quarta-feira, 18 de junho de 2008
As mulheres amanham a terra
“Nas Gafanhas da Nazaré, da Encarnação, na d'Aquém, na do Carmo, na Vagueira,... em todas as Gafanhas de Ílhavo, as mulheres amanham a terra..."
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Projecto de qualificação urbana da Gafanha alterado
O edifício da Junta de Freguesia da Nazaré será ampliado e, na sua envolvente, será criado um piso subterrâneo para estacionamento e uma área comercial
A autarquia ilhavense decidiu proceder a algumas alterações ao projecto base de qualificação urbana da área envolvente ao antigo Mercado da Gafanha da Nazaré, que havia sido seleccionado no concurso de ideias. De acordo com o vereador das Obras e Equipamentos, Fernando Caçoilo, foram-lhe acrescentadas algumas valências consideradas necessárias, nomeadamente um espaço subterrâneo (espécie de cave com 25 mil metros quadrados), com capacidade para acolher cerca de 100 viaturas, a criação de uma zona comercial nas laterais dessa zona envolvente, “de forma a criar um intercâmbio com a Junta de Freguesia, e o aumento da parte do edifício em que funcionarão os serviços da Junta de Freguesia em cerca de 20 por cento, “para que reste mais espaço para os CTT”, bem como para a instalação de um bar.
Estas intervenções, que passam a representar um investimento de cerca de 3.800.000 euros (mais 300 mil euros que o projecto inicial), serão executadas pela sociedade Mais Ílhavo, SA.
E tendo em conta a entrega da obra a este consórcio privado, João Roque, vereador da oposição socialista, questiona a futura legitimidade de posse por parte da Junta de Freguesia da Nazaré, ao que Ribau Esteves responde estar assegurada. “O nosso trabalho é desenvolvido em conjunto com a Junta de Freguesia, enquanto seu proprietário e utilizador exclusivo”, sublinha o autarca.
À questão de João Roque acerca das acessibilidades para deficientes, o edil garante estarem previstas, com um “elevador para circulação entre os dois pisos do edifício”.
Manuel Serra congratula-se com as obras
Manuel Serra, presidente da Junta da Gafanha da Nazaré, entidade parceira neste projecto, congratula-se pelas obras que serão efectuadas, considerando que “vêm ao encontro das necessidades sentidas e constituem uma resposta ao desenvolvimento futuro” daquela freguesia.
PONTES DE ENCONTRO
Os protestos de hoje e as opções (urgentes) para o futuro
Nas primeiras duas semanas deste mês de Junho, o país foi confrontado com a greve dos pescadores e com o bloqueio dos camionistas. Seguiu-se a paragem dos carros de reboque, sobretudo na zona Sul e, ontem, os buzinões rodoviários, fizeram-se ouvir, um pouco por todo o país. As ameaças de novas suspensões, caso das ambulâncias, taxistas e manifestações dos agricultores já se fizeram, também, anunciar. Motivo: a escalada dos preços do petróleo e os custos acrescidos que representam para estes (e outros) sectores de actividade. Em alguns países europeus (França, Itália, Holanda e Espanha, por agora), alguns destes protestos também têm tido lugar, pelo que não é sério dizer (ou tentar induzir) que se trata de um problema só português, como tenho ouvido.
Com mais ou menos habilidade, com algumas vulnerabilidades à mistura ou, como referiu a oposição, com uma total incapacidade em prever estes acontecimentos e da falta de autoridade demonstrada, o Governo português tem negociado com os representantes dos sectores em luta e as coisas têm voltado, para já, ao ritmo normal de funcionamento. Ao mesmo tempo, o Governo vai dizendo que aquilo que concede às reivindicações, que estão na base destas lutas, não põe em causa o equilíbrio das contas públicas, ainda que sejam os contribuintes, como sempre, a pagar a factura. Seja como for, tudo o que se está a fazer, não passa de paliativos de curto alcance. O problema de fundo (o preço de petróleo) persiste sem solução e parece não querer inverter a tendência de subida. Deste modo, se nada mais for feito, as preocupações, os conflitos generalizados, as lutas e convulsões sociais irão agravar-se, nestes e noutros sectores que, até agora, ainda não se manifestaram. A nível interno, o Governo pode descer o ISP (demasiado elevado para o nível de vida português) ou não permitir que as gasolineiras tenham tanto lucro. Mas, mesmo que o venha a fazer (o que acho muito pouco provável), não passariam de medidas com efeitos de médio prazo e não orientadas para um futuro que tem que assentar num consumo cada vez menor de petróleo, não só porque este não é eterno, os seus preços tornar-se-ão incomportáveis e a transição para uma sociedade pós-petróleo é uma realidade reconhecida como inevitável e algumas medidas, insuficientes, têm sido dadas nesse sentido, à escala mundial.
De resto, querer manter o estilo da baixa e velha política, em que tudo serve para o bota abaixo e os argumentos utilizados falam de tudo menos dos novos desafios de hoje e amanhã, sugerem que alguns ainda não entenderam (ou fazem que não entendem) que o mundo está a viver uma crise diferente das anteriores e que esta vai obrigar, a bem ou a mal, a alterar, radicalmente, os hábitos de vida pessoal das populações, a nível global, mesmo sabendo que há sempre alguém que passa ao lado de tudo isto.
O país necessita, pois, de intervenções lúcidas e corajosas e de responsáveis capazes de as levarem a cabo. Destaco a excessiva e crónica dependência petrolífera que o afecta e a insuficiente aposta que se tem feito na rede ferroviária, que deve ser modernizada, ampliada e incentivada, para o transporte de pessoas e mercadorias. Se no caso do petróleo deve haver uma política coordenada com a União Europeia, para que esta aposte, em conjunto, na diversificação das suas fontes energéticas, no segundo caso, há que deixar de apostar tanto nas vias rodoviárias. Deste modo, o Governo tem o dever e a obrigação de deixar de lançar concursos atrás de concursos de novas auto-estradas ou SCUT, pelo que irá ter de rever todos os seus projectos neste tipo de infra-estruturas, que tão onerosas são para o país, apostando na ferrovia, na modernização da frota comercial, com veículos menos poluentes e económicos, e na revitalização das estruturas portuárias. Também o plano aeroportuário nacional vai ter que ser adaptado a estas novas realidades, a fim de não se criarem autênticos elefantes brancos que podem comprometer gerações e gerações de portugueses e o futuro do país.
Ainda que tudo isto não traga resultados a curto prazo, urge que as medidas para a sua implementação não fiquem esquecidas algures numa secretária e se tornem prioritárias. De outro modo, haverá toda a razão para dizer que o Governo (este ou outro) não soube ler os sinais dos tempos nem prever o futuro das gerações vindouras.
Nas primeiras duas semanas deste mês de Junho, o país foi confrontado com a greve dos pescadores e com o bloqueio dos camionistas. Seguiu-se a paragem dos carros de reboque, sobretudo na zona Sul e, ontem, os buzinões rodoviários, fizeram-se ouvir, um pouco por todo o país. As ameaças de novas suspensões, caso das ambulâncias, taxistas e manifestações dos agricultores já se fizeram, também, anunciar. Motivo: a escalada dos preços do petróleo e os custos acrescidos que representam para estes (e outros) sectores de actividade. Em alguns países europeus (França, Itália, Holanda e Espanha, por agora), alguns destes protestos também têm tido lugar, pelo que não é sério dizer (ou tentar induzir) que se trata de um problema só português, como tenho ouvido.
Com mais ou menos habilidade, com algumas vulnerabilidades à mistura ou, como referiu a oposição, com uma total incapacidade em prever estes acontecimentos e da falta de autoridade demonstrada, o Governo português tem negociado com os representantes dos sectores em luta e as coisas têm voltado, para já, ao ritmo normal de funcionamento. Ao mesmo tempo, o Governo vai dizendo que aquilo que concede às reivindicações, que estão na base destas lutas, não põe em causa o equilíbrio das contas públicas, ainda que sejam os contribuintes, como sempre, a pagar a factura. Seja como for, tudo o que se está a fazer, não passa de paliativos de curto alcance. O problema de fundo (o preço de petróleo) persiste sem solução e parece não querer inverter a tendência de subida. Deste modo, se nada mais for feito, as preocupações, os conflitos generalizados, as lutas e convulsões sociais irão agravar-se, nestes e noutros sectores que, até agora, ainda não se manifestaram. A nível interno, o Governo pode descer o ISP (demasiado elevado para o nível de vida português) ou não permitir que as gasolineiras tenham tanto lucro. Mas, mesmo que o venha a fazer (o que acho muito pouco provável), não passariam de medidas com efeitos de médio prazo e não orientadas para um futuro que tem que assentar num consumo cada vez menor de petróleo, não só porque este não é eterno, os seus preços tornar-se-ão incomportáveis e a transição para uma sociedade pós-petróleo é uma realidade reconhecida como inevitável e algumas medidas, insuficientes, têm sido dadas nesse sentido, à escala mundial.
