terça-feira, 31 de agosto de 2021

O dito e o feito


"Qualquer pessoa com bom senso e uma mente perspicaz irá tomar a medida de duas coisas: o que é dito e o que é feito"

S. Heaney, escritor

Publicado em ESCRITO NA PEDRA do PÚBLICO 

segunda-feira, 30 de agosto de 2021

Assim foi o nosso Agosto de outras eras

Chaves - Ponte romana


Lita comigo em Chaves
O mês de Agosto aí está na sua reta final. Faltam algumas horas e já pressinto a tristeza de muitos com o adeus a este mês, com tudo o que ele proporcionou de bom. As férias naturais dos portugueses estão de partida, deixando-os livres para o romance da vida. Agosto é mês de férias desde que me conheço. Escolares, as primeiras, em várias fazes da minha vida, seguindo-se as outras, de trabalhos e canseiras. Por fim, as definitivas. Aquelas que nos segredam sem ninguém ouvir: Descansa que trabalhaste bastante.
Bastante? Tanto quanto o necessário, mas garanto que não estou nada arrependido. Se voltasse atrás, talvez percorresse os mesmos caminhos, risonhos, uns, para esquecer, outros. E agora, quando acordo e salto da cama, relógio no pulso sem dele precisar, entro na azáfama de dar corda à roda do dia, que parar é morrer, dizem, decerto com razão. Depois, meses e meses a pensar nas próximas férias, minhas e dos demais, que por contágio mexem comigo.
Tantos Agostos de férias partilhadas, quais saltimbancos com a família. Em campismo, mas não só. Casa às costas, carro sobrecarregado, filhos felizes pela mudança de hábitos, novas amizades, serras calcorreadas, que o mar ficava à nossa disposição quando regressássemos. Novas terras e gentes, amigos que se faziam para a ocasião, que logo perdíamos de vista. Outros permanecem leais. Assim foi o nosso Agosto de outras eras. Agora, recordamos apenas e já nos sentimos muito felizes por isso.

Fernando Martins

domingo, 29 de agosto de 2021

Festa em honra da nossa Padroeira



Com as limitações impostas pela pandemia do Covid-19, a festa em honra de Nossa Senhora da Nazaré ficou circunscrita à Eucaristia. Não houve procissão, que teria passado pelo largo do Cruzeiro com arranjo dignificante, e muito menos foi possível o arraial, com músicas, concerto de banda e foguetório próprios do último domingo de agosto na Gafanha da Nazaré. Contudo, estamos em crer que em 2022 tudo se normalizará, para gáudio do nosso povo.
A Eucaristia festiva foi celebrada às 10h30 pelo nosso prior, Padre César Fernandes, que tinha a ladeá-lo, no espaço do altar-mor, a Irmandade e os mordomos da festa, bem como diversos colaboradores. As autoridades civis, Câmara e Junta de Freguesia, e outras instituições também se associaram, como é habitual. Os cânticos entoados pelo grupo coral estavam em sintonia com a homenagem à nossa Nossa Padroeira. O nosso prior agradeceu a presença de todos e formulou votos de que no futuro possamos congregar todo o povo em torno dos festejos que vêm dos nossos ancestrais. 
Permitam-me sublinhar que as festas em honra dos padroeiros, que aconteciam tradicionalmente no verão, tinham por princípio contribuir, também, para o povo desanuviar dos trabalhos cansativos da agricultura. Nas festas, cantavam, dançavam, encontravam os amigos, recebiam visitas de emigrantes e moradores noutras paragens, mas ainda comiam saborosos assados nos fornos a lenha, tudo regado com vinho da pipa da taberna vizinha.

Fernando Martins

AVEIRO: Artes no Canal


Aveiro é uma cidade bonita. 
Em cada canto há motivos para apreciar e sentir o palpitar dos aveirenses. 
Quem passa a correr jamais a descobrirá na sua plenitude. 


No segundo sábado de cada mês, há Artes no Canal. 
Arte e artesanato variados dão vida ao centro de Aveiro. 
Muita gente para passear, ver e comprar. 
Há de tudo para todos os gostos de ambos os lados do canal central. 
O dia lindo convidava a sair de casa.


