segunda-feira, 26 de maio de 2008

Moliceiros ao abandono apodrecem em terra


"Três dos nove barcos moliceiros que a Câmara de Aveiro mandou construir entre 1998 e 2001 e ofereceu a diversas instituições locais estão abandonados e em terra, em adiantado estado de degradação, correndo riscos de apodrecer. Outros dois encontram-se no Cais do Bico, na Murtosa, perto das instalações da Associação dos Amigos da Ria e do Barco Moliceiro."
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A Casa Gafanhoa

"Quando pela primeira vez entrei em casa do tio João confirmei que era muito semelhante às casas dos outros gafanhões agricultores que eu já conhecia. Um pouco melhor, que o nosso patriarca era pessoa de bom gosto e de bens. Havia quartos para toda a família, mobilados e com boas roupas de cama. Notava-se asseio e mãos de mulher no arrumo de tudo. Eram as mãos da esposa, mas também das filhas solteiras que viviam mais para a casa do que para a agricultura.Nas habitações normais dos demais lavradores, a cozinha lá tinha a trempe de ferro, panelas de três pés, aparadores, mesa e bancos toscos, talheres de ferro e de cabo de osso, passando pela cantareira com a respectiva cântara de ir à fonte buscar água."
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PONTES DE ENCONTRO


Globalização para todos ou benefícios só para alguns?

Desde que começou a ser conhecida, de uma maneira mais generalizada, pelo cidadão comum, a crise da falta de alimentos, bem como dos seus brutais aumentos, e a consequente maior dificuldade dos mais pobres ao acesso à comida básica, para o seu dia-a-dia, alguma coisa se tem escrito, no “Pela Positiva”, tendo, tanto quanto é possível, a preocupação da informação, mas, sobretudo, de procurar dar referências que levem os leitores a pensar e a reflectir nas causas que estão subjacentes a tudo o que diz respeito ao homem e à sociedade, em geral.
As expressões “cidadania exigente”, “especuladores sem rosto”, “regulamentação da economia internacional”, entre outras, têm sido repetidas, aqui, com alguma frequência, na medida em que elas estão intimamente ligadas a este fenómeno planetário e há que perceber e aceitar que existe um outro mundo para além de nós próprios, mesmo que o queiramos ignorar, mas que condiciona, decisivamente, a vida e o futuro de cada cidadão, esteja ele onde estiver.
Obviamente, haverá sempre quem desvalorize ou procure ignorar estes acontecimentos, fazendo deles um problema dos outros. Quem assim procede ou finge viver na ilusão ou já se conformou com a vida que tem, abdicando do seu direito e dever de cidadania responsável, exigente e crítica, quando for caso disso, tanto para seu benefício, legítimo, como da restante comunidade humana.
Desde o aumento do preço do petróleo (com o muito de especulativo que contém no seu valor), passando pela desvalorização do dólar americano, pelo aumento da procura de alimentos pelas economias emergentes, pelos anos de más colheitas (caso da Austrália, Canadá, e EUA), pela ocupação dos terrenos para a produção de biocombustíveis (parcialmente, já classificada pela ONU como “crime contra a Humanidade”), pelos baixos stocks mundiais de cereais, pelas alterações climáticas (com um aumento da desertificação de grandes regiões na África e Austrália), de tudo se tem falado, e com razão, pois trata-se de um situação multifacetada nas suas origens.
Uma coisa, porém, sabemos: a fome, enquanto realidade conjuntural, sempre existiu e muito se tem feito para a combater. Agora, a fome, enquanto realidade global, não é obra do acaso, mas sim uma criação, involuntária ou propositada, do Homem. E é isto que faz toda a diferença, para não ficarmos indiferentes ou calados.
Deixei para último lugar a questão da especulação, tantas vezes aqui referida. Desta autêntica praga, a Comissária Europeia da Agricultura, Marianne Fischer Boel, disse ao “Diário Económico”, no dia 29 de Abril, do corrente ano: “Não se deve subestimar a importância que a especulação tem para fazer mexer os preços.”
Já na edição do jornal “Expresso”, do passado dia 3 de Maio, Fernando Madrinha, colunista e Director de revista “Courrier Internacional”, escreve:”... será responsável pela grande percentagem dos aumentos: a acção dos especuladores, que jogam não com a falta de produtos, mas com a perspectiva, ou a simples hipótese de eles viram a faltar. Na economia de mercado globalizada, as malfeitorias desses especuladores (…) é incontrolável enquanto não houver regulação mundial de cuja necessidade todos falam, mas com que, de facto, só se preocupam as primeiras vítimas, isto é, os pobres e fracos. Daí a margem que resta para combater os especuladores dentro de cada país deve ser usada até ao limite, sob pena de se tornarem eles os verdadeiros governantes [do mundo].”
Não que estas afirmações nos sirvam de consolo algum. Antes indicam que o caminho que temos que continuar a trilhar tem que ter como prioridades a seriedade e a isenção, ainda que não profissionais da comunicação social e não imunes ao erro, que, a acontecer, será sempre involuntário.
Vítor Amorim

