segunda-feira, 23 de setembro de 2019

Bento Domingues - Acabar com a chantagem

Papa não teme o cisma 
"Escusam de continuar com as ameaças de cisma.
Não o desejo, mas não me assusta e rezo para que não aconteça."


1. O acontecimento mais importante, na liderança da Igreja católica, nos últimos tempos, não pode passar despercebido ou dissolvido no ruído dos noticiários acerca do Vaticano.
O papa Francisco, ao regressar da última viagem apostólica a vários países africanos (Moçambique, Madagáscar e Ilhas Maurícias), não se limitou a responder às perguntas e curiosidades dos jornalistas, de forma aberta e desinibida, como sempre faz. Desta vez, foi muito mais longe. Decidiu colocar um ponto final na chantagem que se arrastava, dentro e fora do mundo católico, desde o começo do seu pontificado: a ameaça de um cisma.
Para quem conhece alguma coisa da história do cristianismo, não pode ignorar os efeitos terríveis que essa palavra evoca, efeitos que ainda hoje persistem, apesar de todas as iniciativas ecuménicas.
Dada a desenvoltura com que se pronunciou, terá Bergoglio esquecido as catástrofes dessa “bomba atómica” no tecido da Igreja? Essa ameaça não deveria aconselhar o Papa a ter mais cuidado com o que diz e faz e, sobretudo, com o modo provocador como fala e actua? Não saberá que está sempre a pisar terreno armadilhado?
Neste caso, essas perguntas não conseguem esconder uma solene hipocrisia. Dito de outro modo: o papa Francisco para não causar um cisma na Igreja deve renunciar a cumprir o programa do seu pontificado, tornar-se prisioneiro do medo, asfixiar a liberdade de expressão e concordar que o Vaticano continue num regime de monarquia absoluta!

domingo, 22 de setembro de 2019

Outono é já amanhã


Regresso a casa nas vésperas do Outono. Dei pela chegada da estação das folhas que caem pela sensação de um friozinho a que não consigo ficar indiferente. Venha o Outono com as suas marcas que já conheço há décadas. E enquanto a roda do tempo girar para eu reviver é sinal de que estou em pleno uso da razão. 
Já tinha saudades da minha "palhota" e do que nela tenho vivido que a chegada, mesmo de curta ausência, me dá uma sensação de prazer interior muito grande. Que assim seja por muitos anos, são os meus desejos de amante da existência. 
E a vida, como antes, prossegue com espírito aberto ao mundo em contínua renovação,  cada minuto com a sua descoberta, com os seus sinais de aventura de uma humanidade que não parará na busca do progresso, que gostaríamos de felicidade plena para todos. 
Boas entradas no Outono. É já amanhã. 

Fernando Martins

Anselmo Borges - Demissão do Papa Francisco

Papa Francisco chega a Maputo

1. No passado dia 10, após uma viagem apostólica a África, visitando Moçambique, Madagáscar e Maurício, o Papa Francisco, já no avião, de regresso a Roma, deu, como é hábito, uma longa conferência de imprensa. E foi respondendo a muitas perguntas. 


1. 1. Congratulou-se com o abraço histórico da paz em Moçambique: “Tudo se perde com a guerra, tudo se ganha com a paz. O esforço dos líderes das partes contrárias, para não dizer inimigos, é o de ir ao encontro um do outro. É o triunfo do país: a paz é a vitória do país, é preciso entender isso... E isso vale para todos os países, que se destroem com a guerra. As guerras destroem, fazem perder tudo.” 

1. 2. África é um continente jovem, tem uma vida jovem, “se a compararmos com a Europa, e vou repetir o que disse em Estrasburgo: a mãe Europa quase se tornou “avó Europa”. Envelheceu, estamos a viver um inverno demográfico muito grave na Europa.” E acrescentou que leu algures que há um país europeu que em 2050 terá mais reformados do que pessoas a trabalhar, “e isso é trágico”. 
Os jovens em África precisam de educação, “a educação é uma prioridade”. E louvou Maurício, cujo primeiro-ministro tem em mente a gratuidade do sistema educativo. 

1. 3. A xenofobia é “uma doença humana” e, lembrando “discursos que se assemelham aos de Hitler em 1934”, acrescentou: “muitas vezes as xenofobias cavalgam a onda dos populismos políticos”. Mas África transporta consigo também “um problema cultural que tem de ser resolvido: o tribalismo”. Temos de “lutar contra isso: seja a xenofobia de um país em relação a outro, seja a xenofobia interna, que, no caso de alguns lugares de África e com o tribalismo, leva a uma tragédia como a de Ruanda.” 

