sábado, 13 de julho de 2019

Mais aconchegado pela natureza

Igreja matriz que se vê do meu alpendre
Apesar do ventinho frescote, gosto de me instalar no alpendre voltado para o quintal. Sinto-me muito mais aconchegado pela natureza envolvente, que vai para além dos meus domínios. Olho a torre da igreja matriz que sobressai entre o casario térreo e evoco tantas vivências que moldaram o meu caráter e a forma de ver o mundo com sentido otimista. E nestas recordações, torno presente tanta gente que conheci: vizinhos, gente da lavoura que labutava nas campos ao frio ou à torreira no pino do verão, passantes que me saudavam, amigos que paravam para um dedo de conversa. 
As couves precisam de água, o batatal carece de sulfato, as (poucas) árvores esperam por uma poda a preceito — atiravam os amigos que gostavam de conversar e de dar conselhos. E com todos (e foram tantos!) me relacionei e aprendi. Fotografias deles não as possuo, mas todos moram mesmo na minha alma. 
Um amigo e vizinho disse-me um dia: — O  teu quintal, Manuel Fernando (era assim que me chamava),  está subaproveitado: faltam as laranjeiras e os limoeiros. Se for preciso, eu posso dar uma ajudinha. E assim foi. Mas disso falarei um dia destes. 

F.M.

sexta-feira, 12 de julho de 2019

Georgino Rocha - Vai e faz o mesmo

Papa em Lampedusa

Jesus vai a caminho de Jerusalém e faz do percurso uma escola itinerante que Lucas, o médico narrador, apresenta em episódios sucessivos, cheios de realismo e vida. A leitura de hoje faz-nos ver os figurantes da parábola do samaritano. O assunto é muito sério e existencial: “Mestre que devo fazer para receber a vida eterna?”, pergunta um especialista em leis religiosas. Pergunta que habita sempre o espírito humano e o impele a andar inquieto, a buscar, a querer saber.
Jesus responde com outra pergunta acessível ao interlocutor, mestre em leis. E o amor a Deus e ao próximo surge como o núcleo fundamental do dever humano. É preciso amar concretamente. Não basta um saber intelectual, escrito ou apregoado. É preciso fazer-se próximo do outro em necessidade. Sem mais. Como realça a parábola do samaritano Lc 10, 25-37.
O Papa celebrou o sexto aniversário da visita a Lampedusa, em Roma, e afirma na homilia: “penso nos «últimos» que diariamente clamam ao Senhor, pedindo para ser libertados dos males que os afligem. São os últimos enganados e abandonados a morrer no deserto; são os últimos torturados, abusados e violentados nos campos de detenção; são os últimos que desafiam as ondas dum mar impiedoso; são os últimos deixados em acampamentos de acolhimento (demasiado longo, para ser chamado de temporário). Estes são apenas alguns dos últimos que Jesus nos pede para amar e levantar ... São pessoas; não se trata apenas de questões sociais ou migratórias! «Não se trata apenas de migrantes!», no duplo sentido de que os migrantes são, antes de mais nada, pessoas humanas e que, hoje, são o símbolo de todos os descartados da sociedade globalizada”.

quinta-feira, 11 de julho de 2019

Um oportuno conselho do escritor Joel Neto


O prazer que senti ao ler “A vida no Campo”, vol. I, de Joel Neto, repeti-o agora com a leitura do vol. II. Não foi por acaso que o escritor açoriano recebeu recentemente o Grande Prémio de Literatura Biográfica. 
Hoje quero apenas sublinhar uma recomendação que ele dirigiu aos alunos de uma escola por onde passou, decerto a convite dos professores. Está no antepenúltimo texto do livro. Diz assim: 
“Não desistam de mudar o mundo. E façam planos até ao fim — façam planos até ao último dia da vossa vida e vão continuar a querer acordar vivos no dia seguinte.» 
Belo conselho para cada um de nós... como projeto para ser refletido nas férias que se avizinham ou fora delas.