domingo, 25 de maio de 2008

Na Linha Da Utopia


A Especulação

1. Foi há já alguns anos que algumas mediáticas mega-empresas norte-americanas, da área de novas tecnologias, abanaram com a credibilidade do sistema económico bolsista. Grandes empresas e grupos, gerados e sediados porventura num pequeno gabinete, com pendor decisivo no potencial comunicador informático mais sofisticado, fizeram notícia pela sua virtualidade e pela forte aposta no factor imagem, este mais privilegiador do arriscar incerto no futuro do que das garantias seguras do presente. Ao que parece, esse factor desenvolveu-se; a ponto de hoje, dos registos humanos das modas e famas aos económicos da feroz concorrência diária, contar bem mais a aparência que a essência. Este facto apresenta-se como uma clara espada de dois gumes, fazendo da especulação (do que se deseja) um dado incerto quando não mesmo enganador e injusto.
2. O que tem ocorrido nestas últimas semanas, após a crise dos mercados americanos na área da especulação imobiliária, mostra bem o terreno da globalização que o mundo pisa. Não só pelo gritante escândalo, mas pela verdade ética global urgente, está a chegar o tempo dos «antípodas» se encontrarem, os que são contra a globalização económica em diálogo com os que são a favor do seu liberalismo, a fim da racionalidade humana presidir aos consensos fundamentais que «salvem» a humanidade social. Não é apocalíptico o que dizemos; é a consciência de que cada hora que passa agrava-se o fosso, não só no reflexo do relatório europeu de há dias (da recordista desigualdade de vencimentos em Portugal), como da grave crise internacional dos recursos naturais: trigo, milho, arroz, petróleo, este que faz alavancar tudo o resto.
3. O boom do novo império asiático, diante da crise dos EUA reflectida no iceberg da histórica especulação da «petrocracia», da conjugação destes factores sente-se a percepção de uma transformação bem mais profunda que a procurada fila dos combustíveis mais baratos. Diz-se que mais de um terço do que acontece provém dos especuladores negociantes, e destaca a OPEP (dos países produtores de petróleo) que a produção está em alta. O que pode sobrar só pode ser o medo. Um medo que representa a pior das faces da especulação que se alimenta a si própria. Atrás de si, no seu rasto, vem tudo o que não interessa, mesmo que alguns especialistas tenham dito há dias que a subida dos preços dos cereais pode ser uma boa notícia. Tudo depende sempre do que se quer e de que lado se sente a vida. Se esta sofre com quem sofre, então cada subida é uma má notícia para as pessoas e para as famílias com seus filhos que vivem a fronteira da legítima sobrevivência.
4. Na ausência de uma auto-regulação saudável dos mercados, sente-se que está a chegar a hora, no mínimo, de alguns fortes apelos ético-políticos de instâncias universais. Em uníssono, pois chegam a todos as consequências do à deriva desregulado que, cada dia adiado, dá lastro a movimentos «anti-tudo», fora da racionalidade. Ou será que ainda não chegou esta hora?

Júlio Dinis na Gafanha

"Aveiro causou-me uma impressão agradável ao sair da estação; menos agradável ao internar-me no coração da cidade, horrível vendo chover a cântaros na manhã de ontem, e imensas nuvens cor de chumbo a amontoarem-se sobre a minha cabeça, mas, sobretudo intensamente aprazível, quando, depois de estiar, subi pela margem do rio e atravessei a ponte da GAFANHA para visitar uma elegante propriedade rural que o primo, em casa de quem estou hospedado, teve o bom gosto de edificar ali. Imaginei-me transportado à Holanda, onde, como sabes, nunca fui, mas que suponho deve ser assim uma coisa nos sítios em que for bela."
Júlio Dinis esteve na Gafanha. Leia em GALAFANHA.

MAGIA DA NATUREZA





Pérolas e mais pérolas caindo sem parar. Vi-as e não resisti. Aqui ficam para quem souber apreciá-las. No Forte da Barra, encontrei-me com elas ao entardecer. A água que caía, lentamente, filtrou os raios do Sol que estavam quase a perder-se no horizonte. Mas ainda deu para agarrar, com ambas as mãos, as pérolas, branquíssimas, que depressa se desfaziam e logo se renovavam. Depois o Sol foi-se e com ele a magia da criação de pérolas, à vista de quem por ali passasse.

Missa on-line é um sucesso


"Todos os sábados, às 18 horas, o padre Júlio Grangeia reza a missa na igreja de Espinhel, concelho de Águeda. O seu sermão é escutado atentamente pelos fiéis que se encontram na igreja, mas também é ouvido nos quatro cantos do Mundo através da internet. Adepto das Novas Tecnologias há mais de dez anos, o padre Júlio começou, há pouco mais de um ano, a transmitir a eucaristia on-line e conta já com um grupo de internautas que assistem à missa através do computador."

