou que os problemas verificados com o atraso no pagamento dos vencimentos de alguns formadores do programa “Novas Oportunidades” foram originados pela "transição" dos financiamentos para esta actividade governamental.
Nos últimos meses, tenho trabalhado com os ministros do Trabalho e das Finanças para encontrar um solução que permita transformar os recibos verdes em contratos individuais de trabalho", revelou a ministra, acrescentando que "está pronto o diploma".
Perante esta notícia, e outras, que vão dando conta da ineficácia do Estado perante os seus concidadãos, confesso que, por vezes, já não sei o que me espanta ou o que me encanta.
Arranjar desculpas ou justificações para tudo, mesmo para o que não é desculpável, está cada vez mais na moda e já não há pudor nenhum em fazê-lo, sempre que necessário, por parte de qualquer responsável ou dirigente político do país.
Brinca-se com a dignidade e o respeito das pessoas, e sabem que o podem fazer, pois a dificuldade em arranjar um emprego e as situações de precariedade fragiliza-as, obrigando-as, quantas vezes, a terem que calar a revolta que lhes vais na alma.
Por isso, podem-se dar ao luxo de andarem a negociar, durante meses, com um qualquer ministro ou ministério à espera que uma determinada verba ou diploma estejam prontos.
Mesmo que tudo isto possa ser verdade, há que ter responsabilidade e vergonha na cara, para, em situações de excepção, criar normas transitórias, também de excepção, na medida em que, nestes casos, não existem atrasos aceitáveis, muito menos por parte do Estado.
Já bastam os maus exemplos que vêm de algumas empresas privadas.
Contudo, são estes os exemplos que os governantes deste país vão dando aos seus concidadãos, de uma forma fria, insensível e prepotente e a quem, ao mesmo tempo, tudo exigem, a tempo e horas, possam ou não fazê-lo.
O Estado, melhor o Governo, seja ele qual for, deve ser uma pessoa de bem e o primeiro a cumprir as suas obrigações perante os seus concidadãos, para assim ter autoridade moral em exigir-lhes que estes cumpram os seus deveres.
Infelizmente, os anos vão passando e parece que, no essencial, nada muda e o que me preocupa é se alguém, a nível dos próprios órgãos do Estado, não terá já chegado à conclusão que, efectivamente, não vale a pena mudar nada, pois, em caso de dúvida, aplica-se a máxima “quem pode manda” ou, então, diz-se “se não estiver bem, mude-se.”

Vítor Amorim

BICENTENÁRIO DA ABERTURA DA BARRA DE AVEIRO - 8

Na Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra
A Barra e os Portos da Ria de Aveiro em exposição
Esta quarta-feira, pelas 18 horas, na Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra (BGUC), vai proceder-se à inauguração da exposição “A Barra e os Portos da Ria de Aveiro 1808 – 1932, no Arquivo Histórico da Administração do Porto de Aveiro”.
Patente na Sala de S. Pedro até 14 de Junho, a exposição, comissariada por João Carlos Garcia e Inês Amorim (ambos professores da Faculdade de Letras do Porto), cumpre em Coimbra a primeira etapa de um circuito de itinerância pela Península Ibérica. Etapa que resulta de parceria entre a BGUC, a Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra (FLUC), a Administração do Porto de Aveiro e a Câmara Municipal de Aveiro.
Integrada no programa comemorativo do Bicentenário da abertura da Barra de Aveiro (03.04.1808), é composta por documentos do Arquivo Histórico do Porto de Aveiro, empresa que, segundo José Luís Cacho, Presidente do Conselho de Administração, “decidiu libertar o seu património histórico-documental da clausura que o agrilhoava em inútil penumbra, fomentando-se, a partir de agora, o seu usufruto pela comunidade”.
Nota: Informação recebida do comissariado da exposição

sábado, 17 de maio de 2008

Dia Internacional dos Museus – 18 de Maio


Amanhã, 18 de Maio, celebra-se o Dia Internacional dos Museus. Será um dia especialmente preparado para receber muitos visitantes. Há dias abertos, que são sempre boas razões para acordarmos, alguns, da nossa indiferença, face às ofertas constantes dos Museus.
O Museu Marítimo de Ílhavo, um dos mais significativos espaços museológicos ligados ao mar, vai também ter o seu Dia Aberto, das 10 às 23.30 horas. E durante o dia haverá Ateliês e a inauguração de uma exposição, com o título, bem expressivo e desafiante, “Rostos da pesca”.
Aproveite, então, o Dia Internacional dos Museus, visitando o nosso museu.

