domingo, 11 de março de 2018

"O PEQUENO CAMINHO DAS GRANDES PERGUNTAS"

 
Em dia menos bom, voltei-me para a leitura, a minha grande válvula de escape. Dou preferência a textos curtos que me retirem dos quotidianos, enquanto me emprestam tranquilidade. Tolentino Mendonça anda na minha agenda em alturas destas e o livro escolhido — O Pequeno Caminho das Grandes Perguntas — veio mesmo na hora certa. O tema que se seguia, indicado pelo marcador, tem por título “A ferida dos que nos ferem” e acertou no alvo, que sou eu. Transcrevo algumas frases que me acordaram para a realidade dos meus dias e que servem para abrir o apetite a eventuais leitores do padre e poeta Tolentino Mendonça, o padre que orientou o retiro espiritual do Papa e de alguns dos seus colaboradores na Cúria Romana, nesta Quaresma.

“A cada altura agarramo-nos à dor como se ela fosse um heroísmo e pomo-nos a expor feridas como quem exibe condecorações.”

“Descobrimos que há um prazer em listar achaques e traições; e, se a minha chaga puder ser maior do que a tua, tanto melhor, isso reforça o meu estatuto.”

“A verdade é que, se não tomamos atenção, a desgraça íntima torna-se um escanzelado pódio onde nos blindamos.”

“É fácil reproduzir um esquema dialético em que somos a vítima e o outro é o agressor e esquecer que também ele é atravessado pelo sofrimento.”

“Um necessário caminho é reconhecer que naqueles que nos ferem (ou feriram) há também bloqueios, mazelas e opacos novelos. Se não nos amaram, não foi necessariamente por um ato deliberado, mas por uma história porventura ainda mais sufocada do que a nossa.”

“Não se trata de desculpabilização, mas de reconhecer que naquele que não me fez justiça ou não me devolveu a cordialidade que investi existe alguém provado pelo limite. E que a ferida agora acesa não se destinava a mim especificamente: era um magma de violência à deriva, à beira de estalar.”


NOTA: Estas transcrições soltas do texto servem, fundamentalmente, como sugestão de reflexão e de leitura do livro de Tolentino Mendonça.

Título: O Pequeno Caminho das Grandes Perguntas
Autor: José Tolentino Mendonça
1.ª edição: setembro de 2017
Editora: Quetzal

sábado, 10 de março de 2018

COM AVANÇOS E RECUOS, A VIDA CONTINUA

Na A25

A chuva não abrandava. Por momentos, o céu abriu-se e ao longe uma claridade desafiava-nos a prosseguir... E o  dia a dia  é assim: Com avanços e recuos, ora apressados, os primeiros, ora  curtos, os segundos, é sempre tempo de chegar ao destino, porque a vida continua. E nós chegámos. Bom domingo para todos. 

VOLTAR A CASA COM JESUS. O EXEMPLO DE JAIRO

Para o Dia do Pai

Reflexão de Georgino Rocha

Georgino Rocha

Jairo vive uma situação familiar aflitiva. A filha, uma adolescente de 12 anos, está gravemente doente. A esperança de cura esfumava-se cada vez mais, apesar de todos os cuidados medicinais. O pai sonha hipóteses que não resultam. Ouvindo falar que Jesus chegara à sua terra, após a travessia do mar de Tiberíades, e vendo uma numerosa multidão que o rodeava na praia, aproxima-se, cai a seus pés e diz-lhe com insistência: “A minha filhinha está a morrer. Vem e põe as mãos sobre ela para que sare e viva” (Mc 5, 23). A mulher, sua esposa e mãe da menina, ficara em casa a velar por ela, juntamente com familiares e amigos. O recurso a Jesus funciona como a última esperança e o amor não descansa enquanto não a vê, não a encontra.
Marcos, o evangelista narrador, situa este episódio no capítulo da cegueira do mundo, após o da cegueira das autoridades e antes da cegueira dos discípulos. Pretende ir desvendando a realidade de Jesus, o Filho de Deus humanizado, atento à vida e situações que a condicionam, profeta da verdade e força irradiante que brilha nos comportamentos pessoais e colectivos, amigo incondicional de todos/as, com especial desvelo pelos doentes e marginalizados pela ordem estabelecida, injusta e selectiva, discriminatória. Quem não se comove ao ver a morte chegar e não poder valer à pessoa amada, sobretudo se é familiar de sangue, se é filho/a? Jairo vive horas sofridas. A tudo se expõe e nada teme. E a sua confiança sai recompensada. E a figura do pai sai enobrecida, bem como a sua missão de cuidador solícito e a sua caminhada interior. Chega junto de Jesus por necessidade, fica por convicção, assume por amor a nova missão.

O REVERSO DA MEDALHA

MaDonA



Se alguém tiver recursos materiais e, vendo seu irmão em necessidade, 
não se compadecer dele, como pode permanecer nele o amor de Deus? 