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PONTES DE ENCONTRO


As Olimpíadas de Pequim e a chama aprisionada

O ideal olímpico, retomado em finais do século XIX pelo aristocrata francês Pierre de Coubertin (1863-1937) como um momento de promoção da paz, contra a guerra, nunca se conseguiu sobrepor aos inúmeros interesses e conflitos que sempre existiram, de forma mais ou menos latente, na Comunidade Internacional. As Olimpíadas de Munique, em 1972, com o atentado dos palestinianos contra a delegação israelita; as Olimpíadas de Moscovo, em 1980, com o boicote liderado pelos EUA e as Olimpíadas de Los Angeles, em 1984, com o boicote liderado pela URSS, são apenas os exemplos mais paradigmáticos do que acabámos de referir.
Infelizmente, também os Jogos da XXIX Olimpíada da Era Moderna, a realizar entre 8 e 24 de Agosto de 2008, em Pequim, há muito que estão envoltos em polémicas, começando pelas críticas feitas pela maioria da Comunidade Internacional às autoridades chinesas pelo seu desrespeito pelos direitos humanos no país, passando pela questão, ainda não resolvida, do Tibete.
Os ideais de construir um mundo melhor e pacífico através do desporto são, cada vez mais, votados ao fracasso e só os interesses políticos e económicos parecem contar.
A chama olímpica, um dos símbolos da paz e da amizade autênticas que deveria envolver todos os jogos, tornou-se, este ano, prisioneira das próprias contradições que os responsáveis políticos teimam em não querer resolver.
Acesa, no passado dia 24 de Março, na tradicional cerimónia que acontece na cidade da Grécia Antiga, Olímpia, berço dos primeiros jogos da antiguidade, no ano de 776 a.C., o seu percurso, pelos vários continentes, foi tudo menos pacífico.
Fosse em Londres, Paris, São Francisco, Tanzânia ou Nova Deli, a chama olímpica transformou-se mais num fardo pesado de transportar do que num anúncio de alegria e apelo à paz, em nome das novas Olimpíadas de Pequim.
Foi triste e lamentável ver a tocha olímpica envolvida por dezenas de seguranças a “protegerem-na” ou a fazer percursos secretos ou alterados à última hora, para evitar manifestações, como que se andasse na clandestinidade e a fugir da própria realidade do mundo, onde ela deveria brilhar livremente.
De facto, esta realidade existe, pelo menos desde 1950, e chama-se Tibete e, como todas as questões mal resolvidas na vida ou no mundo, ela [Tibete] será sempre uma pedra no sapato do regime chinês, que não podendo ou não querendo tirar a pedra do sapato que quis calçar, opta por tratar mal e reprimir quem fez, por bem, o sapato.
Desde que a chama olímpica foi acesa, as manifestações em Lassa (capital do Tibete) aumentaram de intensidade, bem assim como a repressão das autoridades chinesas sobre os tibetanos. Inicialmente, a China começou por acusar o actual Dalai-Lama (Oceano, de Sabedoria, em tibetano), Tenzin Gyatso, líder espiritual tibetano, exilado na Índia desde 1959, de estar por detrás dos incidentes em Lassa, o que este sempre desmentiu, afirmando que “Quer o governo chinês reconheça ou não, há um problema, e o problema é que uma nação ancestral está, hoje, a enfrentar graves perigos.”
Vários chefes de Estado têm pressionado a China a dialogar com os tibetanos e a respeitar a liberdade e os direitos humanos, dos quais se destaca o presidente francês Nicolas Sarkozy. Gordon Brown e Angela Merkel já disseram que irão receber o Dalai Lama e não estarão presentes na cerimónia de abertura das olimpíadas.
A China, que diz de si mesmo ser “um país e dois sistemas”, pode, se quiser, resolver a questão tibetana, bem como ajudar, ainda, na resolução de outros conflitos mundiais, casos do Darfur ou de Myanmar, sem a necessidade de ter que escalar o Monte Evereste para tal.

Vítor Amorim

TECENDO A VIDA UMAS COISITAS - 79


A CAIXA MÉTRICA

Caríssima/o:

Estou a vê-la daqui; tenho-a ali arrumada de forma a poder, ainda hoje e apesar de todos os comentários depreciativos, olhá-la e, como se de “caixa mágica” se tratasse, ocupar a vista e as mãos com o que do seu interior íamos tirando.
Logo os sólidos de madeira polida e luzidios. (Para muitos de nós, companheiros de tábuas mal serradas e de casqueiras a fazer de tabiques em muitas das nossas casas, este polimento e macieza era uma carícia e uma interrogação da forma da esfera e entroncava naquele cone cortado a viés e cuja utilidade nunca atingimos!)
Depois saía a balança com pesos a sério, uns hexagonais e os outros cilíndricos e amarelinhos. Quantas pesagens de sonhos deslizavam com os pratos mal equilibrados!
E um metro articulado, igualzinho ao que os nossos pais desdobravam para medir... E aquela dobradiça amarela nas nossas mãos esticava-se para medir a altura do companheiro, mais alto uns escassos três centímetros ... Mas onde a curiosidade se estendia era numa “bicha metálica” de arame, com elos e uma argolas redondas qual brinco de mulher – até o nome que lhe davam era comprido e difícil de apanhar: cadeia de agrimensor. Toca a esticar e a medir o comprimento da sala! Ainda neste sector de medir e comparar comprimentos, a régua e o esquadro encostavam-se ao quadro para riscar e fazer esquadrias, por vezes, paralelas inclinadas.
Outros alunos simpatizavam mais com as medidas dos feijões como as que a mãe usava lá em casa; e como nos divertíamos ao ver que o litro de folha ficava com um dedo vazio se lhe despejávamos a areia do litro dos secos (o tal feijão, grão,..). Umas medidas eram tão pequerrochinhas que nem cabia lá dentro o dedo mendinho! Utilidade?... Centilitro, homem!...
Será que ainda se desencantava algo mais?
Uma geringonça com umas travessas a subir e a descer, parecia uma guilhotina, mas não era aguçada. Foi-nos explicado que aquilo era um “estere” e servia para medir lenha, pois então! E um estere equivale a um metro cúbico!
O compasso e o transferidor atrapalhavam os nossos movimentos no quadro quando se tratava de traçar circunferências (onde está o centro?...lá se mexeu outra vez...segura bem...) ou de medir ângulos (que nessa altura iam do nulo ao de volta inteira ou giro, sem esquecer o raso, o obtuso, o recto e o agudo... até dá para suar!).
Certo cansaço vence a pouca curiosidade que transparece do vosso rosto e é mister fechar-lhe a porta. Antes, porém, peguemos com as nossas mãos no nível de bolha de ar e no fio de prumo... Sem autorização dos nossos pais, que os utilizavam no seu trabalho diário com destreza e mestria, e com o apoio e o incentivo do professor que nos perpendiculava na horizontal!

Manuel

sábado, 24 de maio de 2008

Praxes ridículas

Há seis anos foi notícia o abuso de praxes ridículas, direi mesmo estúpidas, de alunos da Escola Superior Agrária de Santarém sobre uma caloira. A denúncia do caso, por tão grave, chegou ao Ministério do Ensino Superior e aos tribunais. Quando se esperava que a queixa, pela sua natureza, tivesse julgamento rápido, para se evitarem situações semelhantes, a verdade é que a sentença só chegou agora. Seis anos na vida de uma jovem estudante é muito tempo, mas a nossa Justiça não entende isto.
Os agressores e mentores das barbaridades, físicas e psicológicas, exercidas sobre uma jovem acabada de chegar ao Ensino Superior, foram agora condenados, esperando-se que tal castigo sirva de exemplo a quem tem uma ideia profundamente deformada do que é contribuir para a integração dos novos alunos numa qualquer escola. A agredida, que sofreu, no corpo e no espírito, abusos inqualificáveis, lembra que o seu contributo está dado, para que, de uma vez por todas, se acabe com as praxes estúpidas, substituindo-as por programas de âmbito social e cultural, que contribuam, de facto, para levar os caloiros a compreender e a conhecer o ambiente da Escola Superior que querem frequentar.

