quarta-feira, 7 de maio de 2008

PONTES DE ENCONTRO


Os avisos, as crises e as vontades!

“Pela maneira como estamos, como a comunidade internacional está a olhar para o mundo, não iremos longe.”
Estas palavras, melhor, este aviso interpelativo, pelo seu significado e pela realidade que contém em si mesmo, exige uma reflexão séria e profunda por parte de todos aqueles que estão preocupados, sincera e convictamente, com as várias crises que se vão alastrando, paulatinamente, pelo mundo, sobretudo a partir da queda do Muro de Berlim (1989).
Quem as proferiu foi o Alto Comissário das Nações Unidas para os Refugiados, o português, Engenheiro António Guterres, no passado dia 4 de Maio, durante uma visita que fez ao Fundão e a Donas, terra natal da sua mãe e onde viveu parte da sua infância.
Trata-se, pois, de uma afirmação demonstrativa de todo um conjunto de problemas que persistem ou se agravam, ainda que com outros contornos, no mundo e que não é proferida por uma pessoa que esteja alheada das grandes questões internacionais. Bem pelo contrário.
Por muito que custe, é preferível, e mais positivo, encarar a realidade, no imediato, do que escamoteá-la, para mais tarde. Partindo deste pressuposto, o que Comissário para os Refugiados da ONU diz é que estão em confronto, pelo menos, duas perspectivas de ver o mesmo mundo e as múltiplas questões a ele inerentes.
Em linguagem do dia-a-dia, dir-se-ia que uns são os pessimistas e os outros são os optimistas, quando, afinal, o importante é saber quais são, de todos, os que melhor buscam a verdade e a razão das coisas, bem como as consequentes soluções e aplicações práticas, já que esta busca não é privilégio de nenhum tipo exclusivo de pessoas.
Já agora, e os chamados optimistas que me desculpem, existem estudos de perfis psicológicos que demonstram que um optimismo exagerado pode ser, tendencialmente, paralisante, para quem tem que tomar decisões e dar soluções, em tempo útil.
Como em tudo na vida, o mais provável é dizer que “é no meio que está a virtude”, tendo em conta as circunstâncias e os contextos em que se está inserido.
Da minha parte, confesso, bem gostaria de falar de coisas mais agradáveis, que também as há, mas, por agora, resta-me a quase certeza que alguém fará isso por mim e a esperança, sentida, que ainda é possível por o mundo a sorrir!
Utopia? Sinceramente, não creio! Não terá o próprio Evangelho nascido da simbiose de uma realidade profundamente humana e humanizante, cujo centro é Jesus Cristo, com a utopia cristã pelo Reino de Deus?
Responsável por esta Organização da ONU, desde Junho de 2005, conta com mais de seis mil funcionários (espero que a maior fatia da verba desta Instituição não se destine a pagar os ordenados destes). Está presente em 115 países, pelo que António Guterres sabe do que fala e porque fala. É um humanista, por excelência.
Preocupado, igualmente, com as consequências da subida dos alimentos, o Comissário da ONU para os Refugiados não deixou de se referir a toda “uma série de ameaças que já se concretizaram ou estão como uma espada sobre as nossas cabeças e que nos devem levar a pensar como é possível olhar para o mundo de outra maneira.” Tudo isto a par de conflitos “no Afeganistão, Iraque, Palestina, Sudão e, esperemos, que não no Líbano.”
Optimismos ou pessimismos à parte, o importante é saber que, em cada problema que surge, aparece uma nova oportunidade para o resolver. Deste modo, a possibilidade de evitar a sua repetição, no futuro, nunca se tornou tão real e exequível. Queiramos nós! Tudo depende, afinal, da vontade de cada um!


Vítor Amorim

A papoila


Há dias, ao passear na Barra, vi esta papoila numa zona de 'depósito de lixo' . Como para nós nada há mais belo que a natureza, aí vai esta flor. Assim me disse o meu amigo Carlos Duarte, quando me enviou a papoila. Aqui fica, meu caro, porque é sempre bom saborear a partilha.

“IGREJA AVEIRENSE”


Saiu há pouco a revista “IGREJA AVEIRENSE”, uma iniciativa da Comissão Diocesana da Cultura. Trata-se do n.º 2 do III ano, referente ao segundo semestre de 2007.
Esta revista vem na sequência de um projecto que visa preservar os principais documentos emanados da Diocese de Aveiro, nomeadamente, dos seus bispos, titular e emérito, do Plano Pastoral e Serviços Diocesanos, entre outros, relacionados com Espiritualidade, Ecumenismo, Publicações, Efemérides, Em Memória de e Pessoas Notáveis. Neste último caso, foi evocado Pedro Grangeon Ribeiro Lopes, um viseense que um dia chegou a Aveiro e a aceitou como cidade sua, testemunhando na vida a fé que recebera na infância e que sempre alimentou.
Quem pegar na “IGREJA AVEIRENSE”, para a ler, como quem lê um livro que deve ser consultado, pode confirmar a oportunidade desta publicação e dos projectos pastorais da Diocese de Aveiro. Como que profetizando a crise social e económica recentemente anunciada, com sinais de catástrofe à vista, para a qual temos de nos preparar, estimulando-nos para a solidariedade e para a caridade, a Diocese diz-nos que “o serviço dos mais pobres é sinal visível e expressivo da verdadeira Igreja de Jesus Cristo”.
Nessa linha, sintonizam os textos de D. António Francisco, em diversas circunstâncias, com o Plano Pastoral, onde se proclama que “o serviço da caridade é uma sábia e santa forma de evangelizar”, numa expressão feliz e oportuna do Bispo de Aveiro.
Quando muitos pensam que o catolicismo é o que se faz nas igrejas e nos seus adros, desde as mais simples às mais pomposas, é bom referir que esta revista nos dá uma panorâmica, tão completa quanto possível, da acção da Igreja de Aveiro, no dia-a-dia das pessoas concretas. Múltiplos secretariados e serviços específicos, movimentos apostólicos e comissões diocesanas, instituições de ensino, cultura e de solidariedade social, propostas de espiritualidade e de formação para clérigos e leigos, acções ecuménicas e publicações de âmbito eclesial, de tudo um pouco se encontra na “IGREJA AVEIRENSE”, mostrando vida em movimento por terras da Ria e do Vouga.
Na rubrica Em Memória de são evocados os sacerdotes falecidos e que se deram por inteiro ao serviço da Igreja, ultrapassando, muitas vezes, os limites das suas próprias forças, sem nunca virarem a cara aos compromissos que assumiram no dia da ordenação presbiteral.
Os que desejarem estar em sintonia com o que faz a Igreja, em terras de Aveiro, têm de ler esta revista. Mas também a podem ler, ou consultar, os estudiosos, os académicos à procura de temas para os seus mestrados ou doutoramentos e os simples curiosos.