quarta-feira, 10 de julho de 2019

Um dia diferente com jogos antigos




Estou por aqui com 22º, mas as notícias garantem-me que os 29º vêm a caminho. Um dia de verão em cheio para quem detesta o frio. Saí de casa e instalo-me no quintal, com relva fresquinha à vista. Os cheiros que dela emanam são refrescantes. Já caminhei para saborear a almofada verde, que o meu João Paulo terá de cortar um dia destes. Para já, o neto Dinis pode cair à vontade que não se magoa. 
A passarada emoldura o meu sossego com um chilrear constante. Não há um minuto sequer sem esta companhia inebriante que nos lava o cérebro e anima a alma. 
Levantei-me cedo para receber o verão que sabia quente para este dia. Na minha idade, o frio é um tormento que eu suporto com dificuldade. E porque urge aproveitar a vida, em plenitude, deixei a cama para respirar este dia na tranquilidade de um 10 de julho auspicioso, tanto quanto posso adivinhar. 
É na serenidade dos dias que mais recordo amigos e familiares que se instalaram noutra dimensão. Os seus sorrisos, as conversas sobre tudo e sobre nada, as suas amizades francas, os seus sonhos realizados e por realizar, mas também os que nunca encontraram vias de concretização. 
O presente, contudo, marca os meus dias com a alegria de gente feliz. Ontem houve sardinhada à noite e a tarde foi animada pela Lita, que voltou aos tempos dos jogos da era que desconhecia a Net, os vídeos, os computadores e passatempos dos heróis da juventude atual. O Loto, de tempos muito antigos, e o Vaivém, da década de 70 do século passado, voltaram à mesa e ao relvado, com a Lita a comandar. O Dinis e a Beatriz alinharam, para espanto meu. E durante umas horas, Tablete e PC ficaram de lado. Milagre? Talvez. 

Fernando Martins 

segunda-feira, 8 de julho de 2019

Frei Bento Domingues - O Papa Francisco no Iraque

O Papa Francisco foi convidado para visitar o Iraque

1. Seria ridículo discutir se o Papa Francisco deve ou não ir ao Iraque. Não basta dizer que é um desejo que ele gostaria de realizar já no próximo ano. Os desejos do Papa não costumam ser de ordem turística. O que será que o move?
O mais espantoso é que tenha sido o governo de Bagdad a convidá-lo. O Presidente iraquiano, Barham Saleh, não é católico e, no entanto, numa missiva dirigida ao Papa, declarou que tinha a honra de o convidar para visitar o Iraque, berço da civilização e local do nascimento de Abraão. A visita constituiria uma oportunidade para lembrar ao povo do Iraque e ao mundo que o Papa se deslocaria à terra que deu à humanidade as suas primeiras leis, a rega agrícola e um legado de cooperação entre os povos do mundo de tradições confessionais diversas. Se fosse apenas isto, seria uma viagem de ordem cultural, de memória religiosa e ecuménica. É uma memória extraordinária, que só a ignorância ou a barbárie jihadista podem desejar esquecer e destruir. No entanto, talvez não baste para justificar a deslocação do Papa.
Também não é suficiente dizer que o Papa vai mostrar que também há cristãos árabes. Pensar que os árabes são todos muçulmanos é uma ignorância e que os cristãos do Oriente são apenas os membros das Igrejas ortodoxas.
Como lembra Jean-Marie Mérigoux, O.P., os cristãos dos países árabes são os cristãos dos países da Bíblia: os do Iraque são da terra de Abraão; os do Egipto são do país de Moisés; os da Palestina e de Israel, a chamada “Terra Santa”, são da terra de Jesus. Foi de Antioquia, na Síria, que os apóstolos saíram para fazer discípulos de todas as nações, como diz S. Mateus.

domingo, 7 de julho de 2019

Anselmo Borges - Confissões do Papa Francisco. 2

Papa Francisco e Valentina Alazraki
Dou sequência à longa e bela entrevista do Papa Francisco à jornalista Valentina Alazraki, de Noticieros Televisa, México. Porque, se é verdade que é sempre espontâneo no contacto com os jornalistas, raramente o terá sido tanto. Cordial, tratando a jornalista por “filha”, a quem revela que é “um conservador”, mas que mudou. 

2. 7. Os de fora e os de dentro. A jornalista observa: “Há quem diga que o Papa parece gostar mais dos que estão longe do que dos seus”. Francisco: “É um piropo para mim. É um piropo, pois é o que Jesus fazia, acusavam-no disso. E Jesus diz: ‘Não são os sãos que precisam de médico, mas sim os doentes’. Eu não prefiro os de fora aos de dentro. Cuido dos de dentro, mas dou prioridade aos outros, isso sim.” É como numa família. 
Acrescentou: “Alguns jornalistas acusam-me de que sou demasiado tolerante com a corrupção na Igreja; por outro, se carrego em cima dos corruptos, dizem que ‘lhes carrego demais’. Bonito. Assim, sinto-me pastor. Obrigado.” 