Efemérides

1979 - Entre o Governo Português e o presidente da Administração da "Regie-Renault" foi assinado um acordo em que se contemplou a criação de uma unidade fabril em Aveiro para produção de motores e caixas de velocidade para veículos automóveis.
1982 - Faleceu em Lisboa o ilustre aveirense Dr. Mário Duarte, homem de fino trato, grande desportista e prestigiado diplomata; desempenhou o cargo de embaixador de Portugal em Cuba, na Alemanha, na França, no Brasil e no México.
Fonte: Calendário Histórico de Aveiro

Decreto Real da Criação da Freguesia

Ver, em Galafanha, a cópia do Decreto Real da Criação da Freguesia da Gafanha da Nazaré, assinado por D. Manuel II, em 23 de Junho de 1910.

JOSÉ MATTOSO NO CUFC - 4 de Junho, 21 horas


José Mattoso, insigne medievalista, vai estar no CUFC, em 4 de Junho, pelas 21 horas, para mais uma Conversa Aberta, integrada no Fórum::UniverSal. Vem para falar de “O Lugar da História”, com moderação de Teresa Roberto, da Universidade de Aveiro.
Reconhecido em Portugal e no estrangeiro como um dos mais notáveis medievalista, foi catedrático na Universidade Nova de Lisboa e autor de muitos trabalhos ligados à sua especialidade. Dirigiu a publicação de uma História de Portugal, foi investigador de méritos firmados, tanto no nosso país como em Timor, e recebeu vários prémios, de que se destacam o Prémio Pessoa e o Troféu Latino 2007.
Natural de Leiria, onde nasceu em 1933, José Mattoso foi monge beneditino, em Singeverga, tendo regressado ao estado laical em 1970. A partir daí, dedica-se, com mais intensidade, à investigação científica, publicando, paralelamente, inúmeras obras.
Na semana passada, anunciou, numa homenagem que lhe foi prestada pelo Centro de Estudos Islâmicos e do Mediterrâneo, em Mértola, onde fixou residência, o abandono da actividade científica, acusando o Estado de valorizar as ciências experimentais e exactas, em detrimento das ciências sociais e humanas. Disse ainda que a investigação histórica que hoje se faz em Portugal se sustenta em “investigações vagas, superficiais”, realçando-se por vezes “generalidades e aspectos anedóticos”, como sublinhou o PÚBLICO de sábado passado, 17 de Maio.
É este investigador, de personalidade e saberes muito fortes, que o CUFC convidou para mais uma Conversa Aberta. A entrada é livre.

FM

A FESTA E A FOME DO CORPO DE DEUS


Quantos saberão e, se sabem, se terão lembrado de que na passada quinta-feira foi feriado nacional por causa de uma festa, que, em Portugal, dá pelo nome paradoxal de Festa do Corpo de Deus? Houve um tempo em que as ruas se enchiam de procissões por causa dela. Hoje, será apenas, para a quase totalidade dos portugueses, um feriado ou oportunidade para umas miniférias.
Festa do Corpo de Deus! Como foi e é possível o cristianismo menosprezar o corpo, se tem uma festa do Corpo de Deus? Deus mesmo em Cristo assumiu a corporeidade humana. É isso que confessa o Evangelho segundo São João: a Palavra (o Logos) fez-se carne, no sentido bíblico do termo grego sarx: ser humano corpóreo e frágil. Deus manifestou-se na visibilidade de um corpo humano.
Dois banquetes marcaram o Ocidente: o Banquete, de Platão, e a Última Ceia de Jesus com os discípulos (quem se atreve a dizer, com fundamento real, que nela não participaram discípulas?). Ambos à volta do amor. Não é um banquete sempre expressão e vivência da convivialidade, da festa e do amor? Aí está a razão por que não tem sentido celebrar a missa sozinho. Faz sentido celebrar um banquete sozinho ou de costas para o povo e numa língua que ninguém entende, como foi recentemente permitido pelo Papa Bento XVI?
Na véspera da Paixão, antes de ser entregue à morte na cruz, Jesus, na ceia de despedida, tomou o pão e pronunciou a bênção, dizendo: "Isto é o meu corpo - a minha vida - entregue por vós." Tomou o cálice com vinho e disse: "Este é o cálice da nova aliança." E acrescentou: "Fazei isto em memória de mim."
A missa é o banquete do testemunho do amor até à morte: "Não há maior amor do que dar a vida pelos amigos." O que se celebra na eucaristia é o Deus do amor. Jesus não morreu para pagar um resgate (a quem?, ao diabo?) ou para aplacar a ira de Deus. Se Deus é amor, não está irado com a Humanidade. Face a um deus que exigisse a morte do Filho só haveria uma atitude humanamente digna: tornar-se ateu. Mas Jesus não morreu porque Deus quis o seu sacrifício. Pelo contrário, morreu para testemunhar a verdade incrível de que Deus é amor.
Na eucaristia, os cristãos comemoram, celebram em comum o memorial de Jesus, presente e vivo na dinâmica da celebração. É ele que convida e, segundo a mentalidade oriental, quem convida oferece, antes de mais, a sua presença.
Ao longo dos séculos, houve debates intermináveis, inclusivamente com mortes pelo meio, sobre o modo dessa presença de Cristo na eucaristia. Que se dava uma transubstanciação do pão e do vinho, que havia consubstanciação, que a linguagem mais adequada agora seria transfinalização, transvalorização.
Mas, afinal, que quer dizer "presença real"? Já se pensou que duas pessoas que verdadeiramente se amam, mesmo distantes fisicamente, estão realmente presentes? Pelo contrário, a presença física, sem amor, pode tornar-se um inferno. De qualquer modo, neste domínio, é bom ter presente a advertência do filósofo Hegel para o perigo de coisificar a presença de Cristo na eucaristia, quando escreveu: segundo a representação católica, "a hóstia - essa coisa exterior, sensível, não espiritual - é, mediante a consagração, o Deus presente, Deus como coisa."
Claro que há o aviso de São Paulo aos Coríntios: "Todo aquele que comer o pão ou beber o cálice do Senhor indignamente será réu do corpo e do sangue do Senhor." Mas é preciso advertir que Paulo está a referir-se àqueles que comiam lautamente e deixavam outros à fome. "Desprezais a Igreja de Deus e quereis envergonhar aqueles que nada têm?"
E afinal não é o que continua a acontecer? Quando pensamos na vergonha da catástrofe alimentar com milhões de homens e mulheres e jovens e crianças a morrer à fome - também em Portugal há fome -, e nas responsabilidades de milhões de cristãos, que celebram a eucaristia, é inevitável lembrar as palavras de São Paulo aos Coríntios.
Mas quem nunca sonhou com um banquete à volta da mesa comum e a participação de todos, independentemente da raça, língua, sexo, cor, e Deus presente e a vida eterna?
Anselmo Borges
Fonte: DN

