NOTA: Texto de Alexandra Lucas Coelho no Sapo. Uma leitura para todos os meus amigos.
sexta-feira, 29 de dezembro de 2017
“ROSTOS DE MISERICÓRDIA - ESTILOS DE VIDA A IRRADIAR”
O mais recente livro de Georgino Rocha
“ROSTOS DE MISERICÓRDIA - ESTILOS DE VIDA A IRRADIAR” é o mais recente livro de Georgino Rocha, presbítero da Igreja Aveirense, a ser lançado no próximo dia 17 de janeiro, no CUFC (Centro Universitário Fé e Cultura), pelas 21h15, contando com a apresentação do Prof. Carlos Borrego e o apoio das comissões diocesanas da Cultura e da Justiça e Paz, bem como da editora Tempo Novo. Trata-se de um trabalho com reflexões, relatos e testemunhos de pessoas que foram, e são, no mundo conturbado dos nossos dias, autênticos sinais visíveis da misericórdia de Deus.
D. António Marto, Bispo de Leiria-Fátima, que prefacia o livro, sublinha a importância da proclamação do Ano Santo da Misericórdia pelo Papa Francisco, que foi «um ato profético». Melhor que ninguém, o Santo Padre faz uma leitura em profundidade da época atual do mundo «dilacerado, ferido, cheio de feridas na vida pessoal, familiar e social», e, ao mesmo tempo, «cínico em virtude da globalização da indiferença, do individualismo mais exacerbado e da cultura do descartável». E, citando mais uma vez o Papa Francisco, diz: «Sem a misericórdia temos hoje poucas possibilidades de compreensão, de perdão, de amor. Por isso não me canso de chamar a Igreja à revolução da cultura.»
O Bispo de Leiria-Fátima salienta, noutro passo do "Prefácio", que o Padre Georgino procurou responder à «questão de Deus no nosso tempo», superando a «imagem de Deus justiceiro, tremendo e violento», pondo em evidência, contudo, «a face de amor misericordioso e de benevolência», graças a uma linguagem «mais propositiva, dialógica e existencial, própria do estilo de vida irradiante».
D. António Marto afirma que autor nos apresenta o amor misericordioso que nos ajuda «a ler com mais profundidade e com maior verdade o mundo contemporâneo», não focando apenas os aspetos negativos, mas levando-nos a «descobrir os aspetos e os germes positivos que o fermentam, tais como os anseios de uma cultura de misericórdia, ou seja, a cultura do encontro e do diálogo face à cultura da indiferença e do descartável».
Na “Chave de Entrada: A fragilidade humana e a misericórdia”, Georgino Rocha salienta que este é o tempo da misericórdia porque «Cada dia da nossa caminhada é marcado pela presença de Deus, que guia os nossos passos com a força da graça que o Espírito infunde no coração», mas também o é para que «os pobres sintam pousado, sobre si, o olhar respeitoso, mas atento, daqueles que, vencida a indiferença, descobrem o essencial da vida». Mas ainda é o tempo da misericórdia, para que cada pecador não se canse de pedir perdão e sinta a mão do Pai, que sempre acolhe e abraça».
O autor refere na “Apresentação”, com o subtítulo “Quero acordar a aurora”, que, tal como o salmista, «é seu propósito fazer ressoar, em todo o universo, que a fidelidade do Senhor é para sempre e o seu amor é maior do que tudo quanto existe». E defende que «a voz da consciência continua a fazer-se ouvir», sobretudo «em experiências que semeiam os germes do futuro e em pessoas que são amigas do humano integral, que há em todos, ainda que sofra mutilações graves». Por isso, Georgino Rocha afirma que é necessário «praticar o discernimento evangélico», base da interpretação dos «sinais messiânicos», procurando ser coerente. E nas opções, lembra que urge «praticar a pedagogia da liberdade».
Frisa, depois, que os Rostos de Misericórdia são pessoas concretas com «Estilo de vida a irradiar», com nome registado «no livro da vida» e com «identificação assinalada em obras notáveis reconhecidas pelas sentinelas do bem comum e do bom senso, com memória perdurável inscrita no coração de milhões e milhões de pobres que são assistidos e libertos da opressão que vitimiza a sua dignidade humana».