Os moinhos da minha meninice e infância ali estavam. 
Como recordo a arte de os fazer! 
Um avô passa com netinho que corre para os moinhos, 
que giravam alimentados pelo ventinho. 
Teve direito a um que ergueu ufano.
 

Para quem se esqueceu do chapéu no carro, 
aquela tenda terá valido a muita gente. 
Eu tive direito a um boné fresquinho para o verão que temos.



A nossa Gafanha não podia faltar. 
João de Mello, quase meu vizinho, que não via há anos, é  artesão por paixão. 
Lá estava com as suas artes. 
Merecerá mais divulgação.


Os moliceiros, táxis na laguna,  andavam apressados. 
Era indubitavelmente necessário aproveitar a maré.
Um guia turístico debitando notas oportunas.


Para animar a festa não faltou a banda musical. 
Não será que as festas ajudam a esquecer mágoas?

Fernando Martins

sábado, 28 de agosto de 2021

CRUZEIRO - Espaço foi dignificado

    Cruzeiro da Gafanha da Nazaré
             
O Cruzeiro da Gafanha da Nazaré, cuja história pode ser lida aqui, beneficiou de um melhoramento significativo. Foi requalificado o espaço com a aquisição de um terreno. Na minha ótica, ficou assim dignificado um espaço com muitas memórias dos nossos maiores. Apenas um reparo: Não seria possível eliminar os fios eléctricos que se cruzam  naquela zona?

O mistério de um rosto, de um olhar, e a burqa

Crónica de Anselmo Borges 
no Diário de Notícias

(Foto das  redes socias)


A beleza estonteante do riso num rosto nunca será explicada pela física. Penso que a química nunca há-de explicar as lágrimas de alegria, de dor, de horror, de compaixão, que nascem da fonte do olhar e descem por um rosto.

1 - Um rosto é um milagre. Há hoje no mundo quase 8 mil milhões. Nenhum igual a outro: cada rosto é único.
Um rosto é a visita do infinito e a sua manifestação viva no finito. Nunca ninguém viu o seu rosto e o seu olhar a não ser num espelho e sobretudo no olhar de outro rosto.
Para rosto há muitos nomes: rosto, cara, face, aspecto, máscara-pessoa. De um modo ou outro, todos indicam a visibilidade de um alguém. Que é um rosto senão alguém que se mostra na sua aparição? O rosto é a nossa exposição, o nosso estar voltados para os outros e para a frente, para diante.
O que vai na alma vem ao rosto. Há o rosto sereno, ou amargurado, ou severo, ou alegre, ou rancoroso, ou triste, esfarrapado, revoltado, suplicante, pensativo, esfomeado... De homem, criança, mulher. Ah!, e, quando dizemos a alguém que está com óptimo aspecto, possivelmente a resposta será: "Não me queixo do aspecto". Talvez essa pessoa não se queixe. Mas as fortunas que se gastam para se compor e arranjar o aspecto!... Ah!, a aparência, o parecer!

sexta-feira, 27 de agosto de 2021

Correspondência ao mar




Mar dos Açores - São Miguel


Quando penso no mar
A linha do horizonte é um fio de asas
E o corpo das águas é luar,

De puro esforço, as velas são memória
E o porto e as casas
Uma ruga de areia transitória.

Sinto a terra na força dos meus pulsos:
O mais é mar, que o remo indica,
E o bombeado do céu cheio de astros avulsos.

Eu, ali, uma coisa imaginada
Que o Eterno pica,
Vou na onda, de tempo carregada,

E desenrolo…
Sou movimento e terra delineada,
Impulso e sal de pólo a pólo.

Quando penso no mar, o mar regressa
A certa forma que só teve em mim ‑
Que onde acaba, o coração começa.

Começa pelo aro das estrelas
A compasso retido em mente pura
E avivado nos vidros das janelas.

Começa pelo peito das baías
A rosar-se e crescer na madrugada
Que lhe passa ao de leve as orlas frias.

E, de assim começar, é abstrato e imenso:
Frio como a evidência ponderada.
Quente como uma lágrima num lenço.

Coração começado pelos peixes,
És o golfo de todo o esquecimento
Na minha lembrança que me deixes,

E a rosa dos Ventos baralhada:
Meu coração, lágrima inchada,
Mais de metade pensamento.