2. 8. E volta aos migrantes e refugiados, observando a jornalista que há quem o acuse de “falar muito mais deste tema do que dos temas, dos valores que antes se dizia serem valores irrenunciáveis do catolicismo como a defesa da vida.” 
Francisco: “Porque é uma prioridade hoje no mundo. Todos os dias recebemos notícias de que o Mediterrâneo é cada vez mais cemitério, para dar um exemplo.” 
Mas reconhece as tremendas dificuldades do problema. “Sobre migrantes, eu digo, em primeiro lugar, que é preciso ter coração para acolher; depois, é preciso acompanhar, promover e integrar. Todo um processo. Aos governantes digo: Vejam até onde podem ir. Nem todos os países podem, sem mais. E para isso é necessário o diálogo e que se ponham de acordo. É preciso integrar isto tudo, não é fácil tratar o problema migrantes, não é fácil.” 
A mesma dificuldade quanto aos repatriados. “Não sei se viu as filmagens clandestinas que há quando os apanham outra vez. Às mulheres e aos miúdos vendem-nos, e os homens são feitos escravos, torturam-nos... Por isso, digo: cuidado também para repatriar com segurança.” 

sábado, 6 de julho de 2019

À espera da partida!


Estamos sempre à espera da partida. E quem nos dera poder sair à aventura e conhecer terras e gentes apenas sonhadas. Mas se não pudermos, fiquemos ao menos com o sonho, ao contemplar os barcos em maré de descanso na marina do Jardim Oudinot.
Bom fim de semana para todos os meus amigos, tanto os que viajam como os que se limitam a imaginar. 

sexta-feira, 5 de julho de 2019

Os nossos gatos vadios


Contemplo o relvado que o João Paulo corta regularmente por iniciativa própria. Ele sabe disso e assume a tarefa com gosto e saber. E nem precisa de ajuda; acha que as ajudas até estorvam os seus hábitos. Também apara os arbustos e retira os sobrantes para que o relvado se apresente limpo e convidativo por uns tempos. Mas o João tem tudo sob controlo e aparece sempre no momento certo.
Sentado no alpendre, rodeado por um aparato de pratos de plástico destinados aos cinco gatos vadios que a Lita adotou, sinto a vida em movimento. Os felinos, que recusam sistematicamente dar o pelo para uma gesto de carinho, sabem que nunca lhes faltará água fresca, ração adequada e restos de comida, lavada, não vá dar-se o caso de alguns condimentos lhes alterar a digestão. Fico assim a pensar quanto é difícil domesticar um animal. Nem com estes mimos dão o braço a torcer. Mas há de chegar o momento de reconhecerem quem é amigo. Será?
Longe do bulício do quotidiano de gente ativa, dou comigo a meditar na importância da ocupação como sinal de vida útil, quando as forças se tornam cada vez mais débeis. E percebo que nos tempos de hoje há muitas formas de nos sentirmos capazes de ocupações salutares, como o ato de escrever e de ler, com tanta oferta que nos desafia a viajar, a refletir e a sonhar.
Cinco gatos que nos olham desconfiados e que, diversas vezes, se aproximam de nós, coçando-se nas nossas pernas, em modo de desafio. E quando os fixamos, fogem logo espantados pela proximidade, como se os nossos olhos fossem raios fulminantes. Será que algum dia aceitarão a amizade dos humanos?
Entretanto, sobem ao cocuruto das árvores e arbustos a uma velocidade espantosa, na tentativa frustrada de caçar uma rola ou melro, e descem com a mesma velocidade e perícia. Brincam uns com os outros, tentam caçar uns passaritos mais atrevidos que se aproximam deles e logo se espantam. Um ou outro, porém, cai no azar e é apanhado. E assim passam os dias, com a Lita a medir os estilos dos felinos e a rir-se com as suas brincadeiras à distância. E quando algum se ausenta por razões que desconhecemos, que falta de comer não é, a Lita até perde o sono.

F.M. 

Georgino Rocha - Enviados em missão: Que alegria!