Fernando Martins

terça-feira, 6 de maio de 2008

Figueira da Foz: Janela aberta


No meio da floresta de cimento, é possível encontrar uma janela aberta para o mundo. Ou um espelho onde se reflecte a paisagem natural. Essa, sim, com vida.

Na Linha Da Utopia


António Vieira ou o poder da palavra
1. Quando Fernando Pessoa (1888-1935) atribui a António Vieira o título de Imperador da Língua Portuguesa, fala-nos de uma concepção não meramente literária da língua mas da dinâmica andante e reconstrutiva da vida, cultura e do homem do séc. XVII que foi António Vieira (1608-1697). Em 2008 assinala-se o Ano Vieirino, celebrando-se em múltiplos acontecimentos os 400 anos do seu nascimento (http://www.ua.pt/vieira2008). Na actualidade do séc. XXI que vivemos, na imensidão poderosíssima das mil imagens, também esta pode ser uma oportunidade de regressar à fonte primordial da comunicação que é a palavra. Claro que não meramente palavras por palavras; mas ideias, concepções, dinamismos, estímulos que derrubem muros e ergam todas as pontes onde as diferentes culturas, na riqueza da diversidade, interajam de forma inclusiva, estimulante e culturalmente acolhedora.
2. Poder-se-á considerar este projecto humaníssimo e decisivo, que Vieira registou de modo incontornável na sua época, como o sentir da “língua viva” dando vida e ser às línguas, sempre compostas de mudança, no que elas representam como encontro com o mais profundo do sentir humano e do encontro dignificante com os outros em espírito de fraternidade. Assim sempre fosse!... É por isso que do Brasil profundo e explorado (até ao tutano, diria Vieira) de seiscentos, quem aprende as línguas indígenas (dos índios às gentes provenientes de África) chega a Lisboa pronto, porque autenticamente livre, para se propor à limpeza dos vazios e superficialidades da linguagem de muito do Barroco do seu tempo. Tão estético e elegante que “vazio” da autenticidade do ser e da tão rica profundidade humana. Vieira, filho mestiço de boa gente, sente: o deixa andar, a redoma de vidro, o conformismo, o apagamento, o vazio, tudo e todos os que estão indiferentes ou intolerantes recebem de Vieira o espevitar do compromisso!...
3. Em boa hora esta viagem retrospectiva à complexidade da portugalidade e do período da catarse do primeiro tempo verdadeiramente global de seiscentos quer acolher, neste ano de 2008, olhares prospectivos quanto ao futuro que se desenha no ser e no tempo da globalização que nos interpela e à reinvenção diária da vida. Não é como dantes, mas os “passados” que nos precederam oferecem, a quem se abre a essa totalidade da experiência humana, chaves de leitura para mais e melhor sermos resposta. Uma das peças de Vieira, aos 47 anos de idade e nos decisivos anos 50, é o Sermão da Sexagésima (1655) proferido na Capela Real de Lisboa, onde ele procura libertar os seus contemporâneos das amarras de concepções vazias enaltecendo o conteúdo.
4. Integrado no CICLO DE POESIA “O MAR”, da organização da Fundação João Jacinto de Magalhães, esta quinta (21.30h), na Fábrica de Ciência Viva, a cidade acolhe, de viva voz pelo actor António Fonseca, a película que ousou abanar os alicerces da cómoda retórica: O Sermão da Sexagésima. Entrada livre, um momento único de rasgo da cultura portuguesa, um privilégio para esta terra de ria e mar!

Alexandre Cruz


BISPOS PORTUGUESES CHAMAM A ATENÇÃO PARA A CRISE

D. Carlos Azevedo, porta-voz da Conferência Episcopal Portuguesa, lembra que temos de estar mais atentos à crise socioeconómica
“Importa que as instituições da Igreja estejam muito próximas das dificuldades e a partir de instâncias de observação da realidade socioeconómica, possam ir de encontro às situações mais críticas”
“A Igreja está presente no terreno, nas paróquias, onde se conhecem as situações e se acompanham, mas é preciso abrir cada vez mais os olhos sobre estas realidades e criar um observatório social”
Clique aqui para ler mais

Atlético Clube da Marinha Velha


O Atlético Clube da Marinha Velha foi um clube de futebol que existiu na Gafanha da Nazaré, precisamente no lugar da Marinha Velha. O seu campo era no sítio onde está hoje, mais ou menos, o Porto de Pesca Costeira. Quando havia jogadores com pontapé potente, a bola, muitas vezes, ia para a Ria! E então, era preciso que alguém a fosse buscar a nado. Assisti a isto, era eu criança e jovem, há uns 50 e muitos anos. Foi seu fundador e principal dirigente o senhor que, na fotografia, está de chapéu. Era ele o senhor Casqueira, mais conhecido por Casqueirita. Este senhor, tanto quanto posso recordar, tinha um carro de praça, o primeiro que houve na Gafanha da Nazaré. O senhor Casqueirita era um homem bom, que se dedicava a causas sociais, desportivas e culturais. Também chegou a ter um Rancho Folclórico. Alguns jogadores de futebol eram seus empregados e viviam em sua casa. Tinha ainda uma agência funerária. Diz-se que gastou um boa fortuna nestas suas actividades.
O meu amigo Júlio Cirino anda a escrever um livro sobre as suas recordações da Gafanha, onde, decerto, haverá um espaço alargado para o Desporto, já que é treinador de algumas modalidades do Atletismo e seleccionador de uma delas. Agora precisa de conhecer os nomes destes jogadores. Quem poderá dar uma ajuda? Aqui fica o pedido!
As ajudas podem vir por e.mail: f.rocha.martins@gmail.com
FM

Voltou a ser rentável produzir cereais?