Vitorino Nemésio

Camada de pó e cultura


"Pela grossura da camada de pó que cobre a lombada dos livros de uma biblioteca pública pode medir-se a cultura de um povo"

John Steinbeck, 
EUA, (1902-1968)



Escrito na Pedra 
do PÚBLICO de hoje

Tolentino Mendonça: Rezar de olhos abertos

Tenho andado a ler, sem pressas, mais um livro de José Tolentino Mendonça — REZAR DE OLHOS ABERTOS —, poeta, cronista, ensaísta e cardeal, com edição da QUETZAL. Na minha ótica, trata-se de uma obra que toda a gente pode ler, mesmo os não crentes. Os textos, curtos e expressivos, abordam os temas mais diversos dos nossos quotidianos, levando-nos a refletir sobre a vida, numa perspetiva das nossas relações connosco próprios, com os outros e com Deus. 
“Recebemos a aurora e o verde azulado dos bosques. Recebemos o silêncio intacto dos espaços. Recebemos a música do vento. Mas recebemos igualmente a sofrida marcha da história”, assim nos desperta numa primeira página, em jeito de desafio para iniciarmos a leitura. Textos curtos, uma página para cada um, que são, no fundo, desafios à reflexão e à descoberta da nossa sensibilidade, rumo ao encontro dos outros que podem ser os caminhos de Deus.
Sobre a utilidade de um livro deste género, Tolentino Mendonça diz na apresentação que “Ele foi pensado não como um livro sobre a oração, mas como um caderno de práticas de oração”, que lhe ofereceram “a oportunidade de reunir um conjunto de orações” que foi elaborando. E salienta: “Muito despretensiosamente, a imagem que me vem ao pensamento é a forma como se aprende a nadar. Podemos escutar as teorias más díspares e ficar por muito tempo como espectadores da natação dos outros. Mas a nossa história de nadadores começa apenas quando nos atiramos à água.”
 

O livro apresenta no final:
Índice onomástico de autores e artistas 
Índice onomástico de personagens bíblicas e santos
Índice de obras literárias e artísticas
Índice geral sobre os temas abordados 

Cuidar o coração, viver em sintonia com Jesus

Reflexão de Georgino Rocha  
para o Domingo XXII do Tempo Comum



“Há maneiras de viver a fé que facilitam a abertura do coração aos irmãos, e essa será a garantia de uma autêntica abertura a Deus”.

Jesus é um homem livre entranhavelmente apaixonado por instaurar na terra o reino de Deus. Defende a autêntica tradição de Moisés, anuncia a novidade de que é portador e não teme que o contradigam ou reajam contra. Vive em liberdade interior plena no contacto com os excluídos da sociedade, os pecadores, os impuros legais: leprosos, prostitutas, enfermos, pagãos. Acolhe as oportunidades ou provoca-as para “marcar posição” e anunciar a verdade. É o caso narrado, hoje, no Evangelho, dos fariseus e dos doutores da lei que, mais uma vez, lhe saem ao caminho. - Mc 7, 1-8. 14-15. 21-23
Os primeiros, muito zelosos em manter as tradições e em as observar escrupulosamente; os segundos, conhecedores da Lei e das suas centenas de normas que examinam até ao pormenor. Reúnem-se à volta de Jesus, num espaço fora da sinagoga. Ao verem a atitude dos discípulos – comer sem lavar as mãos, atitude que contagia os alimentos, tornando-os impuros e, por isso, contrariando a tradição -, pedem-lhe explicações com a pergunta inquisitorial: Porque procedem assim, não respeitando os antigos nem as suas tradições sagradas?

quinta-feira, 26 de agosto de 2021

Amanhã também é dia



Os meus leitores e amigos hão de estranhar a minha pouca participação no ciberespaço, mas compreenderão que a vida tem altos e baixos, sem que isso signifique qualquer incómodo de saúde. Este tempo incerto e morno dá azo a alguma apatia, o que provoca uma certa vontade de nada fazer. Hoje, quando me dispunha a descansar para criar ânimo, encontrei um gatinho vadio no meu lugar, bafejado pela sombra do guarda-sol e pelo cheiro a lenha seca da primeira remessa que nos há de aquecer no Inverno que não tarda aí. E não tive coragem de incomodar o gatinho. Amanhã também é dia.

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Propriedade agrícola dos nossos avós

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