Georgino Rocha dedica o trabalho — “ROSTOS DE MISERICÓRDIA - ESTILOS DE VIDA A IRRADIAR”— Ao Papa Francisco, incansável missionário da Misericórdia, da Paz e da Esperança; A Dom António Francisco dos Santos, o bispo da proximidade amiga e do sorriso e da bondade contagiantes; Às famílias cristãs, chamadas a ser oásis de misericórdia e escolas de acompanhamento, focos irradiantes da alegria do amor e da nova aurora que desponta para a humanidade e para a Igreja, apesar das fragilidades com que se debatem.
Fernando Martins
Georgino Rocha — Em família, Jesus cresce em sabedoria
Festa da Sagrada Família
Lucas, o narrador dos relatos da Infância de Jesus, traz-nos, hoje, o estilo de vida da família de Nazaré, após a apresentação do Menino no templo de Jerusalém. (Lc 2, 22 e 39-40). E a Igreja destaca este estilo de vida como característica peculiar da Sagrada Família, dedicando-lhe a festa que estamos a celebrar, e como foco inspirador de toda a família humana, especialmente a cristã.
De facto, é neste modelo ideal, que os textos evangélicos apresentam, que se vão “desenhando” os valores estruturantes de toda a convivência humana, relacional, conjugal, eclesial; de toda a família em que as relações interpessoais estão marcadas pela vida de “comunhão” no seio de uma comunidade que São João Crisóstomo qualifica de “igreja doméstica”. Feliz expressão que desvenda horizontes novos que mobilizam as melhores energias humanas. Feliz expressão que mostra a riqueza de uma realidade insubstituível, apesar da fragilidade que a constitui. Feliz expressão que alia a seiva que circula nas veias do corpo aos laços da fé, gerando uma harmonia digna do maior apreço.
Hoje, somos convidados a relançar o olhar atento e carinhoso à nossa família de sangue, a admirar o que lhe dá vigor e consistência e é fruto do nosso cuidado constante, a reconhecer que há sombras a iluminar e limites a superar. Numa atitude sadia, sem ingredientes de fantasia adolescente nem de desilusão acabada. O Natal ensina-nos a viver um realismo confiante.
Lucas condensa o que acontece a Jesus na família de Nazaré em duas simples frases: “ O Menino crescia, tornava-se robusto e enchia-se de sabedoria. E a graça de Deus estava com Ele”. Resumo denso e eloquente, onde brilha a luz que irradia para todo o mundo; onde, para evitar dispersões, se resume o núcleo da novidade cristã, que convém saborear e transmitir.
A família de Nazaré mostra-nos o valor do acolhimento que se abre à surpresa de Deus e, como humana que é, dá o seu consentimento livre após o diálogo de clarificação indispensável. O Evangelho de João faz-nos ver a origem da decisão de Deus quando o Seu Verbo de faz carne. Lucas e Mateus narram com delicados pormenores o que acontece a Maria e José. E, segundo eles, Jesus é o Mestre do acolhimento incondicional. Que oportunidade de mensagem quando tantas atitudes mostram fronteiras fechadas, casas trancadas, corações blindados. A par de tanta abertura e solidariedade, a sociedade e a Igreja, a família e as associações humanitárias ainda persistem na discriminação e na exclusão. Nem todas por igual, é certo. Mas com acentos bem notórios e indignos da nossa dignidade comum.
Maria e José acolhem-se mutuamente: como noivos que aguardam o tempo necessário para a vida em comum; como responsáveis pela vida nascente da parte de Deus em Maria; como fiéis cuidadores do Menino e de suas múltiplas necessidades. O relato deste cuidado traz-nos um fio de ouro a brilhar nas peripécias que vão ocorrendo e nas atitudes de paciência humilde e de coragem confiante que vão cultivando.
Da experiência inicial de acolhimento mútuo, abrem-se aos outros, a Isabel e a João Baptista, a Simeão, a Ana e a tantos nazarenos que lhe batem à porta ou encontram na rua. A vizinhança constitui um bom espaço para o exercício deste valor humano. E a família alargada, também, sobretudo os idosos que o Papa Francisco considera, por vezes, “exilados ocultos” nas suas casas ou na dos filhos, em lares e residências.
