segunda-feira, 23 de julho de 2007

Natalidade em Portugal

DAR MAIS SUBSÍDIOS
NÃO RESOLVE O PROBLEMA Depois das políticas abortistas, vieram as políticas de apoio às famílias carenciadas e com mais filhos. Não sei se isto aconteceu pelos protestos dos que condenaram o aborto e defenderam políticas de apoio à vida, mas tudo indica que sim. Talvez, também, por influências de uma medida do Governo espanhol, que avançou, recentemente, com um “prémio” de 2500 euros pelo nascimento de cada bebé na vizinha Espanha, e pelo anúncio da quebra assustadora da natalidade em Portugal. O nosso País é já o que tem, na UE, excluindo os países do alargamento, o número de filhos por mulher com idade fértil mais baixo. Temos, em 2007, menos um terço de nascimentos do que tínhamos na década de 80 do século passado. Normalmente, diz-se que a baixa natalidade se deve a dificuldades económicas, mas, pelos vistos, não será tanto assim, até porque as famílias pobres são as mais numerosas, como têm sublinhado alguns entendidos. De qualquer forma, os apoios do Governo ao nível de subsídios e de abonos de família para os agregados familiares com mais filhos são bem-vindos. Mas, afinal, não serão a resposta ideal, como lembra o sociólogo Manuel Villaverde Cabral. Afirma ele:
“As famílias carenciadas, seja lá o que isso signifique para o PM [primeiro-ministro] são as que mais filhos têm. Se ele quisesse fazer algo de sério, e não mera propaganda, para restaurar a natalidade em Portugal, teria de orientar as políticas familistas à classe média e média-alta, onde as mulheres cortaram radicalmente no número de filhos (embora digam nas sondagens que gostavam de ter mais) por motivos de carreira, instabilidade conjugal, falta de protecção jurídica em caso de divórcio e até algum ‘egoísmo’, além da falta de empregos em part-time e de apoios acessíveis e com qualidade aos pais e às crianças. Dar mais dinheiro não serve para nada a não ser para os muito pobres, que, repito, são os que mais filhos têm!”
Trata-se de uma assunto que tem merecido, e deve continuar a merecer, alguma reflexão, até porque, por este andar, qualquer dia nem sequer temos gente para ocupar o território nacional e muito menos para garantir a sustentabilidade económica da Segurança Social. É que, como todos sabemos, Portugal já é o país mais envelhecido da UE. Isso é bom porque a esperança de vida está a subir, mas também é uma situação que exige mais dinheiro para quem merece viver os últimos anos de vida com dignidade.
Fernando Martins