Jesus prossegue o seu caminho para Jerusalém. Decidido e firme. Cria oportunidades e aproveita ocorrências para lançar os discípulos em experiências de missão. De forma ousada e confiante. Faz-lhes advertências e dá-lhes instruções sobre o modo de agir. Com clareza e determinação. Envia-os a anunciar a paz, sinal de que o reino de Deus está próximo. Sem demora e com leveza. Lc 10, 1-12. 17-20.
Acolhe-os, com solicitude, no regresso, escuta, com minuciosa atenção, a comunicação do que havia sucedido a cada um, rejubila com eles pelas maravilhas ocorridas e encaminha as razões do seu estado de espírito, dizendo: “ alegrai-vos antes porque os vossos nomes estão escritos nos Céus”.
O caminhar de Jesus tem estes e outros horizontes. Trata-se de aproveitar a metáfora do percurso terreno, com sábia pedagogia, para clarificar opções e definir critérios, moldar sentimentos, amadurecer atitudes, alargar espaços de liberdade, marcar o ritmo e o rumo da missão a realizar em todos os tempos: Ir às aldeias – agregados do povo simples e solidário, visitar cada casa familiar – espaço da proximidade e do perdão que gera a paz, entrar nas cidades e aceitar a hospitalidade oferecida de quem aí mora – gestos de bom acolhimento, de abertura a novas formas de convivência e de partilha, de entrar em círculos mais estreitos de amizade, de dizer em público a relação nova que está a surgir.
O envio dos discípulos é dirigido a todos. O número 72 comporta este símbolo. Eram os povos conhecidos. Neles, está toda a humanidade. A missão é universal. Realiza-se na reciprocidade de dons: oferecer o que cada um tem de valioso e, simultaneamente, receber a oferta que expressa o ser do outro. Todas as culturas estão dotadas de bens apreciáveis, todas as religiões contém expressões e rituais de grande significado. Também as confissões católicas/Igreja encerram ricas mensagens de humanização da pessoa e das sociedades, criam laços de fraterna convivência entre os seus membros, configuram, de modo sacramental, a pessoa e obra de Jesus Cristo prosseguida pelo seu Espírito na Igreja. Entrar em comunhão com os valores humanos e valorizar a originalidade fiel do Evangelho, eis o desafio da missão católica.

quinta-feira, 4 de julho de 2019

Ria de Aveiro em festa com Regata dos Moliceiros

Regata de 2018




«A Região de Aveiro está em festa este fim de semana com o Ria de Aveiro Weekend, iniciativa que, entre sexta-feira e domingo, convida a desfrutar de um programa de eventos repleto de gastronomia, festas, música, artes, património e tradição. Os 11 municípios da Comunidade Intermunicipal da Região de Aveiro (CIRA), instituição que promove o evento, são o palco desta celebração conjunta, que dá a conhecer em rede a riqueza do território nas suas mais diversas expressões, com particular enfoque na Ria de Aveiro, o recurso turístico de maior relevância da região.
É precisamente na Ria de Aveiro que acontece, no sábado, a partir das 14h30, um dos mais emblemáticos e esperados eventos do ano - a Grande Regata dos Moliceiros -, que este ano conta com 15 embarcações, mais três do que na edição passada, num esforço conjunto da Região de Aveiro em preservar uma tradição única. Nesta regata os barcos moliceiros navegarão à bolina, na sua configuração tradicional, desde a Praia da Torreira, na Murtosa até aos canais urbanos de Aveiro

NOTA: Do Newsletter da CIRA

Uma Igreja que tarda em abrir os olhos às realidades

Flausino Silva

"Francisco voltou a surpreender com a sua franqueza, desta vez ao referir-se ao sistema vaticanista de governo da Igreja Católica, apesar das conhecidas críticas às "doenças da Cúria". 
Segundo o portal Sete Margens, em entrevista à Televisa, quando "Valentina Alazraki lhe pergunta sobre a eventual contradição entre 'uma Igreja em crise e um Papa que goza de popularidade', o Papa Bergoglio responde com uma dura crítica à forma de governo que domina ainda o Vaticano." Chega mesmo a classificar a sede do poder católico-romano como "última corte europeia de uma monarquia absoluta"(7 Margens). 
Ao pensar nesta reflexão de um Papa que todos admiram, mesmo não crentes, pela clarividência e coragem das afirmações, interrogamo-nos acerca do profundo alcance da suas palavras: quererá o Sumo Pontífice significar, com a sua crítica, que eu e a minha família nos comportamos como absolutistas, quando usamos a nossa posição social, os nossos bens, a nossa cultura, para nos impormos aos que dependem de nós, que estão sob a nossa influencia e domínio, submetendo-os à nossa prepotência, ao nosso poderzinho, ao nosso estatuto social?

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Animais das nossas vidas

O Toti e a Tita foram animais das nossas vidas. Aqui estão no relvado com a Lita. Descontraídos e excelentes companheiros, cada um com o seu...

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