Do aconchego na gruta de Belém, apesar da pobreza inclemente, e silêncio contemplativo e da admiração suscitada pelo que se diz do seu Menino, são forçados a partir para o desterro, a enfrentar a intempérie do deserto, a abrigar-se em qualquer recanto do país de destino. São induzidos a regressar à terra natal, a estar em Jerusalém e satisfazer as prescrições legais, a debater-se com desencontros numa das idas ao Templo com o seu Menino, agora adolescente.
As fronteiras do seu coração iam alargando. E as margens do possível atingem uma medida única: a de ver o Filho deixar a casa familiar e começar a sua missão em público, como profeta itinerante nas terras da Galileia. Atitude quem nem os outros familiares compreendem. Só se aceita por amor confiante e dedicação exclusiva porque “a graça de Deus estava com Ele”, afirma Lucas na conclusão da leitura de hoje.
Maria, sua Mãe, deixa-nos um eco da sua estranheza: “Filho, porque procedeste assim connosco?” Pergunta a que Jesus responde com outra que desvenda a nova dimensão que já vive e que se propõe anunciar: “Não sabíeis que devo estar na casa de meu Pai?”. O caminho para Jerusalém deixa-nos indicações preciosas e claras sobre este ponto.
Os conterrâneos de Nazaré fixam-se no tempo em que vive com eles, ia à sinagoga, trabalha e convive. “Nascido de Maria, Jesus de Nazaré andou pelos caminhos de terra da humanidade, afirma em síntese de retrato que alarga os tempos iniciais.
Sim é Ele, podemos dizer nós com fé de convicção. A sua Família ficará a ser para sempre o referencial para a nossa humanidade e os seus valores a iluminar os nossos esforços generosos em lhes darmos rosto irradiante de beleza, amor e paz. E a Igreja, como mãe solícita, sobretudo das pessoas mais necessitadas, recomenda o Papa Francisco: “deve pôr um cuidado especial em compreender, consolar e integrar”, evitando agravar a sua situação já tão sofrida. (AL 49).
A família de Nazaré ensina-nos a ser agradecidos. Tal como Jesus tem em José e Maria os seus referentes iniciais, assim todo o ser humano necessita absolutamente de os ter. Não pode haver orfãos biológicos, sociais, culturais ou religiosos. O sentimento de pertença está primeiro. O olhar sorridente da mãe e os braços robustos do pai ajudam a estrurar a personalidade de cada um/a.
Em família, Jesus crescia em humanidade, robustecia-se em sociabilidade e enchia-se de sabedoria. Oxalá se possa dizer o mesmo de todas as crianças do mundo porque beneficiam do suporte de um ambiente familiar tão consistente que os pais e avós lhes proporcionam.
Georgino Rocha
quinta-feira, 28 de dezembro de 2017
terça-feira, 26 de dezembro de 2017
Depois do Dia de Natal
Depois do Dia do Natal e do descanso a que a agitação natalícia me obrigou, agitação apetecida que nos faz mais felizes, volto, lentamente, ao dia a dia. E para começar ou recomeçar, nada melhor do que passar os olhos pela comunicação social cheia do bom e do mau que há no mundo: Guerras, raivas, tristezas, acidentes e mortes, mas também alegrias, festas, generosidade e muitos sonhos. E de tudo quanto li e vi, deixo este simples texto de Sena Santos, no Sapo:
Valha-nos o Papa
domingo, 24 de dezembro de 2017
Bento Domingues — Natal: biologia ou cristologia?
«Jesus Cristo realiza, corrige e supera as esperanças não só de Israel, mas de toda a humanidade. O movimento cristão é um movimento de saída universalista. Está na sua lógica derrubar os muros criados entre povos e religiões. Jesus Cristo é, na sua própria pessoa, a reconciliação»
1. A Eucarística do passado Domingo começou com um manifesto poético e musical centrado na alegria do Evangelho. Esta flor da fé cristã é, muitas vezes, sufocada por regras, preceitos, proibições e rezas que a cobrem de tristeza. Quando um membro da assembleia celebrante lembrou que o Papa Francisco fazia anos, o canto e as palmas festejaram nele a esperança de um mundo outro e de uma Igreja outra, interpelada a destruir todos os muros.
Estaremos hoje a celebrar os anos do menino Jesus? Não são as incertezas históricas acerca do dia, do ano e do lugar de nascimento que impedem essa festa. O Natal é a evangelização inculturada de uma festa cósmica e política do império romano [1]. Não se manifesta como a primeira preocupação dos escritos cristãos.