Um artigo de Anselmo Borges, no DN

SER É SER EM RELAÇÃO
Apergunta fundamental - aquela pergunta que, segundo Aristóteles, desde sempre se ergueu, que ainda hoje se ergue e que sempre se há-de erguer, na perplexidade - é esta: o que é o ser na sua ultimidade?
Para ele, o ser diz-se de muitos modos. Aparecem então as categorias, que são os modos fundamentais do ser e da predicação. São dez: a substância e os nove acidentes - qualidade, quantidade, relação, lugar, tempo, situação, posse, acção, paixão.
Neste enquadramento, a categoria da relação, tradicionalmente, acabou por não ter espessura. Havia cada ser constituído, que, num momento segundo, tinha uma relação (por exemplo, alguém era pai ou mãe).
Assim, classicamente, definiu-se a pessoa como "substância individual de natureza racional" (Boécio) e "existência incomunicável de natureza intelectual" (Ricardo de S. Victor). A definição de Boécio ignorava a relação. A modernidade também afirmou o indivíduo - de individuum, indiviso - pondo-se a si mesmo: é o famoso "penso, logo existo", de Descartes.
Mas, na realidade, ser e ser em relação identificam-se. À partida, cada ser humano é o resultado de uma relação entre um homem e uma mulher, pai e mãe. E fazemo-nos - vamo-nos fazendo - na relação, de tal modo que não começamos por ter consciência do eu, mas do tu, em princípio, do tu da mãe. Aliás, eu e tu e nós só em relação existem e fazem sentido. Retiremos todas as nossas relações na reciprocidade - com os pais, os filhos, os irmãos, marido e mulher, namorados, professores, estudantes, empresários, trabalhadores, colegas, nacionais, estrangeiros, com a natureza, com o passado, o futuro, a história, a divindade - e o que é que fica?
É isso. Estamos em relação recíproca com a natureza: é por ela que vivemos - respiramos, alimentamo-nos - e intervimos nela - é transformando-a que nos transformamos. Somos em relação com todo o passado e futuro, e assim chega a nós toda a história da(s) cultura(s), que nos faz, desfaz e refaz - o que seríamos sem Platão e Euclides e Buda e Jesus e os romanos e os persas e os árabes e os indianos e os ameríndios?
Há aquela ideia de que encerrando-nos em nós é que nos encontramos. Não nego - pelo contrário - a importância da solidão. Não se trata, porém, da solidão narcísica e morta, mas daquela solidão habitada, para meditar, de tal modo que o encontro com os outros seja rico e fecundo. De facto, quem se fecha egoisticamente dentro de si estiola e morre - não é verdade que quem caiu em depressão não quer ver ninguém?
Tudo está em relação e conexão com tudo e quanto mais abertura mais intimidade e ascensão na gradação do ser. As pedras - os seres inanimados - também estão em relação, porque são na comunidade do que é. As plantas, essas já vão à procura do sol, da luz e de alimento - como se estendem as raízes por debaixo dos caminhos à procura de água! - e, por isso, são vivas. Os animais deslocam-se daqui para ali e para longe em busca de fêmea ou de macho ou de alimento ou clima favorável. Estão, portanto, em maior relação e, por isso, já há neles vários tipos de consciência. O Homem, esse é abertura máxima, abertura à totalidade, que inclui o real e o possível.
Precisamente porque é abertura à totalidade do ser e à Transcendência, cada ser humano é dado a si mesmo como eu único, como intimidade suma, segundo a lei paradoxal do quanto mais fora mais dentro. O Homem é pessoa, porque, ao ser coextensivo à totalidade, é dado a si como identidade única: a pessoa, precisamente na sua abertura à totalidade e ao Infinito, é única e incomunicável.
A arte de viver bem e ser feliz deriva de e implica relações vivas e sãs com a realidade toda, a começar pelos mais próximos - dados recentes mostram que é essencial para a felicidade a vinculação à família e aos amigos.
O filósofo Raimon Panikkar disse-o numa palavra complexa, mas verdadeira, referindo-se à religião do futuro: será cosmoteândrica, isto é, tem de integrar as três dimensões interpenetradas da realidade - cósmica, divina e antropológica.

quinta-feira, 19 de julho de 2007

José Saramago terá razão?

A IBÉRIA 
 
 “Portugal acabará por integrar-se na Espanha... num país chamado Ibéria.” Esta foi a ideia bombástica proclamada pelo Nobel da Literatura José Saramago, há anos a residir em Lanzarote, uma ilha do país vizinho. Em resposta, não faltaram palavras e escritos de indignação, por se considerar tal afirmação como antipatriota e até irrealista. Confesso que não vou por aí. 
Portugal, há nove séculos, nem sequer existia e quando nasceu, presumivelmente em 1143, não era nenhuma nação, conceito que talvez nem existisse. O que havia, muito simplesmente, era interesses económicos e de poder de uns tantos senhores de Ribadouro, que gostavam de zelar pelo que era seu, sempre com ânsias de aumentar o seu poderio. 