Entrevista com o Presidente da AMI

A edição de hoje do jornal “Diário Económico” contém uma entrevista com o Doutor Fernando Nobre, Presidente da Assistência Médica Internacional – AMI.
Atendendo à vastíssima experiência internacional do Presidente da AMI, que já esteve em mais de cem países em missões humanitárias, o que lhe dá uma enorme autoridade para se pronunciar, entre outros assuntos, sobre a crise alimentar que o mundo atravessa, convido todos os leitores a lerem esta entrevista.
Só um breve comentário: a dado passo da entrevista, é feita a seguinte pergunta ao Dr. Fernando Nobre: “Voltou a ser rentável produzir cereais?”
Lembram-se, caros leitores, da Política Agrícola Comum da União Europeia – a PAC?
Então já devem perceber porque é que na Europa deixou de haver incentivos à produção de cereais, entre outros produtos agrícolas! É tudo uma questão de lucro! Nem que, para isso, seja necessário pagar para não se produzir! Os outros, os que estão fora da Europa, que produzam, sempre fica mais barato. E se eles não produzirem ou não quiserem exportar?
Ao que chegámos!

Vítor Amorim

«Quantos pães tendes?»


Ainda haverá lugar e tempo na alma para se ouvir falar de crise? Há coisas que são mais que claras. O petróleo, pai convencional da energia, calor, frio, movimento e tecnologia tem os poços em alerta e os preços a disparar todos os dias. Entra-se pela terra dentro para, em vez do poético girassol, se extrair força de cavalos que arrastem toda a tralha de que se compõe a vida moderna. A terra, árida e triste, diz que não dá para tudo.
Daria, mas da forma como a repartiram só vê tombar árvores - motores de respiração do planeta. Se se volta ao carvão a sala comum da humanidade fica irrespirável, pior que uma câmara de gás. E mais. Nesta lista, já quase se não fala de carne, peixe, legumes ou leite. Fala-se de pão, arroz, mandioca. Quem não lembra as crises de outrora que começavam quando os pais diziam: "come muito pão e pouco toucinho"?
É fácil demais apanhar estes dados e arremessá-los simplesmente para os sistemas, as ideologias, os responsáveis pela agricultura ou economia. Mas os governos não podem ser os últimos a reconhecer que isto acontece. Ninguém pode ignorar esta crise global, ainda que passageira. Entramos em matéria planetária onde um minuto de luz ou refrigeração a mais, a demora num duche ou na lavagem dos dentes tem repercussões na humanidade. Tem o mesmo preço, para o planeta, esbanjar num hotel de luxo ou numa cabana perdida de África.
Aqui entram outros elementos. Este preço não é igual para todos. O pão falta na mesa de muitos e sobeja muito na mesa de poucos. Há algo de errado nas contas do mundo. Alguns cristãos, apenas inspirados no Evangelho, têm deixado sugestões simples que nos podem questionar sobre o nosso comportamento face à terra e aos bens, mas também abrir pistas concretas e possíveis, individual e comunitariamente. Por exemplo: a agricultura deve estar voltada para os bens alimentares; importa reformular o conceito de pobreza neste novo contexto; qualquer desperdício deve ser considerado como um crime de assalto à mesa dos pobres; reforçar a vigilância para as situações de fome envergonhada; ter coragem de aceitar este momento como de crise sem que isso signifique uma derrota ou humilhação. Mas aceitar que não se trata duma catástrofe natural. É uma tragédia que todos ajudámos a desencadear. E na consciência, deixar bem clara a pergunta de Jesus diante da multidão faminta: "Quantos pães tendes"?

Jardim Oudinot: Obras em curso


Como disse ontem, passei pelo antigo Jardim Oudinot, com obras de remodelação em curso. Máquinas e trabalhadores andavam em bom ritmo, sinal de que o novo jardim estará para breve. Esta foi a satisfação que senti. O povo desta região estava a necessitar de um espaço ajardinado, com diversas valências. O povo e quem nos visita. A mágoa, como referi ontem, veio com a velha ponte arrancada a ferros. 
Voltando ao Jardim Oudinot, gostaria de saber em que ano é que ele foi construído e quem foi o seu mentor. Já perguntei, já li o que foi possível ler, já contactei antigos responsáveis pela JAPA (Junta Autónoma do Porto de Aveiro), antecessora da actual APA, e ninguém me soube dizer, com rigor em que época é que foi criado. Uma coisa é certa. O Jardim Oudinot diz bem que foi uma homenagem ao Eng. Oudinot, que elaborou os planos da abertura da Barra, abertura essa que foi concretizada pelo seu genro, Luís Gomes de Carvalho. 
Terá sido criado com base na necessidade de fixar as areias movediças, conforme projecto conhecido? A pergunta aqui fica para quem me quiser ajudar.