De resto, querer manter o estilo da baixa e velha política, em que tudo serve para o bota abaixo e os argumentos utilizados falam de tudo menos dos novos desafios de hoje e amanhã, sugerem que alguns ainda não entenderam (ou fazem que não entendem) que o mundo está a viver uma crise diferente das anteriores e que esta vai obrigar, a bem ou a mal, a alterar, radicalmente, os hábitos de vida pessoal das populações, a nível global, mesmo sabendo que há sempre alguém que passa ao lado de tudo isto.
O país necessita, pois, de intervenções lúcidas e corajosas e de responsáveis capazes de as levarem a cabo. Destaco a excessiva e crónica dependência petrolífera que o afecta e a insuficiente aposta que se tem feito na rede ferroviária, que deve ser modernizada, ampliada e incentivada, para o transporte de pessoas e mercadorias. Se no caso do petróleo deve haver uma política coordenada com a União Europeia, para que esta aposte, em conjunto, na diversificação das suas fontes energéticas, no segundo caso, há que deixar de apostar tanto nas vias rodoviárias. Deste modo, o Governo tem o dever e a obrigação de deixar de lançar concursos atrás de concursos de novas auto-estradas ou SCUT, pelo que irá ter de rever todos os seus projectos neste tipo de infra-estruturas, que tão onerosas são para o país, apostando na ferrovia, na modernização da frota comercial, com veículos menos poluentes e económicos, e na revitalização das estruturas portuárias. Também o plano aeroportuário nacional vai ter que ser adaptado a estas novas realidades, a fim de não se criarem autênticos elefantes brancos que podem comprometer gerações e gerações de portugueses e o futuro do país.
Ainda que tudo isto não traga resultados a curto prazo, urge que as medidas para a sua implementação não fiquem esquecidas algures numa secretária e se tornem prioritárias. De outro modo, haverá toda a razão para dizer que o Governo (este ou outro) não soube ler os sinais dos tempos nem prever o futuro das gerações vindouras.
Vítor Amorim
terça-feira, 17 de junho de 2008
Igreja católica cria conselho nacional para harmonizar gestão de bens culturais
A Igreja católica portuguesa vai reunir pela primeira vez quarta e quinta-feira o seu novo Conselho Nacional dos Bens Culturais para optimizar a gestão do património existente.
«A Igreja tem de estruturar melhor a gestão dos bens culturais nas dioceses», considerou o bispo do Porto e presidente da Comissão Episcopal da Cultura, na véspera do primeiro encontro magno dos organismos católicos nesta matéria. Na primeira assembleia do Conselho Nacional, representantes de todas as dioceses vão apresentar a avaliação dos bens existentes para depois estabelecer regras comuns de gestão «desde a organização dos serviços diocesanos vocacionados até à definição de políticas globais de actuação nas mais diversas áreas patrimoniais (material e imaterial)», refere a organização do encontro.
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NA LINHA DA UTOPIA
Valores comuns?
1. Foi na América que há dias um acidente especial foi notícia de destaque. Tratava-se de um senhor idoso que ao atravessar uma estrada foi atropelado. Ficou caído no chão. Veio o carro seguinte e passou por cima. As pessoas, quer dos carros quer dos passeios da berma abrandavam um pouco, mas logo seguiam a sua vida. A pessoa atropelada logo viria a falecer. Mas o mais gritante do acontecimento foi a passividade dos transeuntes até alguém “pôr a mão” ao acidentado. A notícia foi badalada, e abordada mesmo a questão de fundo do individualismo e da indiferença dos caminhantes perante um “irmão humano” estendido na estrada. Foram as imagens da câmara de filmar da estrada que gravaram esse indiferentismo e o salve-se quem puder da vida tida de moderna das designadas grandes cidades do mundo. Mesmo sem as generalizações sempre injustas, dá muito que pensar sobre o modelo de civilização em andamento pelas estradas da vida ocidental.
2. Foi já no mês passado que um grupo musical francês, da chamada arte de música electrónica, provocou um aceso debate sobre a polémica de um vídeo colocado na internet, no Youtube. A arte do vídeo da música tinha como título «stress». As imagens, acompanhadas de enérgica música electrónica, mostravam um grupo de jovens dos subúrbios de Paris a saírem do seu bairro e, por onde iam passado, a provocarem graves distúrbios públicos: «Roubo, assédio, destruição de um café, confrontos com a polícia, carjacking, terminando com a queima de um veículo», foram as fortes imagens seleccionadas para passar a mensagem musical. Polémica instalada, os defensores deste estilo de liberdade respondem com arte cinematográfica, dizendo que o vídeo é uma magnífica obra de arte semelhante a filmes como «O Ódio» e «Manual de instruções para crimes banais». Títulos evocadores de arte mortífera.
3. Deste caso francês, que quase regista os motins dos bairros pobres incitando a violência, o grupo musical e a respectiva editora dizem que se trata de arte e que é inofensivo, pretendendo caracterizar a cobertura que os média fazem quando ocorrem os motins dos subúrbios de Paris. Dá que pensar, e para mais novamente no país da razão que parece continuar a extravasar a própria ordem da racionalidade. A montante e a jusante, quer como facto polémico quer na sua resposta, sente-se que um certo património de valores comuns de dignidade da pessoa humana e da não-violência se vão expirando. Claro que há que ter cuidado com a referência a «valores comuns» em tempos da proclamação exaltada dos «valores individuais». Não existam ilusões, sem sobreposições, precisamos mesmo de valores comuns na base da dignidade da Pessoa, esta na sua vocação ao sentido de pertença e de comunidade. Quando não, este género de «acidentes» tem grave tendência para a multiplicação. A sensibilidade e o bom senso, enxertados na sólida formação humana e cívica, serão os valores comuns que garantem a dignificação pessoal e o sentido da história comum. Mas que lugar estes ocupam na formação contemporânea?
Peditórios
Com muita frequência, sou abordado, em casa ou na rua, com pedidos de contribuição para instituições diversas, maioritariamente dedicadas, segundo me dizem, a apoiar toxicodependentes em recuperação, doentes com SIDA e crianças abandonadas.
Há tempos, ao indagar a sede da instituição que pedia o meu apoio, recebi como resposta que se situava numa rua por sinal perto da minha. Fiquei espantado. E disse que achava estranho existir uma instituição com essa vocação tão perto de mim sem eu saber. Eu que julgava conhecer a minha terra e a sua vocação para apoiar quem sofre.
Claro que se tratava de mais um grupo que anda por aí a governar a vidinha à custa da boa-fé dos outros. A partir daí, confesso que fiquei mais desconfiado.
Hoje aconteceu mais um desses peditórios. Vêm de longe, aterram e pedem. E se porventura não contribuímos, não faltam, por vezes, os azedumes… E se pergunto, como perguntei, se o Estado não apoia a sua instituição, logo vem a resposta de que não, o que as abriga a recorrer às pessoas para poderem sobreviver.
Eu gostava de saber se as autoridades não têm possibilidades de averiguar a honestidade e veracidade destas instituições. Penso que as forças policiais, delicadamente, podem muito bem fazer isso, sem molestar ninguém. Não serão essas pessoas obrigadas a apresentar credenciais para poderem fazer esses peditórios?
FM
Congresso Missionário, Oportunidade a Valorizar
"Recomendo insistentemente a todos os párocos que valorizem os subsídios recebidos da Comissão Episcopal das Missões e do nosso Secretariado Diocesano de Animação Missionária. Peço que se aproveite o envio dos jovens voluntários que nos meses de Verão fazem experiências missionárias e se promovam encontros de reflexão e de oração, convívios e festas em que haja espaço para a partilha de bens e para o testemunho. Exorto vivamente as famílias, sobretudo as que sentem a urgência da causa missionária, a que tomem iniciativas que julguem adequadas e acompanhem com solicitude e gratidão os que se dedicam inteiramente à Missão."
Nota Pastoral do Bispo de Aveiro sobre o Congresso Missionário 2008
Uma Europa de Valores
Mais uma vez, a União Europeia foi despertada do seu adormecimento institucional pelos cidadãos. Neste caso, o «Não» da Irlanda tem um impacto que ultrapassa, em muito, o âmbito nacional, podendo colocar em risco o Tratado de Lisboa de que os governantes portugueses tanto se orgulham.