S. Paulo não mostrou particular interesse pelo itinerário terrestre de Jesus de Nazaré. Era, como toda a gente, nascido de uma mulher. Neste caso sob a Lei judaica que ele julgava ultrapassada. Nada indica que o tivesse conhecido pessoalmente. A sua experiência é de ter sido sacudido até às raízes por Jesus ressuscitado. Viver com Ele era o que lhe interessava e convencer as outras pessoas de que a morte tinha sido vencida. Esta não era a última palavra sobre a existência humana [2]. A ressurreição realizava o eterno encontro com Jesus na glória do Deus vivo. Para S. Paulo, o mundo estava a chegar ao fim. Habitar com Ele para sempre era o seu grande desejo. A sua tarefa evangelizadora destinava-se a mostrar a todos que a última estação da viagem da vida não era a morte. Essa era só a penúltima. Insiste, na primeira Carta aos Tessalonicenses, o primeiro escrito do Novo Testamento (NT), que nem os que morreram há muito tempo nem os que morrem agora estão perdidos. O Senhor virá ao encontro de todos. Sente a urgência em dizer isto por causa da alegria que descobriu nessa esperança [3]. Em questão de prazos, S. Paulo tinha-se enganado. Na Segunda Carta tem de corrigir a sua precipitação, pois o resultado foi catastrófico: alguns dentre vós levam vida à toa, muito atarefados a não fazer nada. A ordem que vos deixei foi esta: quem não quer trabalhar que não coma [4] e acabam as vãs especulações.
S. Pedro, na Segunda Carta, resolve a questão do tempo de forma muito mais aleatória: um dia diante do Senhor é como mil anos e mil anos como um dia [5].
2. Como o fim nunca mais vinha, as comunidades cristãs não podiam viver só da pregação de que o crucificado era, agora, o ressuscitado para sempre [6]. Não tinham conhecido Jesus de Nazaré nem acompanhado o seu percurso. Era preciso quem contasse o que se tinha passado para quando já não houvesse ninguém para dizer: eu vi, eu sei como foi. Sem isso, como interpretar o sentido da revolução do Nazareno para os novos tempos?
Assim nasceram, no seio das comunidades cristãs, diversas pela geografia e pela cultura, diferentes narrativas. S. Lucas explica essa situação de forma muito clara: “Visto que muitos já tentaram compor uma narração dos factos que se cumpriram entre nós — conforme no-los transmitiram os que, desde o princípio, foram testemunhas oculares e servidores da Palavra —, a mim também me pareceu conveniente, após acurada investigação de tudo, desde o princípio, escrever-te, de modo ordenado, ilustre Teófilo, para que verifiques a solidez dos ensinamentos que recebeste” [7].
Nasciam, assim, as Cristologias Narrativas. A primeira, a de S. Marcos, começa por apresentar Jesus a pregar o Evangelho de Deus. O tempo está pronto e o Reino de Deus está próximo. Mudai de mentalidade e acreditai no Evangelho.
Marcos começa pelo fundamental. Mas a curiosidade não está satisfeita. Este Jesus nasceu adulto? Mateus e Lucas escreveram aquilo a que se chama, impropriamente e de modo diverso, os Evangelhos da Infância. Apresentam a alegria do nascimento de Jesus e de João Baptista. Aí, começam as confusões.
Ao não se ter em conta que são admiráveis narrativas teológicas, desliza-se para uma biologia de conveniência que acaba por ocultar o essencial. Continua-se a discutir a forma como Jesus foi concebido e como nasceu. Não faltaram as declarações mais absurdas: Nossa Senhora, virgem antes, durante e depois do parto. Jesus passou por Maria como o sol pela vidraça.
Ao evitar a reflexão, sobre os textos, sobre o seu tecido simbólico e sobre os seus jogos de linguagem, recorre-se a algo muito certo — a Deus nada é impossível —, mas resvala-se para concepções pseudomilagrosas que deixam mal o Espírito Santo, Maria de Nazaré, Jesus e S. José. Perdeu-se a beleza e a verdade dessas espantosas narrativas. Quando se procede assim, pode-se perguntar: então por que é que não se ficou apenas com o Evangelho de S. Marcos?