1 João 3:17


Foi no dia de S. Valentim, adotado pelo mundo ocidental como o Dia dos Namorados. Uma correria desenfreada às lojas, às floristas, aos grandes hipermercados, na ânsia de adquirir a prenda mais requintada ou um simples mimo, com o mesmo objetivo – demonstrar ao mais-que-tudo, a prova, a intensidade do amor. 
Faço parte do mundo atual, com tudo o que tem de bom e de mau e não me refugio “No meu tempo...” como muitos seniores fazem num saudosismo a saber a mofo. 
Fui também fazer as minhas compras do dia, já que celebrar a amizade, o amor, enfim a vida é a palavra de ordem, todos os dias. 
Foi neste contexto comercial, na entrada de um hipermercado da zona, que me deparei com a cena: um homem mal vestido, com ar subnutrido e aspeto acabrunhado, a pedir. Confrangeu-se-me o coração, ao constatar as desigualdades de uma sociedade consumista e hedonista, que gasta o dinheiro em coisas supérfluas, futilidades, enquanto há uma franja da população que não tem com que matar a fome. O olhar suplicante do pedinte cruzou-se com o meu, mas não obteve resposta. Há tanta gente desnaturada, insensível à miséria alheia, que responsabiliza o governo por este estado de coisas e delega nele a resolução do problema, enquanto grassa a fome!

sexta-feira, 9 de março de 2018

DIA CINZENTO



guia-nos, Deus,
na viagem através do deserto
até ao lugar da tua crucifixão
e da tua páscoa

guia-nos, Deus,
da via cinzenta dos nossos dias
à. via gloriosa da tua cidade.

seja este o tempo favorável
para a confissão do pecado e do louvor,
nós que vivemos na fragilidade do corpo nómada
o imaginário do oásis
e os lugares de repouso

guia-nos, Deus,
para a inquietação que permanentemente te nomeia,
Deus em Jesus Cristo e no Espírito consolador


José Augusto Mourão
In O Nome e a Forma, ed. Pedra Angular
Fotografia: Corbis
03.03.12

Li aqui 

FRANCISCO. E DEPOIS?

Anselmo Borges 

Anselmo Borges


1. Num belo livro, Cartas a Francisco, escreve também um destacado filósofo e teólogo, L. González-Carvajal, que, na sua carta, resume a parábola de J. Bouchaud para exprimir a impressão causada por João XXIII, aplicada agora ao Papa Francisco:
"Havia uma vez um barco, um velho e belo barco que há muito tempo estava ancorado no porto. A vida a bordo era de prerrogativa. Os oficiais estavam ataviados com uniformes de diferentes cores - o negro para os de mais baixa graduação, violáceo, vermelho e púrpura para os outros -, a que alguns tinham juntado adornos (capas, arminhos, condecorações...). As relações entre os comandos superiores e os subalternos regiam--se por um cerimonial carregado de requintados ritos e reverências. Na realidade, a vida a bordo era fácil, porque tudo o que havia para fazer ou deixar de fazer estava determinado por um regulamento muito preciso que todos observavam escrupulosamente.
Como é lógico, no barco havia também marinheiros, embora dificilmente fossem vistos. Trabalhavam no porão e na sala das máquinas, apesar de o trabalho com os motores não ser muito importante num navio que nunca deixa o porto.
As veneráveis senhoras que passeavam pelo cais diziam umas às outras: "Este barco é o meu preferido; é um barco fidelíssimo, nunca se move do seu sítio".

NICODEMOS VAI AO ENCONTRO DE JESUS. E NÓS?

Reflexão de Georgino Rocha

Georgino Rocha

"Nicodemos, figura histórica, é símbolo do homem de todos os tempos, sobretudo do nosso, de quem se aventura na noite do mercado de opiniões e dúvidas e quer encontrar resposta para o sentido da vida, seus valores e sua escala de prioridades, dos/as que não abdicam do direito de fazer perguntas sobre o rumo dos acontecimentos e o cuidado da criação."


Nicodemos surge como interlocutor de Jesus. Certamente fica incomodado com o episódio do Templo. Por ser testemunha ou por ditos que lhe chegam. Incómodo que acentua a perplexidade em que vivia e o leva a ir de noite à sua procura. Incómodo que transparece na conversa que João narra e, hoje, a liturgia nos apresenta como parte do diálogo sobre o “nascer de novo” proposto por Jesus. “Como é possível nascer de novo?”, pergunta, sem rodeios, tendo no horizonte da sua dúvida o parto natural e a idade da vida. (Jo 3, 14-21). Apesar de ser mestre em Israel, de usufruir de um estatuto social elevado e de viver como crente piedoso, Nicodemos não vislumbra a nova dimensão que Jesus insinua. Mas cultivará uma relação de proximidade e de intervenção, de simpatia e de risco, como os relatos evangélicos referem repetidas vezes.

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