Os cidadãos europeus parecem ser um problema para quem lidera a União e está, muitas vezes mergulhado em questões menores ou demasiado virado para si mesmo: quando os europeus não participam, há queixas do seu alheamento; quando participam, são pouco dóceis aos desígnios comunitários e têm o mau hábito de se lembrarem dos problemas com que convivem no seu dia-a-dia e castigarem quem comanda os seus destinos.
“Bruxelas” está a deixar de ser o símbolo de paz e unidade europeias para passar a ser uma espécie de papão para as faixas da população mais desprotegidas. Se quiserem ser levados a sérios, os mentores desta nova Europa (reunificada, para os políticos; reconciliada, para a Igreja) têm de estar atentos às necessidades concretas das populações que são chamados a servir – esse fim nobre da política que cada vez mais parece mais esquecido...
Enquanto a vida passa lá fora e a União discute sobre o que há-de fazer com os seus documentos, o preço do petróleo não pára de aumentar, as greves e as manifestações de descontentamento multiplicam-se, a crise alimentar adensa as nuvens negras no horizonte. O papão não será o culpado de tudo, mas tem de fazer mais para esclarecer e ajudar os habitantes deste Velho Continente, uma referência para todo o mundo.
A Europa dos 27 precisa de redescobrir-se, nos valores que lhe deram origem e nas intuições que fundamentam esses valores, de forma a querer ser “seguida” pelos seus e pelo mundo. Negligenciar este património é comprometer o futuro deste projecto político.
Neste contexto, é impossível neglicenciar a importância do diálogo com a sociedade civil e com as confissões religiosas. A presença da Igreja neste continente é um dado incontornável, visível na construção dos valores que moldaram a Europa e, pelo seu património cultural, praticamente nas ruas de cada cidade.
O diálogo com o passado tem neste campo dos Bens Culturais da Igreja um desafio particular, simbólico. Vale a pena investir naquilo que distingue a nossa casa e nos ajuda a reconhecê-la.
Octávio Carmo
Espírito de Entreajuda
"Afinal, como tantas vezes me confidenciou o tio João, as rivalidades não eram as-sim tantas entre os diversos lugares da Gafanha da Nazaré. Aliás, tem-se mantido na índole dos gafanhões das diversa gerações um certo espírito cordato e de cooperação mútua, bem patente nas inúmeras associações que ao longo dos tempos nasceram e se desenvolveram nesta terra."
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PONTES DE ENCONTRO
Deus: Criador do Homem e do Universo!
E se, de repente, qualquer um de nós tivesse um contacto com um ser extra-terrestre, o que aconteceria, para além da natural estupefacção e possível receio de tão inesperado encontro?
Não é fácil de responder a uma questão destas, sobretudo quando colocada no campo das hipóteses ou das probabilidades de poder, um dia, acontecer. No entanto, esta é uma questão que exige uma séria e profunda reflexão, tanto pela parte dos que acreditam em Deus, como por parte daqueles que não são crentes.
Para aqueles que acreditam no Deus Único, Trinitário, Criador de todas as coisas do Universo e de todos os seres vivos nele existentes, a sua fé ficaria inalterada, seria motivo para a pôr em dúvida ou mesmo deixar de acreditar?
Recordo, em especial, os muitos cristãos que rejeitam, em absoluto, qualquer forma de vida para além do planeta Terra e os que fazem interpretações literais de algumas passagens bíblicas.
No inicio do mês de Maio, do corrente ano, o Director do Observatório Astronómico do Vaticano, o padre jesuíta José Gabriel Funes, de 45 anos de idade, concedeu uma entrevista ao jornal oficial da Santa Sé, L´Osservatore Romano, cujo título é “O extra-terrestre é meu irmão”. Nessa entrevista, o sacerdote argentino indicou acreditar na possível existência de vida extraterrestre e que esta, a existir, não se opõe necessariamente à doutrina católica.
O Padre Funes disse que "a astronomia tem um valor profundamente humano. É uma ciência que abre o coração e a mente. Ajuda-nos a colocar, na justa perspectiva, a nossa vida, nossas esperanças e os nossos problemas. Neste sentido – e aqui falo como sacerdote e como jesuíta – é também um grande instrumento apostólico que pode aproximar-nos de Deus", explica na entrevista, realizada por Francesco M. Valiante.
Em relação à origem do Universo, o presbítero argentino precisou que, pessoalmente, considera que a teoria do "Big Bang" parece ser a mais plausível, e que não contradiz a Bíblia. "Não podemos pedir à Bíblia uma resposta científica. Ao mesmo tempo, não sabemos se, num futuro próximo, a teoria do “Big Bang” não será superada por uma mais completa e precisa sobre a explicação da origem do Universo".
Ao ser-lhe perguntado pela existência de vida extraterrestre, o Padre José Funes indicou que "é possível, mesmo se, até agora, não temos prova dela. Certamente, em tão grande Universo, esta hipótese não pode excluir-se", assinalando que "assim como existe uma multiplicidade de criaturas sobre a Terra, assim também pode haver outros seres, inclusive inteligentes, criados por Deus. Esta não é uma contradição com a nossa fé, porque não podemos estabelecer limites à liberdade criadora de Deus.”
"E o que se passaria se fossem pecadores?", questionou Valiante. "Jesus encarnou uma vez e para sempre. A encarnação é um evento único. Então, estou seguro que eles, de algum modo, teriam a opção de desfrutar da misericórdia de Deus, assim como aconteceu com os seres humanos", respondeu o sacerdote. "Como astrónomo, continuo a acreditar que Deus seja o Criador do Universo e que nós não somos um produto do acaso, mas filhos de um Pai bom" – acrescentou, durante a entrevista.
"Observando as estrelas, emerge claramente um processo evolutivo, e este é um dado científico, mas não vejo nisso uma contradição com a fé em Deus."
O Observatório do Vaticano tem a sua sede em Castel Gandolfo (perto de Roma), e o observatório no Estado do Arizona (EUA). Foi fundado em 1891, pelo Papa Leão XIII, já que “a Igreja e os seus pastores não se opõem à ciência autêntica e sólida, tanto humana como divina.”
E se, de repente, qualquer um de nós tivesse um contacto com um ser extra-terrestre, o que aconteceria, para além da natural estupefacção e possível receio de tão inesperado encontro?
Não é fácil de responder a uma questão destas, sobretudo quando colocada no campo das hipóteses ou das probabilidades de poder, um dia, acontecer. No entanto, esta é uma questão que exige uma séria e profunda reflexão, tanto pela parte dos que acreditam em Deus, como por parte daqueles que não são crentes.
Para aqueles que acreditam no Deus Único, Trinitário, Criador de todas as coisas do Universo e de todos os seres vivos nele existentes, a sua fé ficaria inalterada, seria motivo para a pôr em dúvida ou mesmo deixar de acreditar?
Recordo, em especial, os muitos cristãos que rejeitam, em absoluto, qualquer forma de vida para além do planeta Terra e os que fazem interpretações literais de algumas passagens bíblicas.
No inicio do mês de Maio, do corrente ano, o Director do Observatório Astronómico do Vaticano, o padre jesuíta José Gabriel Funes, de 45 anos de idade, concedeu uma entrevista ao jornal oficial da Santa Sé, L´Osservatore Romano, cujo título é “O extra-terrestre é meu irmão”. Nessa entrevista, o sacerdote argentino indicou acreditar na possível existência de vida extraterrestre e que esta, a existir, não se opõe necessariamente à doutrina católica.
O Padre Funes disse que "a astronomia tem um valor profundamente humano. É uma ciência que abre o coração e a mente. Ajuda-nos a colocar, na justa perspectiva, a nossa vida, nossas esperanças e os nossos problemas. Neste sentido – e aqui falo como sacerdote e como jesuíta – é também um grande instrumento apostólico que pode aproximar-nos de Deus", explica na entrevista, realizada por Francesco M. Valiante.
Em relação à origem do Universo, o presbítero argentino precisou que, pessoalmente, considera que a teoria do "Big Bang" parece ser a mais plausível, e que não contradiz a Bíblia. "Não podemos pedir à Bíblia uma resposta científica. Ao mesmo tempo, não sabemos se, num futuro próximo, a teoria do “Big Bang” não será superada por uma mais completa e precisa sobre a explicação da origem do Universo".
Ao ser-lhe perguntado pela existência de vida extraterrestre, o Padre José Funes indicou que "é possível, mesmo se, até agora, não temos prova dela. Certamente, em tão grande Universo, esta hipótese não pode excluir-se", assinalando que "assim como existe uma multiplicidade de criaturas sobre a Terra, assim também pode haver outros seres, inclusive inteligentes, criados por Deus. Esta não é uma contradição com a nossa fé, porque não podemos estabelecer limites à liberdade criadora de Deus.”