sexta-feira, 23 de maio de 2008

ÍLHAVO: Congresso das Confrarias Gastronómicas Portuguesas


De 30 de Maio a 1 de Junho, vai decorrer, no Museu Marítimo de Ílhavo, o II Congresso das Confrarias Portuguesas, por iniciativa da Federação das Confrarias Gastronómicas, Câmara Municipal de Ílhavo e Confraria Gastronómica do Bacalhau.
Estarão presentes cerca de 50 Confrarias Gastronómicas e representações de Confrarias de Espanha, França, Suíça, Cabo Verde e Macau, aguardando-se a confirmação de uma delegação brasileira.
Paralelamente ao Congresso, decorre um Concurso de Gastronomia, no Hotel da cidade, com a participação de 13 restaurantes do Concelho de Ílhavo, sendo o Júri constituído por elementos das Confrarias presentes. Das ementas, consta um prato de bacalhau e outro ao critério do restaurante. No dia 30, o jantar será de "partilha", isto é, cada Confraria apresenta o seu "prato" típico.
A Câmara convida as Confrarias presentes para um espectáculo no Centro Cultural, com a Filarmonia das Beiras e o pianista Bernardo Sassetti. Haverá ainda e a projecção do filme "Maria do Mar", no dia 31.
No encerramento serão homenageados o conhecido Chefe Silva, o industrial Rui Nabeiro e dois confrades fundadores da Federação das Confrarias Gastronómicas Portuguesas.

Lenda Judaica

Deus convidou um rabino para conhecer o céu e o inferno. Ao abrirem a porta do inferno, viram uma sala em cujo centro havia um caldeirão onde se cozinhava uma suculenta sopa. Em volta dela, estavam sentadas pessoas famintas e desesperadas. Cada uma delas segurava uma colher de cabo tão comprido que lhe permitia alcançar o caldeirão, mas não as suas próprias bocas. O sofrimento era imenso. Em seguida, Deus levou o rabino para conhecer o céu. Entraram numa sala idêntica à primeira, havia o mesmo caldeirão, as pessoas em volta, as colheres de cabo comprido. A diferença é que todas estavam saciadas. - Eu não compreendo - disse o rabino -, porque é que aqui as pessoas estão felizes, enquanto na outra sala morrem de aflição, se é tudo igual? Deus sorriu e respondeu: - Você não percebeu? É porque aqui elas aprenderam a dar comida umas às outras... :
Nota: Conhecia esta história há muito tempo. Hoje, porém, o Rotativas da jornalista Maria João Carvalho avivou-me a memória. Em tempo de crise e fomes, é bom reflectir sobre a lição desta lenda.

PORTO DE AVEIRO - 5

Veleiros (portal da CMI)


REGATA TALL SHIPS

Nas celebrações dos 110 anos da restauração do município de Ílhavo, a Câmara Municipal associa-se às comemorações do meio milénio da fundação do Funchal, acolhendo, no Terminal Norte do Porto de Aveiro, a Tall Ships Regatta, entre 20 e 23 de Setembro.
A frota de grandes veleiros partirá a 13 de Setembro do porto histórico de Falmouth, Inglaterra, e chegará ao Porto de Aveiro no dia 20 de Setembro, onde permanecerá três dias. No dia 23 de Setembro, pelas 11 da manhã, os veleiros seguirão viagem para o Funchal, Madeira, onde chegarão a 2 de Outubro.
No Porto de Aveiro vai haver, então, a concentração de todos os participantes, estando a ser devidamente preparado todo o apoio logístico. Está prevista a visita aos veleiros em dias e horas a anunciar.
Nesta regata participam veleiros das classes A, B, C e D, de Portugal, Espanha, Rússia e Alemanha. O Creoula será o representante do nosso País.
A Câmara Municipal de Ílhavo vai proporcionar, em condições vantajosas, o embarque de um total máximo de 100 instruendos a bordo das diversas embarcações participantes, quer oriundos do nosso município, quer de outros municípios de Portugal.

Portugal, país injusto

De acordo com o mais recente relatório do Eurostat, referente a 2004, Portugal é o país mais desigual da Europa, tendo em conta a relação entre os 20% mais ricos e os 20% mais pobres. Não é novidade para ninguém, mas confrange ver que não conseguimos sair da cepa torta, apesar de tantos sacrifícios se pedirem, e exigirem, aos portugueses. Somos, afinal, um país tremendamente injusto, deixando que alguns enriqueçam cada vez mais, enquanto muitos outros ficam cada vez mais pobres. A desigualdade está aqui e ninguém a pode escamotear. Esta situação, que nos atira, sistematicamente, para a cauda da Europa, apesar de todas as ajudas que dela recebemos, só mostra que ainda não descobrimos os políticos, economistas, empresários, sociólogos e outros mais capazes de dar a volta à política portuguesa. Mas também à auto-estima dos portugueses, para que, duma vez por todas, assumam dinâmicas de mudança e de optimismo, que nos apontem caminhos de futuro. Quem dá uma ajuda?