Os meus contos

MARIA DO CÉU


Com os anos a pesarem, a varredora arrasta-se no seu labor mecanizado na busca das folhas caídas do arvoredo. Empregada da empresa encarregada do asseio citadino, vejo-a com frequência da esplanada do bar onde matinalmente costumo saborear o café, de mistura com o ar puro que o parque me oferece. 
A mulher deambula de um lado para o outro indiferente aos olhares de quem está ou passa. Baixa-se com dificuldade, puxa com as poucas forças que lhe restam o saco preto de plástico semicheio de lixo, ergue-o a custo para o despejar no carro de mão e volta à cata de mais folhas, mas também de papéis atirados para o chão por gente graúda e miúda que corre apressada, sem cuidar de saber das recomendações que periodicamente se badalam para haver respeito pelo ambiente, que é propriedade de todos. De quando em vez, o capataz lá aparece para dar as suas ordens: 
– Olhe ali; quero isto limpinho como um brinco; não quero queixas de quem paga! 
Maria do Céu, assim se chama a mulher que me prende a atenção e me desperta os sentimentos nascidos à sombra de quem sofre e luta, obedece apressada sem mostrar enfado, num gesto maquinal de quem está habituada a cumprir ordens. 
De rosto cansado por vida agreste, os seus olhos claros e expressivos não escondem uma beleza que teima em se manter viva. Já reformada da indústria conserveira, continua a trabalhar porque tem de ser. Porque a sua reforma e a do marido, incapacitado por doença degenerativa, não dão para sobreviver. 
A renda de casa, a alimentação modesta e os medicamentos do dia-a-dia levam todo o dinheiro que chega no fim de cada mês. Os dois filhos, casados e com encargos familiares, não descobrem hipóteses de os ajudar, embora sintam ser sua obrigação olhar por quem lhes deu o ser e a educação.
Maria do Céu sabe disso e até já tem conversado com o marido, o Zé Morgado, lamentando a sina de quem nasce pobre. Com fracos ordenados, pouco puderam dar aos filhos para singrarem na vida, para além da arte da pesca costeira, que ambos assumem com alguma vaidade. Não são eles lobos-do-mar? O que ganham, porém, mal dá para educar os rebentos que vão crescendo e para o dia-a-dia, sem grandes aventuras. 
A meio da manhã, sol forte de Verão a convidar ao descanso, apenas por uns minutos, a varredora senta-se à sombra de uma árvore enorme, com décadas de existência a enfrentar as ventanias que assolam a região, em qualquer época do ano. 
De um saco de plástico com asas, dos que são oferecidos nas compras, sejam ricas ou triviais, tira uma sandes de qualquer coisa, que a distância não deixa perceber, e come, mastigando serenamente, como quem deseja perpetuar o tempo ali sentada. 
Maria do Céu não consegue esquecer o seu Zé. Agora lembra-se de como seria bom estar junto dele, apesar de a doença o levar a ficar cada vez mais rezingão. Protesta por isto ou por aquilo, mas logo a seguir dirige olhares de ternura para quem o acompanha, com muito amor, há mais de 40 anos. 
Os dois são um casal feliz, apesar das agruras da vida, desde o dia inesquecível do seu casamento na igreja matriz, onde juraram amor e fidelidade até à morte. Jovens, olharam para o futuro com esperança, alimentando sonhos que se foram multiplicando, ao mesmo tempo que muitos deles se esboroaram. Sem angústia, aceitam a pouca sorte que os acompanha, habituando-se a viver com o pouco que vão tendo. Ao bater do meio-dia, apressa-se a arrumar as alfaias do seu trabalho e vai apressada a casa, para ajudar o marido no que for preciso. 