3. Os textos do NT interpretam o sentido cristão do Antigo: Jesus Cristo realiza, corrige e supera as esperanças não só de Israel, mas de toda a humanidade. O movimento cristão é um movimento de saída universalista. Está na sua lógica derrubar os muros criados entre povos e religiões. Jesus Cristo é, na sua própria pessoa, a reconciliação. Como dirão os textos: Ele é a nossa paz [8]. Estas declarações interpretam o sentido da prática histórica de Jesus de Nazaré. Isto que se nota nas narrativas da sua vida adulta não é fruto do acaso. É fruto de um desígnio de Deus. O seu agir espantoso não era uma sucessão de milagres. Era Deus no tecido de uma vida humana, igual a nós excepto na maldade. Nasce humano e foi crescendo em idade, sabedoria e graça, perante o espanto de Maria [9]. O Emmanuel não é só Deus connosco, é um de nós.
Não nasce só de Israel e para Israel. Nasce de toda a humanidade e para toda a humanidade, como mostra a genealogia de Lucas: filho de Adão, filho de Deus [10].
As narrativas do NT nasceram para continuar a prática de Jesus na vida das pessoas e das comunidades. Isso aconteceu há dois mil anos. Às vezes caímos na tentação de pensar que basta uma nova linguagem da Fé para os dias de hoje. É um pensamento justo e curto. São indispensáveis narrativas que contem as histórias de vida do encontro do Evangelho da Alegria com as situações actuais da nossa humanidade. Se não exprimirem esse encontro real, só podem produzir reportagens de literatura barata.
O Papa Francisco sabe que a Igreja não tem de resolver os problemas de há dois mil anos. O que o preocupa é o casamento vital da Igreja com as situações que precisam de um hospital de campanha. O importante não são as festas do Natal, mas a transformação da vida numa festa para todos. Como ele diz: “A luz de Natal és tu quando com uma vida de bondade, paciência, alegria e generosidade consegues ser luz a iluminar o caminho dos outros.”
Boas Festas!
Frei Bento Domingues no PÚBLICO
[1] José Manuel Bernal, Para Viver o Ano Litúrgico, Gráfica de Coimbra, 2001
[2] Cf. 1Cor 15
[3] 1Ts 4, 13-18
[4] 2Ts 2 – 3
[5] 2Pd 3, 8-14
[6] 1Cor
[7] Lc 1, 1-4
[8] Ef 2, 14 ss
[9] Lc 2, 41-52
[10] Lc 3, 23-38; comparar com Mt 1, 1-17
Georgino Rocha — EM JESUS, DEUS FAZ-SE HUMANO. ACREDITA!
«Fazer Natal é mergulhar nesta maravilha, deixar-se banhar pela sua originalidade, imbuir-se da sua “magia e encanto”, cuidar da criança que há em nós, cultivar o sorriso na vida e a simplicidade educada na relação, ser, dentro do possível, discípulo~missionário de Jesus. Fazer Natal é reconfigurar as arcaicas imagens de Deus que povoam o nosso imaginário e, ainda, muitas orações litúrgicas e devoções populares.»
Definitivamente
O evangelho de João, antes de apresentar os relatos da vida de Jesus, abre com um solene Prólogo, levando-nos em visita ao princípio de tudo. Faz-nos lembrar o artista/escritor que só narra a beleza do rio e das suas margens, da água fluente e do seu percurso, depois de nos levar à fonte para, aí, contemplar e saborear as origens de tanta abundância e frescura. Bela opção, a augurar um significativo texto com episódios emblemáticos da missão de Jesus e do seu alcance universal.
A fonte de tudo é Deus. Ele está no princípio, quer ser o protagonista no meio, caminhando connosco e com toda a criação, e acolher-nos no fim. Paulo lembra aos atenienses que n’Ele vivemos, nos movemos e existimos; como alguns dos vossos poetas disseram: «Somos da raça de Deus» (Act 17, 28).
O manancial de Deus manifesta a sua vida íntima a jorrar na criação do mundo e da biodiversidade, por força da sua Palavra, o seu Verbo, na superação do caos pela harmonia, das trevas pela luz, da solidão pela comunhão. A Palavra divina, sábia e fecunda, ergue-se em som vibrante que se repercute ao longo da história: ”Façamos o ser humano à nossa imagem e semelhança” e toma o rosto do masculino e do feminino, em atração de reciprocidade complementar.