1. 4. “São fundamentais as leis que protegem o trabalho e a família. E também os valores familiares.” E chamou a atenção para os dramas das crianças e jovens que perdem os seus laços familiares. 

1. 5. “Hoje não existem colonizações geográficas — pelo menos, não tantas como antes.... , mas existem colonizações ideológicas, que querem entrar na cultura dos povos e transformar aquela cultura e homogeneizar a Humanidade. É a imagem da globalização como uma esfera, todos os pontos equidistantes do centro. Ao contrário, a verdadeira globalização não é uma esfera, é um poliedro, no qual cada povo se une a toda a Humanidade, mas preserva a própria identidade.” Contra a colonização ideológica, é preciso respeitar a identidade de cada povo e dos povos. 

1. 6. Opôs-se de novo ao proselitismo em religião, lembrando uma palavra de São Francisco de Assis: “Levem o Evangelho, se for necessário, também com as palavras”. A evangelização faz-se sobretudo pelo exemplo, pelo testemunho. O testemunho provoca a pergunta: “Porque é que vive assim, porque age assim?” Aí explico: “É pelo Evangelho”. “E qual é o sinal de que um grupo de pessoas é um povo? A alegria.” 

1. 7. Não podia deixar sublinhar a urgência da defesa do meio ambiente. No contexto da destruição da biodiversidade, da exploração ambiental e concretamente da desflorestação, não deixou de apontar e condenar de modo veemente a corrupção descarada: “Quanto para mim?”. “A corrupção é feia, muito feia.” 
Revelou que “no Vaticano, proibimos o plástico.” É preciso defender “a ecologia, a biodiversidade, que é a nossa vida, defender o oxigénio, que é a nossa vida. O que me conforta é que são os jovens que levam adiante esta luta”, porque o futuro é deles. “Creio que ter-se chegado ao acordo de Paris foi um bom passo adiante, e depois também outros... São encontros que ajudam a tomar consciência.” E, a menos de um mês do Sínodo para a Amazónia, sublinhou: “Há os grandes pulmões, na República Centro-Africana, em toda a região Pan-amazónica, e outros menores.” 

sexta-feira, 20 de setembro de 2019

Notas do meu diário - Fonte de S. Martinho


I
Tive sêde, e vim beber
À fonte de S. Martinho;
Desde então para te ver,
Não procuro outro caminho.

II
Mas, ao ver-te, a sêde passa,
já não tenho de beber,
Pois a sêde que eu sentia,
Era apenas de te ver...

A Fonte de S. Martinho, em S. Pedro do Sul, tem uma réplica, segundo creio, no espaço hoteleiro onde estou hospedado. Consulta feita, ela existe, realmente, em zona de certo modo escondida, e terá sido construída em 1943. Seja como for, é facto que S. Martinho também tem capela junto às ruínas romanos, em maré de restauro e preservação.

D. Afonso Henriques em S. Pedro do Sul







Dom Afonso Henriques é muito venerado em São Pedro do Sul, particularmente nas Termas mais frequentadas de Portugal, com 35% dos aquistas lusos a preferi-las no cômputo do termalismo português.
Não escasseiam informações turísticas na zona pedestre com notas histórias, que são outras tantas referências da vida das águas quentes (cerca de 70.º) com cheiro a enxofre,  desde há mais de dois mil anos a curar ou a aliviar quem sofre.
Não será de estranhar que uma pastelaria lhe preste uma singular homenagem com a presença do nosso primeiro rei a ocupar um lugar de destaque. Logo à entrada, uma estátua do rei, sentado mas com olhar arguto, olha de soslaio quem entra, com cara de poucos amigos, ao jeito de quem pretende fiscalizar quem vem à cata de doces de todo o país, para acompanhar um saboroso café, tomar um refresco ou acalmar os nervos ou o estômago com um chá quentinho.
Lá dentro, o rei Afonso, o primeiro de seu nome, com sua filha Teresa e seu filho Sancho, que lhe haveria de suceder, podem ser apreciados por todos os clientes, lendo o documento  que Dona Teresa exibe. 
O serviço é pronto e eficaz, acolhedor e asseado, e dá gosto estar por ali a ver quem chega, na perspetiva de encontrar gente conhecida, o que não aconteceu durante toda a semana. 