FM

PONTES DE ENCONTRO

Preço do arroz pode criar conflitos sociais na Ásia

«O recente aumento dos preços do arroz vai atingir duramente os países da Ásia. Os mais afectados são os mais pobres, incluindo os pobres urbanos», declarou Fukushiro Nukaga, Ministro das Finanças, do Governo japonês, durante a 41º Assembleia-Geral do Banco Asiático de Desenvolvimento (BAD), a decorrer em Madrid, até à próxima terça-feira, dia 6.
«Isto terá um impacto negativo nas condições de vida e de alimentação das populações. Esta situação pode levar a conflitos sociais», acrescentou. Segundo o Ministro das Finanças japonês, é necessário «adoptar medidas para satisfazer, imediatamente, as necessidades dos mais pobres»
Haruhiko Kuroda presidente do BAD, referiu, em Madrid que “O aumento do preço dos alimentos ameaça minar os esforços da Ásia para combater a pobreza", alertando que a "época dos alimentos baratos, quiçá, chegou ao fim", sublinhando que o preço do arroz triplicou nos últimos quatro meses, algo que, em sua opinião, "não se pode explicar pela leia da oferta e da procura", acrescentando que montante da ajuda "dependerá dos pedidos dos países em causa".
O próprio BAD estima que o aumento dos preços dos bens alimentares afectará mil milhões de pessoas, só na Ásia.
Rajat Nag, director-geral do BAD, afirmou, na sexta-feira, dia 2, também em Madrid, que das pessoas afectadas na Ásia cerca de 600 milhões sobrevivem com menos de um dólar por dia e os 400 milhões que estão acima deste limiar também são muito vulneráveis.
O preço do arroz tailandês, um dos mais utilizados na Ásia, é actualmente de cerca de mil dólares (648 euros) a tonelada, o triplo do que era há um ano, quando se realizou a anterior Assembleia-Geral do Banco Asiático de Desenvolvimento, no Japão.
A nível global, os preços dos alimentos quase duplicaram, em três anos, originando distúrbios vários e protestos, um pouco por todo o mundo, e restrições às exportações no Brasil, Vietname, Índia e Egipto.
O Ministro das Finanças do Japão, alertou que as restrições às exportações aumentam os preços, enquanto os subsídios para ajudar os pobres a lidar com a questão poderão ser um fardo pesado para os orçamentos nacionais e «não são sustentáveis, a prazo».
Os subsídios alimentares no Bangladesh, um dos países mais pobres da Ásia, deverão duplicar no corrente ano fiscal e atingir 1,5 mil milhões de dólares (973 milhões de euros). A 29 de Abril, o secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, anunciou a criação de uma célula de crise para lidar com a questão da subida do preço dos alimentos e os consequentes problemas de fome.
Entre outras causas da crise, a ONU refere a falta de investimentos no sector agrícola, os subsídios que pervertem o comércio, os subsídios aos biocombustíveis, as más condições climatéricas e a degradação do meio ambiente.
Com sede em Manila, Filipinas, o BAD é uma instituição financeira multilateral, criada em 1967, para reduzir a pobreza e melhorar a qualidade de vida nos países mais pobres da Ásia e Pacífico, através do financiamento de projectos em condições vantajosas, assistência técnica e difusão do conhecimento. O BAD conta actualmente com 67 países membros, dos quais 48 da região Ásia-Pacífico, como Timor-Leste, e 19 não regionais, tendo os Estados Unidos e o Japão como principais accionistas.
Portugal é membro do BAD, desde o ano de 2002.

Vítor Amorim

segunda-feira, 5 de maio de 2008

Na Linha Da Utopia


Gratidão + Esperança = Compromisso

1. Não que seja uma fórmula matemática (Gratidão + Esperança = Compromisso), mas formula, poderemos dizer, a construção sustentável de projectos de vida em vidas com projecto. As palavras são, por si, cheias de significado: Gratidão: mobiliza-nos para apreciar que tudo quanto somos o devemos não só a nós mesmos mas a muitos que nos ajuda(ra)m na caminhada de vida. Como muitas vezes dizemos, quem não agradece não reconhece, e reconhecer será valorizar com sensibilidade os alicerces nos quais queremos construir a nossa vida. Esperança: é o desejo do futuro que está cada momento, aí, a interpelar-nos para reinventarmos tudo o que pode ser melhor. Projecta-se na esperança, tanto mais, quem redobra a sua confiança confiando para além de si mesmo, no Amor-Absoluto divino. Essa abertura de espírito, naquilo que é construtivo (o bem e o belo), abre margens para a inclusão de outras experiências e caminhos diversificados de vida. Esta esperança profunda, que não quer ser palavra oca, assim, só pode brilhar como gosto de transformação positiva. A isso pode-se chamar Compromisso. Não um compromisso qualquer… Mas o compromisso que nos torna mais próximos e felizes na comum pertença à humanidade, pessoal e globalmente.
2. Foi com este espírito que no passado domingo familiares e finalistas do Ensino Superior aveirense, em ambiente de festa académica, acolheram a celebração da bênção dos finalistas, manifestando gratidão e esperança comprometida diante do futuro. Não o fim, mas um princípio de expectativas que querem ser contributo para derrubar as “barreiras” que pertencem à vida. Brotando do pensamento e escrita dos finalistas, partilhamos com a comunidade mais alargada o sentir da Oração de Compromisso dos Finalistas: «Amar, respeitar e apoiar, com humildade, todos aqueles que vão estar, pensar, viver e trabalhar connosco, sabendo, em abertura de espírito, caminhar em grupo, assumindo a colaboração com os outros como um valor fundamental da nossa vida; Viver no esforço e no empenho, em tudo aquilo que fizermos, partilhando os nossos conhecimentos na luz da dignidade da Pessoa Humana e da integridade social e ambiental do meio que nos irá rodear, e assim vivendo sempre em espírito de fraternidade; Dar o melhor de nós na promoção da ética da responsabilidade e na construção da paz, acolhendo a sabedoria que garante a força de nos sabermos levantar nos momentos mais difíceis da vida, alimentando a felicidade na perseverança dos ideais contra todas as tempestades; Ter sentido humano de gratidão e de criatividade na inovação, para sermos parte das soluções solidárias, educativas e científicas nos grandes problemas do mundo actual, querendo aprender mais cada dia, em ordem ao justo desenvolvimento humano; E não permitas, Senhor, que esqueçamos o verde da esperança, que durante estes anos nos inspirou e hoje enche os nossos corações, e auxilia-nos a cumprir todos os dias da nossa vida toda a grandeza do ideal que assumimos, perante todos, neste maravilhoso dia!»
3. Será significativo, ainda, dizer-se que cada ano essa imensa comunidade festiva manifesta toda a gratidão para com a Cidade que os acolheu e a Instituição de Ensino que lhes proporcionou a via do conhecimento. Razões, sempre a zelar, para acreditar no futuro!