O almoço, feito de véspera, é coisa simples, desde há muito: uma sopinha e fruta. Pouca porque é cara. Mas neste dia o seu José não quer comer. Diz-se cansado e sem apetite. Não resmunga e ao ralhete da mulher, para que coma, responde com um silêncio que a inquieta. Nem por isso, contudo, pensa que seja algo de grave. 
– Queres ir ao Centro de Saúde? – pergunta Maria do Céu. 
A resposta, lacónica, é um não ciciado. Nessa tarde, a varredora está ausente das suas obrigações profissionais. Os seus pensamentos voam para casa, para junto do homem que é a razão do seu viver. No parque, os trabalhos rotineiros sucedem-se, sem grande esforço mental. Mas o desejo que a domina diz-lhe para deixar tudo e para correr para junto do seu Zé. Correr como quem busca uma certeza: a de que ele está bem, que aquilo não passa de um incómodo passageiro. 
Ao bater das seis da tarde, larga tudo e parte apressada e ansiosa. José está prostrado, indiferente à vida. Maria do Céu olha-o, assustada, e grita pela vizinha. A ambulância leva-o, já a desligar-se do mundo, para o hospital. Não há nada a fazer. 
A varredora volta ao quotidiano, depois do luto estipulado por lei. Recusa o convite dos filhos para morar com eles, um mês em casa de cada um, para não se sentir abandonada. Não há quarto para a mãe, mas tudo se arranja. Não aceita. Nem quer pensar em deixar o lar modesto em que sempre vivera com o seu José. Ali vai continuar até Deus querer. Com as suas recordações, com sonhos realizados e por realizar, pisando o chão que foi de ambos, ouvindo os risos dos filhos pequenos, sentindo as palavras, as gargalhadas e a teimosia rezingona do homem que ama e a faz feliz. Aos fins-de-semana recebe a visita dos filhos e netos. Nos primeiros tempos de viuvez, com regularidade. Depois tudo volta a ser como dantes. 
Maria do Céu começa a sentir-se mais só. O trabalho regressa à normalidade. De manhã cedo, no parque verdejante e cheio de arvoredo, aprecia o ambiente de forma diferente, enquanto recolhe a natureza morta. Por lá ciranda muita gente. De quando em vez, há crianças que brincam, correm e jogam, perante os olhares atentos dos professores e educadoras. A varredora olha-as enternecida e regressa à infância dos seus filhos. Reconhece que está a rejuvenescer. 
Agora, todas as manhãs acorda com pressa de ir para o parque. O desejo de ver as crianças com tanta vida dá-lhe mais ânimo. E consegue trabalhar com um olho no lixo e outro na ingenuidade amorosa de quem começa o jogo da vida. Maria do Céu sente-se mulher para continuar a lutar. Até parece que não a afecta o peso dos anos. Nem sequer dá pelas dores nos ossos e músculos. E à noite, quando se deita, os seus pensamentos não conseguem sair do parque. 
De manhã, lá estará no meio de tudo e de todos, sem que ninguém a note e sem perturbar quem está. Há dias, numa tarde amena, contra o que era costume, não tem vontade de regressar a casa. Por ali está bem, presa a gestos e a sorrisos cantantes que lhe não saem do ouvido. À tardinha, as crianças deixam o parque com os seus acompanhantes e Maria do Céu resolve descansar um pouco. Sentada, junto da árvore que adoptou como sua, fecha os olhos e recorda o que a vida lhe havia dado de bom com seu Zé e seus filhos. Como tantas vezes havia feito ao longo da existência. Adormece tranquilamente, com a cabeça a cair-lhe sobre o peito. O capataz, ao vê-la assim, aproxima-se e pergunta: 
– Maria do Céu, então o trabalho? A varredora não responde. Foi encontrar-se com o seu Zé. 