Georgino Rocha - Elogio à esperteza criativa

DOMINGO XXV


Hoje, no Evangelho, Jesus apresenta aos discípulos uma história surpreendente, escandalosa, desconcertante, provocadora. Um homem rico é gravemente lesado pelo administrador a quem confiou a gestão dos bens. Descoberta e denunciada a fraude, é despedido, mas ele inventa uma saída engenhosa que lhe dá garantias de ter quem o contrate no futuro e revela capacidades que merecem o elogio do proprietário.
Os ouvintes hão-de ter pensado: Como é possível felicitar quem rouba, é corrupto, usa as piores “artes” para assegurar o futuro? Seguindo a bela narração de Lucas, vamos aprofundar o alcance da parábola do administrador infiel, assim conhecida. Lc 16, 1-13
Jesus, na maioria das suas parábolas, mais do que ensinar pretendia provocar, abalar as convicções de crentes acomodados, passivos, quase em letargia. Ouvem e percebem a novidade da mensagem anunciada, mas não se dispõem a pô-la em prática, a fazê-la vida. A de hoje é típica, tem este propósito declarado. 
O elogio à esperteza é feito por um proprietário rico, a um seu administrador desonesto. E surge na narração de uma parábola de Jesus sobre o uso dos bens materiais. Visa despertar o entusiasmo dos discípulos para procederem de igual maneira. E aponta, claramente, para a urgência de, perante situações de risco e de crise, saber encontrar soluções criativas e sensatas.
Os adversários de Jesus riem-se dos seus ensinamentos sobre o dinheiro, considerado por eles como uma bênção de Deus, um sinal da sua providência, uma garantia de predestinação. Quase absolutizavam a sua posse e ostentação. Sem olharem muito à licitude dos meios para o alcançar. E assim, a gente humilde mais empobrecia, enquanto uma minoria, alavancada numa interpretação deficiente da Escritura Sagrada, enriquecia cada vez mais.
Jesus recorre a várias formas didáticas para contestar esta interpretação e restituir aos discípulos e, por eles, a todos nós, a autêntica função dos bens materiais, designadamente do dinheiro. Serve-se de diálogos directos, de ditos sentenciosos, de parábolas-retrato que reproduzem situações de vida conhecidas.

quinta-feira, 19 de setembro de 2019

Notas do meu diário – Uma passagem por Santa Cruz da Trapa

AO  POVO - Os filhos e amigos de Santa Cruz da Trapa - 1926
A Lita junto à Cruz no Largo do Calvário



Homenagem da Freguesia de Santa Cruz da Trapa ao saudoso santacruzense Agostinho Valgode

Centro Cultural - Biblioteca César Rodrigues 

Homenagem à Casa do Povo
Poema no Largo do Calvário

Poema no Largo do Calvário

Hoje foi dia de passar por Santa Cruz da Trapa, terra que conheci há uns 40 anos, aquando da nossa ligação, em tempo de férias, a Serrazes. Quase a não reconhecemos, mas disso já estamos habituados. O Turismo alertou-nos para uma curiosidade a ter em conta: O povo quer que a sua vila seja conhecida como terra de poetas, havendo já dois livros publicados a partir de recolhas ou seleção; e como prova desse interesse, no largo há poemas para sublinhar essa pretensão. 
Há décadas, quando por ali cirandámos, demos um saltinho a São Cristóvão de Lafões. O mosteiro  em ruínas, com existência lavrada por volta de 1123, teria sido mandado edificar por D. João Peculiar, que veio a ser Bispo do Porto e Arcebispo de Braga, onde está sepultado. Este D. João Peculiar foi uma personalidade marcante e conselheiro de D. Afonso Henriques. Foi a Roma para convencer o Papa a reconhecer D. Afonso como rei. Tal reconhecimento estaria, como esteve, na base da fundação do Reino de Portugal. 
Quis colher informações, mas o Centro Cultural Casa do Povo e a Biblioteca César Rodrigues estavam encerrados, antes do meio dia de hoje. Um transeunte deu-nos  como provável razão o período  de férias. Paciência... ficará para a próxima visita, se tal vier a acontecer.

Fernando Martins

quarta-feira, 18 de setembro de 2019

Notas do meu diário - O Vouga vai ficar limpo e asseado

o rio em plena caminhada 

Rio assoreado, presentemente

Os homens teimam e vão conseguir limpar o Vouga

1. O rio Vouga nasce na serra da Lapa, em Quintela, Sernancelhe, Viseu. Um fio de água que nasceu a sonhar com o oceano atlântico, mar que me habituei a ver desde tenra idade. Isto aprendia-se na escola primária e ficava para a vida. Hoje não tem grande interesse, que o mundo das juventudes atuais tem mais que fazer. Com um clique, os telemóveis dizem tudo em segundos.

2. Depois, na sua passagem, batizou com as suas águas virgens terras que ainda hoje se orgulham do seu padrinho: Sernada do Vouga, Sever do Vouga, Macinhata do Vouga, Pessegueiro do Vouga, Mourisca do Vouga, Valongo do Vouga, Arrancada do Vouga, Lamas do Vouga e nem sei que mais. Contudo, no seu caminhar, ora manso ora agitado, vai adotando outros filhos que lhe perpetuam a existência. São os afluentes: Águeda, Caima, Mel, Gresso ou Branco, Lordelo, Mau, Sul, Teixeira e Zela. Aqui, em Sever do Vouga, mora o Sul. Daí o nome desta ridente cidade. 