Alexandre Cruz

AI O PROGRESSO!...



O progresso, por vezes, destrói as nossas memórias palpáveis. Não devia ser assim, mas é. Infelizmente.
Um dia destes disseram-me que as obras em curso na zona do Jardim Oudinot tinham destruído a velha Ponte da Cambeia, de tantas recordações. Não quis acreditar e fui certificar-me. É verdade. Já lá não está. O progresso podia ter em conta as memórias vivas do povo. Mas nem sempre as respeita, como era seu dever. A culpa não é minha, que sempre aqui, e não só, valorizei as marcas do passado.
A Ponte da Cambeia era, na minha infância, o centro de muita vida. Ali esperávamos os barcos mercantéis que traziam, das feiras de Aveiro e da Vista Alegre, as mercadorias adquiridas pelos gafanhões. Eram entregues ao barqueiro, com sinais identificativos, e na hora combinada eram esperadas pelos seus donos. Nesta ponte e noutros locais das Gafanhas. Quando havia atraso, os barqueiros deixavam-nas ali mesmo, na certeza de que não haveria ladrões.
Ali, na ponte, pudemos assistir a manobras arriscadas, em dias de temporal, com os homens do leme a orientarem as embarcações, com rigor, para passarem sem perigo. Nadava-se, conversava-se, atiravam-se piadas aos barqueiros, com perguntas ingénuas e algumas vezes maldosas: “Quem é o macaco que vai ao leme?”
Recordo-me, bem, da pesca do safio. Vara forte, com arame numa ponta. Preso tinha o anzol. Enfiava-se nas tocas onde se refugiavam os safios e esperava-se que ele atacasse o isco. Depois, com força, puxava-se, puxava-se, que ele oferecia enorme resistência. A propósito do safio, permitam-me que lembre a história contada por José Cardoso Pires no seu livro “Lavagante”, um inédito recentemente editado. Diz ele que o lavagante é marisco manhoso. Vai alimentando o safio na sua toca, levando-lhe comer constantemente, para o engordar. Quando vê que o safio, pelo tamanho, já não consegue sair do refúgio, então mata-o e dele se vai alimentando. Daí, penso eu, a dificuldade que os pescadores tinham em o sacar da toca. Porém, nunca faltava a ajuda dos presentes, que davam uma mãozinha.
Depois disto tudo, como não hei-de ter pena de ver desaparecer a antiga Ponte da Cambeia. E como eu, outros, muitos outros gafanhões, que de várias partes do mundo me têm contactado, a propósito das fotos que aqui publico. Sei que não era uma ponte romana nem coisa que se pareça. Mas era a nossa Ponte. Ponte do lugar da Cambeia, da Gafanha da Nazaré. Presumo, contudo, que no mesmo local venha a nascer uma nova ponte, com os traços fundamentais da que foi derrubada. Se assim for, ainda bem.

Fernando Martins

CÁRITAS PORTUGUESA ATENTA À FOME

PEDE:
"aos governos para deixarem de apoiar a produção de produtos energéticos a partir de produtos agrícolas para que a produção agrícola se volte a orientar para a produção de bens alimentares, designadamente de primeira necessidade"
E ALERTA:
"as autoridades para a necessidade de redobrarem os apoios aos mais carenciados, distribuindo bens de primeira necessidade aos mais necessitados e com manifesta escassez de recursos financeiros e alimentares"
Leia mais aqui e aqui

CUIDAR DO NOSSO CORAÇÃO

No CUFC, quarta-feira, 7 de Maio




Cada vez mais é preciso cuidar do nosso coração. Trata-se de uma "máquina" com enormíssima capacidade, mas não é eterna. Se cuidarmos dela, mais tempo poderemos viver. Toda a gente sabe disso, mas os nossos comportamentos nem sempre têm em conta a importância do coração. Eu que o diga, que já apanhei alguns sustos. Daí que assuma a obrigação de falar desta Conversa Aberta, integrada no Fórum::UniverSal, que vai ter lugar no CUFC, na quarta-feira, 7 de Maio, pelas 21 horas. Podem (e devem) participar os que já sofrem do coração e os que desejam apostar em ter um coração mais saudável. O conferencista será Polybio Serra e Silva, da Fundação Portuguesa de Cardiologia, e como moderador teremos o cardiologista aveirense, Rogério Leitão.

PONTES DE ENCONTRO


QUE PASSADO PARA O FUTURO DE PORTUGAL?