Ministério da Saúde: o pior cego é aquele que não quer ver


As listas de espera nos hospitais para as intervenções cirúrgicas às cataratas estavam demasiado elevadas e o Ministério da Saúde não sabia. O caso deu nas vistas, porque as pessoas não gostam de ficar cegas. Vai daí, algumas autarquias, não vendo solução para os seus munícipes mais pobres, procuraram ajuda em Cuba. Claro que isto é um escândalo de bradar aos céus.
Agora, que a comunicação social deu os alertas, o Governo vai tentar resolver o assunto, disponibilizando milhões de euros para tratar os portugueses que não podem recorrer aos hospitais privados.
Estranha-se que o Ministério da Saúde não tenha alertado o Governo para esta situação. Lamenta-se que em Portugal os problemas só encontrem solução quando denunciados pela comunicação social. Também se lamenta que o Governo não tenha estruturas capazes de o alertar a tempo e horas. Em suma, no Ministério, o pior cego é aquele que não quer ver.

NOTÍCIAS DE DEUS


Jesus é o arauto e mensageiro. Traz-nos boas notícias. E as primeiras são a respeito de Deus. Estas notícias têm uma repercussão enorme em nós e em toda a realidade envolvente. Nicodemos, levado pelas exigências intelectuais da sua razão, quer saber mais e procura Jesus, dispõe-se a ouvir, a pôr questões a fim de ficar esclarecido.
Jesus afirma claramente que Deus é amor e ama a humanidade toda. É uma notícia enternecedora! Ficam assim, excluídos os “contos” funestos de um deus distante, vingativo, apático e fiscalizador. Ama tudo o que cria e deixa-o confiado à responsabilidade de cada pessoa e do conjunto universal.
Outra boa notícia é que Deus tem um Filho que envia ao mundo, se faz humano e assume tudo o que em nós há de bom, de justo e de belo. Deste modo, pode ajudar-nos a vencer as inclinações más e o próprio pecado que nos oprime e desumaniza. E numa atitude de inexcedível generosidade, dá-nos o exemplo máximo do que é ser humano, amando sem medida, lutando com todas as forças para mostrar a nossa verdadeira grandeza, aceitando livremente a cruz da incompreensão, da calúnia e da morte.
Deus em quem Jesus confia revela-se como Pai, ressuscitando-o, dando-lhe uma vida nova, definitivamente feliz, plenamente realizada. Esta é a notícia que enche de alegria o mundo inteiro: Em Jesus, Deus Pai vem ao nosso encontro, faz-se nosso companheiro, partilha connosco a sua solicitude pelo mundo, apontando-nos o caminho do futuro que nos aguarda em plenitude.
Esta presença amiga e solícita do Pai e do Filho manifesta a existência do Espírito Santo que por eles nos é enviado. Esta é a notícia mais entusiasmante. O Espírito fica em nós, age por meio da nossa consciência que quer bem formada, faz-nos apreciar quem nos rodeia e amar quem está longe, mas constitui o nosso próximo. É ele que nos recorda o que Jesus ensina e nos conduz para a Verdade.
As notícias de Deus surgem continuamente. Precisamos de estar atentos à sua voz que nos chega de muitos modos, especialmente no silêncio e no gemido de milhões de vítimas e na vozearia dos algozes. Está é a notícia mais surpreendente: o silêncio de Deus que se faz denúncia das atrocidades humanas e anúncio de que a justiça há-de triunfar.
Deus, trindade santa, é família original donde provém, ainda que de modo especial, a verdade da família humana, chamada a ser fonte de vida e esperança da humanidade.

Georgino Rocha

DEUS E A MORAL ALGURES NO CÉREBRO?