3. Com os anos e com os tempos de fogos as cinzas e outros detritos, mas também com diabruras de gentes descuidadas e da natureza por vezes madrasta... o rio ficou assoreado. Fechadas comportas, represas ou sistemas semelhantes que nem ousei indagar, o homem, com a sua teimosia e visão de futuro, que o turismo termal a isso obriga, vai torná-lo limpo e asseado. Todos merecemos e precisamos disso. 

F. M.

A saúde é coisa preciosa

ESCRITO NA PEDRA 


"É coisa preciosa, a saúde, e a única, em verdade, que merece que em sua procura empreguemos não apenas o tempo, o suor, a pena, os bens, mas até a própria vida; tanto mais que sem ela a vida acaba por tornar-se penosa e injusta" 
Michel Eyquem de Montaigne 
(1533-1592), ensaísta e escrito


No PÚBLICO de ontem 

terça-feira, 17 de setembro de 2019

Notas do meu diário - Estávamos mesmo a precisar de sair

Com toda a calma do mundo 
O calor aperta 
Sem pressas 
Estávamos mesmo a precisar de fugir de alguma monotonia da vida. Deixámos para trás os ares marinhos para podermos respirar as tranquilidades serranas. Os ares do oceano e da laguna, que nos acompanham desde o desabrochar para a existência terrena, voltarão quando descermos das serranias, em São Pedro do Sul, rumo ao mar, com o rio Vouga a tiracolo. 
Quando nos afastámos da ria, uma boa hora depois uns chuviscos refrescaram o ar, mas o sol, fulcro de vida e doce companheiro, que acompanhamos desce o seu nascer até se esconder no oceano,  à tardinha, voltará à ribalta onde quer que estejamos. E as férias verdadeiramente começaram. 
Não há projetos de almoço nem de jantar, não há horários a cumprir, não há gatos a correr nem cães a ladrar à roda da nossa residência de todos os dias, desde há 54 anos, não há jardim nem árvores para regar (outros o farão), não há galinhas a cacarejar, não há campainha nem telefone a tocar... Eu e Lita estamos por aqui. E disso darei nota ao sabor do vento que passa, mansinho até ver.

F. M.

Nota: Reeditado em 18-09-2019, pelas 18h14

segunda-feira, 16 de setembro de 2019

Bento Domingues - Ampliar as perguntas


"Quando se fala das dificuldades do diálogo da Igreja com a sociedade, parece admitir-se que está consumado o exílio da fé cristã no mundo da cultura ocidental e que já não existem pessoas e grupos com sede e fome do Evangelho de Jesus."

1. O mês de Setembro, a ritmos diversos, abre um novo Ano Pastoral. As dioceses, as paróquias e os diversos movimentos começam a executar programas previstos para alimentar, nos praticantes da vida eclesial, formas inovadoras de ir ao encontro das pessoas e dos grupos que parecem longe, indiferentes ou hostis às igrejas.
O programa da diocese de Lisboa, para 2019-2020, tem uma formulação muito generosa, mas que se pode prestar a alguns equívocos: “Sair com Cristo ao encontro de todas as periferias!” Dito assim, até parece que Cristo está ausente das periferias, esperando que alguém se lembre de o conduzir para fora de portas.
De facto, em regime de Cristandade, a pastoral mais corrente – não a única – resumia-se em apresentar, na Catequese, as verdades a crer, os mandamentos a observar e os sacramentos a receber. Na saída para fora dos espaços da Cristandade, supunha-se que era o missionário que levava Cristo para as terras onde Ele nunca tinha chegado. Ele teria de propor aos gentios o Credo cristão, os mandamentos da Lei de Deus e da Igreja, assim como administrar os Sete Sacramentos.
Com o advento da Modernidade, as sociedades ocidentais, com ritmos, formas e em graus diversos, emanciparam-se da tutela das Igrejas e das Religiões. Alguns falam da secularização, não só da sociedade, mas também da vida privada. Antes, nascer e tornar-se cristão eram acontecimentos quase simultâneos. O ambiente cultural exigia a transmissão dos rituais da fé. Com a liberdade religiosa, cada um terá de fazer a sua escolha. As referências cristãs passam a estar fora do ambiente cultural. Por vezes, sobretudo onde vigoravam programas estatais de ateísmo militante, tentou-se eliminar as próprias marcas que tinham deixado na cultura.

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