“Num certo sentido, o 25 de Abril continua por realizar-se”


Esta frase que escolhi para o início deste texto faz parte do discurso do Presidente da República, na 34ª Sessão Comemorativa do 25 de Abril, realizada na Assembleia da República, no passado dia 25 de Abril de 2008.
Nesse dia, tive oportunidade de escrever neste blogue uma breve reflexão sobre “O 25 de Abril e o futuro”. Acabava o meu texto da seguinte forma: ”Falar, nos dias de hoje, do 25 de Abril de 1974, é pensar e falar na capacidade que temos em regenerar o que tem que ser regenerado; aperfeiçoar o que tem que ser aperfeiçoado; na vontade em resolvermos as dificuldades e problemas que nos surgem e na qualidade de vida e de democracia que podemos prometer e cumprir, de forma competente, perante todos os cidadãos. Se assim não for, o 25 de Abril de 1974 será sempre passado sem sentido e um memorial de recordações e nostalgias que jamais poderão fazer parte do futuro.”
Perante isto, não posso estar mais de acordo com a frase do Presidente da República, já que um projecto de país e de uma sociedade jamais se esgotam no tempo. O futuro é, pois, o horizonte mais próximo, num projecto de um país, que, por via disso, nunca está acabado e cujas responsabilidades para as tarefas da sua contínua renovação e execução são transmitidas de geração em geração, ininterruptamente.
Neste seu discurso, Aníbal Cavaco Silva deu a conhecer um estudo, encomendado à Universidade Católica Portuguesa, “sobre as atitudes e comportamentos políticos dos jovens em Portugal”.
O estudo revela um “alheamento da juventude, que não pode deixar de nos preocupar a todos, a começar pelos agentes políticos. A começar por vós, Senhores Deputados. Se os jovens não se interessam pela política é porque a política não é capaz de motivar o interesse dos jovens. (…) Em todo o caso, o nível de informação dos jovens relativamente à política é de tal forma baixo que ultrapassa os limites daquilo que é natural e salutar numa democracia amadurecida.” Já gora, será só na vida política?
Compreendo as palavras do P.R. e os alertas que faz, em vista ao futuro e ao destino de Portugal. Contudo, não posso deixar de colocar algumas questões que o passado nos tem ensinado e das quais os políticos se parecem esquecer: É ou não é verdade que existe em Portugal uma falta grave de cultura de cidadania? É ou não é verdade que os partidos políticos são mais vendedores de ilusões do que cumpridores de promessas? É ou não é verdade que falar verdade custa a perca de muitos votos? É ou não é verdade que os Deputados, não prestam contas a ninguém do que fazem no Parlamento? É ou não é verdade que se tem dado a ideia que aprender e ensinar não exige disciplina e sacrifícios? É ou não é verdade que as pessoas querem é entretimento, começando no futebol e acabando nas telenovelas? É ou não é verdade que se tem desvalorizado a componente de memorização dos jovens? É ou não é verdade que o espaço familiar é cada vez mais ocupado pelo computador, a Internet ou as Play Stantion, em vez do diálogo familiar? É ou não é verdade que se vendem cada vez mais as chamadas revistas cor-de-rosa e sensacionalistas e decresce a venda da chamada “informação séria”? É ou não é verdade que temos uma democracia formal e conjuntural?
Estas questões são comuns a outros países, pelo que bem pior do que a baixa informação, política, dos jovens, e não só destes, tem sido a falta de qualidade e a mediocridade dos que têm gerido os destinos deste povo e deste país, ao longo das várias décadas de democracia. É difícil não fazer recriminações, como pediu o P.R., pois estas, agora, nada resolvem e o futuro não espera, e é este que conta! Até quando?

Vítor Amorim

FOME EM PORTUGAL: UMA VERGONHA DA NOSSA DEMOCRACIA

O PÚBLICO online informou, há momentos, que “mais de mil toneladas de alimentos foram entregues este fim-de-semana ao Banco Alimentar Contra a Fome, 25 por cento mais do que a campanha de Maio do ano passado”. Acrescentou que “todos os trabalhos de recolha, selecção, empacotamento e distribuição foram efectuados nesta campanha por perto de 17 mil voluntários”, que nada receberam por esse trabalho, como é normal. Os dirigentes e demais colaboradores devem ter ficado, com esta campanha, mais descansados. Se há mais pobres, também há gente generosa. Mas não podemos ficar por aqui. Os nossos governantes, os políticos, as instituições estatais e privadas e a sociedade em geral têm a obrigação, inadiável, de resolver este problema da fome, uma vergonha da nossa democracia. FM

domingo, 4 de maio de 2008

DIA DA MÃE



POEMA À MÃE

No mais fundo de ti,
eu sei que traí, mãe!

Tudo porque já não sou
o retrato adormecido
no fundo dos teus olhos!

Tudo porque tu ignoras
que há leitos onde o frio não se demora
e noites rumorosas de águas matinais!

Por isso, às vezes, as palavras que te digo
são duras, mãe,
e o nosso amor é infeliz.

Tudo porque perdi as rosas brancas
que apertava junto ao coração
no retrato da moldura!

Se soubesses como ainda amo as rosas,
talvez não enchesses as horas de pesadelos...

Mas tu esqueceste muita coisa!
Esqueceste que as minhas pernas cresceram,
que todo o meu corpo cresceu,
e até o meu coração
ficou enorme, mãe!

Olha - queres ouvir-me? -,
às vezes ainda sou o menino
que adormeceu nos teus olhos;

ainda aperto contra o coração
rosas tão brancas
como as que tens na moldura;

ainda oiço a tua voz:
"Era uma vez uma princesa
no meio de um laranjal..."

Mas - tu sabes! - a noite é enorme
e todo o meu corpo cresceu...

Eu saí da moldura,
dei às aves os meus olhos a beber.

Não me esqueci de nada, mãe.
Guardo a tua voz dentro de mim.
E deixo-te as rosas...



Eugénio de Andrade

BUARCOS: Ruas estreitas


Sempre gostei de passear por povoações antigas. O insólito aparece-nos a cada esquina. Vejam esta ruela limpa, que nos convida a olhar. Ela é tão estreita que quase nem dá para duas pessoas se cruzarem. Se levarem um cesto à cabeça ou à ilharga, não sei como será! E se precisarem de comprar uma mobília larga, como é que fazem para a meter em casa? A verdade, porém, é que nestas ruelas a vida existe. E não será interessante conversar de janela para janela, quando a monotonia ataca dentro de casa?