Em todas as culturas, na tentativa de compreender o Homem, predominou uma concepção dualista: o Homem é um composto de corpo e alma, matéria e espírito.
Mas, como escrevi aqui na semana passada, o dualismo parece cada vez mais insustentável. Pode, por exemplo, perguntar-se: nessa concepção, uma vez que a alma viria de fora, os pais ainda seriam verdadeiramente pais dos seus filhos? Depois, não se percebe muito bem como é que o espírito finito pode agir sobre a matéria e esta sobre aquele.
Mas, se o dualismo não responde à pergunta pela constituição do Homem, a solução também não pode ser o materialismo crasso. Hoje, já dificilmente alguém defende o materialismo mecanicista. Mas também o biologismo não é solução. Há, para isso, uma razão de fundo: o Homem é certamente um ser biológico, mas é igualmente um ser cultural. Enquanto o animal vem ao mundo já feito, o Homem chega ao mundo por fazer e tem de receber por cultura o que a natureza lhe não deu. É, pois, o resultado de uma herança genética e de uma história. Não tem propriamente natureza: a sua natureza é histórico-cultural. É um ser simbólico e simbolizante.
Aí está a razão por que a antropologia em toda a sua abrangência não pode reduzir-se a um mero capítulo da zoologia. E, no que se refere à moral, reconhece-se que ela tem uma base biológica, sendo até possível uma certa "anatomia da moral", mas não é redutível à biologia. Como escreveu o filósofo E. Cassirer, "a capacidade de responder a si mesmo e aos outros (é que) torna o Homem um ser responsável" e, portanto, moral.
É certo que, mediante a tomografia de emissão de positrões e a ressonância magnética nuclear funcional, se pode observar o que se passa no cérebro, concretamente as zonas activadas em presença das diferentes emoções e actividades, de tal modo que surge a tentação do reducionismo neuronal, não faltando quem defenda que os acontecimentos espirituais não passam de processos físicos.
Deste modo, porém, o cientista esqueceria que está perante uma realidade que envolve biologia e cultura e que os seus métodos só lhe dão o lado biológico. Para a compreensão e esclarecimento da dimensão cultural, precisa de interpretação, para a qual não há métodos físico-naturais. Como escreveu o filósofo K. Köchy, sem essa interpretação, "os resultados da investigação cerebral não expõem senão imagens coloridas".
É neste contexto que vários neurocientistas se propõem encontrar o que alguns chamam o "ponto de Deus" ou "módulo de Deus", que ficaria na junção temporo-parietal do cérebro.
Neste quadro, em teoria, deveria ser possível, mediante a estimulação desse "ponto de Deus", fazer uma experiência religiosa. O famoso biólogo R. Dawkins, um apóstolo exaltado do ateísmo e do materialismo, sujeitou-se a esse ensaio, sob controlo do canadiano M. Persinger. Sentiu-se, porém, frustrado, pois nada aconteceu, apesar de, como refere o número de Janeiro-Fevereiro de Le Monde des Religions, dedicado ao tema, o neurocientista garantir que ele permite a 80% das pessoas, crentes ou ateias, viver uma experiência espiritual.
Para M. Persinger, a religião é "um artefacto do cérebro" e a experiência espiritual não passa de uma "adaptação brilhante", que permite acalmar os nossos medos. Neste sentido, não tinha já o geneticista Dean Hamer defendido o "gene de Deus"?
Pergunta-se, porém: não estamos perante conclusões apressadas? Deus está no cérebro? A liberdade está no cérebro? O eu está no cérebro? É claro que há uma correlação entre as diferentes actividades espirituais e o cérebro, mas será legítimo partir daí para a tese da identidade? O americano A. Newberg, que popularizou a chamada neuroteologia, previne: "Se observo o cérebro de uma monja franciscana que vive a experiência da presença de Deus, vejo o que se passa no cérebro, mas não posso dizer se Deus está lá e se existe ou não." Na mesma linha se pronunciou outro neurocientista, Mario Beauregard: "Os correlatos da experiência mística não significam que exista uma relação causal. Este tipo de investigação não permite confirmar nem infirmar a realidade externa de Deus."

Anselmo Borges

In DN

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