 Fernando Martins

Ares do Verão




BUGAS

Quem chega a Aveiro tem uma boa prenda da cidade. Boa prenda, porque é um convite à descoberta da cidade, sem precisar de gastar dinheiro. Só necessita de tempo e de boa disposição. A prenda, afinal, é a possibilidade de utilizar a BUGA (Bicicleta de Utilização Gratuita de Aveiro), posta à disposição de todos, sem qualquer custo. O visitante salta para o selim, carrega nos pedais e aí vai ele por ruas e ruelas, passeios e largos, ao lado dos canais da ria ou deles afastado, à cata do que Aveiro tem para ver: Edifícios da Arte Nova, bairros populares, palacetes e barcos moliceiros, salinas (quase só para turista ou estudiosos verem) e monumentos diversos, de tudo um pouco. Depois, pode parar em qualquer canto para saborear os ovos-moles e continuar a pedalada.
As Bugas, diga-se de passagem, estão em qualquer canto. É só olhar.
Boas férias para todos.

TECENDO A VIDA UMAS COISITAS - 33

COM OS DE FAFE NINGUÉM FANFE
Caríssima/o:
Muitos de nós se lembrarão do Ti João Bola, o Regedor. Gostaria de o trazer para a nossa companhia por breves minutos já que foi figura marcante na minha vida. Moço, cheio de vida e de ilusões, regressei à Gafanha para dar aulas na Escola da Marinha Velha. Quantas vivências com o Regedor! Homem bom, amigo do seu amigo, mas representante da lei, ele era a autoridade. Uma vez estivemos em campos opostos: foi na altura de passagem de ano e nas lendárias “comemorações” que programámos e realizámos. E justiça se lhe faça: o senhor Regedor nunca aceitou sequer que lhe dissessem que o professor... Isso tudo já lá vai. Mas foi pela sua mão que me vi envolvido no Censo de 1960. Experiência que interpela qualquer um que se lhe dedique. A mim abriu-me os olhos e o coração para as Gentes da nossa Terra. Encontrar no mesmo pátio pessoas oriundas das mais diversas regiões do nosso Portugal, unidas pelos mesmos anseios e cruzando as suas vidas ao ponto de fazerem nascer novas famílias, foi algo que fez renascer a esperança numa nova Gafanha. Afinal qual o alvor desta Terra que ouve sussurrar a Ria e trovejar o Mar? O grupo que se impunha era o de Fafe. E será que a lenda nos ajuda a compreender o clima de tricas e zaragatas que se viveu? Ei-la:
«Com Fafe ninguém fanfe, diz a voz popular. E há vinte e poucos anos que, como amostra, pode dar uma cotovelada no parceiro que quiser fanfar, mostrando-lhe as duas toneladas de bronze que representa a Justiça de Fafe. O que decerto não se poderá explicar é a razão de tal monumento, obra do escultor Eduardo Tavares, ter sido descerrado exactamente no largo traseiro do Palácio da Justiça da cidade! Vamos à lenda, antes que se faça tarde. É voz corrente que a questão teve lugar no século XIX e como protagonista o visconde de Moreira de Rei, um político local de grande influência, com fama de homem de bem, mas avesso a levar afrontas para casa. Ora, um dia, sendo deputado às Cortes, chegou atrasado a uma sessão desse órgão, escutando uma reprimenda de um marquês qualquer, também deputado, que ainda por cima lhe terá chamado cão tinhoso. Fingindo não ter escutado o insulto, o visconde de Moreira de Rei fez tranquilamente a sessão. No final, procurou o marquês e censurou-o firmemente pela maneira grosseira como se lhe dirigira. O outro, petulantemente, não se escusou, antes lançou uma luva à cara do visconde, desafiando-o para um duelo. Ora como ofendido, nisto dos duelos é assim, coube ao Moreira de Rei escolher as armas. Geralmente eram espadas ou pistolas. Porém, o visconde apresentou-se no local da resolução do conflito com dois belos varapaus. O marquês ficou atarantado, pois não sabia utilizar tão plebeia arma. Já o visconde era exímio no jogo do pau. E aconteceu exactamente isso que calculam, desancou o marquês, pondo-lhe o lombo num feixe! E diz quem sabe a lenda que a assistência exultava dando vivas à justiça de Fafe! Mas há pelo menos mais duas versões desta lenda. E uma delas é a de um morgado de Fafe que foi a Lisboa a uma reunião de gala, onde viu como um alfacinha desfeiteava uma senhora. Pois não esteve com meias medidas e sacudiu-o, pelo que o outro o desafiou para um duelo. Aqui coincide a versão de ter sido o varapau a arma e o outro, coitado, também levou que lhe chegasse. Porém, deixa-nos um tanto perplexos a terceira versão, pois recua cronologicamente até ao tempo do Conde D. Henrique, seja à antecâmara da nacionalidade portuguesa. Existia então um cavaleiro chamado D. Fafes Talesluz, alferes-mor do pai de D. Afonso Henriques, e a quem foi doado Monte Longo – antiga designação de Fafe, como saberão – mercê esta pelos seus feitos ao serviço do conde. Pois D. Fafes era casado com uma senhora muito bondosa, amiga dos pobres e do povo em geral. Só que, em dada altura, o cavaleiro teve uma paixoneta pela aia da esposa. Ambiciosa, querendo D. Fafes só para si, ela envenenou a ama. E como o povo se apercebeu que aquela morte não havia sido natural, calculando quem matara, foi a casa de D. Fafes exigir que a aia lhe fosse entregue. Assim aconteceu a justiça de Fafe: uma carga de paulada na bela senhora, até que esta embarcou para o outro mundo. Afinal de contas, a justiça de Fafe só tem um protagonista comum em qualquer episódio, o lódão.»[V. M., pg. 94]
Isto de lendas é assim...Claro que os tempos são outros e apetece perguntar: Onde estão os de Fafe, os “Fafeiros”?
Manuel
:
NOTA: O Tecendo fica já aqui, não vá dar-se o caso de eu não poder visitar a Net no fim-de-semana.
F.M.

Um artigo de D. António Marcelino

Os não nascidos
e os impedidos de nascer

A notícia, a princípio bem discreta, só vinha em poucos jornais, se comparada com o grande relevo dado, sem recriminações, à desobediência dos hospitais do Estado sobre os abortos já realizados. “ Mais de 60 abortos só num mês e ainda sem lei” era título do dia. Uma lei, como sabemos, que permite a algumas mães, muitas a custas do erário público, que mandem matar o filho que trazem no seio, se assim o pedirem de harmonia com o que está determinado. Antes da lei, já nada é ilegal. E isso não interessa aos servidores do Estado que lhe dão cobertura e retiram importância, não vão as coisas complicar-se mais.
Diz a princípio a tal notícia discreta, depois já em primeira página e devido relevo, que “A natalidade atinge em Portugal o valor mais baixo de sempre”, ou que “Nascimento de bebés em 2006 é o mais baixo desde que há estatísticas”. É o Instituto Nacional de Estatística a fonte. O índice de natalidade foi de 1,36, com tendência a descer e sem se ver saída para situação tão preocupante, para quem ainda se preocupa. 

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Animais das nossas vidas

O Toti e a Tita foram animais das nossas vidas. Aqui estão no relvado com a Lita. Descontraídos e excelentes companheiros, cada um com o seu...

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