"E o que se passaria se fossem pecadores?", questionou Valiante. "Jesus encarnou uma vez e para sempre. A encarnação é um evento único. Então, estou seguro que eles, de algum modo, teriam a opção de desfrutar da misericórdia de Deus, assim como aconteceu com os seres humanos", respondeu o sacerdote. "Como astrónomo, continuo a acreditar que Deus seja o Criador do Universo e que nós não somos um produto do acaso, mas filhos de um Pai bom" – acrescentou, durante a entrevista.
"Observando as estrelas, emerge claramente um processo evolutivo, e este é um dado científico, mas não vejo nisso uma contradição com a fé em Deus."
O Observatório do Vaticano tem a sua sede em Castel Gandolfo (perto de Roma), e o observatório no Estado do Arizona (EUA). Foi fundado em 1891, pelo Papa Leão XIII, já que “a Igreja e os seus pastores não se opõem à ciência autêntica e sólida, tanto humana como divina.”
Vítor Amorim
segunda-feira, 16 de junho de 2008
Câmara Clara sem Sombras
Germana Tânger (foto de 1962)
Ontem à noite, na RTP2, assisti ao programa "Câmara Clara", de Paula Moura Pinheiro. A conversa, de mistura com recordações e informações culturais, teve, como ponto de partida e fonte, Germana Tânger, uma senhora na arte de dizer poesia. Dizer e não declamar, como sublinhou. Arte que ensinou a outros artistas, alguns dos quais ainda hoje a consultam. Com a serenidade dos seus 88 anos, falou, com palavras bem medidas e bem ditas, da sua convivência com grandes poetas e vultos da cultura lusa. Simplesmente belo o momento em que disse de cor o poema Aniversário de Fernando Pessoa (Álvaro de Campos), um poeta que lhe é muito caro.
Almada Negreiros, José Régio, João Villaret, Mário Sá-Carneiro, Mário Viegas, Vitorino Nemésio e Fernando Pessoa, entre outros, vieram até nós pela memória de Germana Tânger, com a ajuda ou desafio da responsável pelo programa. Foram momentos agradáveis.
Depois deste momento televisivo, dei comigo a pensar na mediocridade que reina nas nossas TVs. Há programas bons, é verdade, mas também muitos outros de lixo autêntico. Não há por aí um caixote perto?
Ontem à noite, na RTP2, assisti ao programa "Câmara Clara", de Paula Moura Pinheiro. A conversa, de mistura com recordações e informações culturais, teve, como ponto de partida e fonte, Germana Tânger, uma senhora na arte de dizer poesia. Dizer e não declamar, como sublinhou. Arte que ensinou a outros artistas, alguns dos quais ainda hoje a consultam. Com a serenidade dos seus 88 anos, falou, com palavras bem medidas e bem ditas, da sua convivência com grandes poetas e vultos da cultura lusa. Simplesmente belo o momento em que disse de cor o poema Aniversário de Fernando Pessoa (Álvaro de Campos), um poeta que lhe é muito caro.
Almada Negreiros, José Régio, João Villaret, Mário Sá-Carneiro, Mário Viegas, Vitorino Nemésio e Fernando Pessoa, entre outros, vieram até nós pela memória de Germana Tânger, com a ajuda ou desafio da responsável pelo programa. Foram momentos agradáveis.
Depois deste momento televisivo, dei comigo a pensar na mediocridade que reina nas nossas TVs. Há programas bons, é verdade, mas também muitos outros de lixo autêntico. Não há por aí um caixote perto?
FM
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Aniversário
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu era feliz e ninguém estava morto.
Na casa antiga, até eu fazer anos era uma tradição de há séculos,
E a alegria de todos, e a minha, estava certa com uma religião qualquer.
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu tinha a grande saúde de não perceber coisa nenhuma,
De ser inteligente para entre a família,
E de não ter as esperanças que os outros tinham por mim.
Quando vim a ter esperanças, já não sabia ter esperanças.
Quando vim a olhar para a vida, perdera o sentido da vida.
Sim, o que fui de suposto a mim-mesmo,
O que fui de coração e parentesco.
O que fui de serões de meia-província,
O que fui de amarem-me e eu ser menino,
O que fui - ai, meu Deus!, o que só hoje sei que fui...
A que distância!...
(Nem o acho... )
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!
O que eu sou hoje é como a umidade no corredor do fim da casa,
Pondo grelado nas paredes...
O que eu sou hoje (e a casa dos que me amaram treme através das minhas lágrimas),
O que eu sou hoje é terem vendido a casa,
É terem morrido todos,
É estar eu sobrevivente a mim-mesmo como um fósforo frio...
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos ...
Que meu amor, como uma pessoa, esse tempo!
Desejo físico da alma de se encontrar ali outra vez,
Por uma viagem metafísica e carnal,
Com uma dualidade de eu para mim...
Comer o passado como pão de fome, sem tempo de manteiga nos dentes!
Vejo tudo outra vez com uma nitidez que me cega para o que há aqui...
A mesa posta com mais lugares, com melhores desenhos na loiça, com mais copos,
O aparador com muitas coisas - doces, frutas, o resto na sombra debaixo do alçado,
As tias velhas, os primos diferentes, e tudo era por minha causa,
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos. . .
Pára, meu coração!
Não penses! Deixa o pensar na cabeça!
Ó meu Deus, meu Deus, meu Deus!
Hoje já não faço anos.
Duro.
Eu era feliz e ninguém estava morto.
Na casa antiga, até eu fazer anos era uma tradição de há séculos,
E a alegria de todos, e a minha, estava certa com uma religião qualquer.
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu tinha a grande saúde de não perceber coisa nenhuma,
De ser inteligente para entre a família,
E de não ter as esperanças que os outros tinham por mim.
Quando vim a ter esperanças, já não sabia ter esperanças.
Quando vim a olhar para a vida, perdera o sentido da vida.
Sim, o que fui de suposto a mim-mesmo,
O que fui de coração e parentesco.
O que fui de serões de meia-província,
O que fui de amarem-me e eu ser menino,
O que fui - ai, meu Deus!, o que só hoje sei que fui...
A que distância!...
(Nem o acho... )
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!
O que eu sou hoje é como a umidade no corredor do fim da casa,
Pondo grelado nas paredes...
O que eu sou hoje (e a casa dos que me amaram treme através das minhas lágrimas),
O que eu sou hoje é terem vendido a casa,
É terem morrido todos,
É estar eu sobrevivente a mim-mesmo como um fósforo frio...
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos ...
Que meu amor, como uma pessoa, esse tempo!
Desejo físico da alma de se encontrar ali outra vez,
Por uma viagem metafísica e carnal,
Com uma dualidade de eu para mim...
Comer o passado como pão de fome, sem tempo de manteiga nos dentes!
Vejo tudo outra vez com uma nitidez que me cega para o que há aqui...
A mesa posta com mais lugares, com melhores desenhos na loiça, com mais copos,
O aparador com muitas coisas - doces, frutas, o resto na sombra debaixo do alçado,
As tias velhas, os primos diferentes, e tudo era por minha causa,
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos. . .
Pára, meu coração!
Não penses! Deixa o pensar na cabeça!
Ó meu Deus, meu Deus, meu Deus!
Hoje já não faço anos.
Duro.
Somam-se-me dias.
Serei velho quando o for.
Mais nada.
Raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira! ...
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!...
Álvaro de Campos
Serei velho quando o for.
Mais nada.
Raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira! ...
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!...
Álvaro de Campos
NA LINHA DA UTOPIA
As mazelas da Competitividade
1. Já são várias as ocasiões em que pais de crianças e adolescentes, verdadeiramente interessados com a melhor educação dos seus filhos, o maior tesouro, manifestam uma profunda preocupação com os efeitos maléficos da competitividade feroz. Já não é só no 12º ano de escolaridade, na fronteira delicada de grandes decisões e transições, que os adolescentes sofrem os abalos de um sistema de vida que coloca os resultados práticos acima de quaisquer valores, mesmo, muitas vezes, acima dos valores da ética pessoal e social. Logo a partir de uma «publicidade férrea» nos meios de comunicação, no dizer de Lipovetsky, os mais novos vão entrando numa lógica em que o outro se apresenta mais como “concorrente” e menos como um “irmão”; que o digam muitos dos entretenimentos reinantes, onde a força e o domínio do outro é o objectivo primordial.