PONTES DE ENCONTRO


Petróleo: e você, já sabe porque é que aumenta?

A 27 de Março de 2008, escrevi um texto com o título “Ética nos Negócios”, no qual abordava alguns aspectos relacionadas com o preço do “ouro negro” e as constantes subidas nos mercados mundiais. Na altura, o seu preço andava à volta dos 103,0 dólares o barril. Passado perto de dois meses, o seu preço não parou de subir. Ontem, dia 22 de Maio, o preço do chamado petróleo Brent atingiu os 133,10 dólares e em Nova Iorque os 135,04 dólares o barril. A nível nacional e internacional, já ninguém se entende sobre as causas reais destas subidas. Esta ignorância é gravíssima e não augura nada de bom.
Basta ver algumas das televisões de referência internacional e é um nunca mais acabar de ouvir especialistas em produtos petrolíferos a dizerem que estes preços não se justificam, mas também a não saberem dizer nada do porquê deles estarem tão altos. Existem visões diferentes para os valores a que deveria estar, neste momento, o petróleo, que oscilam entre os 90,0 e os 75,0 dólares o barril, mas não se sai disto.
Sabe-se que, para um preço do petróleo de 120,0 dólares o barril, o seu custo é assim distribuído: 30,0 dólares para custos de produção, à saída do poço; 20,0 dólares para custos de exploração; 10,0 dólares para custos de transporte e 60,0 dólares para o efeito da desvalorização do dólar, seguros, por riscos políticos ou outras instabilidades, em alguns países do globo, e, finalmente, a especulação. É nesta última fatia, dos restantes cinquenta por cento do preço, que ninguém sabe o que se passa.
Fica-nos, porém, a certeza que vivemos numa ordem mundial, em que as autoridades, muitas delas democrática e legitimamente eleitas, no essencial, pouco ou nada controlam, pelo que são os especuladores e a economia subterrânea que vão ditando as leis da economia mundial, condicionando, deste modo, o desenvolvimento dos países e dos seus cidadãos. Isto é preocupante e não adianta ter ilusões sobre as suas consequências no futuro, se tudo isto continuar assim.
Não se pode deixar que, em nome da livre concorrência dos mercados, esta comece a ser cada vez mais uma ficção e um castigo, sem transparência. Já não estão em causa as teorias económicas que cada um possa defender para a sociedade, mas o modo de viver desta. Nos EUA, ontem, dia 22, o Senado americano pediu explicações às principais companhias petrolíferas americanas, para que estas justificassem como é que um produto que, na sua origem, está cada vez mais caro, permite, mesmo assim, que estas tenham lucros cada vez maiores, dado que esta combinação não bate certo e vai contra as regras básicas da economia. Conclusões não existiram, sinal de que anda muita coisa escondida. Sabemos que existem questões geopolíticas profundas no meio de tudo isto e não é de admirar que alguns países produtores de petróleo, que de democracia nada têm ou deixam muito a desejar, (excepção para a Noruega), estejam a fazer um garrote económico à Europa e aos EUA, para que o mundo fique com um Ocidente fragilizado.
Em Portugal as coisas são ainda piores: temos uma economia fraca. Entre o ano de 2000 e de 2008, em média, em Portugal, a gasolina aumentou 100% e na Europa 52% e no gasóleo, o aumento foi de 61%, em Portugal, e na Europa 31%. Ninguém sabe dizer do porquê destes aumentos, ou seja, o regulador, no país, pouco pode fazer, só por si.
Em Portugal, convém dizê-lo, a concorrência é frágil. Existem só duas refinarias (Sines e Matosinhos), ambas da Galp, que refinam o petróleo de todas as marcas à venda no país, o que já condiciona, em muito, o mercado livre. A juntar a isto, temos uma carga fiscal elevada e ineficiência na distribuição. Em Espanha existem nove refinarias e um ISP e IVA mais baixos. Nem as regras da oferta e procura justificam tudo, bem assim como o aumento do consumo na China (mais 14% só nos primeiros três meses, deste ano) e na India. Só na irracionalidade humana se pode encontrar uma resposta capaz.
Vítor Amorim

