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Conversão, Dia da Terra, 25 de Abril

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Crónica de Anselmo Borges  no Diário de Notícias Numa experiência diferente do tempo, um tempo parado, vazio, parece, por um lado, que nada acontece de especial, por outro, na medida em que se está atento, percebe-se que a vida está aí para ser vivida e em interrogação constante. O vírus invisível e global isso fez: obrigou a parar e a pôr as perguntas essenciais. O que aí fica são algumas notas sobre este tempo novo.  1. São muitos os que se perguntam se vamos sair melhores, na convicção de que sim. Por mim, espero que sim, mas temo que, passada a catástrofe, tudo volte exactamente ao mesmo. Não esqueço aquelas palavras de Primo Levi que, ao sair de Auschwitz, constatou que “não saímos nem melhores nem mais sábios”. E viaja pelas redes sociais uma “graça”, talvez, infelizmente, verdadeira: “Vamos sair melhores?” – “Não. Porque isto é um vírus, não é um milagre”.  No entanto, é de um milagre que precisamos, ao sair deste pesadelo: sair melhores e mais sábio...

AS PORTAS QUE ABRIL ABRIU

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Celebra-se hoje o “25 de Abril”, a revolução dos cravos de 1974 que pôs fim a uma ditadura de quase meio século. Já não serão muitos os que viveram aquela data que tem marcado as mais recentes gerações em espírito democrático. Há eleições a nível nacional e local que todos conhecem, mas nem sempre agem com a participação cívica que a democracia merecia e merece. Se é verdade que uma elevada percentagem de portugueses vive indiferente às eleições, também é certo que o direito de escolha não está vedado a ninguém. Isso significa que muitos compatriotas precisam de ser esclarecidos a partir das famílias, dos bancos das escolas e por todas as formas de convencimento, até porque só terá o direito de contestar os serviços prestados pelos eleitos, nos diversos cargos autárquicos ou de âmbito nacional, quem vive com autenticidade a democracia.  O 25 de Abril abriu portas outrora trancadas a muitos homens e mulheres: o direito à liberdade de opinião e de expressão, oral e escrita, à ...

CORAÇÃO HUMANO AO RITMO DO RESSUSCITADO

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Reflexão de Georgino Rocha  para o Domingo III da Páscoa  A distância geográfica de Jerusalém a Emaús é relativamente curta, mas simboliza um itinerário exemplar de iniciação que, normalmente, os candidatos à vida cristã e inserção eclesial estão chamados a percorrer. Outrora, os discípulos eram Cléofas (que significa celebração) e o seu inominado companheiro/a (talvez cada um/a de nós, ao longo dos tempos). Regressam à aldeia, após o fracasso das suas expectativas provocado pelo desfecho trágico da vida do seu mestre, Jesus de Nazaré. Dão largas a este estado de espírito, lamentam o sucedido e “sonham” retomar um passado que não volta. Alimentam e ampliam a amargura da frustração, “curtida” em conversas e atitudes. Sem horizontes de futuro onde brilhe qualquer “semáforo” de esperança. Amarrados a um presente marcado pelas chagas ainda em ferida viva e sangrante, carregam as gratas recordações de um tempo feliz e vivem à procura de sentido para a etapa que se avizin...

DIA MUNDIAL DO LIVRO

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Singela homenagem ao grande Camilo Dia Mundial do Livro celebra-se hoje, 23 de abril, com o objetivo de sublinhar a importância da leitura e de lembrar que os livros são fontes extraordinárias de formação, informação e cultura.  Como leitor diário, não ficaria de bem com a minha consciência se não alertasse os meus amigos para a mais-valia que os livros representam na minha formação a diversos níveis. Ajudam-me a compreender o mundo, a aceitar o pensar e o agir das pessoas pela positiva, a valorizar a sensibilidade criativa dos poetas e romancistas, a descobrir o trabalho incansável dos historiadores, a perceber a oportunidade e cultura de cronistas, a aceitar a capacidade de síntese dos contistas, a saborear a espiritualidade dos místicos, contemplando-me com a arte, enfim, de todos os que, com paixão, me brindam com livros que ocupam cantinhos especiais das minhas estantes.  Não seria preciso dizer que há livros que me marcaram para a vida, que outros mereceram o ca...

DIA MUNDIAL DA TERRA - A TERRA PRECISA DE CARINHO

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O planeta terra precisa do nosso carinho O Dia Mundial da Terra celebra-se neste dia, 22 de Abril, tendo sido criado em 1970 para sensibilizar todo o mundo para a defesa de um planeta sem poluição, como garantia de um ambiente onde os seres vivos possam usufruir de melhores e mais dignas condições de felicidade. Importa, todavia, sublinhar que tudo seria mais fácil se a humanidade se envolvesse em pleno para levar por diante esse desiderato, mas há sempre quem ponha de lado tais propósitos, olhando apenas para o desenvolvimento económico a qualquer custo no imediato, sem pensar no dia de amanhã. A ganância economicista tudo amarfanha, sem olhar às consequências desregradas da produção industrial e do consumo egoísta e sem regras.  Apesar de tudo isso, não têm faltado campanhas e alertas que envolvem milhões de pessoas de todos os continentes na ânsia de travar o caos no máximo a nível do ambiente e da qualidade de vida dos seres vivos sobre a Terra, mas não falta quem teime ...

FALAR COM AS FLORES

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Flor do nosso jardim Tenho para mim que as flores, de jardim ou silvestres, têm algo de divino. Quando passo por elas, não resisto à tentação de parar para as contemplar. E depois das formas, tonalidades e cheiros que inebriam, até sinto vontade de lhes falar. Bagão Félix, um profundo conhecer, mesmo apaixonado, de plantas, disse um dia, numa entrevista, que costuma falar com elas e acariciá-las. E ainda afirmou que pressente que as plantas o entendem. Não cheguei a esse ponto, mas que gosto de flores, lá isso gosto.  Boa semana, de preferência a passear por um jardim, quando puder, e a tentar falar com as flores.  F. M.