2. A reafirmação contínua da competitividade nos grandes discursos sócio-políticos faz transferir para o quadro educativo das gentes mais novas a lei da superioridade. O delicado refrão de que os melhores é que triunfam na vida pode fazer regressar a lei de Darwin, fazendo emergir uma selecção natural dos mais fortes por vezes menos respeitadora e integradora das diversidades. Não são casos isolados, já entre alunos do básico e secundário, os registos de desumana “inveja” escolar, de egoísmo na não partilha de conhecimentos, de angústias profundas ou mesmo cansaços (e até quase-esgotamentos) diante de resultados não tão excelentes. Parece que tudo se encontra formatado mais na ordem do melhor sucesso para mais dinheiro ganhar no futuro, que propriamente na ordem da descoberta progressiva da vocação a uma área de conhecimento para servir a sociedade.
3. Pode ter efeitos bloqueadores da totalidade da experiência humana a focalização exclusiva na obtenção dos melhores resultados para mais e melhor poder competir. É verdade, sem dúvida, que o esforço, rigor e trabalho, terão de acompanhar o crescimento da vida. Mas quase que valerá a pena pedir-se que as crianças sejam crianças e que os adolescentes não sejam adultos competitivos antes do tempo. Uma vida equilibrada na razoabilidade é que proporcionará o cidadão humano do futuro, aquele que sabe que a vida é um todo social e não uma caminhada solitária em leituras de vida vividas na competitividade como valor absoluto. As mazelas deste modelo de sociedade estão aí, espelhadas nas ansiedades stressantes acalmadas com milhões de anti-depressivos. A vida é desafio diário; mas quanto mais desenvolvermos as capacidades de humanidade pessoal e social mais conseguiremos ser resposta estimulante.
Histórias do Mar e da Ria
Por iniciativa da Rádio Terra Nova, em cooperação com a Comissão das Comemorações do Bicentenário da Abertura da Barra de Aveiro, decorreu um concurso literário sobre “Histórias do Mar e da Ria”.
Para além dos prémios, que são sempre um estímulo à participação, é justo realçar a importância destes concursos, nem sempre acarinhados devidamente pelas nossas escolas e outras instituições educativas e culturais.
Quando tanto se fala da Língua Portuguesa, como riqueza nacional que urge preservar e valorizar, impressiona-me a indiferença que há face a iniciativas que a promovem, aceitando, passivamente, que ela seja bombardeada no dia-a-dia por novos termos oriundos de outras latitudes, sobretudo nas conversas entre jovens, nas mensagens via telemóvel e nas comunicações pela Internet.
Se o estudo do Português fosse mais apoiado e se os nossos jovens fossem sensibilizados para a participação em Concursos Literários, talvez houvesse mais gosto por falar e escrever com correcção a Língua Portuguesa.
Porém, não é com o alheamento de tantos professores, escolas e instituições que poderemos acreditar no futuro do Português. Mais do que ensinar as regras gramaticais, importa estimular a nossa juventude a escrever com sentido estético, sendo certo que a participação em concursos pode ser uma excelente forma de a levar a gostar da nossa Língua.
FM
Para além dos prémios, que são sempre um estímulo à participação, é justo realçar a importância destes concursos, nem sempre acarinhados devidamente pelas nossas escolas e outras instituições educativas e culturais.
Quando tanto se fala da Língua Portuguesa, como riqueza nacional que urge preservar e valorizar, impressiona-me a indiferença que há face a iniciativas que a promovem, aceitando, passivamente, que ela seja bombardeada no dia-a-dia por novos termos oriundos de outras latitudes, sobretudo nas conversas entre jovens, nas mensagens via telemóvel e nas comunicações pela Internet.
Se o estudo do Português fosse mais apoiado e se os nossos jovens fossem sensibilizados para a participação em Concursos Literários, talvez houvesse mais gosto por falar e escrever com correcção a Língua Portuguesa.
Porém, não é com o alheamento de tantos professores, escolas e instituições que poderemos acreditar no futuro do Português. Mais do que ensinar as regras gramaticais, importa estimular a nossa juventude a escrever com sentido estético, sendo certo que a participação em concursos pode ser uma excelente forma de a levar a gostar da nossa Língua.
FM
PONTES DE ENCONTRO
BENTO XVI: ENTRE O ESTRANHAR E O ENTRANHAR
Durante a visita que o Papa Bento XVI efectuou aos EUA, entre15 a 21 de Abril, do corrente ano, recordei-me da célebre expressão de Fernando Pessoa (1888-1935) que “Primeiro estranha-se, depois entranha-se”.
Esta lembrança e a relação que dela fiz fizeram-me recuar ao dia 19 de Abril de 2005, altura em que o Cardeal Joseph Ratzinger foi eleito para a Cátedra de São Pedro.
Lembro-me muito bem das manifestações de júbilo que se viam no rosto das milhares de pessoas que aguardavam, na Praça de São Pedro, que o “fumo branco” saísse da chaminé da Capela Sistina e de muitas outras expressões de alegria que os Órgãos de Comunicação Social transmitiam, incessantemente, um pouco de todo o lado do mundo, logo após a eleição papal.
A esta realidade contrapunha-se, em simultâneo, uma outra, onde um estado de ânimo, menos exuberante, porventura mais céptico ou de desilusão, era bem visível.
De tudo isto me recordo e, até, de algumas afirmações (e dos seus autores) feitas, poucos minutos, depois do anúncio “Habemus Papam”.
Bento XVI sucedia a um Papa – João Paulo II – que tinha exercido um pontificado de cerca de 27 anos, tempo este que está para lá do próprio “entranhar” de Pessoa, para se situar no nível daquele que já se identifica connosco e nós com ele, numa unidade construída de ternura e afecto espiritual e que está para além da admiração e do respeito.
Para alguns, o Cardeal Joseph Ratzinger, trazia consigo referências pouco favoráveis, das quais se destaca o ser uma pessoa conservadora e o ideólogo da linha dura da Cúria Romana. Provavelmente, os seus 24 anos como Prefeito da Congregação Para a Doutrina da Fé muito podem ter contribuído para o surgimento destas opiniões.
Algum tempo, após a sua eleição, Bento XVI começou a despertar a compreensão e o acordo dos mais cépticos e os discursos e outros escritos seus, analisados à lupa, tanto por crentes, católicos ou não, como por ateus e agnósticos muito ajudaram a alterar a opinião inicial que havia sobre ele.
Durante a visita de Bento XVI, aos EUA, ouvi um padre americano afirmar que, enquanto Prefeito, não podia ser bom, pois o cargo não dava para isso, pelo que só depois de ser eleito Papa passou a ter condições para o poder ser, ou seja, a velha questão entre a liberdade da pessoa e a sua lealdade à instituição que serve.
Dizem alguns, que o homem é ele e as suas circunstâncias, pelo que as contradições destas duas dimensões podem ser incompatíveis. Assim, quem se vergue à força dos circunstancialismos de um momento, de um lugar ou de uma tarefa está a deixar de lado o seu próprio eu. Quem diz isto parece, contudo, esquecer-se que as circunstâncias também podem ajudar o homem na procura das certezas que não tem, na satisfação e na coerência que descobre e que o podem levar a mudar as próprias circunstâncias. Estamos, pois, perante uma questão para a qual não há uma só saída, mas que não nos pode inibir de tomar opções, em função do que somos e conhecemos, em vez de ficarmos à espera que algo surja, fale, pense e aja por nós.
O Padre Anselmo Borges escreveu, um dia, que “qualquer homem existe compreendendo e interpretando, mas de tal modo que nunca interpreta de modo adequado e pleno o que quer compreender”, pelo que o homem,só se vai completando através do futuro que atravessa e vive e, mesmo assim, não deixa de ser um homem inacabado.
A afirmação do padre americano, não sendo única, é um mau exemplo do que se pode fazer, mesmo sem intenção, para rotular, negativamente, uma pessoa e o seu carácter, sobretudo quando se pensa que a liberdade, a responsabilidade, o descobrir o nunca atingido ou a satisfação pela realização do bem variam em função da hora, do local e do cargo que se exerce. No fundo, é querer fazer do homem um irresponsável, prisioneiro do tempo e do espaço, quando ele está para além da sua e da nossa compreensão.
Durante a visita que o Papa Bento XVI efectuou aos EUA, entre15 a 21 de Abril, do corrente ano, recordei-me da célebre expressão de Fernando Pessoa (1888-1935) que “Primeiro estranha-se, depois entranha-se”.
Esta lembrança e a relação que dela fiz fizeram-me recuar ao dia 19 de Abril de 2005, altura em que o Cardeal Joseph Ratzinger foi eleito para a Cátedra de São Pedro.