DIOCESE DE AVEIRO ONLINE


A Diocese de Aveiro já está online. A partir de agora, o mundo passa a ter acesso à vida da Igreja aveirense. Todos os que lhe estão ligados, directa ou indirectamente, podem entrar em sintonia com a diocese, que fica à distância de um simples clique. Na abertura deste espaço diocesano, o nosso Bispo, D. António Francisco dos Santos, sublinha que "A Internet é um caminho deslumbrante, cheio de magia e de fascínio, que se abre à evangelização com novo encanto, e é igualmente um meio imprescindível para construir a comunhão humana e eclesial, que a Igreja como casa e escola de comunhão se propõe realizar".
Para abrir o apetite, aqui deixo as rubricas, algumas das quais à espera de serem enriquecidas no dia-a-dia: Bispo de Aveiro, História, Plano Pastoral, Arciprestados, Clero, Documentos e Contactos, entre outras.
Felicito quantos puseram de pé este projecto, reconhecendo, assim, a importância de embarcar na carruagem mais significativa dos tempos de hoje. Com a ajuda de todos os diocesanos, a Igreja aveirense passa a estar em todos os recantos da Terra, assumindo, deste modo, a catolicidade da sua matriz.
Sugiro, agora, uma visita, para estabelecer, se quiser, a sua ligação diária.

AVEIRO: BÊNÇÃO DOS FINALISTAS - 3




Vivi hoje, na Alameda da Universidade de Aveiro, a Bênção dos Finalistas, em cerimónia presidida por D. António Francisco. Foi uma celebração muito expressiva, porque marcada pelas emoções de quem parte, pelas alegrias de quem chega ao fim do curso, pela esperança num futuro risonho e pela coragem de enfrentar outros desafios na vida. Finalistas e alunos das Escolas Superiores de Aveiro, familiares e amigos, professores e funcionários, todos se deram as mãos e cantaram hinos ao Deus do Amor, de quem esperam inspiração para, no dia-a-dia, promoverem gestos solidários e fraternos, alicerces de uma sociedade mais justa. Gostei, por isso, da alegria partilhada, da sintonia das preces, das palavras de despedida, do obrigado dos cursos, do reconhecimento do bem recebido, das amizades criadas, dos agradecimentos à cidade que os acolheu. Felicidades para todos, são os meus votos.
FM


UMA MENSAGEM

Um passo no futuro
Antes de partir, a nossa mesa redonda!

Num tempo que voou,
Porque o vivemos a brilhar,
Foram anos, trabalhos,
cadeiras e canseiras sem parar!

A todos, foram imensos,
Eis chegada a hora de reconhecer:
Olhar para trás, sentir o vencido mar,
À Ria, às gentes de Aveiro agradecer!

E se ao futuro a incerteza pertence
Na hora sempre sofrida de partir,
Fica-nos o sabor bem especial
Da arte da esperança sentir!

A Bênção é a nossa festa especial,
Finalistas da academia vamos cantar!
É o dia da unidade e grito maior
Que nos leva aos céus a Deus louvar!

Será, em mesa universal, a aula maior
Onde a abundância da paz todos encanta…,
Símbolos e Cursos, na Alameda, projectam o melhor…
O sonho, o futuro, triunfo de agiganta!


Na Linha Da Utopia



Ética nas liberdades de imprensa



1. Este ano foi Maputo a acolher as cerimónias centrais do Dia Mundial da Liberdade de Imprensa (3 de Maio). É neste contexto que a instância Iniciativa Africana dos Média reflecte de forma aberta e plural sobre a «situação, desafios e oportunidades, expansão e consolidação da Liberdade de Imprensa e do direito à Informação em África». Tratam-se, assim, de dimensões essenciais da pessoa humana em sociedade, como janelas abertas para democracia em liberdade de comunicação. A própria Declaração Universal dos Direitos Humanos inscreve-se nesta mesma matriz, ao destacar que «todo o ser humano tem direito à liberdade de pensamento, de consciência e de religião» (art. XVIII). Estes são os “lugares” mais profundos do ser humano.
2. Continua, ainda, grande a lista de países em que o bloqueio à liberdade de expressão é limitação de vivência no respeito inclusivo pelas diferenças. Quando a intolerância triunfa (ou triunfou…e a sua história é bem longa e de muitos quadrantes) é sinal fechado do assumir explícito da dignidade da pessoa humana. Não é por acaso que uma boa parte dos relatórios diagnósticos internacionais baseia-se na percepção da liberdade e alguns autores, mesmo, apresentam a referência «o desenvolvimento como liberdade» (obra pioneira de Amartya Sen, Nobel da Economia 1998). É nesta linha que os direitos humanos destacam que «todo o ser humano tem direito à liberdade de opinião e de expressão; este direito inclui a liberdade de, sem interferência, ter opiniões e de procurar, receber e transmitir informações e ideias por quaisquer meios e independentemente de fronteiras» (art. XIX da Declaração Universal).
3. Também neste 4 de Maio, no âmbito do 42º Dia Mundial das Comunicações Sociais, Bento XVI salienta que «quando a comunicação perde as amarras éticas e se esquiva ao controle social, acaba por deixar de ter em conta a centralidade e a dignidade inviolável do homem, arriscando-se a influir negativamente sobre a sua consciência, sobre as suas decisões, e a condicionar em última análise a liberdade e a própria vida das pessoas. Por este motivo é indispensável que as comunicações sociais defendam ciosamente a pessoa e respeitem plenamente a sua dignidade. São muitos a pensar que, neste âmbito, seja actualmente necessária uma «info-ética» tal como existe a bio-ética no campo da medicina e da pesquisa científica relacionada com a vida» (Mensagem de Bento XVI para o 42º Dia Mundial das Comunicações Sociais, 4 de Maio).
4. Os novos desenvolvimentos sociais geram novos imperativos no apurar da reciprocidade das liberdades, e nestas a justa liberdade de imprensa nos novos alcances das comunicações actuais. Quem não se lembra há uns tempos das polémicas caricaturas de Maomé…onde se entrecruzavam ausências de ética social na percepção da liberdade de cada um… Informar a profundidade do ser humano com o reconhecimento da dignidade do outro continua a ser a maior tarefa humana, porque caminho de tolerância, paz e desenvolvimento.