quinta-feira, 22 de maio de 2008

Na Linha Da Utopia


Expo’98, Memória e futuro


1. Já foi há 10 anos que se realizou a Expo’98. De 22 de Maio a 30 de Setembro de 1998 a capital do país acolheu cerca de 11 milhões de visitantes de todo o mundo.
Vindo reabilitar uma zona esquecida da cidade de Lisboa, a Expo constituiu uma experiência de universalismo, horizonte que está inscrito na nossa matriz cultural, também na altura em que se celebravam os 500 anos da chegada de Vasco da Gama na mítica viagem à Índia. Quem não se lembra das vésperas atarefadas dos últimos retoques trabalhosos, das críticas sempre presentes em qualquer grande acontecimento, mas também da euforia de um país que, embora crescentemente centralizado em Lisboa, via-se a si próprio a acolher a última exposição do século XX. Verdade seja dita que, dez anos depois, comparativamente com a Espanha na Exposição de Sevilha’92, a zona da Expo está viva; porventura não tão acessível quanto se desejava, mas viva e integrada na cidade como uma zona privilegiada.
2. Um tema aliciante e crescentemente urgente norteou a Expo’98: «Os Oceanos, um património para o futuro». Lema feliz, tipicamente lusitano, no reconhecer das pontes criadas pelos mares como “redes” de encontro de povos e culturas. No esforço da unidade na diversidade. Mais que celebrar a história, esta temática visava também a preservação do presente e sensibilização para o futuro. Esta mesma urgência preservadora dos oceanos e de todo o património e recursos naturais, dez anos depois, ganhou ainda mais premência. Torna-se essencial uma continuada acrescida responsabilidade individual e colectiva para com o património oceânico que ocupa 70% da superfície da terra. Desde a primeira exposição de Londres’1851 que as temáticas têm vindo a orientar-se no sentido do zelo da própria humanidade.
3. A desejada regeneração da parte Oriental da cidade de Lisboa, junto ao Tejo, foi remodelada. Foram muitos os portugueses que visitaram com gosto a realização do, considerado, desígnio nacional, nesse tempo de “vacas gordas”. Mas muita gente nessa altura registou a sensação da Expo parecer de outro país; até à Expo e após a saída da Expo reinava um certo desconforto de que tudo teria muito pouco a ver com uma desejada homogénea realidade nacional. É certo que as apostas estratégicas são assim mesmo, nunca absolutamente pacíficas. Mas dez anos depois dessa lufada de ar fresco confirma-se. O desequilíbrio litoral versus interior acentuou-se; a desigualdade cresceu.
Nós, país de frente para o mar, talvez o vejamos mais como praia onde cada região faz o que pode do que como investimento efectivo (por exemplo nas pescas). É bom voltar à memória de um acontecimento inédito; dos 132 dias de visitas mas, especialmente, do esforço anterior e do eco posterior.
4. O futuro da Expo’98 acontece “hoje”, e mesmo com todas as objecções que sempre existem, o certo é que tanto a Expo ajudou Portugal a abrir-se ao mundo no reencontro universalista e cosmopolita como recredibilizou a capacidade empreendedora e eficaz dos portugueses em início do séc. XXI. Claro, essa realização não substitui a esforçada realidade do compromisso de todos os dias.

Alexandre Cruz

Mito da criação da mulher pelo deus Twasti


Twasti – o deus – tomou a forma redonda da lua
e as curvas das trepadeiras
e o enroscar-se entre si dos vimes do bosque
e o tremor da erva
e a esbeltez da cana de bambu
e as flores
e a delicadeza das folhas
e o olhar do veadinho
e o rodopiar das abelhas
e a alegria risonha dos raios do sol
e o sonho inconsolado das nuvens
e o oscilar suave do vento
e a timidez da lebre
e a frivolidade do pavão real
e a suavidade da asa do papagaio
e a dureza do diamante
e a doçura do mel
e a crueldade do tigre
e a luminosidade confortável do fogo
e o frio da neve
e o palrar da gralha
e o arrulhar da pomba
e a adulação dos cisnes.
E juntando tudo isto criou a mulher e apresentou-a ao homem.

Poema hindu, in Eschembach U., La mujer – un ser desconcertante?, Sígueme, Salamanca.Transcrito por Laurinda Faria, em texto publicado em Estudos Teológicos, de Coimbra.

PORTO DE AVEIRO - 4


(Clicar nas fotos para ampliar)

Há muito se sabe que o Forte da Barra, também conhecido por Forte Novo e Castelo da Gafanha, se encontra em estado bastante degradado. Houve então alguns alertas, no sentido de lhe dar a dignidade que merece, ou não seja ele um Imóvel de Interesse Público, por Decreto-Lei n.º 735, de 21 de Dezembro de 1974.
Em conversa com o presidente da Junta de Freguesia da Gafanha da Nazaré, Manuel Serra, soube que, afinal, o Forte da Barra já está a ser limpo, decerto para ficar como um brinco, para se integrar no ambiente requalificado do Jardim Oudinot. Lá para Agosto, se tudo correr como se espera, já haverá um jardim condigno, num espaço que inclui o Forte e a Guarita, esta deslocada do seu local de origem, onde se encontrava há muitos anos em ruínas.
Se o limparem e pintarem, já não ficará a parecer como coisa inútil. Mas, para bem, devia ser restaurado, também, todo o espaço interior, atribuindo-lhe uma funcionalidade condigna. E o velho e degradado casario que o circunda podia dar lugar a um edifício dedicado a qualquer sector ligado ao mar ou à ria.

FM

COOPERAÇÃO ALIMENTAR

Os problemas da fome e da subalimentação voltaram a ser notícia de primeira página. As pessoas responsáveis sabem que estes problemas nunca deixaram de existir, com gravidade extrema, e que o seu agravamento actual era previsível. Sabem igualmente que se têm desenvolvido esforços meritórios para os resolver, e sabem, tragicamente, que não se conhecem estratégias válidas para que eles sejam erradicados. Em relação à fome em Portugal, ainda não assumimos, responsavelmente, o problema; nem nós, cidadãos, nem o Estado nem a maioria das instituições. Em contrapartida, a acção social da Igreja e alguns contributos não confessionais oferecem uma proposta parcial, bastante simples, que poderia generalizar-se facilmente a todo o país. Ela foi apresentada, há cerca de vinte e cinco anos, nas primeiras semanas nacionais de pastoral em Fátima, e visava todos os problemas sociais. Segundo esta proposta, a acção social deveria visar quatro objectivos fundamentais: - a assistência, a promoção, o desenvolvimento e a transformação social. Aplicando os quatro objectivos às situações de carência alimentar no país, parecem recomendáveis três linhas de acção: - a resposta imediata (de natureza assistencial); a cooperação para a autonomia pessoal alimentar; e a intervenção no desenvolvimento local. - A resposta imediata consiste em «dar de comer a quem tem fome»; a cooperação para a autonomia respeita ao contributo para que as pessoas carenciadas encontrem soluções, não dependentes de outrem, para a superação de suas carências, não caindo na habituação nem no oportunismo; e a intervenção no desenvolvimento local deveria traduzir-se na criação de condições para se evitarem tais carências. Naturalmente, estas linhas de trabalho social não se podem limitar ao âmbito local; mas dificilmente produzirão resultados consistentes se não começarem por aí. Limitando-nos, por ora, só às respostas imediatas - «dar de comer» - justifica-se formular as seguintes questões: - Existem razões válidas para que não se crie, em cada freguesia ou paróquia, um grupo de voluntariado social de proximidade (com representantes das diferentes zonas), que tome conhecimento de cada situação de carência alimentar, e desencadeie as iniciativas imediatas para a superar? Existem razões válidas para que esse grupo, a junta de freguesia, a paróquia, as instituições sociais públicas e particulares, os cafés e restaurantes, outras empresas e tantas outras entidades não dêem as mãos para que ninguém passe fome e para que sejam bem aproveitados os excedentes alimentares? Existem razões válidas para que não se intervenha junto das autarquias locais, de organismos da administração pública central e do próprio Governo, a fim de que também eles se comprometam seriamente na erradicação de tão grave flagelo? Felizmente, já é significativo o número de entidades que, a par dos bancos alimentares contra a fome, actuam deste modo; importa que congreguem seus esforços, e que o movimento contra a fome se difunda por todo o país. Acácio Catarino Fonte: Correio do Vouga