Lembro-me muito bem das manifestações de júbilo que se viam no rosto das milhares de pessoas que aguardavam, na Praça de São Pedro, que o “fumo branco” saísse da chaminé da Capela Sistina e de muitas outras expressões de alegria que os Órgãos de Comunicação Social transmitiam, incessantemente, um pouco de todo o lado do mundo, logo após a eleição papal.
A esta realidade contrapunha-se, em simultâneo, uma outra, onde um estado de ânimo, menos exuberante, porventura mais céptico ou de desilusão, era bem visível.
De tudo isto me recordo e, até, de algumas afirmações (e dos seus autores) feitas, poucos minutos, depois do anúncio “Habemus Papam”.
Bento XVI sucedia a um Papa – João Paulo II – que tinha exercido um pontificado de cerca de 27 anos, tempo este que está para lá do próprio “entranhar” de Pessoa, para se situar no nível daquele que já se identifica connosco e nós com ele, numa unidade construída de ternura e afecto espiritual e que está para além da admiração e do respeito.
Para alguns, o Cardeal Joseph Ratzinger, trazia consigo referências pouco favoráveis, das quais se destaca o ser uma pessoa conservadora e o ideólogo da linha dura da Cúria Romana. Provavelmente, os seus 24 anos como Prefeito da Congregação Para a Doutrina da Fé muito podem ter contribuído para o surgimento destas opiniões.
Algum tempo, após a sua eleição, Bento XVI começou a despertar a compreensão e o acordo dos mais cépticos e os discursos e outros escritos seus, analisados à lupa, tanto por crentes, católicos ou não, como por ateus e agnósticos muito ajudaram a alterar a opinião inicial que havia sobre ele.
Durante a visita de Bento XVI, aos EUA, ouvi um padre americano afirmar que, enquanto Prefeito, não podia ser bom, pois o cargo não dava para isso, pelo que só depois de ser eleito Papa passou a ter condições para o poder ser, ou seja, a velha questão entre a liberdade da pessoa e a sua lealdade à instituição que serve.
Dizem alguns, que o homem é ele e as suas circunstâncias, pelo que as contradições destas duas dimensões podem ser incompatíveis. Assim, quem se vergue à força dos circunstancialismos de um momento, de um lugar ou de uma tarefa está a deixar de lado o seu próprio eu. Quem diz isto parece, contudo, esquecer-se que as circunstâncias também podem ajudar o homem na procura das certezas que não tem, na satisfação e na coerência que descobre e que o podem levar a mudar as próprias circunstâncias. Estamos, pois, perante uma questão para a qual não há uma só saída, mas que não nos pode inibir de tomar opções, em função do que somos e conhecemos, em vez de ficarmos à espera que algo surja, fale, pense e aja por nós.
O Padre Anselmo Borges escreveu, um dia, que “qualquer homem existe compreendendo e interpretando, mas de tal modo que nunca interpreta de modo adequado e pleno o que quer compreender”, pelo que o homem,só se vai completando através do futuro que atravessa e vive e, mesmo assim, não deixa de ser um homem inacabado.
A afirmação do padre americano, não sendo única, é um mau exemplo do que se pode fazer, mesmo sem intenção, para rotular, negativamente, uma pessoa e o seu carácter, sobretudo quando se pensa que a liberdade, a responsabilidade, o descobrir o nunca atingido ou a satisfação pela realização do bem variam em função da hora, do local e do cargo que se exerce. No fundo, é querer fazer do homem um irresponsável, prisioneiro do tempo e do espaço, quando ele está para além da sua e da nossa compreensão.
Vítor Amorim
domingo, 15 de junho de 2008
NA LINHA DA UTOPIA
Era uma vez… A carreira
1. Era uma vez, algures lá longe em outro mundo, um governante de um país. Mergulhado nas águas sedutoras do poder omnipotente, um dia afirmou que a ratificação de um tratado europeu, na Europa de 27 países, era um dos passos «mais importantes da minha carreira pessoal». No dia seguinte o referendo acabaria por ser chumbado. Era uma vez um treinador de futebol, de uma selecção de um país em que o futebol tinha proporções colectivas enérgicas e em que esse líder treinador, mesmo com os prós-e-contras, havia conseguido um popular lugar ao sol. Na hora de continuar ou deixar a equipa, o próprio confessa que «a federação não cobriu a parada», pelo que «o dinheiro foi a razão para partir» rumo à Inglaterra. No dia seguinte, os rigorosos ingleses exigem a língua inglesa!
2. “É uma vez”, e é bem verdade, que alguns acontecimentos deste género vão fazendo vir à tona da água a qualidade, ou sua ausência, das lideranças que vão comandando os barcos sociais. Não é novidade que a fasquia da generosidade das grandes lideranças vai baixando e que vestir a camisola do serviço desinteressado é realidade, hoje, quase tida como ideia irrealizável. Mas talvez o pior de tudo seja que quase todos os vedetismos contemporâneos afirmam-se com as suas exorbitâncias, em termos económicos ou éticos, absolutamente escandalosas. (Quanto “pior” melhor?!) O generoso amor à camisola parece ser uma espécie em vias de extinção, e as mais novas gerações vêm vindo para este mundo e aprendendo desta escala de valores que dá primazia ao que se tem em vez do que se é.
3. Valorizar-se e sublinhar-se a «carreira pessoal» acima das causas a defender é ver tudo ao contrário, quase que fazendo dos eleitores-cidadãos o joguete de afirmações mais interessadas no prestígio pessoal que no autêntico espírito de serviço ao bem comum. É essencial rebater cada vez mais esta tecla! Confessamos que já nos parecia estranho um programa televisivo com o título «corredor do poder», mas afinal tudo faz parte do mesmo carreirismo, este que é um elemento perturbador da vi(d)a de uma sociedade democrática mais saudável. Quanto aos milhões que giram em torno dos grandes carreiristas famosos do futebol, neste escândalo, valerá a pena perguntar, nem que seja como inquietude inconformista com a realidade do ser pessoa: para quem já se vangloria dos “trilhões” que tem, de que valem mais uns milhões de euros?!
4. Não será tudo um profundo engano de pura ilusão, e logo de quem todos os dias tem uma visibilidade mediática extraordinária. Sinal de desumanidade? Império dos milhões de euros mas do vazio de valores? Enquanto esta forma de lideranças tiver todos os palcos, os valores humanos da educação para a generosidade serão praticamente impossíveis. Ou não será?!...
2. “É uma vez”, e é bem verdade, que alguns acontecimentos deste género vão fazendo vir à tona da água a qualidade, ou sua ausência, das lideranças que vão comandando os barcos sociais. Não é novidade que a fasquia da generosidade das grandes lideranças vai baixando e que vestir a camisola do serviço desinteressado é realidade, hoje, quase tida como ideia irrealizável. Mas talvez o pior de tudo seja que quase todos os vedetismos contemporâneos afirmam-se com as suas exorbitâncias, em termos económicos ou éticos, absolutamente escandalosas. (Quanto “pior” melhor?!) O generoso amor à camisola parece ser uma espécie em vias de extinção, e as mais novas gerações vêm vindo para este mundo e aprendendo desta escala de valores que dá primazia ao que se tem em vez do que se é.
3. Valorizar-se e sublinhar-se a «carreira pessoal» acima das causas a defender é ver tudo ao contrário, quase que fazendo dos eleitores-cidadãos o joguete de afirmações mais interessadas no prestígio pessoal que no autêntico espírito de serviço ao bem comum. É essencial rebater cada vez mais esta tecla! Confessamos que já nos parecia estranho um programa televisivo com o título «corredor do poder», mas afinal tudo faz parte do mesmo carreirismo, este que é um elemento perturbador da vi(d)a de uma sociedade democrática mais saudável. Quanto aos milhões que giram em torno dos grandes carreiristas famosos do futebol, neste escândalo, valerá a pena perguntar, nem que seja como inquietude inconformista com a realidade do ser pessoa: para quem já se vangloria dos “trilhões” que tem, de que valem mais uns milhões de euros?!
4. Não será tudo um profundo engano de pura ilusão, e logo de quem todos os dias tem uma visibilidade mediática extraordinária. Sinal de desumanidade? Império dos milhões de euros mas do vazio de valores? Enquanto esta forma de lideranças tiver todos os palcos, os valores humanos da educação para a generosidade serão praticamente impossíveis. Ou não será?!...