Alexandre Cruz

TECENDO A VIDA UMAS COISITAS - 76


OS CADERNOS ESCOLARES


Caríssima/o:

Quando recordamos estas coisitas da vida e, se porventura, falamos delas, é certo e sabido que os nossos jovens respingam com os seus remoques. E têm alguma razão, não fazem ideia da dificuldade que tínhamos em ir à loja do ti Bola ou da D. Joaninha comprar um caderno de uma dezena de folhas com o desenho dum lusito na capa! Os traços eram a azul e ele lá estava de braço estendido e de manga arregaçada. O papel da capa era fino e mais brilhante do lado de fora. Por dentro, nesta primeira etapa, as folhas eram de duas linhas para dar forma e tamanho à nossa letra! Só muito mais tarde escrevíamos nos de uma linha, quando a letra já estava certinha e não havia necessidade da guia superior. Cadernos quadriculados e lisos ficavam lá para a terceira e quarta classes ou para os alunos mais abonados.
Os cadernos eram deitados. Mesmos os que eram feitos de papel almaço cortado, eram mais compridos do que altos. Estes cadernos foram uma inovação que muito trabalho davam, pois as folhas tinham de ser dobradas e depois cozidas; mais tarde intercalavam-se folhas pautadas com quadriculadas e lisas.
Perto dos exames o nosso treino era feito com folhas de almaço; grande aflição, porque era tão larga que só com muita dificuldade a arrumávamos em cima do tampo da carteira. Em seguida, víamos as folhas das provas impressas mas que eram desse mesmo tamanho; já não havia dificuldade...
Hoje a variedade é tal que nos faz exclamar: Não há fome que não dê em fartura!
Os nossos jovens não podem aquilatar do engenho e da arte necessários para engendrar cadernos de folhas de papel costaneira ou de outros papéis ( de embrulho...) onde fosse possível escrever e reler aquilo que se tinha escrito!
Mais tarde, quando as bicicletas nos levavam a Aveiro, outros cadernos surgiriam... Será conversa de outro plano, mas foi aí que nos apareceu o nome “sebenta” e palpámos papel quase tão grosseiro como o churro que aproveitávamos para as nossas escritas mais respeitáveis!
Para terminar uma pergunta: alguém se lembra dos cadernos do modelo J?...


Manuel

GESTOS INESQUECÍVEIS


Recebi, há dias, um convite fora do comum que me deixou cheio de alegria. Um par de noivos pede-me para presidir ao seu casamento e, na celebração da eucaristia, dizer aos convidados que tinha tomado a decisão de dedicar as ofertas recolhidas na missa às famílias empobrecidas do nordeste brasileiro.
O noivo conhecia bem a situação de abandono, perseguição e fome que grassam por essas terras. Havia estado por lá em trabalho missionário cinco anos. A noiva vive há muito a simplicidade e a sobriedade de Taizé, comunidade ecuménica que difunde o seu espírito por todo o mundo.
Assim procedi, não sem uma certa emoção, vendo passar na minha imagimação os milhares de famintos deserdados pelos grandes latifundiários que se apoderam das terras para fazerem as enormes herdades. Assim correspondi, fazendo meu um pedido tão nobre e um gesto tão expressivo em ordem a atenuar um enorme problema social.
Está presente o pároco de uma dessas zonas nordestinas. Agradavelmente surpreendido pela iniciativa dos noivos, toma a palavra, após a recolha das ofertas, agradece comovidamente e deixa-nos uma linda e interpelante mensagem.
Hoje, é o dia da Mãe. Os noivos quiseram fazer-nos esta surpresa admirável. Pois, meus amigos, a oferta que pondes nas minhas mãos vai ser dedicada a satisfazer a necessidade maior sentida pelo povo de que sou responsável. Como não tem onde se reunir para tratar dos seus problemas, nem para rezar em conjunto, nem para tomar parte na celebração da missa, estamos a construir uma igreja dedicada a Santa Gianna Beretta Molla. Este dinheiro e, sobretudo, a vossa generosidade vão para esta construção que pretende ser um monumento à vida que este jovem casal está agora a iniciar.
Santa Gianna Beretta Molla foi canonizada em 2004 por João Paulo II. Era mulher casada e mãe de vários filhos. Tinha uma vida feliz, normal, simples. Uma vez, depara-se com um problema dilacerante: uma gravidez de risco. Os médicos aconselham-na a abortar. Ela pede para fazerem todo o possível para os salvar a ambos, mas sobretudo à sua filhinha nascente. E assim acontece, tendo ela sucumbido logo após o parto.
O olhar do jovem casal brilha com um fulgor intenso. A assembleia parece electrizada e irrompe numa ovação extraordinária. A admiração é visível em todos os rostos. A coincidência torna-se muito expressiva. O gesto chega mais longe do que as palavras.
O destino das ofertas recolhidas tinha um alcance sublime que o missionário apresenta de forma tão evangélica: enaltecer a coragem de quem defende a vida nascente, apoiar o sentido nobre do casal aberto à solidariedade com os mais empobrecidos no momento preciso em que mais se gasta e consome.
A assembleia assim o entende; e por isso, aplaude e colabora generosamente. E o gesto fica como uma recordação inesquecível na memória de todos.

Georgino Rocha

sábado, 3 de maio de 2008

Somos Livres

Para uma jovem visitante do meu blogue, de Troviscal, Oliveira do Bairro, com muita simpatia.

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