Quando chega o momento aprazado por Deus, Ele que tinha falado de muitos modos e vezes, sobretudo pelos profetas, envia o seu Filho nascido de Maria, a jovem de Nazaré, a quem é dado o nome de Jesus. Decisão admirável, apelativa e reconfortante. Decisão arriscada, pois o ser humano, ao abrigo da liberdade, é capaz do melhor e do pior, como a história documenta abundantemente.
Deus faz-se humano em Jesus, recém-nascido. O espaço de encontro fica devidamente assinalado pela estrela de Belém. As circunstâncias envolventes o configuram e caracterizam. E do silêncio eloquente da gruta ergue-se o apelo/convite: Vinde e reconhecei a grandeza da pequenez, a humanidade do divino, a divindade do humano. Só em Jesus, vemos e conhecemos a Deus. Só em Jesus, vemos e conhecemos o homem. Que maravilha e encanto! “Da sua plenitude todos nós recebemos graça sobre graça”, refere o autor da narração, que afirma ao concluir: “A Deus, nunca ninguém O viu. O Filho Unigénito, que está no seio do Pai, é que O deu a conhecer”.
Quem pode imaginar maravilha tão desconcertante!? Deus despojado de tudo aquilo com que adornaram a sua aparição na história, assumindo a fragilidade de uma criança como título de glória, dependendo de cuidados vitais de proximidade imediata, sem outra dignidade que a do ser humano e dos direitos inalienáveis que lhe são reconhecidos. Quem pode imaginar a novidade, agora exposta, do caminho de realização pessoal e relacional, de êxito na vida e de sucesso na missão?! Deus para humanizar a sociedade e o mundo opta pelos sem poder nem riqueza, sem prestígio nem influência. E aposta na convivência e na comunhão com todos, no humano que há em cada pessoa.
O que podemos conhecer de Deus é o que brilha “no menino envolto em panos e deitado na manjedoura”, adianta Lucas numa expressão cheia de poesia e ternura. A grandeza de Deus é a humanidade deste recém-nascido. Deus torna-se homem como nós, “um da mesma massa que nós” no dizer de Santo Hipólito de Roma.
Ao agir assim, deixa perceber o que pretende: Que o homem, seguindo as pisadas do Filho Jesus Cristo, encontre Deus em plenitude. “Eis a maravilhosa permuta celebrada no Natal. A encarnação narra que tudo o que é humano, da conceção à morte da pessoa, é objecto da solicitude e do interesse de Deus, está envolvido pelo amor de Deus”. (L. Manicardi, (2017), Comentário à Liturgia dominical e festiva, Ano B, Paulinas, p. 36. E este autor prossegue: “A encarnação diz-nos que a vida de Jesus, no seu desenrolar quotidiano e humaníssimo, feito de encontros e de amizades, de serviço e de amor, de dedicação radical aos irmãos e de obediência ao Pai, ensina-nos a viver segundo Deus”.
Perante esta realidade sublime, brota espontânea a exclamação de São Gregório de Nazianzo: “Ó admirável comércio!”; comércio/permuta de dons que explicita, dizendo: “Aquele que enriquece os outros torna-se pobre. Aceita a pobreza de minha condição humana para que eu possa receber os tesouros de sua divindade. Aquele que possui tudo em plenitude, aniquila-se a si mesmo; despoja-se de sua glória por algum tempo, para que eu participe de sua plenitude”.
Fazer Natal é mergulhar nesta maravilha, deixar-se banhar pela sua originalidade, imbuir-se da sua “magia e encanto”, cuidar da criança que há em nós, cultivar o sorriso na vida e a simplicidade educada na relação, ser, dentro do possível, discípulo~missionário de Jesus. Fazer Natal é reconfigurar as arcaicas imagens de Deus que povoam o nosso imaginário e, ainda, muitas orações litúrgicas e devoções populares.
Dom António Moiteiro, na sua mensagem de Natal, realça uma dimensão consequente ao afirmar: “O amor desceu à terra. A caridade chegara ao coração dos homens, vinda do coração de Deus, para fazer a sua morada definitiva entre nós… Só a partir da humildade, da pobreza interior, da simplicidade de coração, se poderá estar preparado para descobrir na humanidade a divindade de Deus, que quis enraizar-se na história dos homens. Esta humildade é inspiração para todos os fiéis”.
Definivamente, em Jesus Deus faz-se humano. Acredita, admira, celebra e testemunha. Boas Festas!
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