D. Manuel II e Aveiro
"Quem, nos dias de hoje, entrar na Sala das Sessões da Câmara Municipal de Aveiro e lançar um olhar atento sobre o conjunto das cadeiras de alto espaldar que a ornamentam, tenderá a reter no seu cérebro uma certa impressão de assimetria. Para além das dez que, em posição frontal, se encontram alinhadas ao longo da vasta mesa, uma outra se encontra encostada à parede do seu lado direito, mas faltando no lado oposto a que formaria o seu par. Não é de crer que se tivessem adquirido apenas onze cadeiras para aquela Sala e não se tivesse adquirido a que completaria a dúzia. Quase ninguém sabe hoje que essa outra cadeira, que foi pertença da Câmara Municipal de Aveiro, se encontra actualmente no Paço Ducal de Vila Viçosa, desconhecendo-se, até há muito pouco tempo, a sua proveniência. Foi a cadeira ofertada a El-Rei D. Manuel II que, durante a sua visita a Aveiro, em Novembro de 1908, manifestou desejo de a possuir e que nela se sentou durante o memorável passeio fluvial que o levou da Barra ao desembarque no Canal Central da cidade. Encontra-se descrita na obra “Cadeiras Portuguesas” de Augusto Cardoso Pinto.
Também muito poucos terão hoje conhecimento dessa visita, e menos ainda saberão como ela decorreu, que cerimónias, festas e realizações populares tiveram lugar. Aproximando-se o seu centenário, e embora “a descrição dos esplendorosos festejos com que Aveiro solenizou a visita do Soberano [seja] tarefa bastante difícil e quase impossível” (Districto de Aveiro, n.º 3767, 30 de Novembro de 1908), parece apropriado relembrá-la para que, de facto, ela “nunca [seja] esquecida por este povo” (Acta da sessão extraordinária da Câmara Municipal de Aveiro de 28 de Novembro de 1908)."
Também muito poucos terão hoje conhecimento dessa visita, e menos ainda saberão como ela decorreu, que cerimónias, festas e realizações populares tiveram lugar. Aproximando-se o seu centenário, e embora “a descrição dos esplendorosos festejos com que Aveiro solenizou a visita do Soberano [seja] tarefa bastante difícil e quase impossível” (Districto de Aveiro, n.º 3767, 30 de Novembro de 1908), parece apropriado relembrá-la para que, de facto, ela “nunca [seja] esquecida por este povo” (Acta da sessão extraordinária da Câmara Municipal de Aveiro de 28 de Novembro de 1908)."
In Preâmbulo do livro "D. Manuel II e Aveiro", de Armando Tavares da Silva
O veto da Irlanda
Com o veto da Irlanda ao Tratado de Lisboa, não faltam as análises ao sucedido e às consequentes implicações que essa atitude arrasta. Cá para mim, a UE vai continuar como até aqui… Com ou sem Tratado, vai ficar tal como tem estado. E não morre ninguém.
Estou convencido de que, se houvesse referendos, mais países votariam contra, embora não acredite que isso fosse o resultado de grande reflexão. O veto de outros países seria o resultado lógico de quem é chamado a votar um Tratado, feito à margem do povo. O povo terá pensado: se o fizeram, agora entendam-se.
Por princípio, os Governos assinam Tratados, muitos de altos interesses, sem consultarem o povo. Os Governos estão mandatados para gerir, por período certo, os destinos dos seus países. É assim numa democracia representativa.
Ora a UE tem funcionado sem grande envolvimento das pessoas nos seus próprios destinos. Há eleições, de facto, para o parlamento europeu, mas nem aí os eleitores correm em massa. As abstenções são, como se sabe, elevadas. Então há que escolher um caminho que leve os europeus a assumirem, como seus, os seus destinos. Como? Elegendo, realmente, quem dirige a UE. Talvez assim nos habituássemos à ideia de sentir a Europa como espaço comunitário.
FM
PONTES DE ENCONTRO
Vasco Santana: um actor à medida do seu peso!
Nem sempre os afazeres da vida nos permitem fazer tudo aquilo que desejamos, mesmo quando a nossa vontade procura contrariar algumas dessas situações, como foi o caso, mas sem êxito. Vem isto a propósito da evocação, atrasada, dos 50 anos do falecimento do actor Vasco Santana, ocorrida precisamente no dia 13 de Junho de 1958, ou seja, no dia de Santo António, em Lisboa, cidade que também o viu nascer, em 28 de Janeiro de 1898.
Falar de Vasco Santana é recordar o Vasquinho da Anatomia, do filme A Canção de Lisboa (1933), onde contracenava com Beatriz Costa, que faltava às aulas semana após semana, e que dizia que “Chapéus há muitos, seu palerma!”; é sentir ternura pelo Senhor Narciso, do filme Pátio das Cantigas (1942), que bebe para afogar as mágoas dos seus desgostos de amor pela D. Rosa, ficar encantado com a cena da bêbado que pede lume para acender o seu cigarro a um candeeiro da via pública e que anda sempre em conflito com o seu vizinho Evaristo (António Silva), a quem está sempre a provocar com: “Ó Evaristo, tens cá disto?”; é o estar atento à sabedoria e aos conselhos do grande ensaiador e profundo conhecedor de teatro no filme Pai Tirano (1941), onde participou, igualmente, Ribeirinho. Para além destas personagens, Vasco Santana desempenhou outros papéis, não tão proeminentes, mas não menos relevantes, em outros filmes, como, por exemplo, Camões (1946), História de Uma Cantadeira (1947) e Ribatejo (1949).
Para além do cinema, a sua carreira dividiu-se entre o teatro de revista e a comédia, géneros onde não foi só actor, mas também autor, tradutor e adaptador.
Muitos dos seus êxitos ficaram na história do teatro ligeiro em Portugal e na primeira metade dos anos quarenta foi figura de topo no panorama artístico português, onde só entrar em cena já era o suficiente para ele pôr o público a rir.
Na antiga Emissora Nacional também conseguiu alcançar êxitos assinaláveis, através dos diálogos do Zequinha e da Lelé.
Igualmente conhecido pela sua faceta de grande conquistador dos encantos femininos, este actor português soube aproveitar, profissionalmente, todas oportunidades que teve e, passados 50 anos do seu desaparecimento, continua, através dos filmes em que participou, a encantar e a agradar a todas as gerações de espectadores que o vêm.
Numa altura em que as razões para sorrir se tornam cada vez mais escassas para a grande maioria dos portugueses, há que preservar e divulgar este e outros actores nacionais, a fim de que não se perca o saudável hábito de rir, até porque ainda não se paga imposto para tal! Vasco Santana e outros grandes colegas seus fizeram-no de uma forma admirável, no seu tempo. Convém, no entanto, não esquecer que, em Portugal, continuamos a ter grandes profissionais que nos podem ajudar neste excelente exercício salutar que é o rir. É só uma questão de, quem de direito, lhes darem a oportunidade devida, como foi o caso que sucedeu com Vasco Santana, e acreditar no talento, na qualidade e na criatividade dos actores portugueses contemporâneos. Ficamos, todos, a ganhar. O “Vasquinho”, mesmo sem fazer o exame de anatomia, não discordaria, estou certo, deste meu desejo nem enjeitaria, para nos animar, de cantar, de novo, o Fado do Estudante!
Vítor Amorim
"MAR de SONHOS"
Integrado nos festejos comemorativos dos 200 anos da abertura da Barra de Aveiro, realizou-se, ontem à noite, na Praia da Barra, um espectáculo piromusical. É um cheirinho desse espectáculo, "MAR de SONHOS", que aqui ofereço aos meus amigos.
TECENDO A VIDA UMAS COISITAS - 82
OS COMPANHEIROS
Caríssima/o:
Comum e comovedor quando encontramos companheiros do tempo da Escola: aquilo são abraços, abanar de cabeças, recordações infindas e uma que outra lágrima furtiva.
Quem está aí que não tenha passado por essa prova?
São muitos dias, muitas horas de convívio...
Falar disto é uma pura perda de tempo por demais evidente e conhecido.
Mas estou a ver a cara de alguns a dizer que não é bem assim: antigamente, etc e tal; agora, não...
Está bem, há sessenta anos, antes de irmos para a Escola, brincávamos com os nossos vizinhos e vizinhas nos caminhos, nas margens da ria, enquanto nossos pais e mães iam trabalhar. As brincadeiras desenrolavam-se perto dos mais crescidos, que nos deitavam os olhos, ou junto das mães enquanto elas cavavam,...
Criavam-se os primeiros laços de amizade...
O leque de amigos se alargará nos bancos da Escola, mas aqueles/as do nosso canto tinham, sempre a primazia. Lutas e rixas entre moradores de cantos diferentes provavam isso mesmo... A seguir virão os “encontros” entre freguesias vizinhas... [Uma nota avulsa: no nosso tempo, que “batalhas” verbais e não só travávamos contra os “da terra da lâmpada”!...]