PONTES DE ENCONTRO


O amor, o sofrimento e a liberdade

No Domingo passado, estive na casa de um casal amigo, desde há longa data, a passar um bocado da tarde.
Durante a conversa, falei-lhes, no “Pela Positiva” e da partilha que tenho procurado fazer neste blogue, através, naturalmente, da expressão das minhas experiências, do meu sentir o mundo e o outro, das minhas afinidades, passando pelas alegrias e desilusões e acabando na esperança e na certeza de que vale a pena ser fiel ao amor pelos outros, mesmo quando tal parece não transparecer.
Bem sei que nem sempre consegui fazer ou dizer o que queria. Já aconteceram momentos em que, depois de enviar um texto, tive vontade de o ter volta, para fazer correcções ou modificações e tenho a certeza de que, enquanto tiver o privilégio desta partilha, novas situações idênticas surgirão, o que não é nenhum drama.
Voltemos, de novo, ao casal amigo. Logo que a novidade foi dada, de imediato, ligaram o computador e começámos, em conjunto, a pesquisar alguns textos que têm sido publicados, ao longo destes tempos, no blogue, e não necessariamente, como deve ser, os que tenho enviado. A notícia foi dada e o registo foi feito.
Deixámos o computador e a conversa continuou a desenrolar-se, sem tema algum em particular, até que, a dado passo da mesma, a Elsa diz-me a mim e à minha esposa que perdeu a fé em Deus. A Elsa tem 48 anos, é casada pela Igreja, tem dois filhos crescidos, baptizados e crismados, pelo que a minha tentação em querer perceber tudo, num repente, era enorme, como tal, aliás, fosse possível.
Ainda não há dois anos, a mãe da Elsa faleceu de cancro e os últimos meses foram de um sofrimento enorme, onde os próprios tratamentos paliativos já de pouco valiam. Sei o que foi a dor e o desgaste para toda aquela família.
Naquela tarde, a Elsa, num misto de interrogação a si mesma, de pergunta aos presentes e de conclusão, dizia: “Se Deus é omnipotente, pode tudo. Se pode tudo, porque não evita o sofrimento? Se não o evita, é sinal de que ou não é omnipotente ou não é bom!”
Perante um drama, ainda recente, destes, o que fazer? O que dizer?
Sermões? Contra argumentar? Creio que não. O amor e a compreensão expressam-se de muitas maneiras e o silêncio, sentido e vivido, por vezes, é a melhor mensagem e ajuda que podemos partilhar com quem sofreu e ainda está a sofrer.
É muito provável que a Elsa vá ler este texto, texto que ela sabia que ía ser escrito, após pedido meu para tal, a fim de que o seu sofrimento e as suas dúvidas fossem um pouquinho mais longe, neste caso via blogosfera, e, sem o saber, até pudesse ajudar pessoas em situações semelhantes. Mas como é que uma pessoa que precisa de ajuda pode ajudar outros? Sinceramente, não sei. Sei, isso sim, que o ser humano, enquanto mistério que é, vai sempre para além daquilo que julga ir. “Ressalta, aqui, – como diz D. José Policarpo – a beleza da liberdade, a importância da cultura envolvente em que nascemos e crescemos, as pessoas que encontrámos e com quem convivemos.”
Sofre-se quando se ama e a Elsa tem, e teve, tudo isto nela: o sofrimento, o amor gratuito e o ideal da generosidade, que se reforçaram, ainda mais, num momento particularmente difícil da sua vida e da sua família.
Recorrendo, de novo, a D. José Policarpo: “Também na perspectiva cristã, o sofrimento não vale por ser dor, mas porque exprime o amor generoso e gratuito” e “Toda a vida vivida com ideal traz, mais tarde ou mais cedo, a experiência da exigência e do sofrimento”. Fazer deste sofrimento partida para o renovar da esperança é o que falta, à Elsa, já que não pode, de modo algum, deixar que aquilo que foi, e é, uma expressão de amor e generosidade se transforme num tirano ou opressor da sua própria liberdade, para continuar a amar, sempre. Os desafios da vida, afinal, nunca acabarão.
Vítor Amorim

quarta-feira, 21 de maio de 2008

GALAFANHA

Em GALAFANHA fala-se da Gafanha da Nazaré. Mas também das outras Gafanhas, porque são da mesma família ou aparentadas. Aceitam-se opiniões credíveis. Referentes ao passado, mas também ao presente. Sempre a pensar no futuro.
O que de importante se disser sobre a nossa terra, das orígens aos tempos actuais, ali ficará alojado para quem quiser saber. Mas seria muito interessante que todos os gafanhões dessem as suas achegas. Vamos a isto?
De qualquer forma, não deixarei de lembrar neste meu espaço o que lá for editado.
Fernando Martins

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