IDOSOS: GENTE QUE AINDA QUER SER GENTE

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A propósito do Covid-19 «O que não é normal é o discurso da clausura dos idosos por tempo indeterminado como se gente acima de certa idade, que vive em contextos muito diferenciados, não tivesse autonomia individual, autodeterminação, capacidade de tomar decisões, incluindo a capacidade de escolher quais os riscos de saúde que quer ou não assumir. Não se pode esperar com enorme tranquilidade que homens e mulheres acima de 65 anos fiquem fechados em casa ou em lares por meses e meses, sem direito ao mundo exterior, sem direito ao afeto, sem direito a escolher. Quando estivermos em período de regresso à normalidade, as pessoas idosas não podem ser condenadas a morrer da precaução. Pelo contrário, temos de as respeitar enquanto cidadãos e cidadãs capazes de fazerem as suas escolhas, livres naquilo que não afete terceiros, gente que ainda quer ser gente.» Isabel Moreira   no EXPRESSO 

GAFANHA DA NAZARÉ - CIDADE HÁ 19 ANOS

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Recanto no Oudinot com navio-museu Santo André e Forte da Barra à vista  A Gafanha da Nazaré celebra hoje, 19 de abril, o 19.º aniversário da sua elevação a cidade. Sendo certo que esta efeméride evoca um crescimento a vários níveis, não podemos ignorar que a valorização duma cidade segue um processo sem fim à vista...  Recordemos um pouco de história Criada freguesia em 23 de Junho de 1910 e paróquia em 31 de Agosto do mesmo ano, a Gafanha da Nazaré é elevada a vila em 1969. A cidade veio em 2001 por mérito próprio. O seu desenvolvimento demográfico, económico, cultural e social bem justifica as promoções que recebeu do poder constituído no século XX, a seu tempo reclamadas pelo povo. A Gafanha da Nazaré é obra assinalável de todos os gafanhões, sejam eles filhos da terra ou adoptados. De todos os pontos do País, das grandes cidades e dos mais pequenos recantos, muitos chegaram e se fixaram, porque não lhes faltaram boas condições de vida. A Gafanha da Nazaré...

A VIDA TEM DE VOLTAR À NORMALIDADE

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Habituados que estamos ao confinamento, nem sei como vai ser quando retomarmos a normalidade, isto é, quando pudermos fazer uma vida com liberdade, dentro dos parâmetros estabelecidos há tantas décadas, como é o meu caso. A ideia que já expressei de que tudo será diferente depois do Covid-19 não me sai da cabeça e tenho dificuldades em compreender como é possível aceitar uma vida sem liberdade plena de sair de casa, de passar por um café, entrar num restaurante, assistir a um espetáculo, visitar amigos ou participar numa cerimónia religiosa...  Diz-se que a máscara passa a ser peça obrigatória do nosso dia a dia, que evita males maiores, que é fundamental para impedir contágios ou para os provocar... Também se diz que é complicado visitar ou receber amigos porque desconhecemos quem é portador de vírus ou de doenças facilmente transmissíveis.  Realmente, o futuro é uma incógnita, mas a inteligência humana, que tem resolvido obstáculos aparentemente intransponíveis, sab...

ANTROPOLOGIA DA ESPERANÇA ACTIVA

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Crónica de Bento Domingues no PÚBLICO Frei Bento Domingues «O ser humano é estruturalmente desejo. A antropologia, antes de o tentar explicar, deve saber reconhecê-lo.» 1. De uma descendência de animais, hoje desaparecidos, na qual se incluíam geleias marinhas, vermes rastejantes, peixes viscosos, mamíferos peludos, este neto de peixe, este sobrinho-neto de lesma, tem direito a um certo orgulho de alguém bem sucedido. De uma certa descendência animal, que em nada parecia votada a um tal destino, saiu o animal extravagante que viria a inventar o cálculo integral e a sonhar com a justiça [1]. A este delicioso texto do biólogo Jean Rostand (1877-1977) junto outro mais recente – situado em plena crise provocada pela covid-19 – e um pouco menos eufórico de Arlindo Oliveira, professor do IST : “A espécie humana tem, do seu lado, uma capacidade única para perceber os mecanismos usados pelas outras espécies. É essa capacidade, a inteligência, que nos distingue dos outros anima...

O CONTÁGIO DA ESPERANÇA

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Crónica de Anselmo Borges no Diário de Notícias  Anselmo Borges 1. Naquele fim de tarde escuro do passado dia 27 de Março, quando a chuva começava a cair, o Papa Francisco, sozinho, concentrado, em passos lentos, quase alquebrado como se transportasse aos ombros a cruz da Humanidade toda, atravessou, em silêncio, uma Praça de São Pedro deserta e subiu os degraus para uma plataforma fragilmente iluminada e rezou, sozinho. Uma imagem que fica na memória de todos quantos assistiram àquela caminhada lenta, uma das imagens marcantes desta catástrofe. A apontar para a solidariedade mundial de todos e para a esperança. E disse: “Desde há semanas que parece o entardecer, parece cair da noite. Densas trevas cobriram as nossas praças, ruas e cidades; apoderaram-se das nossas vidas, enchendo tudo de um silêncio ensurdecedor e um vazio desolador, que paralisa tudo à sua passagem; pressente-se no ar, nota-se nos gestos, dizem-no os olhares. Revemo-nos temerosos e perdidos.” Aludindo ...