Era notório, quando nos juntávamos para a preparação dos exames, a realização dos desafios entre as diferentes escolas. Só quando éramos confrontados com a saída para os estudos é que se dava a evolução e a integração...
Não era por esta via que gostaria de ter desenvolvido o tema; o teclado do computador traiu-me...
Que me desculpem todos os meus bons Amigos, gostaria de recordar o Oliveiros, o Silvério Oliveiros, o Amílcar Madail, o João Gandarinho, o Necas, o Manuel Roque, o Amadeu Vilarinho e o Arlindo... que andaram comigo na quarta classe. Um ou outro já nos deixou a saudade. Alguns tentamos a resolução de difíceis problemas de saúde... O hino à Amizade continuará!
Manuel
Caríssima/o:
Comum e comovedor quando encontramos companheiros do tempo da Escola: aquilo são abraços, abanar de cabeças, recordações infindas e uma que outra lágrima furtiva.
Quem está aí que não tenha passado por essa prova?
São muitos dias, muitas horas de convívio...
Falar disto é uma pura perda de tempo por demais evidente e conhecido.
Mas estou a ver a cara de alguns a dizer que não é bem assim: antigamente, etc e tal; agora, não...
Está bem, há sessenta anos, antes de irmos para a Escola, brincávamos com os nossos vizinhos e vizinhas nos caminhos, nas margens da ria, enquanto nossos pais e mães iam trabalhar. As brincadeiras desenrolavam-se perto dos mais crescidos, que nos deitavam os olhos, ou junto das mães enquanto elas cavavam,...
Criavam-se os primeiros laços de amizade...
O leque de amigos se alargará nos bancos da Escola, mas aqueles/as do nosso canto tinham, sempre a primazia. Lutas e rixas entre moradores de cantos diferentes provavam isso mesmo... A seguir virão os “encontros” entre freguesias vizinhas... [Uma nota avulsa: no nosso tempo, que “batalhas” verbais e não só travávamos contra os “da terra da lâmpada”!...]
Era notório, quando nos juntávamos para a preparação dos exames, a realização dos desafios entre as diferentes escolas. Só quando éramos confrontados com a saída para os estudos é que se dava a evolução e a integração...
Não era por esta via que gostaria de ter desenvolvido o tema; o teclado do computador traiu-me...
Que me desculpem todos os meus bons Amigos, gostaria de recordar o Oliveiros, o Silvério Oliveiros, o Amílcar Madail, o João Gandarinho, o Necas, o Manuel Roque, o Amadeu Vilarinho e o Arlindo... que andaram comigo na quarta classe. Um ou outro já nos deixou a saudade. Alguns tentamos a resolução de difíceis problemas de saúde... O hino à Amizade continuará!
Manuel
sábado, 14 de junho de 2008
AO VER A MULTIDÃO ENCHE-SE DE COMPAIXÃO
1. Jesus inicia a missão que pretende realizar. Percorre cidades e aldeias na região de Cafarnaúm. Provoca encontros nas ruas, entra nas sinagogas, detém-se na praça pública. Observa atentamente as pessoas, a organização da sociedade e as condições de vida. O seu olhar penetrante chega ao mais íntimo do ser humano. Os seus ouvidos escutam o inaudito que o faz vibrar. O seu coração estremece de emoção cheia de amor. E, sem mais demoras, dá largas à acção que liberta e à palavra que rasga horizontes. E numa ousadia, sem precedentes, chama pelo nome os homens que quer, começando assim a lançar os fundamentos da Igreja. Considera tão importante o que lhes vai pedir que reconhece a sua identidade pessoal, transmite-lhes a mensagem que hão-de anunciar, define-lhes as prioridades no agir e apresenta-lhes uma espécie de regras de actuação.
2. Outrora eram as multidões; hoje é o povo, de que fazem parte os indivíduos. O cansaço e o abandono espelham o seu estado de ânimo, mostram o seu desalento perante as condições de vida, a sem esperança com que encaram o futuro, prolongamento cego de um presente amargado. E, hoje como ontem, o cortejo dos abatidos integra os empobrecidos de bens indispensáveis, os solitários de todas as companhias, os explorados da dignidade inalienável, os ignorantes de todos os direitos, os “atirados” para as margens da vida como material descartável, os sujeitos às mais diversas formas de trabalho precário, os “mal vistos” pelas instituições do poder e pelos fazedores da opinião publicada: os rebeldes sociais e políticos, as mulheres libertárias, as vítimas das atrocidades autoritárias, os pesquisadores de energias alternativas e de organizações mais participativas da sociedade, os “cobradores” de outras economias que sabem fazer do lucro um meio para gerar bem estar social para todos. Os cansados da vida constituem presa fácil do desespero, da violência e do fanatismo, sobretudo quando abandonados e vilipendiados.
3. Hoje e sempre é Jesus que, de muitos modos, vai à frente na manifestação de reacções positivas, vencendo a indiferença e a distância, no apreço pela consideração de cada um e de todos, nas propostas inclusivas de humanização, nas atitudes de solidariedade, nos gestos de amizade, nas parcerias de acção. Se vai à frente, outros vão com ele, são seus companheiros desejosos de se tornarem discípulos, apóstolos e testemunhas. Outrora foram uns que têm o seu nome nos Evangelhos. Hoje somos nós os convidados para tão nobre e entusiasmante missão. Somos nós o “coração” de Igreja solícita e compassiva, o rosto sensível da humanidade nova, os artífices confiantes de uma sociedade inclusiva das pessoas e do bem integral para todos.
Georgino Rocha
Recordações
"O ti Atóino vinha da borda, onde andara ao moliço para o aido. Antes da maré, po-rém, deitara-se a descansar, com o corpo moído, na proa da bateira que ia à rola (à deriva). Sem saber como, e com uma nassa, apanhou uns peixitos para a ceia (o jantar de hoje). Já não era mau. Naquele dia não comeriam caldo de feijão com toucinho, com um bocado de boroa. Sempre seria melhor. Então ouviu a Ti Maria:"
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O Felipão
Anda toda a gente triste com a saída de Luiz Felipe Scolari para o Chelsea, o clube de um multimilionário russo. O Felipão estava identificado com o povo português e o povo português gostava dele. Deu boas alegrias às gentes lusas, porque soube, como poucos, ser um líder autêntico, com rara capacidade para mobilizar multidões.
Muita portugueses até já pensavam que este brasileiro, que tem o bom gosto de apreciar a nossa comida e os nossos vinhos, ficava por cá. Esqueceram-se de que este mundo é dominado pela “grana” e que Scolari é um homem que também sabe cuidar do seu futuro. Por mim, ele pode ir. Mas, já agora, que nos traga a taça do Europeu de Futebol.
Mais uma palavrinha: vai ser muito difícil encontrar um seleccionador como este. Um homem que tem o coração perto da boca, frontal, que se comove e que se zanga; que sabe motivar os jogadores, que consegue criar um grupo de trabalho coeso. E que, dizem, até leva os jogadores a rezar o Pai Nosso antes dos jogos. O Felipão é mesmo um tipo fixe.
FM
Muita portugueses até já pensavam que este brasileiro, que tem o bom gosto de apreciar a nossa comida e os nossos vinhos, ficava por cá. Esqueceram-se de que este mundo é dominado pela “grana” e que Scolari é um homem que também sabe cuidar do seu futuro. Por mim, ele pode ir. Mas, já agora, que nos traga a taça do Europeu de Futebol.
Mais uma palavrinha: vai ser muito difícil encontrar um seleccionador como este. Um homem que tem o coração perto da boca, frontal, que se comove e que se zanga; que sabe motivar os jogadores, que consegue criar um grupo de trabalho coeso. E que, dizem, até leva os jogadores a rezar o Pai Nosso antes dos jogos. O Felipão é mesmo um tipo fixe.
FM
FRAGILIDADES
As fragilidades da nossa economia têm-se feito sentir nos últimos tempos. E como a economia é a mola-real do nosso viver social, o pânico instalou-se entre nós. Portugal paralisou com o descontentamento dos camionistas, que obrigaram o Governo a avançar com regalias, em detrimento de outras classes sociais, também seriamente afectadas com a subida, em flecha, dos combustíveis.
O Governo cede com esta classe social, alimentando o risco de ceder, a partir de agora, com os pescadores. Depois, um dia destes, com os agricultores e com todos os que tiverem capacidade de mobilização. E como as eleições não tardam aí…
Há, contudo, uma classe que não pode pensar em reivindicar. Tem de se calar perante as sucessivas reduções no seu poder de compra. São os aposentados. O seu único poder está nas eleições. Aí, sim, pode mostrar o seu descontentamento.
FM
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